Ato ll.lll: A Loja Mágica de Brinquedos

Jana segurou seu sorriso. Estava feliz que tinha conseguido quebrar Adrian.

- Ele apenas disse isso? Que queria fazer o incêndio? Por que ele queria?

Jana baixou o tom mais uma vez. A voz fria e que dava certeza de uma retaliação:

- Cabala...? Ele explicou por que você precisava ficar aqui, perto da minha loja?

Quando Adrian disse que Escorpião havia comprado coisas na sua loja, Jana olhou Gendou de relance. Então, provavelmente Jana saberia quem era o homem.

- Descreve como ele é. E bem detalhado. - suspirou. – Você ainda tem contato com ele? Quando vai vê-lo de novo?

Jana suspirou calmamente.

- E é bom falar a verdade. Eu sei dizer quando mente. E não vai querer me enganar. Não de novo.

Olhou a loja. Enquanto passava os olhos pelo local, dizia:

- Senão isso aqui e você, e sei lá quem, podem sumir também.

Jana ouvia o que Adrian falava. Cruzou os braços, mantendo a cara de poucos amigos. Tudo o que ela dizia parecia perigoso.

Jana olhou Gendou de relance enquanto pensava no que a mulher havia dito.

“Polícia? Incêndio... Cabala. Isso tá muito doido.”

Por fim, Jana suspirou:

-Acho que você não sabe direito no que se meteu.

Jana foi até o canto onde os objetos que Escorpião comprara de sua loja estavam. Ela pegou mais um deles e os observou. Pensou no que ela estava vendendo. Nunca havia reparado que aquilo podia ser perigoso. Ela voltou a afalar com Adrian, irritada:

- Você sabe alguma coisa sobre esse tal garoto índio e essa galera? Ou ele não te disse nada? Sabe mais dessa Cabala?

Jana agora não estava tão em cima de Adrian, mas seus olhos cortavam a jovem como uma faca. Aguardava as respostas enquanto Gendou ria. A própria Jana abriu um sorriso maldoso enquanto o metamorfo gargalhava.

Jana tentava formar a figura completa em sua mente, mas por algum motivo não conseguia. Queria apenas mais aquelas informações de Adrian e iria embora para realmente pesquisar sobre aquele homem.

- E onde eu posso encontrar esse Escorpião? Ele combinou algo?

Jana arqueou uma sobrancelha enquanto ouvia Adrian. Ela olhou de rabo de olho para Gendou mais uma vez. Vendo como Adrian se contorcia na cadeira e parecia estar completamente confusa quase a fez recuar um pouco. Quase.

Jana mantinha sua postura ameaçadora para com Adrian. Ela falou novamente, baixo.

-Sabe que eu sei quando você mente, não sabe?

Ela então, ouviu a história maluca de Adrian. Sinagoga? Abrir portal para o Inferno? Cabala? As coisas ficavam cada vez mais malucas.

- Você sabe qual sinagoga?

Jana suspirou enquanto ouvia Adrian e Gendou. Por fim, ela afastou-se um pouco de Adrian, mas mantinha os olhos firmes nela.

- Você vai fazer o seguinte: Você vai fechar essa tenda e acabar com essa palhaçada toda.

Jana andou até um de seus objetos encantados. Pegou algum talismã que trouxesse certo acalento e proteção. Entregou na mão de Adrian.

- Deixe isso perto de você. Aos poucos, essa sensação vai sumir. – Ela arqueou uma sobrancelha. - Eu acho.

E Jana continuou:

- E você vai dar o fora daqui. Se eu te ver mais uma vez, as Fúrias Negras vão saber o que você fez.

Jana fez uma careta:

- É melhor você fugir daqui. Vai procurar esse tal de Caleb e não decepcione ele mesmo. – Jana disse ainda o nome para Adrian ter certeza que ela guardara todas as informações.

- E não se esqueça. Eu vou sempre saber quando algo assim acontecer. E você não vai querer ser a responsável.

Jana afastou-se de Adrian e olhou Gendou.

-Vamos dar o fora daqui. Já temos o que queríamos.

Jana observava Adrian arrumar-se e ir embora. Acabou simpatizando-se pela moça. Ter alguém mexendo na sua cabeça não era nada agradável.

Jana colocou uma das mãos na cintura enquanto via Gendou brincar com um dos amuletos:

- Eu não sei. Dá uma olhada no celular aí. Será que não encontramos nada no Google? Ou sei lá, alguma rede social. – pelo menos deveria haver perfis de sinagogas, não?

Enquanto falava, Jana pegava mais uns amuletos e os observava. Decidiu catar tudo que era da loja dela. Vai que aquilo chegava em mãos erradas. Entregou alguns para que Gendou carregasse.

- Vamos voltar pra minha loja. Lá vamos pesquisar mais. Melhor que rede social, é dar uma olhada nas cartas!

Jana saiu do que era atenda e andou rápido na direção de sua loja.

- Hmmm... Precisamos chegar lá hoje de noite. Algo me diz que agora isso é responsabilidade nossa.

Jana fez uma careta.

-Que merda. Preferia não saber nada disso. Agora me sinto na obrigação de avisar alguém. Talvez a tal da... Himiko? Não! Akemi!

Parou na porta de sua loja e olhou Gendou. Começou a destrancá-la.

- Lobisomen, hein?

Jana lembrou-se de algo. A forma de uma ferramente se formava em sua mente. Ela não disse nada, por enquanto.

- Então eu e você conseguiríamos viajar pelo tal mundo espiritual?

Jana finalmente abriu a porta e, antes de entrar, olhou para um lado e para o outro. Depois os olhos negros pararam em Gendou:

- Você sabe como podemos fazer isso? Aliás.. – começou a falar mais baixo, fazendo sinal para que Gendou entrasse. – Se conseguíssemos entrar no Mundo espiritual, você consegue nos levar para esse tal lugar?

Jana acompanhava Gendou com os olhos depois de ter entrado e trancado a porta. Arqueou uma sobrancelha.

- Então para lobisomens, é bem tranquilo de fazer isso? Por que seria perigoso pra mim?

Jana deu os ombros.

- Eu aposto que eu consigo me virar.

E deu um meio sorriso. Gendou podia sentir que ela estava com medo e nervosa, mas ela não gostava de demonstrar aquilo.

Jana ficou uns segundos pensando quando Gendou estendeu a mão a ela. Jana comprimiu os lábios e disse com a voz meio falha:

- Não vai acontecer nada de ruim, não é?

Lembrou-se de sua família sumindo. E se acontecesse o mesmo com ela? Ela olhou os olhos de Gendou e o sorriso ladino do jovem. Deu um meio sorriso.

-Eu volto pra puxar seu pé se alguma coisa acontecer.

E deu a mão ao rapaz.

O lugar era brilhante, cheio de quintessência livre que poderia ser sentida...

Mágika borbulhante como um copo de água com gás gelada...

...era estranha...

Sombras dançavam enquanto vozes risonhas pareciam zombar dela, ao ver Jana sendo puxada pela mão por Gendou.

Eles pareciam caminhar pelo país em uma versão distorcida, que parecia ser uma dimensão espelhada.

Jana andava e sentia toda aquela energia desprendida no ar. Diante de seus olhos negros, via a Quintessência, energia que magos matariam para ter, aparecer e sumir em questão de um piscar de olhos. Como Gendou tinha acesso a tudo aquilo?

Ela engoliu em seco enquanto andava pelo local, sem soltar a mão de Gendou. Ao observar as sombras, parou e assim fez o lobisomem parar junto. Entretanto, logo voltou a andar.

- O... O que é aquilo? – disse com a voz embargada de medo. Jana aproximou-se de Gendou e andou próxima a ele.

Os olhos dançavam pelas imagens disformes do local que chamava de casa. Tentava identificar por onde passava dentro daquele túnel que parecia ser uma brincadeira feia da realidade. Aliás, por que onde estava não seria a realidade e onde vivia, a ilusão? Deixou esse questionamento pra lá por um tempo.

-Gendou, já estamos chegando? Aliás... Desde quando consegue fazer isso?

—Eu penso que você precisa respirar fundo... Não é como se te contasse e tudo pudesse te fazer sentido... Meu problema com você por aqui é mais você do que eu. E não fique como uma criança birrenta perguntando "já chegamos"

Quando estavam andando pela névoa, um dos borrões em meio às névoas começava a ficar mais claro, parecia um homem de capuz, carregando nos braços uma jovem garota que gritava desesperada "Aquilo era uma piscina?"

Em uma ansiedade brutal , eles pareciam correm em meio à tantas outras figuras sombrias nas brumas que desapareciam os dois começavam a ficar mais nítidos.

Jana deu um meio sorriso:

-Já chegamos?

Jana tentou respirar fundo, mas não deixou de ficar nervosa ao ver os dois vultos chegando perto.

- Piscina??

Jana olhou em volta, procurando a bendita piscina, enquanto segurava firme a mão de Gendou.

- C-cara! O que é aquilo que tá chegando perto?? Um... – forçou a vista. – Um cara com uma moça nos braços?

Olhou feio Gendou.

- Por que você não me carrega no colo igual a ele?

Bufou, brincalhona. Porém, Gendou sabia que ela estava nervosa. Jana parou novamente e consequentemente, forçou Gendou a parar.

- Você tem certeza que esse é o caminho certo, né?

Olhou em volta. A respiração mais ofegante e um certo tom de ansiedade na voz.

- Quando vamos sair daqui?

Depois do comentário meio jocoso e preocupado para Gendou, esse para e esperando uma distração da parte de Jana, quando essa vira a cabeça toma um tapa na nuca...

—A garota... preste mais atenção, é a mesma da imagem que você viu na bola de Cristal?

Ele falava enquanto o homem do outro lado, colocava a garota no chão e tentava esconder a garota deles atrás de si mesmo, enquanto em meio aquela névoa mal conseguia se ver os detalhes de ambos...

-Aaai aai! – Jana passou a mão onde Gendou havia acertado.

A moça olhou feio para o rapaz, mas logo a expressão mudou para algo como “Eureka!” Os olhos arregalados e um sorriso no rosto.

- Gendou, você é um estorvo, mas é genial!

Gendou estava certo! Havia a moça que Jana havia visto na bola de cristal. Ela logo iria despertar! Mas....

Jana arqueou uma sobrancelha e estreitou os olhos. Era ela mesmo? E como ela estava lá, se não havia despertado? Viajava com alguém como Gendou?

Pareceu ouvir uma pergunta? Jana arriscou. Não sabia se era a mesma que vira na bola de cristal. Colocou ambas as mãos em forma de concha na frente da boca e gritou:

- EEEEEEEEEEEEI! Vocês aí! Queremos ajudar! Tenho um recado!

Jana olhou Gendou, parecendo pensar.

- Você vai despertar, não vai? Nós viemos ajudar!

Calou-se.

-Quer dizer, não a você despertar, mas com outras coisas! Conseguem me ouvir???

E deu os ombros, olhando Gendou.

-Juro que tô tentando.

Apesar das palavras de aviso de Jana parecerem afetar a garota, o homem com ela tomou um pouco a frente, Gendou parou de rir e parecia querer rosnar para ele.


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