Grey "O Rubro" - Pallando

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O homem deu um risinho, mostrando um dente meio apodrecido em sua boca. Havia rugas em seu rosto, mas o homem parecia satisfeito com aquela situação.

- Camponeses, nunca se deve confiar em alguém com um sangue tão impuro. No entanto, pelo menos eles conseguiram chamar sua atenção, de modo que me sinto grato por eles terem feito esse serviço. Nos tempos de guerra, devemos utilizar estratégias desesperadas em algumas vezes. A sorte pode estar do nosso lado.

Ele sentou-se, beliscando a carne em cima da mesa. Uma gordura escorreu pelos dedos do homem.

- Meu nome? Bom, eu não sou o fúria. se é isso que deseja saber. Meu nome é Maller Brand, um homem cuja raízes são antigas e cuja lealdade também é. Acredita que eu ainda sirvo a mesma família até hoje? - Ele fez uma pausa, perdido por um momento no passado. - Já servi a um rei, a um príncipe, e agora sirvo aquele que se intitula como Fúria. Todos bons homens cujo sangue traz consigo a tradição. - Ele balançou a cabeça, tentando fugir do passado. - Acredita que as tradições devem ser mantidas, Grey Blacktower? - Ele sorriu, indicando que sabia que Grey era o Príncipe de gelo. Não era nada excepcional, uma vez que aquela história era comentada em todas as tavernas de Westeros. De fato, não era todo dia que um guarda se tornava um príncipe. - O que eu tenho aqui para o norte é tradição. É o que eu posso oferecer.

Grey não se lembrava de nada sobre o homem, mas uma rápida lembrança ocupava sua mente. Ainda quando servia os Karstark, Grey ouvira o castelão contar uma história sobre Maller Brand. A história no entanto, havia se perdido na cabeça de Grey.

Grey ouviu enquanto o homem a sua frente ofendia camponeses, pois provavelmente havia nascido em berço nobre, para depois sentar-se e comer da carne sob a mesa. Ele definitivamente não era o tipo de pessoa que o Rubro esperava encontrar, aquele nobre não inspirava confiança e insistia em não responder-lhe diretamente.

Sua irritação para com o homem, que agora conhecia como Maller Brand, só aumentou ao ouvir que este não era o Fúria. Apesar da vontade de interrompe-lo, Grey continuou a ouvi-lo na espera de algo que mostra-se que não estava ali em vão, mas Maller parecia determinado a testar-lhe a paciência.

Além de toda aquela situação, o nome daquele que representara o Fúria lhe atiçava a curiosidade. Lembrava-se de tê-lo ouvido antes, talvez em alguma história e com certeza durante o tempo em que servia os Karstark, porém era só. Não conseguia recordar-se com exatidão.

Assim que pesou tudo, Grey descruzou os braços e cerrou o olhar sobre Maller, tentando mostrar-lhe que começava a ficar impaciente.

- A única coisa que me importa no momento é o Norte. Se suas tradições ajudarem-no nessa guerra, eu estou disposto a ouvi-las. Do contrário, poupe-me das artimanhas de seu mestre e diga-me que não tem nada a oferecer.

Maller Brand ficou visivelmente decepcionado com a resposta do Senhor de Harrenhal, mas por fim ele voltou a expressão normal. Sua voz no entanto, assumira um tom mais real, como de um lorde que possuísse um grande poder.

- As tradições são as bases de uma guerra. - Ele fez uma pausa, retirando outro naco de carne gordurosa. - Pelo menos para aqueles que pensam em vencê-la. - Outra pausa. - Quando Eddard Stark foi assassinado, tudo que restou ao norte foi a força da tradição. E assim aconteceu diversas vezes na história. Mas irei me adiantar como você pede, não é meu intuito desagradar um aliado.

Ele ficou em silêncio por um longo tempo, perdido em pensamentos. Era como se ele avaliasse o que estava pronto para dizer.

- O Fúria oferece um pedido de desculpas ao Príncipe de Gelo. Erros foram cometidos no passado, mas ele espera que as tradições sejam mais fortes do que os eventos recentes, de modo que o norte possa ouvi-lo quando chegar a hora. Nós oferecemos para você a chance de reconstruir o norte, nós lhe oferecemos a vida da Sansa Stark.

Maller Brand, após parecer decepcionado com a resposta, passou a ir direto ao ponto, atitude essa que Grey passou a apreciar em tempos de guerra. Ele assumiu um tom mais nobre para falar, finalmente dando alguma esperança a Grey de que não o havia trazido ali em vão.

O Rubro o ouviu falar com um olhar curioso, considerando que talvez houvesse subestimado Maller e seu mestre enquanto ouvia sobre tradição. Até o silêncio tomar conta do lugar por um longo tempo, Grey pensou ter entendido onde a conversa chegaria, mas assim que Maller Brand voltou a falar, o Rubro foi surpreendido.

A descrença de Grey nos primeiros instantes o deixou imóvel, com a mente perdida em perguntas para as quais o homem a sua frente possuía respostas. Como eles tinham Sansa Stark? Seria um blefe? Com certeza Robb, Bran e Rickon queriam as irmãs de volta, assim como era do interesse de qualquer nortenho tira-las do inimigo, mas a situação era realmente suspeita.

- Parece que o subestimei.- Grey inclinou-se para frente, encarando Maller Brand com a expressão facial mais séria que possuía.- Antes que eu dê minha resposta quero ouvir algumas suas.- Desta vez fez uma pausa, esperando uma reação, mas não demorou para lançar as perguntas.- Como recuperaram Sansa Stark e como posso confiar em um homem sem ao menos saber seu nome?

Maller Brander assentiu, mas não se moveu nenhum centímetro para trás e nem mesmo demonstrou medo. Seja ele quem for e quais forem seus feitos, era um homem acostumado com eventos importantes. O velho então disse com uma voz gentil, novamente retornando ao passado.

- Hoje em dia é comum que as pessoas me subestimem, mas isso foi diferente um dia. - Ele fez uma pausa. - Eu era como você quando era jovem, arrogante e intrépido, capaz de encarar alguém da realeza e força-lo a se dobrar a mim. - Ele perdeu o sorriso no rosto, e dessa vez sua expressão se tornou tão séria quanto a do próprio Grey Blacktower. - Nós ainda temos alguns aliados, por mais que muitos achem que nosso tempo terminou. - Ele fez uma pausa. - Um dornês, cuja família remete a antigos heróis foi quem tirou Sansa de Porto Real. Sankar Nassam dos Portões do Inferno é um bom homem, ainda que sua fama seja de alguém cruel e sem coração. Sansa estará aqui em Lagoa da Donzela em questão de um dia, pois nesse momento ela navega diretamente para cá.

Ele fez silêncio, aproveitando o momento para comer uma azeitona que fora remexida no mel. Ele teve dificuldades para morder a azeitona. uma vez que não possuía dentes saudáveis para tal. Dessa forma, ele chupou-a e depois cuspiu-a, ainda intacta.

- Você logo saberá o nome de Fúria, mas sinto que não posso revelar tal coisa ainda. Nossos inimigos são muitos e toda cautela é necessária. No entanto, eis aqui um presente que demonstra a seriedade do nosso pedido. - O velho então estalou o dedo e duas servas entraram na sala.

Elas carregavam uma grande caixa de madeira cravejada com diamantes vermelhos e azuis. Era uma caixa magnífica, somente o valor dela era capaz de comprar ao menos quarenta mercenários de Essos. Ela então foi colocada na mesa e dessa vez foi Maller Brand quem se inclinou para perto de Grey.

- Esse é o tesouro mais importante de minha casa. Lhe concedo esse presente de valor inestimável como prova de nossa fé. Nós queremos que o norte escute o Fúria quando a hora chegar, sem se comprometer em aliar-se a nós. Nós pagamos com tradição para obtermos tradição. - O olhar do velho era triste. - Apenas jure que o norte nos ouvirá e tudo isso será seu, inclusive Sansa.

Spoiler:

Maller Brand demonstrou firmeza ao decorrer da conversa. Quando mais Grey o ouvia, mais tinha certeza de que o havia subestimado, o que só deixava o Rubro mais curioso para entender ele e seu misterioso mestre. O velho homem voltou a falar com gentileza sobre o passado, sua expressão parecia confirmar tudo o que falava e Grey ouvia atentamente.

Nunca ouvira o nome Sankar Nassam antes, mas ficou curioso com a razão pela qual o dornês havia ajudado a garota Stark. Talvez fosse um raro homem de honra ou alguém cujo bolso estava cheio de moedas agora. Na verdade a razão não importava muito.

Grey aguardou enquanto Maller comia uma azeitona com dificuldade, mas seu foco não vacilou nesse tempo. Ele seguiu dando uma explicação para o mistério em torno do nome do Fúria, algo compreensível, mas que seria sempre um ponto de desconfiança. Em seguida duas servas entraram na sala carregando uma grande caixa de madeira cravejava com diamantes, uma beleza rara e com certeza muito valiosa. Maller Brand inclinou-se para frente e fez a proposta, era o momento para a resposta do Rubro.

- Se tudo que diz for verdade, estarei em divida com você e Fúria.- Disse pondo-se de pé, pela primeira vez com um tom mais gentil.- Pegue a caixa de sua família e guarde-a, não tenho direito de toma-la e muito menos interesse em riquezas. Só traga a Sansa Stark de volta para casa e dou-lhe minha palavra de que serão ouvidos.

Maller Brand tentou se levantar, mas ele quase caiu quando a idade pesou-lhe nos joelhos. Ele ainda estava surpreso por Grey recusar o presente, mas logo se recuperou e voltou a falar normalmente.

- Ela será entregue a você assim que ela pisar na Lagoa da Donzela. Estamos de acordo. - Ele sorriu para Grey, terminando o encontro. - Se quiser, terá um quarto para você e seu seguidor aqui no castelo, caso contrário, enviarei Lady Sansa com meus melhores homens a Harrenhal.

Spoiler:

Grey cumprimentou Maller Brand em sinal de acordo, depois o ouviu.

- Aproveitarei a oferta e ficarei aqui até a chegada de Lady Sansa. Agradeço

Spoiler:

O peso da história de Westeros podia ser encontrado em Lagoa da Donzela. Se a proposta que o homem falou fosse verdadeira, o norte poderia retomar um poder que havia se dissipado. A casa Stark era o símbolo máximo do norte, e agora Grey Blacktower estava a apenas alguns momentos de descobrir o que lhe aguardava. Era a glória ou até a morte, uma vez que Grey se encontrava dentro do castelo de Maller Brand ao lado de apenas um arqueiro, seria uma matança fácil para os soldados da região, e o golpe seria sentido em todo norte. Grey era o Príncipe de Gelo, e sua perda poderia significar uma nova desestabilização dos lordes nortenhos. Seja como for, a sorte estava lançada.

O tempo passou e Grey foi convocado para um salão. Lá, o futuro ou a morte aguardava-o.
Era noite quando Grey fora chamado, os corredores eram iluminados apenas pelas velas. Tudo que Grey podia ver ao caminhar pelos longos corredores do castelo eram os soldados que vigiavam o local. As placas de aço que eles vestiam brilhavam com a iluminação das velas, de modo que no meio do corredor era comum Grey ver pontos brilhantes perto das bifurcações.

O caminho não revelou nada de mais, e logo Grey se viu adentrando ao mesmo salão que servira de local de encontro com Maller Brand. Em meio as luzes bruxuleantes, Grey quase não conseguia enxergar a silhueta do velho Maller.

Maller estava em pé, sorrindo com os dentes defeituosos e segurava a mão de uma pessoa. Essa pessoa parecia nas sombras por capricho dos deuses, mas logo uma chama se moveu devido a uma brisa fria, revelando o rosto de uma mulher.

Não era o rosto de um menina, nem mesmo de uma mulher, mas sim a de uma princesa. Grey pôde ver a pele lisa, os cabelos loiros e lisos derramando sobre os homens como grandes rios de ouro. O olhar da princesa era duro, mas mesmo assim havia um ar gentil e real em sua expressão. Ela desviou o olhar para Grey, olhando-o com curiosidade.

Os deuses foram gentis com o Rubro, pois ele se encontrava de frente com Sansa Stark.

O Rubro acomodou-se em aposentos na Lagoa da Donzela para aguarda a possível chegada de Sansa Stark. Sabia da importância que tudo aquilo tinha, tanto para a casa Stark quanto para os rumos da guerra, não permitiria que houvesse a possibilidade de a garota ser roubada por outros ladrões do pântano. Uma vez havia prometido ao Senhor de Winterfell que protegeria seus dois filhos mais novos, havia falhado nisso e algo assim não voltaria a acontecer com sua filha.

Não conseguiu dormir ou descansar, estava nervoso e algo em si, talvez a experiência, lhe dizia que estava se arriscando demais naquele castelo, mas uma confiança exagerada lhe dava esperanças de que poderia sobreviver a qualquer coisa que Maller prepara-se.

Arrogância muitas vezes era a palavra que definia a principal característica de Grey em situações de risco.

Foi-se algum tempo até que Grey finalmente fosse convocado para um salão, onde descobriria se tinha feito a coisa certa ao confiar em Maller Brand. O Rubro seguiu pelos corredores iluminados por velas em meio a noite, sempre com a presença de soldados vigilantes e nada mais. Logo adentrou um salão, o mesmo em que havia encontrado-se com Maller anteriormente, e lá, em meio as luzes bruxuleantes estava o velho servo do Fúria.Ele estava de pé com seu sorriso "chamativo", segurando a mão de uma pessoa que escondia-se nas sombras.

A pele lisa, os belos cabelos como fios de ouro e o olhar duro de Sansa Stark foram revelados quando uma chama se moveu com a fria brisa do lugar. Sua expressão real e ao mesmo tempo gentil faziam o Rubro ter certeza de que não fora enganado por Maller, pois aquela garota sem dúvidas era nobre. E ela logo desviou o olhar com curiosidade.

Grey aproximou-se com cuidado, evitando o contato visual com a Stark. Tinha uma vaga ideia do que a garota havia sofrido em Porto Real e não sabia o quão ciente ela estava de sua atual situação e ,por saber o quão amedrontador podia ser, tentava não assusta-la. Encarou brevemente Maller Brand em sinal de aprovação e só então voltou sua atenção para Sansa.

- Lady Sansa.- Curvou brevemente a cabeça para depois prosseguir, ainda evitando o contato visual e sem a habitual autoridade no tom da voz.- Está segura agora. Sou Grey Blacktower, nomeado Senhor de Harrenhal por seu irmão. Estou aqui para garantir que volte para casa.

Sansa ficou parada enquanto olhava para Grey Blacktower. O silêncio instaurou-se por alguns segundos e o rubro sentiu um olhar duro avaliando-o. Aquele não era um olhar de uma criança, nem mesmo de uma mulher ingênua. Havia uma vontade de ferro naqueles olhos. Quando o silêncio e os olhares pareciam desconfortáveis demais, ela sorriu e estendeu a mão para que Grey a pegasse.

O toque dela era suave, a pele lisa era gelada como o próprio coração de Winterfell. Havia dever naquele gesto, mas também havia compreensão. Se o rubro esperava encontrar uma mulher fragilizada, ele parecia ter encontrado uma rainha. Esse momento durou poucos segundos, pois logo Sansa perdeu o ar intimidador que possuía, dando lugar a uma menina. Sansa, agora uma jovem garota, começou a ruborizar por aquele gesto. Grey pôde ver as bochechas dela corarem mesmo em meio a escuridão. Maller Brand deu um risinho, possivelmente achando graça da situação ou então um sorriso que apenas um homem satisfeito poderia dar.

Seja como for, Sansa Stark rompeu o silêncio.

- Se Robb nomeou você, tenho certeza que é um homem em que posso confiar. Fico feliz que você esteja aqui. - Ela olhou para porta ao fundo, pensando se viria mais alguém. - Onde está meu irmão? - Ela ruborizou novamente. - Desculpe-me, é que já estou um longo tempo sem vê-lo. Sempre foi meu desejo voltar para o norte, pois Porto Real em nada se parece com meus sonhos.

Um desconfortante silêncio parecia ter tomado conta do lugar. Grey notou o olhar duro que o avaliava, pensando que talvez Sansa Stark não fosse a garota medrosa que pensara. Ela realmente portava-se como uma Lady, cuja vontade havia se fortalecido na dor e na ausência de sua família.

Pela segunda vez em um curto período de tempo, Grey havia subestimado alguém.

Alguns instantes de mais silêncio depois, Sansa finalmente sorriu e estendeu a mão. Grey estranhou o ato, como se demorasse a reconhecer a cordialidade, mas logo segurou a mão da garota e voltou a curvar a cabeça por um breve momento. Logo em seguida a Lady fria que estava a sua frente transformou-se em uma menina de bochechas coradas.

Ela respondeu com gentileza, esperançosa que mais alguém entraria pela porta, mais especificamente seu irmão, algo que não aconteceria. Grey quase sorriu, achando graça da situação assim como Maller, mas achou preocupante a Stark não conhecer sobre o paradeiro de seu irmão, o que indicava que ela também não sabia do ataque em Winterfell.

Seria melhor não contar de imediato que seus irmãos mais novos corriam risco. Estava com pena de Sansa, não acabaria com o breve momento de alegria da garota com uma noticia ruim.

- Não existe razão para se desculpar.- Disse em tom amigável, finalmente olhando-a nos olhos, sem medo de assusta-la.- Sua família está no Norte e logo você estará com eles, isso é uma promessa.- Sorriu quase imperceptivelmente, tentando passar confiança.- Jamais voltará a ver Porto Real, se assim desejar.

Grey voltou-se para Maller Brand e estendeu a mão em sinal de acordo.

- Estou em divida com você e seu mestre, Maller Brand.