Amoghasiddi - Kether

Redris esfregava os olhos para tirar o pó, e o monge se aproxima com sua moringa de agua para ajuda-la. A barbara se afasta em um salto, as mãos em forma de punho, porém logo ela reconheceu a voz de Amoghasiddi e se acalmou.

O monge certificou-se de que Redris seguia suas ordens e foi para dentro da casa, pensando em como tudo aquilo era estranho. Aquele rapaz franzino agora era uma mulher ruiva, mais alta do que ele e provavelmente bem mais forte. E o suposto amante era um membro renegado da Ordem. Amogha precisava de respostas, e iria atrás delas, custasse o que custasse.

O monge, ao ver a porta fechada, salta pela janela e faz um rolamento, logo mantendo uma posição de defesa enquanto conferia os arredores. Estava num quarto simples, cheio de roupas e caixas. O deposito.

Vigilante, avança ate a porta do aposento e observa. A entrada e uma escada levando para cima.

- Sei que esta dentro da casa, colega da ordem! – diz Orion, sua voz vindo do andar superior – Não quero lutar, e creio que ambos estamos aqui pelo mesmo motivo, este rapaz ou garota que se chama Redris. Apenas a acalme, e venham para cima, que explicarei o que sei.

- Não somos colegas, nem somos da mesma ordem. Vocês macularam a imagem de nossa Ordem! Mas os ensinamentos são favoráveis a resolução dos problemas sem violência.

O monge então da direção da janela por onde entrou grita:

- Bárbaro! Por aqui! Venha e procure se acalmar!

Ao passar pela porta ele a abre e segue sozinho até o andar superior com as costas na parede, ficando assim de lado para quem quer que estivesse no andar superior. Sempre se mantendo atento para a possibilidade de alguma ação de Orion.

- Orion... Não me recordo de ninguém com este nome no Templo... Vamos me conte um pedaço da sua história! Até hoje não entendo porque você e seu grupo resolveu se virar contra os ensinamentos e da prática da boa conduta. Foi pelo vil metal? Pela fama e glória do mundo de fora? A doutrina diz que tudo isso é ilusório até mesmo a felicidade é ilusória.

Depois de gritar suas ordens para Redris pela janela, o monge sobe cuidadosamente pelas escadas, observando qualquer movimentação. Pé ante pé ele avança, até que avista o quarto onde esperava por ele Orion, que estava sentado em uma poltrona com a face séria, os cotovelos apoiados nas laterais.

Amoghasiddi entra no quarto e olha para o interior. Parecia o quarto de dormir do renegado, simples com a poltrona, uma cama e uma mesinha com uma planta num vaso. A janela estava aberta, as cortinas sopradas pelo vento.

- Orion... Não me recordo de ninguém com este nome no Templo... Vamos me conte um pedaço da sua história! Até hoje não entendo porque você e seu grupo resolveu se virar contra os ensinamentos e da prática da boa conduta. Foi pelo vil metal? Pela fama e glória do mundo de fora? A doutrina diz que tudo isso é ilusório até mesmo a felicidade é ilusória.

- Tampouco eu me lembro de voce, monge – diz Orion, que assim como Amogha, mantinha seus olhos atentos a qualquer movimento - Nossa Ordem mantem vários outros templos, por vários cantos de Dominus. Sim, digo nossa Ordem, pois apesar da facção Arakna ser considerada renegada, acreditamos nos mesmos ensinamentos. A grande diferença é que nós agimos, ao invés de deixar as coisas acontecerem. Mesmo que para isto tomemos algumas medidas drásticas...

Amoghasiddi olha para tras e ve que Redris estava subindo a escada. A barbara estava com a espada nas mãos e estava indo em direção de Orion, mas o monge com um gesto imperativo faz com que pare em seu lugar. O homem sentado na poltrona acena com a cabeça.

- Muito bem, é bom que esteja aqui, Redris. Zannete me disse que voce tinha virado uma mulher, mas ver você nesta forma é surpreendente – diz Orion. Ao ouvir falar de sua esposa, a ruiva se enfurece, e logo Orion tenta se explicar - Calma, eu e Zannete não temos nada, nós somos membros da mesma Ordem que o seu amigo monge... Deixe-me explicar como tudo aconteceu...

Orion olha para Amogha e Redris, para ver se os dois iriam deixar ele falar. Ao se certificar que sim, ele começa:

- Eu e Zannete fomos chamados para uma missão, que era levar um jovem ruivo, você, Redris, até uma pequena vila de Gália. Nos deram uma carroça, e durante toda a viagem você estava ou inconsciente ou delirante. Zannete cuidou de voce, e por algum motivo se afeiçoou. As ordens era deixa-lo as margens de um rio, próximo da fazenda de um casal de velhos, e cuidar para que eles sentissem pena de voce e o adotassem. Fizemos isto. O problema era que Zannete, que deveria acompanhar você a distancia apenas como uma garota da vila, burlou as ordens, e acabou se apaixonando.

Redris ouvia a tudo aquilo incrédulo. Toda sua raiva já tinha se passado, e agora ela estava sentada, olhando para o chão com as mãos na cabeça. Orion suspira.

- Pois é, tudo é uma ilusão. Escondi isto dos meus superiores, e tudo ate que estava indo bem, ate o dia do ataque dos bandidos. Juro que também não sabia da verdade, que podia se transformar em uma mulher, e Zannete também ficou bem transtornada, voce sabe disso. Depois que voce fugiu da fazenda, Zannete e eu conversamos sobre como proceder, e ela decidiu por ir atrás de voce. Como pode ver, todos fomos enganados.

O monge ouve atenta e calmamente as palavras do homem, sob o qual reservava muita desconfiança. Se mantinha impassível enquanto ouvia as explicações sem tomar nenhum partido ou fazer julgamentos. Quando enfim Orion terminou as explicações ele disse:

- Antes de mais nada Orion não somos da mesma Ordem, por mais que você diga o contrário. A visão deturpada sobre os oito caminhos demonstram como somos diferentes, portanto não seguimos a mesma Ordem. Vocês erram nos três caminhos da Conduta* descritos no Nobre Caminho Óctuplo e isso por si só nos difere completamente.

Nobre Caminho Óctuplo:

Ele faz uma pausa e retoma o discurso.

- Mas existem pontos vagos. Onde está a jovem apaixonada? Seria muito fácil para nós alcançarmos um jovem com algumas horas de vantagem, ou mesmo com um dia. Esses bandidos que estão a procura do jovem. O que você sabe sobre eles? Foram eles os seus contratantes?

Ele então estende a mão para Redris.

- Agora Redris, pratique o exercício de respiração que eu lhe ensinei. Busque controlar seus sentimentos, desacelere seu coração, apazigua seu espírito. Necessitamos que nossos olhos não estejam nublados pelos sentimentos para que busquemos aquilo que trás o sofrimento.

- Antes de mais nada Orion não somos da mesma Ordem, por mais que você diga o contrário. A visão deturpada sobre os oito caminhos demonstram como somos diferentes, portanto não seguimos a mesma Ordem. Vocês erram nos três caminhos da Conduta* descritos no Nobre Caminho Óctuplo e isso por si só nos difere completamente.

Orion, sem se convencer, cruza os braços.

- Você diz que erramos, mas na verdade reconhecemos a grande verdade, que o mundo está errado, e devemos agir. Nem que para isto esqueçamos da Conduta Etica no que se refere aos inimigos. Erramos? O mundo esta errado, e uma vez que o consertemos, os caminhos serão seguidos por completo. Arakna Samadhi!

- Mas existem pontos vagos. Onde está a jovem apaixonada? Seria muito fácil para nós alcançarmos um jovem com algumas horas de vantagem, ou mesmo com um dia. Esses bandidos que estão a procura do jovem. O que você sabe sobre eles? Foram eles os seus contratantes?

O membro renegado arqueia os ombros e dá uma tossida.

- Zannete? Também pensava que fosse retornar logo com Redris, mas algo deve ter acontecido no caminho... Um encontro com os bandidos? Novas ordens de Arakna? Vai saber... Mas pode ter certeza de que o ataque dos bandidos na casa de Redris não foi por conta da Ordem, pois bastariam ter ordenado e retornaríamos com ela, quer dizer ele – diz, apontando para a ruiva.

- Agora Redris, pratique o exercício de respiração que eu lhe ensinei. Busque controlar seus sentimentos, desacelere seu coração, apazigua seu espírito. Necessitamos que nossos olhos não estejam nublados pelos sentimentos para que busquemos aquilo que trás o sofrimento.

Para Redris todas aquelas informações estavam sendo demais, e logo entraria em colapso. Ele pega na mão de Amogha como se fosse uma tabua de salvação e a aperta forte. Inspirar. Expirar. Lagrimas brotam de seus olhos, e a guerreira faz um grande esforço para controlar seus soluços. Tinha vergonha de se expor daquela maneira, mas seus sentimentos estavam a flor da pele.

- O que eu acreditei, tudo era mentira. Meu casamento foi arranjado, meus pais são de mentira, nem eu sou mais eu! – diz, apertando seu próprio seio – Estou sendo caçado por algo que nem me lembro do que fiz! Que vida é esta? Seria melhor se eu terminasse com tudo isto agora mesmo!

Redris se levanta e pega a espada, levando o fio dela próxima do seu próprio pescoço.

Amoghasiddi olhava para o jovem que sofria com a sua maldição e com a sua própria sorte, chegando até a atentar contra a própria vida. O jovem monge apenas se levanta mas não faz nenhuma menção de remover a espada da mão do jovem.

- E então Redris sua vida será em vão, seu espírito vagará sem descanso pois o seu propósito não foi alcançado. E com o ato de remover a própria vida levará o desespero que leva ao sofrimento.

Ele então se aproxima do(a) jovem.

- Como a sua vida não é verdade. Tudo o que viveu fez quem você é. Suas lembranças, tudo o que aprendeu, sentiu e viveu. Suas feridas e suas gargalhadas. Sim seu caminho até agora estivera fora do seu controle. Mas agora as cortinas se abriram e você tem as rédeas de sua vida em suas mãos como um homem que guia uma carroça agora será você com sua vida.

O monge estende-lhe a mão para que entregasse a arma.

- Não irei impedir você de fazer o que quer que queira. Mas agora pode começar a virar este jogo.

O monge estende-lhe a mão para que entregasse a arma.

- Não irei impedir você de fazer o que quer que queira. Mas agora pode começar a virar este jogo.

Redris tinha a mão firme no cabo de sua própria espada, e suor escorria pelo seu pescoço. Ele mordia os lábios com força e seus pensamentos estavam a mil. Poderia acabar com seu sofrimento agora, mas sabia que iria vagar perdido pelo mundo dos espíritos, a procura de respostas porem nunca conseguindo encontra-las... E Amoghasiddi estava certo, independente de todo seu passado, passara momentos felizes na fazenda, junto de seus pais adotivos e sua esposa. E agora podia tomar as rédeas de seu destino, como o monge havia dito.

A ruiva acena com a cabeça e entrega a espada para o monge. Já tinha tomado sua decisão.

Orion se permite soltar um suspiro de alivio.

- Não sei o que falaria para meu mestre, caso voce tivesse decidido terminar com tudo... Palavras sabias, caro colega – diz, e se oferece para fazer um cha de ervas aromáticas. Depois de um tempo ele retorna com o bule fumegante – Tomem, ajudara a acalmar os ânimos.

Redris acena com a cabeça e sorve um pouco do cha, que tinha um cheiro delicioso. Com as mãos segurando a xicara para sentir o calor da bebida, ele diz:

- Muito bem, minha esposa, se é que ainda posso chama-la assim, esta desaparecida, e eu realmente preciso muito encontra-la, para tirar as coisas a limpo... Gostaria de ter sua companhia nesta viagem, Amoghasiddi, mas também sei que esta a procura de sua própria família, e entenderia perfeitamente se decidisse ir para União procurar por Kolen um-olho.

A ruiva olha para o monge, e era possível perceber em seu olhar que desejava realmente a companhia de Amogha. E apesar de sua maneira de falar e maneirismos lembrassem o pequeno rapaz ruivo, era inegável que aquela mulher a sua frente parecia ter uma personalidade própria.

Ele pega a espada da moça e acena afirmativamente para ela.

- Vejo que aceitou meus argumentos.

Ele então coloca a espada sob a mesa não muito distante de sua dona, apenas a distância suficiente caso ocorresse alguma interferência.

- Não sei o que falaria para meu mestre, caso você tivesse decidido terminar com tudo... - disse Orion.

- Os acontecimentos de hoje nada mais são que os reflexos daquilo que vocês chamam de se por em movimento, contrariando-nos ou melhor condenando-nos por nossa postura mais reflexiva antes da ação. Um rio se seguisse diretamente para o mar seria mais rápido mas causaria muita destruição no seu caminho gastando energia desnecessária e trazendo dor. Porém quando ele segue por suas curvas ele leva mais tempo para chegar ao seu destino, mas sua energia agora não trás destruição, mas benefício para uma área maior com as suas águas.

O monge recusa o chá de maneira educada, em partes por não confiar totalmente no outro homem ou por não estar com sede para tal.

- Muito bem, minha esposa, se é que ainda posso chama-la assim, esta desaparecida, e eu realmente preciso muito encontra-la, para tirar as coisas a limpo... Gostaria de ter sua companhia nesta viagem, Amoghasiddi, mas também sei que esta a procura de sua própria família, e entenderia perfeitamente se decidisse ir para União procurar por Kolen um-olho.

O monge olha num tom reprovador para a jovem.

- Kolen um-olho é o homem que está em seu encalço, Orion deve saber mais sobre ele e sobre os contratadores dele. E nisso nossa busca tem o mesmo caminho. Vamos segui-lo juntos até que a estrada se abra e então decideremos por qual caminho seguiremos. Então Orion o que sabe sobre Kolen Um-olho e seu contratador? Pois os homens enviados por ele traziam consigo este símbolo, que com certeza você conhece.

Amoghasiddi pega de dentro das dobras de suas roupas o símbolo que havia pego e era a última pista sobre o que acontecera no monastério.

Orion olha para o símbolo mostrado por Amoghasiddi, examina por alguns instantes e o devolve balançando a cabeça.

- Não, isto não me diz nada... Porém eu me lembro que durante a viagem para ca, Zannete, ou Lady Zan, me disse que estava preocupada com a onda de ataques sobre os templos da nossa Ordem, e que o responsável por isto era Kolen um-olho. Ela me disse que seu pai era um mestre muito importante, e que apesar de ter sido expulsa da família, ainda se importava muito com ele... Como era mesmo seu nome?

Redris passa a mão pela própria fronte varias vezes, e suspira.

- É inútil, não consigo me lembrar de nada... Isto não faz sentido, por que motivo alguém iria me amaldiçoar com esta forma? O que eu fiz para merecer isto? Talvez se encontrarmos essa Lady Zan, possamos ter mais respostas para as minhas duvidas.

Orion alça os ombros. Tinha duvidas que fosse realmente esclarecer alguma coisa.

- Como eu te disse, mesmo para Lady Zan e eu, sua transformação foi algo que nós não esperávamos. Ela também queria respostas, mas antes de mais nada, estava preocupada com voce, Redris. Sabia que não estava bem, e queria protege-lo... Leve em conta ao menos isto.

Finalmente parece que Orion se lembra de algo, sua face se iluminando por um instante.

- Ah sim, o sobrenome de Lady Zan é Songtsen. E o nome do pai dela é Gampo. Songtsen Gampo.

O monge estava quieto e por vezes se compadecia pelo cruel destino de Redris, até que Orion diz o nome de Lady Zan. Não era possível! Entre todas as possíveis, logo ela! Não... não... pensava o monge.

- Então ela deve ter seguido para a o porto do rio Torbruk. Devemos seguir apressadamente para lá. Antes que a situação fique ainda mais pior, Zannete é demais tempestuosa para conseguir fazer as melhores decisões. Sempre...

Ele se silencia ao repara que começava a falar demais.

- Vamos Redris, devemos partir neste momento. Se tiver cavalos na sua fazenda que possamos usar será melhor. Ela deve estar a quase uma semana a nossa frente. Se ela estiver a pé poderemos alcança-la.

Ele pega o pano com o símbolo e o coloca nas dobras da roupa. E se dirigindo para Orion ele fala:

- O Templo das montanhas foi atacado e destruído, e os homens que o atacaram são homens ligados a Kolen um-olho. Não acredito que Lady Zan tivesse ido até lá. Mas ela poderia querer passar por lá para buscar iluminação com seu pai. Então acho que seria bom que você fosse no Templo em busca dela. Depois nos encontre no porto do rio Torbruk.

Dito isso o monge se arruma e toca no ombro de Redris.

- Vamos.

Ele então segue para fora da casa após ouvir a despedida de Orion. Já no caminho retornando para a fazenda a sós com Redris, Amogha fala.

- Se era casado com Zannete, somos parentes. Então ainda mais irei lhe ajudar. Se ela ainda estiver viva, poderá mesmo a contragosto de meu sogro, ela será de ajuda. Zannete quando partiu era tão habilidosa quanto eu, e acredito que ela tenha aprimorado sua técnica.

- Então ela deve ter seguido para a o porto do rio Torbruk. Devemos seguir apressadamente para lá. Antes que a situação fique ainda mais pior, Zannete é demais tempestuosa para conseguir fazer as melhores decisões. Sempre...

Orion põe a mão no queixo e acena com a cabeça. Então o monge era cunhado de Redris... Interessante.

- De fato voce conhece Lady Zan, sabe que ela age de acordo com suas emoções, ao invés de pensar primeiro. Foi por isto que se casou com Redris, contrariando as recomendações... – diz, e logo se volta para a mulher que o olhava feio – Desculpe. Não era minha intenção irrita-lo.

- Vamos Redris, devemos partir neste momento. Se tiver cavalos na sua fazenda que possamos usar será melhor. Ela deve estar a quase uma semana a nossa frente. Se ela estiver a pé poderemos alcança-la.

A ruiva pega sua espada e a guarda em sua bainha. A disposição de Amogha em encontrar Zannete havia animado seu espirito, e seu desejo de encontrar a esposa aumentou ainda mais.

- Sim, porem temos um só... Voce pode ir na garupa, trata-se de um cavalo forte, aguentara a nós dois.

- O Templo das montanhas foi atacado e destruído, e os homens que o atacaram são homens ligados a Kolen um-olho. Não acredito que Lady Zan tivesse ido até lá. Mas ela poderia querer passar por lá para buscar iluminação com seu pai. Então acho que seria bom que você fosse no Templo em busca dela. Depois nos encontre no porto do rio Torbruk.

Orion concorda com as orientações. Já estava cansado de ficar parado naquele vilarejo vendendo suas mercadorias para donas de casa que vinham somente para ve-lo. Se ao menos fossem bonitas...

- Eu conheço o templo das montanhas, Lady Zan falava muito de lá. Lamento pelo ocorrido, eu ajudarei como puder. Não acredito que ele va me receber bem, afinal somos de posições um tanto quanto... antagônicas no que diz respeito a Ordem, mas enfim...

- Se era casado com Zannete, somos parentes. Então ainda mais irei lhe ajudar. Se ela ainda estiver viva, poderá mesmo a contragosto de meu sogro, ela será de ajuda. Zannete quando partiu era tão habilidosa quanto eu, e acredito que ela tenha aprimorado sua técnica.

Redris sorri de maneira sincera, pois estava satisfeita em saber que tinha um laço com o monge maior do que o da amizade. Meio sem jeito, da um breve abraço nele.

- Sim somos parentes! Cada vez mais penso que as deusas nos observam e nos ajudam... Eu tenho este mistério do meu passado e minha maldição, e voce sua busca por justiça e sua família... E agora estamos juntos atrás da mesma pessoa – diz, e sua face se torna insegura – Mas Zannete... Ela me enganou totalmente. Esta certo que tinha um bom físico, mas imaginava que tudo era do trabalho na fazenda, semeando e colhendo, ordenhando as vacas... Nem quando fomos atacados pelos bandidos ela reagiu, porem pelo que me disse, poderia ter matado a todos facilmente. Por Mitz, como era inocente!

Ao chegarem na fazenda, Redris explica aos pais sobre as novidades, e ficam contentes ao saber que Amogha fazia parte da família, de certo modo. Eles arreiam e selam o cavalo, e então Redris e Amogha partem em direção do porto do Rio Torbruk, próximo da capital de Galia.

Ambos cavalgam sem cessar pelas estradas de terra, e haviam percorrido já uma boa distancia, ate que começou a escurecer, e o cavalo passou a mostrar sinais de fadiga. Já estavam próximos da estalagem Estrela Negra, próxima do local onde Amoghasiddi encontrou pela primeira vez Redris.

O monge desce do cavalo e se estica, afinal não era acostumado a cavalgar pois quase sempre caminhava nas suas viagens. Ele repara como estavam os cavalos e não aguentariam muito mais tempo no ritmo que imprimiam, deveriam descansar.

- Redris, os animais necessitam de descanso. E nós também, podemos pernoitar na estalagem. Mas seria melhor que se mantenha coberta com um manto pesado e capuz, pois seria estranho se eu entrasse com uma mulher e saísse com um homem. Caso a sua transformação se desfaça enquanto dorme.

Ele conta as moedas que ainda tinha, provavelmente conseguiria pagar por um quarto simples para os dois.

- Vou pegar um quarto simples, você dorme na cama e eu ficarei no chão. Não estou mais acostumado a este conforto, passei os últimos anos em peregrinação e dormia onde havia espaço quando com sorte coberto. Coloque os cavalos no estábulo que vou acertar tudo.

O monge entra na estalagem e vai direto ao balcão onde fala para a pessoa que estivesse atendendo.

- Olá. Gostaria de um quarto simples para duas pessoas. Pode ser com apenas uma cama para um.

Depois se vira e olha ao redor para ver que tipo de seres costumavam frequentar aquele lugar, tentava perceber se eram viajantes o que traziam consigo, se eram locais e ainda se havia alguém tentando passar despercebido.

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Como Amoghasiddi pode verificar, o cavalo já estava bem cansado, assim como eles também, e decide por pernoitar na estalagem mais a frente.

Ao se aproximarem, viram que a estalagem Estrela Negra era uma grande casa, que mais aparentava uma mansão da nobreza das cidades. Era grande, de 3 níveis, e ao fundo havia uma torre ainda maior. A estalagem estava bem cuidada, toda feita de madeira, pintada e envernizada. O movimento era grande e viajantes e comerciantes de todas as raças entravam e saiam pela porta principal.

Seguindo o conselho do cunhado, Redris veste um grande manto com capuz para esconder suas formas femininas e leva o cavalo para a estrebaria. Enquanto isto Amogha vai em direção da casa.

Ao passar pela porta, o monge descobriu o porque do nome da estalagem: uma grande pedra negra, quase esférica, estava no centro do salão principal, sendo admirada por alguns dos fregueses.

Ao se aproximar do balcão de recepção, ele é recebido por Eron, o dono da estalagem, que era o completo oposto do que se espera de alguém neste ramo: magro, calmo e bem-apessoado. Ele estava lendo um livro de poesia quando Amogha o interpelou.

- Olá. Gostaria de um quarto simples para duas pessoas. Pode ser com apenas uma cama para um.

Eron acena com a cabeça, e pega um grande livro, abrindo-o e escrevendo em suas paginas.

- Muito bem... Estão em peregrinação? O Estrela Negra fica no caminho de varias rotas que levam a importantes templos do reino de Galia... Todos gostam daqui por causa das fontes termais, ótimas para relaxar e alcançar a paz interior... Um quarto simples para dois? Estamos bem cheios, mas tiveram sorte... Muito bem, subindo as escadas, a terceira porta a direita – diz, indicando.

O monge olha pelo salão principal, e verifica que grande parte dos que estavam ali eram viajantes e mercadores. Haviam elfos de Lennorien conversando reservadamente próximo da lareira, um anão de Hammerheim tomando um caneco de cerveja, e humanos de varias regiões de Galia.

NRPG: Spot com sucesso.

O que chamou mais a atenção de Amogha era um homem sentado sozinho no canto, logo atrás da mesa dos elfos, meio encolhido com o braço estendido sobre a mesa, a cabeça inclinada sobre o ombro como se tivesse tirando um cochilo. Mas não estava dormindo.

- Amogha? – interrompe Redris, que tinha acabado de chegar. Parecia estar bem sem graça, e continua falando baixinho – Amogha, preciso realmente tomar um banho... É meio difícil de explicar, mas... sabe, são coisas de mulher...

Com o canto dos olhos, o monge percebeu que aquele homem de antes tinha mudado de posição, e agora os observava veladamente.

- O quarto fica subindo a escada, terceira porta a direita. Pode ficar com a cama, faça o que tiver de fazer mas mantenha-se vigilante.

Responde o monge para Redris já passando pelo companheiro seguindo na direção do homem que os olhava.

- Mestre Eron, parece que alguém está ocupando de maneira errada seu estabelecimento. Mas não se preocupe eu mesmo irei interpelar ele. - fala o monge enquanto se afastava do balcão.

Ele vai caminhando na sua velocidade de monge, esquivando das cadeiras e dos atendentes com quem se esquiva de golpes. E ao chegar próximo o suficiente para chutar o pé da cadeira onde o homem está sentado e fala em voz alta.

- Olá meu bom homem! Porque alguém como você está sozinho no canto? Não está dormindo não é? Se está me desculpe por acordá-lo, mas o local para fazer isso é em um dos quartos. Se ainda não tem um alugado, temo lhe dizer que a estalagem está completamente lotada. Mas talvez esteja a espera de alguém. Quem sabe um homem chamado Orion?

Redris que começava a subir as escadas para e segue com os olhos o caminho que o monge fazia ouvindo o que ele falara sobre Orion.

Depois de passar as instruções a Redris, o monge dirige-se ao estranho homem que os observava.

- Olá meu bom homem! Porque alguém como você está sozinho no canto? Não está dormindo não é? Se está me desculpe por acordá-lo, mas o local para fazer isso é em um dos quartos. Se ainda não tem um alugado, temo lhe dizer que a estalagem está completamente lotada. Mas talvez esteja a espera de alguém. Quem sabe um homem chamado Orion?

O homem, que era corpulento, sem camisa, careca e tatuado, se levanta com uma expressão no rosto de poucos amigos.



Com a voz rouca e grave ele retruca:

- Se eu estou dormindo e estou acordado, não tem nada a ver com voce, careca! Sei lá quem é esse tal de Orion, só sei que voce comprou briga com a pessoa errada, pateta!

Com as duas mãos ele empurra Amogha, que da dois passos para trás. Esta cena chama a atenção dos demais, que param o que estavam fazendo para acompanhar o barraco. Redris, que observava da escada, para e desce os degraus, indo novamente para o salão.

O mestre Eron logo se interpõe entre os dois, estendendo os braços e falando furioso.

- Parou! Parou! Não quero confusão dentro da estalagem! Ou param vocês dois, ou vou ter que expulsa-los a pontapés! Entendido?

Um grande silencio se faz no salão, todos em expectativa pelo que iria acontecer.

O monge já se preparava para combater o bruto quando o dono da estalagem habilidosamente já aparecia ao seu lado.

- És um homem sábio mestre Eron. Este humilde servo, não deseja causar nenhum estrago em sua propriedade. Este homem estava espreitando a mim e meu companheiro de viagem, desde o momento que este entrou no seu estabelecimento.

O monge olha para o homem grande.

- Só quero saber o motivo de sua curiosidade. Ou quer nos roubar, ou aguardava por alguém. De toda forma só queria tirar estas dúvidas.

- Só quero saber o motivo de sua curiosidade. Ou quer nos roubar, ou aguardava por alguém. De toda forma só queria tirar estas dúvidas.

Eron, com as mãos na cintura, olha primeiro para Amogha, e depois para o gordo. Com o rosto serio, ele aponta para a saída.

- Cai fora, Gill! Voce só atrai confusão!

O homem esbraveja e reclama, dizendo que não tinha feito nada e que tudo isto era muito injusto, mas no final ele pega suas coisas e sai pela porta da frente. Terminado embate, o resto dos clientes voltam ao que estavam fazendo, comendo ou jogando conversa fora.

Eron limpa o suor da testa e chama novamente o monge para a bancada. Ele pega um copo de agua, bebe, e oferece outro para Amoghasiddi.

- O Gill Svenson mora numa fazenda aqui por perto e frequenta aqui toda a noite. Todos sabem que ele é uma ma pessoa, envolvido com toda espécie de falcatrua... E pelo visto estava de olho em vocês... – comenta, enquanto passa uma toalha pelo balcão. Ele então deixa a toalha de lado e encara Amogha – Você disse algo sobre Orion quando esteve brigando com Gill... Não é um nome comum, o que sabe sobre ele?

Amogah aceita a água, e ao reparar que Redris ainda estava na escada acena com a cabeça para que ela/ele suba para o quarto. Então ele olha surpreso para Eron, uma vez que havia chamado a atenção dele.

- Primeiramente, obrigado e desculpe-me pela confusão que eu gerei.

O monge observa a água no copo, enquanto ele balança o copo formando um pequeno redemoinho. Ele usava aquele artifício para tomar sua decisão, enquanto ele balançava o copo nenhuma gota de água caiu do copo o que causou-lhe um sorriso.

- Quanto a Orion. Bem este homem, foi a última pista que eu tinha do paradeiro de uma parente minha. Ele me informou que ela partiu em viajem atrás do marido nesta direção. Ele também falou alguma coisa de uma pessoa chamada Goten caolho ou zarolho. Ou algo parecido com isso, eu realmente não me recordo bem. Mas este homem provavelmente teria alguma pista sobre o paradeiro da minha parente.

Vendo que estava tudo bem, Redris acena com a cabeça e se põe a subir as escadas em direção de seu quarto. Amoghasiddi então volta sua atenção para Eron, primeiro desculpando-se e depois compartilhando o que sabia sobre Orion.

- Quanto a Orion. Bem este homem, foi a última pista que eu tinha do paradeiro de uma parente minha. Ele me informou que ela partiu em viajem atrás do marido nesta direção. Ele também falou alguma coisa de uma pessoa chamada Goten caolho ou zarolho. Ou algo parecido com isso, eu realmente não me recordo bem. Mas este homem provavelmente teria alguma pista sobre o paradeiro da minha parente.

O taverneiro ouve com atenção as palavras ditas pelo monge, tentando relacionar com aquilo que já sabia. Ao final ele acena cabeça lentamente, e decide também compartilhar o que sabia sobre o caso.

- Me parece que você é confiável e de boa índole, assim como a intuição que tive quando falei com uma jovem que veio até a minha taverna procurar ajuda... Muito bonita, a se dizer de passagem, e a quem eu desposaria facilmente... Bem, mas estou divagando. Fato é que ela estava a procura de um homem ruivo magrelo, e também uma mulher ruiva alta e forte, os dois gêmeos, também parentes de sua família.

Eron para de falar, em pensamento rememorando a imagem da jovem em sua cabeça. Ele então se da conta que estava contando algo importante, e retoma:

- Eu disse para ela que iria ajudar, e ela ficou muito agradecida, dando um belo sorriso. Foi então que percebi pelo anel dela no dedo que já era casada, o que me desanimou um pouco. Ela me disse que se os encontrasse, que avisasse Orion, que morava na vila de Gamelin, ou que entrasse em contato com ela na capital de União, onde ela daria continuidade em suas buscas. Disse que seu nome era Zannete, e que estaria na Taverna da Raposa.

Aquela revelação do dono da estalagem foi como uma bênção do Universo.

"Quando somos justos o Universo também é justo conosco..." - pensou o monge.

Ele ficou tão aliviado com o norte que ele se permitiu sorrir, mesmo que timidamente. O seu treinamento de auto controle e auto condicionamento para se manter numa zona mental de passivo-reativo raras vezes o permitiam estas demonstrações de seus sentimentos. Ao perceber que havia relaxado de seu estado mental o colocou em alerta novamente.

- Fico realmente muito feliz em saber que estamos falando da mesma pessoa. Na minha cultura, quando casamos com uma pessoa passamos a fazer todos a mesma família, e ela é minha irmã por este motivo. Na cultura de vocês ela seria chamada de cunhada. Bem como seu marido um dos gêmeos, nem seria considerado um familiar, mas para mim por isso ele é um irmão.

O monge bebe um gole curto de sua água e ao pousar o copo sobre o balcão continua.

- O senhor também parece ser um homem de honra e confiável, por isso devo lhe dar mais do que fiz até agora, e ao terminar de ouvir o que lhe contarei irá entender minha postura.

Ele faz uma pausa observando o homem a sua frente.

- Minha família agora se resume a apenas Zannete e seu marido. Minha esposa, filhos, sogros e irmãos foram todos mortos ou estão desaparecidos. E pelo o que descobri o responsável pelo crime está ligado ao desaparecimento do marido de Zannete, ele é conhecido como Kolen um-olho e costuma se encontrar no porto do rio Torbruk. E também este símbolo.

Amoghasiddi pega de dentro de um bolso interno de seu manto o simbolo que encontrou no templo e com os bandidos que atacaram Redris do capacete com mascara.

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- Será que eu poderia abusar de sua boa vontade e perguntar se conhece algo sobre tudo isso que lhe contei?