História: Elliot Shion Nakamura

Elliot puxou Megumi a tempo. Assim que ambos saíram de debaixo do batente da porta, as gotas imensas começaram a cair. O que era mais bizarro era que logo depois deles, dois alunos passaram pela mesma porta. Eles podiam ouvir ambos reclamando:

-Que estranho, parece que a porta emperrou. – Megumi podia entender o que ambos falavam. Assim que uma das gotas caiu nos ombros de um dos alunos, ele logo ficou um pouco mais corcunda. Megumi pôde ouvir eles falando:

-Nossa, me deu uma dor estranha agora.....

E os dois estudantes foram seguindo se caminho. Elliot engoliu em seco e quanto observava tudo de forma incrédula.

-Mas...Como? Eles não..sabem?

Elliot engoliu em seco enquanto tentava colocar todas as peças juntas. Ela se considerava uma pessoa esperta e virona, mas aquilo... Era muito mais do que ela havia experimentado ou lidado.

- Piorando..? Isso quer dizer o que?

Megumi sabia que havia algumas situações que faziam uma maldição piorar rapidamente: poderia ser o local do prédio, afastar-se de algum objeto de proteção ou até desejo por algo que haveria no local. A mesma maldição estava ficando pior. Ele não sabia dizer se outras estavam também no local.

Elliot levou um susto quando Megumi a puxou. Quase caiu e firmou-se em pé. Olharia feio para ele não fosse o medo que sentia. Cada vez que se afastavam do prédio principal, Elliot sentia o cheiro piorar e seu coração pesar cada vez mais. E tudo acontecia rápido demais. Ela levou uma das mãos até a boca para não vomitar, mas logo viu os cães de Megumi. Ela apertou com força a mão do rapaz, nervosa enquanto via os imensos lobos, um branco e um negro, rosnarem e se aproximarem da maldição.

O olho que havia britado fora engolido em uma abocanhada pelo lobo negro. Ambos avançavam sobre a maldição e rosnavam e rasgavam o piche como os animais que eram: selvagens e sem dó. Elliot ficaria parada, horrorizada com o que via.

Dessa vez, olhou Megumi com uma expressão um tanto arrependida.

-Eu.... – balançou a cabeça em negativo e sua expressão ficou irritada. – Eu não te atrapalho!

E completou, pensativa:

- Como se fosse possível não falar alto quando...

Ela olhou em volta. Ela e Megumi ouviram uma voz cortada, que vinha do teto. Ela dizia algo estranho. Sem nexo. “Eu odeio ela. Odeio a Hinata.”

Eles olharam para cima e viram uma boca formar-se na gosma. A boca expressava esse tipo de frase sem parar.

“Eu fiquei morto de vergonha pelo fora que levei.”

“Eu detesto esse colégio.”

“Aquele babaca vai me pagar”

Elliot ouvia aquilo e lembrou-se do que Megumi dissera, que maldições eram a personificação de sentimentos negativos de um lugar. Aquilo era como as pessoas se sentiam então?

- Megumi, é como você disse... – ela falou baixo dessa vez, com os olhos fixos na boca monstruosa. Parecia que aquilo fazia sentido agora. – É tão pesado.

Os lobos abriram espaço para que ambos conseguissem correr até o campo abandonado. Os animais uivaram e olharam Megumi. A parte de cima ainda possuía a gosma, mas todos os pedaços que caíam no chão eram devorados pelos lobos.

Elliot seguiu Megumi e quando ambos chegaram no campo descuidado e o que ambos viram foi estranho: um redemoinho da gosma preta, não muito grande. Em seu centro, uma figura magrela, curvada estava.

A princípio, ele não viu Megumi e Elliot, mas quando percebeu a presença deles, ele abriu um sorriso. Primeiro, seus olhos foram para o jovem Fushiguro. Seu sorriso se abriu mais. Os olhos vermelhos brilhavam enquanto olhava para ele. Depois, ele olhou Elliot e seu sorriso se abriu mais ainda.

Entretanto....

Em um piscar de olhos, tanto a gosma quanto o homem sumiram. Não havia sinal do Cachorro também.

Porém, parecia que havia um  buraco no chão onde o homem estava, como se a gosma houvesse cavado aquele local. Elliot olhou para Megumi e parecia já saber o que fazer.

Com medo, a menina soltou a mão de Megumi e foi andando até lá. Ela se ajoelhou e viu uma estátua parcialmente enterrada. Elliot ajoelhou-se lá e esperou Megumi chegar.

Ela engoliu em seco e passou a mão na estátua, limpando-a. Era uma estátua pequena de um Shisa Inu.

Elliot a segurou as mãos, estranhamente calma.

-Eu sei o que é isso! Meu pai já me falou deles.

Ela olhou Megumi. Ele também sabia o que era. Shisas Inu eram estátuas usadas para proteção de templos e casas.  Havia o macho, de boa aberta, para afastar maus espíritos, e a fêmea, de boca fechada, que mantinha os bons dentro do local.



- Essa é só a fêmea. Será que...? – ela olhou o buraco. – Aquela coisa pegou o par dela? E por isso...?

Ela olhou Megumi, deixando sua suposição no ar. Por fim, invasiva, perguntou:

- O que você vai fazer depois da aula?

Elliot estava ajoelhada na terra batida próxima do buraco. Parecia pensar. Não sabia dizer porque, mas aquilo foi extremamente tranquilo? Como se já houvesse lidado com aquele tipo de coisa antes.

Ela ouviu a voa de Megumi e não ergueu os olhos. Ficou analisando a estátua velha e manchada da fêmea em suas mãos.

-.....

Ela se levantou e abraçou a estátua.

-Acho que ela quer ficar conosco. – disse agora prestando atenção em seu tom de voz. Ela olhou em volta. Não havia ninguém.

- Mas...Não dá pra voltar com isso pra sala, dá?

E quando ele falou sobre encontrar alguém, a jovem arqueou uma sobrancelha, agora um pouco mais energética:

-P-peraí! Como assim eu tenho que ir junto? Qual é a sua de ficar mandando, hein?

Ela franziu a testa:

-Encontrar quem e onde?

Irritada, Elliot começou a seguir para a direção de onde vieram. Ainda estava abraçada à estátua suja da cadela. Carregava-a com cuidado. Parou na entrada do corredor que os levariam para a porta de entrada. Megumi e Elliot podiam ver ambos os lobos que o rapaz havia invocado sentados e abanando as caudas. O pequeno corredor estava limpo de gosmas e sempre que uma delas caía do teto, eles a devoravam rapidamente.

Elliot olhou para cima e viu que a boca e os olhos sumiram. Talvez por conta dos cães.

- Melhorou, né? – ela olhou sorrindo para ele.

Ela foi até os cães de Megumi e afagou as cabeças deles.

-Hehehe! Bons meninos!! – falou agora mais animada, com um leve sorriso e um tom de voz mais alto.

Megumi podia ver algumas pessoas passando pelo local, mas por sorte, Elliot parou de brincar com os cães antes delas aparecerem. Ela foi até ele e voltou a encará-lo.

- Acho que temos que voltar pra sala, não? Até...

Ela estreitou os olhos, desconfiada.

-Depois da aula.

Elliot estava distraída com o cão que carregava. Ficou observando a estátua por alguns segundos, até que reparou uma movimentação de Megumi. Ela ergueu os olhos e arqueou uma sobrancelha quando viu a sacola. Achou interessante ele andar com algo assim.

- Você sempre anda com uma sacola, é? – sorriu enquanto pegava o material e colocava a estátua cuidadosamente dentro da mesma.

- Acho que assim está segura! – ela tinha cuidado especial com aquela estátua.

Foi seguindo Megumi por entre os corredores.

- Mestre? Mas...

E Megumi começava a se afastar. Elliot bateu um dos pés no chão e foi até ele, caminhando ao lado do rapaz.

- Mestre do que, afinal? Você gosta de jogar um monte de coisas no ar e nem explica!

Foi aí que ele falou da gosma. Elliot arregalou os olhos, pensativa. Que tipo de mestre Megumi teria?

- Ah, tá bom! Tá bom! Mas... Que tipo de mestre é? – repetiu a pergunta enquanto pensava se o mestre seria tão antipático quanto ele.

Ficava irritada quando ele simplesmente a ignorava. Pensava que ele não deveria ter muitos amigos. Pensou até em perguntar, mas os cães das sombras acabaram por distraí-la. Elliot afagou ambos enquanto os elogiava.

Ela seguiu pelos corredores e aparentemente tudo estava um pouco mais limpo. Ambos podiam ver resquícios da gosma em alguns locais, mas o ambiente não estava mais tão pesado. As pessoas andavam de forma mais tranquila e Elliot sentiu o ar mais leve.

Ambos andaram até a sala e a menina deixou Megumi falar. Ela só ergueu a bolsa, com um sorriso sem graça e soltou um “Desculpem-me!” muito mal falado e cheio de formalidades. Eles se dirigiram para suas carteiras.

Ao redor da sala, parecia não haver gosmas, mas Megumi e ela podiam ver pela janela que a mesma espalhava-se pelo local.

A menina engoliu em seco e falou baixo para Megumi.

-Depois da aula então.

E calou-se, deixando que a aula prosseguisse.

Elliot fez um bico ao perceber que Megumi não iria respondê-la de novo. Ela estreitou os olhos e deu os ombros, já começando a se acostumar com o rapaz.

- Você não é muito de falar, né. – disse por último, enquanto andavam de volta para a sala de aula.

Elliot ficou calada por um tempo. Ela voltou a falar apenas quando estavam já de frente à porta da sala e disse, antes de entrarem:

- Não vai mesmo me falar qual é a do seu mestre?

E ela suspirou. Segurava a sacola com cuidado.

- E eu ainda tenho que encontrar ele? É sério? Como você quer que eu vá com você se eu nem sei se ele ou você é maluco?

Disse e pensou que aquelas palavras iriam cair em orelhas surdas de novo, mas não deixou de expor suas preocupações.

Deixou Megumi dar as explicações e mostrou a sacola quando o professor olhou para ela. Tinha uma vaga ideia do que diziam.

Elliot finalmente voltou a seu lugar e reparou que, pelo menos por enquanto, na sala estava tudo limpo. Não havia sinais da gosma no local e o clima parecia ter ficado um pouco mais leve. Até mesmo os olhares que os estudantes dirigiam a ela e a Megumi pareciam menos hostis.

Ela sentou-se em seu lugar e tentou acompanhar o restante da aula, mas ainda estava nervosa. Deixara a sacola na parte debaixo da carteira, mas podia jurar que a sentia tremer levemente e ouvia um leve choro. Ela olhou por cima do ombro, na direção de Megumi, para tentar reparar se ele também ouvia.

Por fim, tentou concentrar-se na aula e na hora do almoço, viu que os estudantes se juntavam com seus amigos para conversar. Elliot suspirou e não sabia muito bem o que fazer. A única pessoa que parecia tentar entender o que ela dizia era justamente o sujeito emburrado: Megumi. E ela não estava no melhor dia para tentar uma aproximação com os outros alunos.

Timidamente, ela pegou seu almoço – dentro de um obento um pouco americanizado – e sentou-se ao lado do rapaz, puxando uma cadeira para perto. Meio sem graça, ela deu um leve sorriso, tentando ser simpática.

- Bem.... Parece que aqui tá tudo bem, não?

Ela olhou pela janela. Ela e Megumi podiam ver que a gosma ainda se espalhava pelo colégio.

- Só vamos fazer alguma coisa depois da aula mesmo?

Elliot abriu sua marmita e viu seu sanduíche. Não teve muita fome.

- Você... Ouviu ela chorar?

Elliot revirou os olhos enquanto Megumi respondia. Pensava que já deveria esperar tal comportamento do rapaz, mas era sempre um pouco irritante e frustrante.

-.... Queria saber porque eu deveria confiar em você. – cruzou os braços, fazendo pirraça.

Elliot entrou logo depois de Megumi, ainda um pouco irritada com o comportamento do rapaz. Ela seguiu seu caminho junto com ele e sentou-se na sua carteira. Tudo, claro, depois da explicação que ela julgou um pouco demais, mas...Pelo visto, havia funcionado.


Já no almoço, Elliot sentou-se timidamente na frente de Megumi e observava discretamente o rapaz pegar seu almoço. Reparou nos olhos azuis dele. Não sabia que japoneses poderiam ter olhos azuis. Ficou alguns segundos observando enquanto dava uma mordida em seu sanduíche, perdida em seus pensamentos sobre a possível descendência de Megumi. Parou ao reparar que um grupo de meninas os observava cochichando alguma coisa provavelmente maldosa.

- Afe, eu quis dizer aqui dentro da sala! – falou, irritada.

E de fato, dentro da sala estava tudo certo: a gosma preta tinha sido erradicada pelo menos daquela sala. Elliot olhou na direção do corredor e viu que parte dela estava indo embora.

Entretanto... Sentia ainda uma presença maligna rondando o local. Não sabia dizer o que era, mas sentia os cabelos de sua nuca se arrepiarem. Ela lembrou-se da figura horrível que havia sorrido para ela e para Megumi.

- Você sabe quem era aquele cara que surgiu naquela gosma e sumiu? Foi.... Horrível. – e realmente. Elliot sentiu um medo absurdo. Engoliu em seco e fez um leve afago na sacola ao ouvir o choro.

- Seu mestre sabe quem é?....

Ficou preocupada. O que diria a Taka-chan quando ele fosse busca-la?! E além disso, o que estava de fato acontecendo?! Ouviu de novo os choros da cachorrinha e ficou triste.

-Tadinha... Acho que ela quer o amigo dela de volta.

Suspirou.

- E o que você acha que aconteceu aqui? Aliás... – olhou as roupas de Megumi. – Você também começou agora aqui?

Elliot arqueou uma sobrancelha quando ele disse “não ser a pessoa que tem algo a perder”.

-Ah, mas parece que não é bom pra você também não ter isso. – ergueu a sacolinha com a pequena estatueta da cadelinha na altura dos olhos de Megumi. Ela deu um sorriso um tanto debochado. Parecia achar que ele precisava dela tanto quanto ela precisava dele pra resolver aquele mistério.

-Fora que tem um homem-sombra por aí que sorriu pra você e pra mim também! – se apontou, como se fosse extremamente importante para aquela trama toda.

Por fim, abocanhou mais uma mordida do sanduíche enquanto ouvia o que ele dizia e enquanto pensava se deveria ou não perguntar sobre a família dele.

“Não”. Ela pensou. Ele era calado e antipático demais. Inclusive, Elliot olhou em volta e percebeu que as pessoas normalmente não se aproximavam deles. Ele não tinha nenhum amigo lá?

- Mestre. Sei. Mas... – Elliot pareceu pensar. Insistia nas perguntas. – Ele é tipo o que? Mestre de maldições?

Parou e calou-se. Olhou Megumi e estreitou os olhos.

- Espero que ele seja mais falante.


Elliot ficou encarando Megumi quando este deu a resposta atravessada. Ela bufou e encostou-se na parede próxima à carteira, irritada com a falta de comunicação do rapaz. Agora elça estava envolvida naquilo, não estava?

-Custa você ser um pouco mais “ajudativo”? – ela tentou falar em japonês aquela frase, o que fez ela errar a palavra. Um leve risinho foi ouvido, mas ela pareceu nãos e importar.

Elliot terminou seu sanduíche e olhou feio para Megumi e completou antes de virar-se para frente. O professor já entrava na sala de aula para iniciar o próximo tempo.

- E aposto que você não e daqui. Ninguém também veio falar com você. O que significa que não conhece muita gente aqui.

E virou-se, completando em seu pensamento: Ou que é sempre antipático.


E começou a aula da parte da tarde. Elliot assistia com certa ansiedade. Logo o tal mestre iria chegar e ela se perguntava quem e como ele seria.

Elliot arregalou os olhos e deu um leve sorriso. Não acreditou quando ele teve a boa vontade de responder!

- Ah, então ele.... – engoliu mais um pedaço de seu próprio lanche. – Ele vai nos ajudar a lidar com as coisas estranhas daqui!

Elliot olhou em volta. Estava mais tranquila que dentro de sua sala as coisas estavam começando a normalizar. Até mesmo os colegas pareciam ter menos cara de quem poderia, a qualquer momento, mandar um palavrão feio na direção deles. Entretanto, ela podia ver, no canto dos olhos, as gosmas estranhas do lado de fora.

E ainda havia o homem estranho. Quem era ele, afinal?? E por que ele sorriu para ambos?

Elliot ouviu ele dizer “ajudativo”. Ficou feliz! Achou mesmo que ela tinha acertado a palavra! Guardou “ajudativo” em seu vocabulário!

Ela deu os ombros e antes de virar-se, ela apenas disse

- A gente vai ter que trabalhar junto, Megumi-chan!

O “chan” fora para irritá-lo, com certeza. Ela não sabia o que aquilo implicava, sabia?! Se sabia ou não, poderia ter sido demais.*



E as aulas seguiram normalmente. Elliot fazia o máximo para tentar acompanhar o professor, mas a barreira do idioma e da ansiedade que crescia na medida em que ouvia os choros da pequena cachorrinha de porcelana ou madeira – ela não se lembrava do material – que estava dentro da sacola que ela escondia embaixo da carteira. Megumi podia ouvir também. Era de dar pena.


No fim do dia, todos se preparavam para ir embora, mas... Elliot olhou Megumi. Ele sabia que seu mestre só apareceria quando as aulas e atividades estivessem terminadas.**

Arregalou os olhos e pegou o celular. Mandou uma mensagem para o motorista. Não sabia se ele já estaria no portão esperando por ela:

“Tanka-san, eu não ir pra casa agora. Ir mais tarde!”

Ela mandou em um japonês um tanto iniciante.

Acompanhava Megumi com os olhos, curiosa.



*Acho que vc sabe, mas "chan" é só pra gente muito muito próxima. Se uma moça chama um rapaz assim, provavelmente são namorados. Obviamente, Elliot não sabe.

** Eu não avancei muito pra deixar em aberto o que vc quer fazer com o Megumi. Fique à vontade! Pra acrescentar coisas e guiar a história tb ^_^

Megumi tinha até que boa vontade em responder as coisas, porém ele não era muito de falar. Preferia o silêncio dos seus pensamentos e sua concentração do que ficar falando, falando e falando. Ele ssbia que tinha totais condições para resolver aquele cado sozinho, mas parecia que algo ali havia mudado…

Aquela garota poderia ter tentado falar qualquer coisa para ele que não fosse aquele maldito “chan”. Se o que a jovem queria era irrita-lo, conseguiu, fazendo com que Megumi a ignorasse em grande parte do resto das aulas.

Ele sabia muito bem o que o “chan” significava inclusive que se ficasse andando com ela e falando demais com ela os comentários iriam sim começar, apesar de que ele não tratava a garota diferente do que tratava qualquer outra: frieza, distância e uma certa antipatia. Então quem se importa anyway!?

Quando o final do dia chegou, ele sabia que o mestre Gojo provavelmente o esperaria na porta da escola para poderem então retornar as atividades na Jujutsu, mas agora havia aquela garota e a escultura da cachorra na sacola, choramingando todo o tempo.

Ele então juntou todo o seu material na bolsa, se levantou da carteira e foi saindo da sala, já que tinha certeza absoluta que a garota barulhenta iria atrás. Reparou que ela escreveu qualquer coisa no celular e que mantinha o olhar nele, o que facilitava as coisas, já que Megumi não queria mesmo conversar.

Andando pelos corredores daquela escola, depois que cruzaram a porta de entrada da escola, lá estava aquele homem, usando óculos escuros pretos, aquele cabelo arrepiado de sempre e o ar brincalhão, já que logo sorriu e acenou quando viu Megumi. Esse era Satoru Gojo…

Megumi nada disse, apenas se aproximou do mestre e Gojo disse com uma voz suave:

- Megumi… recebi as informações… parece que tudo mudou um pouco…

O jovem apenas balançou a cabeça de forma positiva, concordando com o que o mestre disse, que podia aparentar não saber de nada, mas sabia muito.

Gojo reparou na menina diferente que estava pouco atras de Megumi e todo sorridente disse:

- Onde estão meus modos!? Hauhauah… muito prazer.. eu sou Satoru Gojobe você senhorita amiga do Megumi.. quem é!?

Elliot perdeu o sorriso ao ver que Megumi tinha ficado muito irritado quando ela pronunciou o “chan”. Ela foi, aos poucos, perdendo a expressão amigável, que dava lugar a uma expressão de confusão e de certa preocupação. Perguntava-se se havia feito algum tipo de gafe social.

Sentou-se e ficou calada até o fim da aula, evitando olhar para Megumi, com as bochechas um tanto vermelhas. Esperava que não tivesse sido muito ruim. Havia uma certa preocupação em não deixa-lo bravo já que....

Elliot pensou. Ele fora o primeiro que efetivamente trocara algumas palavras com ela, por pior que fossem as circunstâncias.


De qualquer forma, agora, no fim da aula, havia um Tanka-san irritado que recebera uma mensagem dizendo que sua passageira iria demorar. Ele pensou que ela deveria estar em atividades escolares. Seria isso que iria falar com seus pais, se fosse questionado. Ela teria falado com eles, não é?

O motorista estava indo embora quando viu de relance uma figura estranha, suja, curvada e magrela. Fora rápido. Ele achou que estivesse doido e partiu no carro que buscaria Elliot.



No fim da aula, Elliot fora atrás de Megumi, mas manteve uma certa distância. Ainda não sabia bem como abordar o menino. As pessoas os encaravam e ela, sem graça, não sabia bem o que fazer. Ficou vermelha e andou mais depressa para ficar ao lado dele.

-... Err... – Pensava em como puxar conversa. – Megumi-chan, SAN! – corrigiu-se depressa. – Agora vamos encontrar seu mestre, é?

E a cachorrinha chorou de novo. Elliot abraçou o pacote em que ela estava com carinho.

- Será que ele consegue ajudar ela?


Andaram por mais alguns corredores que estavam quase livres totalmente da gosma preta. Algumas ainda rondavam o local, principalmente mais para o lado de onde ambos viram o homem entre a gosma. Aquele que sorria de forma macabra. Megumi sabia que Gojo lidaria facilmente com aquilo. O problema era aquele homem.



Ao ver um sujeito de óculos escuros de noite, com um penteado tão peculiar, Elliot arqueou uma sobrancelha. Ela deixou Megumi e ele trocarem cumprimentos e falar da situação. Um pouco mais alegre, ela sorriu para ele e falou com aquele japonês estranho e engessado:

- Muito prazer, eu sou a Elliot!

Ela mantinha seu sorriso no rosto.

- E você ser o mestre do Megumi-chan? Megumi-san?

Ficou meio sem graça, mas continuou:

- Você saber o que ter havido aqui já?

Megumi detestava ser chamado de “chan” ainda mais porque não havia nada de “chan” nele então iria seguir com aquela carranca por um bom tempo.

A aula transcorreu sem ninguém trocar mais alguma palavra visto o mau humor de Megumi, mesmo em pensando que aquela estátua continuava choramingando.

O fim da aula acabou e então andando pelos corredores ele nada dizia. Gojo resolveria tudo e então aquela situação chegaria ao fim finalmente.

E então Gojo apareceu com aquele seu jeitão de sempre. Imediatamente ele cativou q jovem, que não parava de sorrir mesmo quando se apresentou.

- sim, Elliot-chan… mas vamos agora… precisamos conversar em outro lugar… - e Megumi continuava calado.

Depois de toda aquela cena, Gojo levaria os dois para o outro lado da cidade onde a escola de verdade que Megumi participava se lovalizava e que provavelmente Elliot teria que fazer parte, afinal de contas, alguma habilidade deveria ter ali. Então Megumi e Gojo seguiram em silêncio até o carro e quanto todo mundo entrou, o mais velho começou a dirigir por toda a cidade.

Elliot reparou que Megumi tinha ficado nervoso. Ela olhou para ele e, sem graça e vermelha, desviou o olhar.

Ela permaneceu calada ao perceber que Megumi não queria falar. Ficou um pouco triste por não ter mais com quem falar. Quer dizer, mesmo que este alguém fosse uma pessoa tão fechada e emburrada como aquele rapaz.



E realmente Elliot estava encantada com Gojo. Ao contrário de Megumi, ele era comunicativo e simpático. Realmente Elliot não deixou de sorrir para o professor.

- Outro lugar? Espera! Onde é esse outro lugar?

Elliot pensou que não deveria seguir dois homens desconhecidos para um carro, ainda mais sem saber para onde ir. Parou por um segundo, mudando d eideia.

Porém....

"Pode ir. Eles são amigáveis."

Ela ouvira. Olhou em volta, procurando pela voz. Ela era... Familiar.

A menina não encontrou nenhuma outra pessoa ou qualquer rastro de outro ser. Imaginou que fosse a cachorrinha na sacola e correu para alcançar os dois.

- Ei, espera aí!

Entrou no carro no banco de trás. Chegou perto dos bancos da frente e disse em seu japonês básico:

- Onde irmos?

Inicialmente o clima realmente não estava amigável, mas aquela era mesmo a postura de Megumi. Muitos não mudavam de opinião sobre ele nem mesmo depois de o conhecerem melhor, mas alguns mudavam. Bastava agora saber que tipo de pessoa era Elliot... Já a postura de Gojo era melhor, afinal ele era um professor, então se preocupava mais com outras coisas do que aquele tipo de melindre que uns e outros causavam.

Por alguns instantes a menina parecia insegura de entrar naquele carro, mas quando entrou, pareceu que a escultura dentro da sacola falou com ela. Ninguém se manifestou se havia ouvido alguma coisa também, mas no mesmo instante Gojo abriu a porta de trás do carro para ela e assim que a jovem entrou deu um breve sorriso. Megumi foi logo entrando no banco do passageiro e Gojo assumiu a direção e deu a ignição...

O caminho parecia não chegar nunca, pois pouco a pouco ia se afastando da cidade e indo para a região das montanhas, bem no coração de algum tipo de floresta onde com certeza Elliot não saberia chegar e nem sair sozinha e então finalmente Gojo disse:

- Estamos indo para um lugar mais familiar para pessoas como nós... você vai gostar... - e então seguiu dirigindo e assoviando vez ou outra, já que Megumi continuava com o rosto fechado e com o braço direito apoiado perto do vidro do carro, enquanto segurava o queixo...