Phillippe, Chevalier de Lorraine - Capítulo I - Ato 1 - The Devil's Army in Our Garden.

O sol acabava de sucumbir nas janelas pesadas que cobriam os luxuosos vidros daquele quarto lúgubre, ao toque ainda era possível sentir o calor que emanava do lado de fora, mas nenhuma luz podia ser mais vista, o sol deixava seu último resquício de sua presença naquele local, já fraco durante os frios dias que perduravam nos invernos da cidade. E a noite chegava com força, pois naquela época do ano a temperatura caia rapidamente ao anoitecer e os primeiros flocos de neve podiam ser visto a luz dos postes que iluminavam as calçadas daquela bela cidade.

Talvez o enorme lago presente no centro da cidade, que não congelava no inverno, mas demandava grande parte do frio que podia ser sentido em todas as ruas e avenidas mais próximas, a própria CN Tower, maior ponto turístico da cidade e provavelmente do país, continha um sistema poderoso de descongelamento dos vidros, para que a belíssima vista não fosse atrapalhada pelos vidros congelados.

Era duas batidas secas na porta, o velho código de sempre que a Srta. Champagne mantinha por muitos anos como combinado com aquele que dormia naquele quarto mal iluminado.

A decoração era bela e seus olhos recém despertos não cansavam de vasculhar os mais ínfimos detalhes da luxuosidade daquele quarto. Todos os hotéis e até as espeluncas de Old Town, lembravam muito sua terra Natal, mas só vagamente, porque a verdadeira arte e história deixados nas peças tradicionais francesas ficavam no país de origem.

A segunda onda de batidas duplas repetiu-se como se fosse um toque de recolher, e uma voz que parecia cansada mas também preocupada soava baixinho através dela:

- Monsieur Phillippe, há um cavalheiro lhe aguardando no saguão do Hotel e Vernon ligou, disse que lhe mandaria algumas imagens no seu telefone, falou também que saberia do que se tratava.

Sua mão tateava no escuro, agora mais ágil pois o despertar havia ocorrido a mais de cinco minutos, era o tempo entre as batidas na porta cronometradas pela sua assistente pessoal e que você rigorosamente controlava. Buscavam o telefone no criado-mudo, estava carregando mas já com a carga completa, abrindo as mensagens, conseguia ver que haviam quatro novas, na seguinte ordem: Vernon, Labelle, MacCallister e Natalie.

Da mesma forma prática e ágil que respondia as mensagens, seus subordinados de confiança lhe respondiam:

Taticamente, seu refúgio ficava a cerca de 20 minutos do refúgio de sua Senhora Natalie e também da Príncipe Alexia, e cerca de 10 minutos da CN Tower. Havia escolhido com a ajuda de Labelle um lugar onde pudesse ter saídas rápidas e responder prontamente conforme convocado por qualquer das duas Toreador que faziam parte da sua não-vida, ainda mais Natalie que era sua razão de estar "vivo" e tão preocupado com a segurança.

Antes de abrir a porta, a resposta do Xerife chegava:

Você olhava para o telefone e a tela antes de apagar mostrava 18:40, era tempo necessário para tratar com o tal convidado e também atender seus subordinados e o Xerife.

Ao sair do quarto, acabava lembrando dos tempos em que era humano e trocava os dias frívolos pelas noites entorpecentes e hedonistas em Paris. Toda a diversão acontecia assim que o sol baixava e quase abria um sorriso enquanto pensava que nada havia mudado. Mas Natalie precisava de você e precisava lidar rapidamente com todos os muitos compromissos da noite que havia se tornado em trinta minutos de olhos fechados, em um caos total e com um tempo muito curto.

Em sua cabeça perguntava-se o assunto de tal reunião importante e também o porquê de um aviso tão curto para acontecer, as ideias iluminavam-se em sua cabeça quando ouvia de sua boca as palavras que proferia a Cleo, e então algo lá no fundo fez muito sentido para você: Era as pressas para que nem todos os Membros soubessem do evento.

O Chevalier de Lorraine não era conhecido apenas por ter sido um carniçal antigo da corte de Paris, mas também pelas muitas capacidades de decisão e raciocínio rápido. Muitos Membros da Corte de Rafael de Corazon devem suas não-vidas aos serviços prestados por Phillippe nas longas noites em que esteve ao lado de Delphine, seja como mensageiro ou um perfeito espião.

Cleo lhe recebia com um sincero sorriso por vê-lo bem, eram alguns anos prezando por sua agenda e compromissos, fizeram dela uma excelente serva e até mesmo parceira de conversas em alguns momentos de menor intensidade em que seus afazeres estavam cumpridos e apenas as noites solitárias em seu refúgio eram a única saída que tinha. Ela olhava em seu tablet enquanto lhe conduzia pela sala de estar, você se perdia olhando para tanta beleza e delicadeza das obras de arte nas paredes e até mesmo a magnífica lareira adornada e pintada a mão por um artista muito jovem do subúrbio da cidade, além de especialista tático, você possuía um excelente dom para arte e encontrava sempre trabalhos muito belos nos centros culturais que possuía contato, levando vez ou outra algum artista a seu refúgio para que o mesmo realizasse alguma obra e também para frequente alimentação.

Ela abria a porta para o hall de entrada de seu apartamento de luxo e sentado lá estava um homem de terno comum, não mais de 40 anos, claramente um humano. Não parecia nervoso e conforme sua chegava ele levantava-se do belíssimo sofá carmesin em que estava e lhes acompanhava com os olhos, em suas mãos, ele trazia um envelope de tamanho comum.

Lorraine era um pequeno e longínquo vestígio das inúmeras tentativas do Sacro Império Romano de tomar a pequena faixa de terra que ficava entre as hoje então Bélgica, França e Alemanha. Era naquele lugar de nobreza pomposa derivada dos antigos povos carolíngios que Phillippe havia recebido a alcunha de Chevalier. Era no mesmo lugar que entre os inúmeros nobres, ele havia conquistado seu lugar e não havia demorado a chegar nas cortes de Versailhes, mantendo todos os desejos hedonistas e nada secretos da época beirando o absurdo.

Enquanto Delphine tratava de educar seu Chevalier, os Ventrue locais da época abraçavam uma jovem princesa alemã que havia se casado com o Duque de Orleães, conhecida pela corte, ela logo se afeiçoou a Phillippe e ambos nutriram uma amizade distinta, sendo um deles um carniçal da corte de Paris e a outra uma neófita dos Sangue Azul.

Com a viagem do carniçal para o Canadá e a iminente Guerra Revolucionária Francesa, os confidentes perderam contato, mas não sem antes saber que sua amiga havia se refugiado na Prússia e sobrevivido a primeira Coalização da mesma guerra.

Pouco menos de dez anos, Phillippe recebera uma carta informando que a mesma estava no Canadá e falava ao mesmo sobre liberdade, sobre a destruição de seus próprios Senhores, sobre as correntes que não mais a prendiam e como ela queria mostrar aquele mundo ao seu amigo. Ele então percebeu que ela se referia a Espada de Caim e amaldiçoou o destino por colocá-los em lados distintos de uma guerra travada muito tempo antes de suas existências.

As lembranças do Toreador se perdiam por entre os quadros do escritório, por fim lembrava-se da bandeira que havia jurado proteger e servir, o brasão dourado com os pássaros brancos voando em direção aos céus sobrepostos por uma faixa vermelha.

Cleo sempre entendeu aqueles devaneios e imaginava que alguém que vivia por tanto tempo deveria ter uma capacidade muito boa de controle para não ficar perdido entre tantas memórias. Ao ouvir o questionamento sobre sua alimentação, ela moveu os lábios silenciosamente para que não fosse ouvida no próximo aposento, formando a palavra que Phillippe entendia como “Família”. Ele sabia que dos favores que sua mãe e irmãs vez ou outra pediam e geralmente se tratava de dinheiro, aquilo acaba por um tempo com a motivação de Cleo, mas ele havia aprendido a aguardar e ver a forte ajudante passar por essas adversidades sozinha, ela era com certeza uma excepcional pessoa e agradava muito ter a confiança dela por perto nestes tantos anos.

Já na outra sala, após os questionamentos ao estranho Sr. Granholm, ele parecia ter ignorado suas palavras, você e Cleo se entreolharam, pois algo piscava em sua memória de que algo ali estava errado, mas não conseguia entender o porquê, colocava a culpa em seu despertar, que a muito tempo já não era o mesmo, mostrava para o Toreador os primeiros passos da idade secular e o que o futuro lhe reservava.
Com um olhar fixo em Phillippe, o Sr. Cole abria o envelope, que parecia conter um selo marcado em sangue, gentilmente e com delicadeza soberba, ele abria uma carta escrita a mão com uma letra extremamente fina e cuidadosa, e em excelente francês lia em voz alta:

- Meu amável e sagaz Chevalier, é com prazer em demasia que lhe saúdo mais uma vez, em nome do nosso tempo juntos. Entre confidências, entre aposentos do enorme palácio, sussurros a beira do rio Líger, fugas dos mais variados inimigos da Coroa e sob o brasão que lhe dá a alcunha que atravessa essas noites perturbadoras de outrora. Entre todos os lugares e maneiras, esta é a pior que eu esperava lhe encontrar, atado a uma coleira, preso pelo sangue de sua Senhora. Como sabe, lutei bravamente para perder meus grilhões e jurei a muito tempo nunca mais utiliza-los e muito menos permitir que aqueles de quem julgo importância em demasia, sofrerem o mesmo destino que sofri.

Estranhamente, você percebia que o Sr. Granholm derramava lágrimas enquanto falava, mas prestava atenção nas palavras, Cleo assistia tudo com certo assombro e parecia muito que não era o mesmo homem que a minutos atrás havia se apresentado a ela:

- Phillippe, meu único amigo nas noites amargas que vivi acorrentada às ordens daquele monstro, a morte final de Delphine deveria ter sido um sinal a você, mas Alexia tratou de prendê-lo, pois sabe da importância que tem para mim e também para o propósito maior a que está destinado. Eu trago até você uma chance de liberdade, de voltar a ter seu livre arbítrio, de fazer as próprias escolhas sem uma vitae limitando-as indefinidamente.

Novamente, o semblante mudou para algo mais sério, beirando o aborrecimento e o canadense com o melhor francês parisiense que você já havia presenciado continuou:

- Seria uma pena se estivéssemos em lados diferentes quando a Torre de Marfim de Toronto tombasse aos nossos pés. Por isso lhe escrevo após tantos anos e lhe ofereço essa chance, sei que sua resposta será negativa, mas não está pensando por si próprio, apenas lhe causando a dúvida sobre quem está respondendo a oferta, se é você ou sua Senhora Alexia. O Phillippe que conheci e amei, jamais deixaria alguém falar através dele.

Sr. Cole muito atrapalhado, sacava uma pistola curta do casaco enquanto entoava a última frase da carta:

- À bientôt mon amour. Liselote.

Com a arma apontada para você, ele baixava a outra mão segurando ainda a carta, não tremia e em seu rosto havia um sorriso bondoso. Vendo a cena, Cleo dava um singelo passo em direção a você, ficando quase que atrás de Phillipe, pois sabia o que o Toreador poderia fazer.

Off : Não há necessidade de iniciativa, você pode agir da forma que quiser, se for realizar alguma ação, pode rolar dados antes e te digo se passou por MP, para você postar o que fez.