Ato ll.lll: A Loja Mágica de Brinquedos

O movimento estava fraco naquela tarde, um amontoado de talismãs já tinham sido tirados de lugar e amontoados no centro da loja naquele dia por Jana, que insistia em ler para si mesmo o tarot enquanto ninguém se aproximava.

Foi em um momento de total tédio e distração que ela ouviu o sino da porta tocar, seguido da aproximação sorridente e jovial de Gendou, que sentou-se em uma cadeira de frente para ela enquanto observava o tédio da garota com quase sarcasmo.

—Muito trabalho? Perguntou debochando, enquanto jogava a cadeira para trás, apoiando na parede do lado do balcão e virando de frente para porta. Ele acendeu um cigarro enquanto observava se alguém entraria e esperava a resposta da amiga.

Jana havia arrumado e desarrumado a loja algumas vezes. Aquele dia estava deixando bastante a desejar.

Ela tirava um talismã do lugar e colocava-o em outro. Parava e o observava. Pensava se o local de cada coisa também iria interferir nas energias do local. Tinha lido isso em algum lugar. Testou algumas combinações até que ficou de saco cheio e voltou a ficar atrás do balcão.
Por fim, pegou seu deck de Tarot e jogou algumas cartas, por pura diversão e tédio. Quando não gostava das que tirava, simplesmente recolhia até que uma tiragem que a deixasse satisfeita surgisse. Sabia que, de algumas maneiras, podia mexer no destino. Talvez houvesse uma maneira de fazê-lo apenas tirando as cartas, ou agindo como se fosse tirá-las. Havia tantas coisas novas para descobrir.

Seus pensamentos vagavam pelas possibilidades quando ouviu o sininho da loja. Ela ergueu os olhos negros e deu seu melhor sorriso. Afinal, um cliente que via um sorriso bonito era certo de levar alguma coisa. Tinha certeza.

Porém, ao ver Gendou, ela fez uma careta, mas logo sorriu. Acompanhou com os olhos o jovem se aproximar e olhou em volta assim que o mesmo fez o comentário.

- Como pode ver, você nem consegue andar aqui, de tanta gente que tem.

Largou o tarot e fez um bico quando ele simplesmente se jogou na cadeira. Ela suspirou e antes que ele pudesse acender o cigarro, ela o arrancou da boca do rapaz.

-Nã nã ni nã não! Esse treco fede demais! E eu acendi um incenso tem pouco tempo. E um dos caros.
Isso explicava o cheiro de madeira queimada da loja.

Jogou o cigarro fora e cruzou os braços.

-E você? Não tem trabalho nenhum pra fazer, além de me visitar?

Tendo o cigarro arrancado Gendou sorri ao ser questionado sobre trabalho. Ele então sai de sua posição de inêrcia e tira um celular do bolso
—Saca só...

Pegando o celular do bolso e mostrando as páginas de uma história estranha.
—Talvez seja esse o motivo de ninguém ter vindo hoje.

Uma notícia de jornal expõe um fato curioso ao final do rio Misuri. Era um incêndio, que atinge restaurante em Kansas City e deixa feridos. Número de feridos está entre 14 e 19, quatro em estado grave. .

Um incêndio de grandes proporções provocado por uma explosão atingiu um antigo restaurante em um bairro comercial de Kansas City, no Missouri, Estados Unidos, na noite desta terça-feira. Autoridades locais ainda tentam contabilizar vítimas, enquanto a imprensa norte-americana informa que o número de feridos está entre 14 e 19.

Não há relatos iniciais de mortos, disse Rhonda Flores, porta-voz do Departamento de Polícia. Mas entre os feridos estariam ao menos quatro pessoas em estado grave.

O fogo atingiu a área do Country Club Plaza, que concentra ainda shopping, restaurantes de luxo e prédios comercias.
—No final da rua tem uma tenda da jovem que previu essa destruição toda... Esta cheio de gente lá

Ele falava e guardava o celular.

Jana arqueou uma sobrancelha enquanto observava o menino de cabelos brancos sacar seu celular. Ela arqueou a coluna e abaixou o olhar na direção do celular. Leu a chamada da notícia e olhou para Gendou:

- Hmmm... Parece notícia sensacionalista.

Jana, por fim, pegou delicadamente o celular da mão de Gendou. Ela leu atentamente e a cada linha que descia a história ficava mais e mais cabulosa.

- Tá, o que essa explosão tem a ver comigo e com esse movimento horrível?

Jana arregalou de leve os olhos quando Gendou terminou de contar a história e apresentou seu ponto.

Jana bufou e foi até o caixa. O lobisomen podia ouvir o som do caixa sendo fechado. Jana pegou suas coisas: celular e uma bolsa pequena. Ela passou por Gendou e deu um leve tapa na cabeça do rapaz.

- Levanta! Vamos nessa tal loja!

Gendou podia perceber que sua amiga estava irritada. Ela andou até a porta e parou. Falava enquanto arrumava os procedimentos de alarme e procurava a chave na bolsa.

- Aposto que essa corna deve saber uma coisinha ou outra que eu e você também sabemos!

Ela ergueu os olhos, irritada.

- Estourar pessoas pra ganhar dinheiro é uma merda, mas... – ela achou a chave e indicou com a cabeça para Gendou sair da loja.

- Esse mercado é meu. Não gosto de ter umazinha mexendo no que é meu. – Jana tinha um temperamento um tanto... difícil para questões como competitividade.

Ela saiu da loja logo após Gendou e terminou de trancá-la.

- Quer dizer, não que eu vá explodir coisas ou pessoas. Credo. Saravá.

Ainda estava indignada. Como assim mais uma como ela naquela vizinhança???

Deu os ombros e cruzou os braços.

- Vamos até lá. Me mostra o caminho.

E seguiu o amigo até a tal loja, irritada.

Jana sai bufando, quase fazendo o sino da porta quebrar o vidro.

Ao chegar na rua, algo surpreendente.

Uma fila enorme se amontoa no que parece ser uma imensa curva, pessoas das mais diversas estão parados um após outro diante do que parece ser uma tenda no final da esquina.
Deve ter pelo menos umas trinta pessoas.

—É bem ali, Jana.

Gendou pôde ouvir Jana bater o pé fortemente no chão assim que viu a fila. A moça chegou até a rosnar alto.

Ela olhou Gendou e depois a tenda. Olhou o lobisomem de novo.

- Espera aqui, na fila! – levou as mãos até os ombros de Gendou e o guiou ao fim da fila.

- Eu já volto!

E andou a passos pesados até onde a fila se iniciava. Ela não cortou a fila nem foi diretamente à entrada da tenda. Jana passou como se não quisesse nada com aquilo. Deu uma olhada curiosa para a fila e para a tenda, percebendo suas estantes e estrutura. Usava parecidos em sua loja.

Por fim, parou ao lado da tenda. Tirou seu próprio celular e começou a mexer nele, disfarçando seu real motivo de estar ali.

Ergueu uma sobrancelha e olhou de rabo-de-olho para a entrada da tenda. Queria tentar perceber algum tipo de força estranha naquele local, algo conhecido para ela e Gendou. Algum indício que algo estava fora do lugar ali.

Ainda estava aprendendo sobre seus recém adquiridos poderes, mas sabia que conseguiria fazer algum tipo de estrago que faria a dona ter que fechar aquela espelunca. E assim, Jana faria a megera ter uma palavrinha com ela.

Pensou em tentar desparafusar a estante, mas isso faria com que bons samaritanos a quisessem ajudar. Revirou os olhos com a bondade dos outros. Gente chata!

Olhou de relance para a mesa e as luzes do local. Poderia talvez cortar a luz?

Suspirou e percebeu um hidrante próximo à entrada da tenda e que um jato de água seria uma linha reta que seguia a fila. Um meio sorriso surgiu no rosto de Jana.

Ela continuava a mexer no celular, mas concentrava-se no hidrante. Iria fazer ele explodir e jogar água na entrada daquela tenda escrota e na maior quantidade de pessoas que poderia. Ela mandou uma mensagem a Gendou:
“ Cuidado com Urano. Está retrógrado. Problemas com água por vir.”

Assim ela esperava.... Afastou-se um pouco do local, para se garantir ficar seca.
Concentrou-se no hidrante novamente. Já havia lido alguma coisa ou outra sobre hidráulica e esperava que isso fosse suficiente para fazê-lo estourar e molhar aquele o maior número de pessoas naquele bando de babacas que poderiam estar em uma loja mística de verdade: a dela.

Quando o jato diminuísse, ela iria até a entrada da tenda, procurar a responsável pelo local.

Tido como o Céu na religião grega, sendo o mais velho dos deuses, Urano é um planeta que simboliza o imprevisível, as mudanças radicais que chegam sem aviso prévio. Algo que em uma constante desde o despertar confuso de Jana... tão ligado a sortilégios como os signos do zodíaco.

Em um instante pensou sobre ser aquele que anda na contramão do senso comum e quebra padrões estabelecidos, trazendo o novo e libertando-nos de nossas amarras. A liberdade tanto para Urano quanto Jana era sua condição vital... É preciso ser livre para pensar, expor ideais, contestar e vislumbrar o futuro.

Há uma falta de aristrocracia na liberdade, aliás toda é tolhida muitas vezes com a liberdade cristalizada da tradição. Ao lembrar-se superficialmente sobre qual o horóscopo no jornal hoje para o AQUÁRIO, ela lembra de originalidade, de ideias revolucionárias e disruptivas. Sua natureza é rebelde, o que é representado por sua vontade contra a realidade tanto quanto a própria rotação do regente.

Enquanto todos os planetas do nosso sistema solar giram de forma perpendicular ao seu eixo, ou seja, em pé, Urano possui uma inclinação de aproximadamente 98 graus do seu eixo de rotação, que o faz girar deitado. O grande papel deste excêntrico astro é criar singularidade, ajudando o sujeito a quebrar moldes de comportamento imposto pela cultura vigente.

Ou os moldes que regem a parte de encaixe da mangueira de um hidrante... é com isso que a água esguicha na direção das pessoas na fila.

Pacientemente Jana aguarda pelo aumento de uma confusão para que todos saiam, mas na verdade o que consegue é apenas uma ligeira distração enquanto as pessoas se perguntam como é que o hidrante se abriu... a jovem Eutanatos acredita piamente que é parte do ciclo da roda observar a influência de seu mapa astral em todos trabalhos com o encanamento...mas alguma coisa em seu inconsciente diz para não falar isso em voz alta.

Ela passa pelas pessoas discretamente com um pouco de furtividade e raciocínio sobre que hora avançar...
Para ajuda-la Gendou começa a praguejar contra os serviços mal feitos da prefeitura e sobre como as crianças locais sempre deixam abertos os hidrantes.

Talvez alguém até tenha visto Jana entrar, mas não antes dela chegar até a pequena tenda.

Lá dentro ela há uma simples mesa com uma bola de cristal sobre ela, alguma decoração simples que a Eutanatos se deparar com uma mulher que aparentemente estava saindo no lugar e ambas quase batem de frente.

—Ei, cuidado!

Ela comenta dando um passo para trás e olhando firmemente nos olhos de Jana.

Jana deu um meio sorriso quando se lembrou de Aquário e, consequentemente, de Urano. Gostava da mensagem que Urano trazia: a quebra de padrões impostos, o convite a pensar fora da caixinha, a cuspida em velhas tradições.

Jana sempre se considerou diferente, como Urano. Gostava de trazer contradições, de romper paradigmas e de lutar contra ideologias, sejam elas quais fossem. Gostava apenas de trazer a quebra das ideias pré-impostas. Gostava de ver como as pessoas se sentiam quando suas crenças eram confrontadas. Afinal, por que girar em pé quando se pode girar deitado, só pelo prazer de quebrar um padrão?

Não sabia bem o que era ser um Eutanato – nem que ela seria considerada uma -, mas gostava do fim de padrões e crenças que precisavam morrer. Fechar o caixão era ótimo e muita gente precisava aprender isso.

De qualquer forma, a jovem fez um bico quando o jato de água não fora forte o suficiente. Ela praguejou baixinho sobre como Urano fazia como queria. Contra isso, ela não poderia fazer nada. Pelo menos não agora.

“Vamos trabalhar nisso depois, Urano.” Pensou.

Jana se esgueirava e agradecia a Deus por Gendou ser útil e começar um pequeno estopim! Por isso se davam bem. Gendou parecia ter o mesmo desejo de Jana por qualquer tipo de protesto e coisas que deixassem os outros fora de seus padrões normais.

Ela deu passos rápidos e felinos e finalmente entrou na tenda. Olhou por um segundo para fora e quando deu por si, esbarrou na jovem loira que estava saindo de lá. Jana a encarou e pareceu conhece-la de algum lugar, mas deixou a sensação pra lá. Tinha mais coisas a fazer.

Encarou a loira de volta e deu um sorriso:

- Foi mal, é que eu tô doooooida pra saber o que o futuro me aguarda!

Ela olhou para a mulher na mesa. Depois olhou para a loira de novo.

-Espero que ela tenha te dito algo bom! – deu um sorriso enquanto passava pela mulher e ia até a mesa.

- Toma cuidado quando sair. Um hidrante quebrou. – aproximou-se da moça e continuou, falando baixo: - Além disso, se seguir a rua, verá que tem outra loja de artigos místicos. É bem melhor que essa. Agora está fechada, mas dá uma passada amanhã.

Sorriu simpática para a moça. Tinha ido com os córneos dela.

Por fim, sentou-se na cadeira e apoiou um dos cotovelos na mesa. Encarou a mulher e disse, agora com um sorriso não tão amigável.

- Eu fiquei sabendo que você é muito boa em ler a sorte dos outros.

Jana finalmente abriu um sorriso genuíno, mas nada simpático. Era um sorriso esperto.

- Será que pode ler a minha?

E prestou atenção nos trejeitos da mulher, curiosa para ver se ela era mesmo tão boa quanto diziam. Se ela dispunha do mesmo arsenal dela.

A mulher sorriu, meio confusa... pegou um bolo de cartas de baralho que não pareciam ser de tarot e as colocou na mesa.

Eram agora visíveis os naipes de um baralho qualquer, ela embaralhou e distribuiu as cartas...

Pouco depois pegou um conjunto de conchas de várias cores e fez um círculo... fez tudo isso aos olhos de Jana...

Depois jogou as conchas no meio do círculo e reorganizou as cartas.

Foi no meio disso que a jovem Eutanatos pode ver entrar seu amigo Gendou...

—Eu vejo que você veio até aqui por algum tipo de inveja... ou ressentimento... Estou certa?

O tom era de quem apenas queria confirmar algo que já se tinha por certeza.

Jana arqueou uma sobrancelha quando viu o baralho da mulher.

“Um foco, talvez?” – pensou. Era possível usar um baralho normal para fazer pequenas previsões, mas não era muito comum. Aquilo chamou sua atenção.

Observou a mulher pegar as conchas e achou aquele tipo de leitura brega, apesar de saber que era também possível usá-las.

“Conchas coloridas? Sério?” – pensou de novo enquanto tinha uma expressão neutra.

Sentiu Gendou chegando, mas fitava ainda o jogo que a mulher fazia. Ela fingia prestar atenção na mulher e a surpresa quando ela disse o que a levara lá.

- Ah, é isso que está escrito aí? – ela olhou a mulher com uma expressão triste.

Suspirou.

-Bem... coisas aconteceram... – falava em um tom de vítima.

Não queria dar detalhes a ela que ela pudesse trabalhar em cima. Calou-se e deixou ela seguir enquanto prestava atenção no local.

Jana sentiu um arrepio na espinha. Logo de primeira, não soube muito bem que tipo de sensação era aquela. Aos poucos, conseguiu digerir e entender o que era aquilo. Lembrou-se das palavras de Gendou sobre a Wyrm:

“Compõe a Tríade de Espíritos que controlam o mundo. A Segunda a ficar louca. Era a Essência do Equilíbrio. Hoje, é a Corrupção”. Lembrava-se do jovem de cabelos claros falando com pesar na voz.

Corrupção. Foi o que fez Jana sentir o enjoo que sentia agora? Sem chances de manter-se tão blasé quanto gostaria, Jana sentiu-se encolher na cadeira. Ergueu os olhos para as figuras religiosas e qual foi sua surpresa ao percebê-las encarando-a! Jana engoliu em seco o temor que sentia. Lembrar de sua família foi igualmente doloroso. Podia ouvir claramente sua avó falar com ela. Podia sentir claramente a existência dela ser pagada.

- O que você fez? – foi o que ela foi capaz de perguntar.

Enquanto falava, Jana abaixou a cabeça na direção da bola de cristal. Viu o rosto da menina, que desapareceu rapidamente. O que era aquilo? Quem era ela? Ela iria despertar logo, mas o que ela tinha a ver com tudo aquilo?

Jana sentia a corrente de Magika do local, mas era muito crua para entende-la. Sua tristeza virou irritação consigo mesma. Como poderia ajudar sua família, se é que eles ainda existiam, ou como poderia fazer qualquer coisa se não entendia quase nada?

Por fim, ergueu os olhos marejados para a mulher. O olhar perfurante carregado de irritação e tristeza.

- Adrian... – esse nome também era peculiar.

Apontou a bola de cristal com a cabeça.

-Quem era essa moça?

Enquanto esperava a resposta de Adrian, olhou Gendou de relance. Indicou para que ele se aproximasse.

Jana ainda se recuperava do que acabara de sentir. Ela controlou-se e os olhos logo deixaram de ser marejados. Sentia-se cansada e de repente, uma ânsia de vômito pareceu tomar conta da Eutanato, que teve que se controlar para manter-se ereta na cadeira.

-.... Ja... Jana. – ela disse com certa dificuldade. Estreitou os olhos e apoiou as costas no encosto da cadeira, tentando recuperar a pose.

Enquanto isso, informações rodavam em sua cabeça. Ela deu um sorriso debochado enquanto pensava que Adrian não conseguiu descobrir seu nome. Jana descobria o nome das pessoas. Ela sim era uma ótima clarividente. Mas, de quem era o nome mesmo? Não se lembrava...

Jana já sentia que o corpo ia parar o lado quando Gendou a segurou. Ela ouviu a voz do amigo e pareceu recobrar aos poucos a força que tinha. Encarou o jovem lobisomem com uma expressão não tão amigável:

- Você conhece ela?

Olhou a mulher depois, desconfiada.

Jana tinha os olhos fixos em Gendou. Ainda se sentia fraca por conta do que quer que Adrian tivesse feito contra ela. O lobisomem podia sentir os olhos de sua amiga sobre ele. E ele sabia que ela estava irritada. Talvez fosse isso que Gendou quisesse.

Seja qual for, parece que funcionou. Jana não sabia se era a raiva que sentia de Gendou agora ou se era de fato o efeito passando. A mulher sentou-se novamente ereta na cadeira, com o olhar desafiador para Adrian. Concordava com o que Gendou falava, mas com uma r de quem apenas concordava por concordar.

Enquanto isso, pensava que deveria sim voltar depois, mais preparada. Iria descobrir qual era a dessa Adrian.

Queria muito saber de onde Gendou conhecia aquela mulher e até que ponto ele não havia armado o encontro das duas. Suspirou e olhou Adrian. Tinha coisas mais pertinentes para perguntar:

- Legal que vocês se conhecem, mas... –apontou a bola de cristal. – Quem era aquela moça? E por que eu vi ela?

Cruzou os braços como se quisesse apontar que Adrian era algum tipo de charlatã. Aproveitara a deixa de Gendou de que Adrian mexia com “forças que conhece muito mal”.

-Eu nem conheço ela!

Jana estreitou os olhos e fitou Adrian com um olhar de poucos amigos. Não sabia muito bem o que era “Fúrias Negras”, mas agiu como se soubesse. Deveria ser algum grupo de metamorfos, como Gendou já havia explicado para ela.

- Graças a mim? – falava com Gendou, perdida nos pensamentos.

Olhou feio para Adrian:

- Qualé! Ele só tá tentando ajudar! – sorriu, irônica.

Jana tentava entender porque ela havia experienciado aquela sensação. Entendia agora que era como ela via aquele tipo de coisa, as adivinhações e tudo que isso envolvia. Será que vinha das conversas com sua avó? Aquilo havia deixado algum tipo de impressão em como ela via as coisas?

Por fim, enquanto Adrian se encolhia na cadeira, Jana levantou-se e agora percebia que a adivinha charlatã tinha diversos objetos de sua loja.

Mais segura de si, Jana pegou um dos objetos e olhou para Adrian segurando o mesmo na altura de seu rosto, mostrando-o para a mulher.

- Então quer dizer que você faz os esquemas pros coitados do filhotes usando o que EU faço?

Jana aproximou-se de Gendou e sorriu para ele. Depois, cruzou os braços e olhou feio para Adrian.

- Sem papas na língua agora. O que foi esse lance que senti agora? Foi você que fez? – apontou com a cabeça os objetos que ela mesma fazia. – Usando eles?

Colocou o objeto na mesa bem na frente da adivinha:

- E ainda tem o bendito do incêndio! Você previu ele! Que você fez, hein?

Muitas perguntas que Jana tinha jogado sem qualquer tipo de cerimônia. Sua paciência estava se esgotando.

Adrian parou para pensar por um momento que de fato aqueles sortilégios e pequenos fetiches que entrevou para as Fúrias vieram também tocadas pela loja de Jana e que indiretamente ela estava protegendo filhotes recém transformados com a mágika dela.

—Não previ o incêndio, nem fiz nada! Só vejo que seu destino esta ligado ao dessa jovem... Porque na verdade você viu na Bola de Cristal porque tem o dom da adivinhação e não eu...

Gendou ria loucamente e comentava.

—Ah, então admite! Hahaha! Eu bem que poderia comentar para suas amigas amazonas que esta usando uma maga...Eles iriam ficar bem zangadas!  

Então o metamorfo se voltava para Jana.

—De fato Adrian não esta fazendo as coisas corretamente e não seria de estranhar que a mácula da corrupção tocaria suas tentativas de aprender rituais... Não há dons para humanos que não sejam parentes inspirados por Gaia.  

Adrian, apertou-se em um abraço próprio com seus braços cruzados e encolheu as pernas, ficando meio de lado na cadeira. Triste e intimidada sem poder responder às perguntas e consentindo com o fato de que ela não fez nada ali, nem mesmo as forças sinistras que cercavam o lugar eram responsabilidade dela.

Jana riu junto com Gendou.

-Então me diz como é que você sabia do incêndio? Quer dizer que você é mandante de um crime?

A Eutanato atacava verbalmente a mulher junto com Gendou. Enquanto o metamorfo ria, Jana mantinha também o sorriso sarcástico. Ele terminava de falar, ela logo emendava com outra acusação ou pergunta.

- De fato, senhor Harris. Temos aqui uma mulherzinha que na verdade, pode ser um agente da Corruptora.

Jana se aproximou de Adrian com movimentos felinos.

- Imagine o que as Amazonas sentiriam e fariam quando soubessem disso. E eu, a maga usada, ficaria extremamente PUTA!

Jana olhou em volta. Olhou para seus pequenos encantos.

-Imagine o que eu poderia fazer. – disse, em voz baixa, enquanto olhava para os objetos. O tom tinha uma ameaça velada.

Os olhos negros de Jana brilhavam. Os olhos brilhantes de um caçador que encurralara um ratinho:

- Me diga então, Adrian. O que você, de fato, fez?

Jana voltou a baixar o tom de sua voz, ameaçadoramente:

-Fala tudo, que eu e Gendou somos ocupados. E se falar logo, podemos ser generosos e dar o fora rápido.

Pela postura da mulher, Jana achava que ela tinha pouco mais a oferecer. Porém, sua teimosia a fazia pressionar um pouco mais.

- E você não viu nada na bola de cristal, correto? Nem sabe do que eu estava falando, não é?