O Enforcado

Ray ainda seguiu Dickens por um tempo e lhe disse:

- Ei deixa eu te falar só mais uma coisa... – Andavam enquanto Ray queria lhe falar, já haviam saído da delegacia o que era bom, pois Ray não queria falar na presença do Xerife. – Acontece que o Xerife tem a mania de deixar a porta de sua casa aberta quando sai pra trabalhar, ele não quis lhe falar, mas agora creio que está trancada com certeza.

Ray ainda deu alguns passos para ver se Dickens iria perguntar mais algo:

- Se quiser posso ir contigo até a portaria do terreno dele que é extenso, mas não quero atrapalhar sua investigação.


Estavam passando por uma estrada de tijolos e logo chegariam a estrada maldita, a estrada do Vigia, mas teriam de apenas atravessar ela indo em outra direção, iriam cruzar algumas casas e chegariam numa rua de terra, pra depois segui-la e ir até a porteira do terreno, a casa do Xerife ficaria no fundo dele, haveria uma construção na lateral pertencente ao local, essa construção em madeira é um celeiro fechado. Ray e Dickens ainda percorrendo o caminho de tijolos passo a passo devagar. Ray o encarava.

Dickens caminhava ao lado de Ray ouvindo suas preocupações

--Destrancada? *ele repete* --Certamente isso facilita para um intruso, mas ainda acho estranho que tenha ocorrido enquanto Hex dormia. Agradeço o aviso Ray. *quando lhe é oferecido ajuda diz* --Se não tiver nada melhor a fazer, não vejo problemas a que vá junto rapaz. Porém devo avisar que duvido encontrar algo de útil por lá. Hex disse que revirou o lugar atrás da arma, então se tiver alguma pista de quem entrou vai estar misturada entre a bagunça dele.

Dickens bem entende o que é uma cena de crime contaminada. As chances de conseguir uma informação do criminoso após diversos curiosos passaram pelo local é exponencialmente reduzida. Como ele sabe disso: não faz a menor ideia.

Ray e Dickens então permanecem na caminhada e chegam até a porteira da residência do xerife, era hora de investigar, e Ray o deixaria a partir dali.

- Parece que é isso, estamos aqui, pode deixar que eu abro o portão para você. – Ele tira a tranca, mas há uma cerca ao redor, cerca de madeira que qualquer um poderia atravessar. – Pronto, bem agora é contigo, vamos olhar em volta, patrulhar a cidade, e qualquer coisa compartilharemos informação ao final da tarde, digo a noite, caso achemos algo de interesse.

Ray acena com a mão e quando o caçador passa pelo portão ele o fecha atrás do aliado, ao percorrer o local Dickens já percebe o celeiro ao lado e a casa do Xerife ao fundo do terreno, a casa estava com muito mato em volta, apenas uma trilha de terra por onde se passava não havia mato.

A parte do celeiro parecia mais bem cuidada, não havia mato em volta, mas algumas ferramentas estavam do lado de fora, as janelas do casarão de Hex eram largas, a porta de madeira pesada.

Após se despedir de Ray o caçador avança para dentro da propriedade do Xerife Hex

*Caminha observando todo o local atentamente. Mais curioso do que preocupado. Ele se dirige até a residência ao fundo*

Caminhando Dickens percebe que o Xerife é um cara um pouco acomodado. Chegara a esta conclusão ao observar o desmantelo da propriedade. Por outro lado, tem consciência de que morando sozinho, talvez até ele parasse de se preocupar com o zelo dos bens.

Andou pela trilha e foi até a casa ao fundo, o mato em volta da casa chegava até acima da barriga de Dickens se ele decidisse desbravar o matagal, ao abrir a porta com a chave que estava viu o interior da casa, a cozinha onde tinha a mesa e cadeiras e pia até que estava arrumada, não havia sinal de comida jogada, porém a coisa engrossava quando chegava ao quarto, Dickens notou as roupas jogadas no chão, além de tudo revirado.

Na cama, também havia algumas roupas jogadas, a janela ficava a frente da cama e ao lado dela uma pequena cômoda de madeira, existia um guarda-roupas bem grande, sua porta deslizava, estava aberto e com roupas reviradas, mas ele ocupava uma parede inteira do quarto, pois era grande em espaço e volume. Possuía mais ou menos 2 metros de espessura, seu tamanho ia até o teto e largura de uns 4 metros.

O quarto do Xerife era bem grande para caber a cama e o guarda-roupas, havia um móvel de madeira onde algumas bebidas estavam guardadas, e uma cadeira de balanço perto de um criado mudo com um castiçal em cima, também um cinzeiro e uma bituca de cigarro nele.

Ao olhar a janela era possível ver o celeiro e abaixo dela do lado de fora tinha o matagal, apenas a parte de fora a frente da porta que levava a trilha não tinha mato.

Teste De Percepção:

Inicialmente Dickens se espanta com a bagunça local. Depois passa a agir

*Primeiro ele dá uma boa olhada nas coisas, tentando não bagunçar a cena. Verifica o que tem jogado no chão, as janelas, os móveis e só então começa a procurar no interior e em baixo dos itens. Ele não tem a mínima esperança de encontrar a arma caída entre os pertences de Hex ali. Busca de fato alguma pista fora do contexto.*

Dickens não tem pressa, pois sabe que este é um trabalho meticuloso.

Com a cena contaminada ou não Dickens olhava e olhava e nada via, não havia sinal da pessoa que roubou  Dark Rabbit, ou a pessoa era um ladrão habilidoso ou o caçador estava deixando algo lhe escapar, mas o que era?

Ao olhar para a janela e o que ela mostrava do lado de fora não notou nada, agora então começava a olhar os móveis, debaixo da cama não havia nada além de sujeira como havia esperado, com os móveis na primeira olhada, também não haviam nada a "dizer", mas o sexto sentido de Dickens apontava algo, agora ele não sabia dizer, mas estava perto e deixando passar algo.

O quarto, tudo aconteceu aqui, então o que Dickens não conseguia ver? Ao analisar a cama não notou nada de anormal, andou para a cômoda e nada também, a janela era bem larga e grande o que era uma baita saída ou entrada para um ladrão, porém haviam lhe falado que estava trancada.

O sexto sentido do Caçador ainda apitava, mas para onde? Como alguém entraria aqui? Janela trancada, o ajudante de Hex disse que a porta ficava destrancada quando o Xerife ia trabalhar, porém nestes momentos não havia arma no local pois a Dark Rabbit ficava todo o tempo com Hex. Era hora de analisar tudo o que o Xerife havia falado, se ele dizia a verdade era hora de relembrar e descobrir como um ladrão poderia roubar a arma. A casa estava silenciosa e vazia, apenas o barulho dos passos do caçador no velho piso de madeira o fazia seu ranger e reclamar, a casa parecia não querer a presença do estranho, e o vazio dava uma sensação ruim ao investigador atual.

Testes:

O que chamou a atenção de Dickens não foi o que viu e sim o que seu olfato percebeu, ele estava analisando os móveis mas até agora nada de observar algo relevante, mas ao chegar perto do grande guarda-roupas de Hex ele sentiu um cheiro agridoce, parecia um perfume conhecido por ele, mas porque este perfume viria do guarda-roupas?

Não vinha das roupas do Xerife, pois algumas estavam jogadas na cama e não tinham o mesmo cheiro, o perfume vinha de dentro do guarda-roupas, especificamente de um lugar no canto, um canto que poderia sim caber alguém, parecia caber até duas pessoas sossegadamente, o móvel era bem espaçoso.

Dickens então não viu mais nada ali, apenas sentiu aquele cheiro, dentro da casa seu sentido da visão falhou e apenas o olfato lhe rendeu uma pista, ainda havia outros lugares para tentar obter algo, porém ele tinha de ponderar sobre o que achou.

Novo aprimoramento:

Em sua mente Dickens agradecia por não ter aceso um fumo logo que entrou no recinto e como um cão farejador segue investigando este perfume estranho. Não sabia o porquê mas tinha certeza de que isso o levaria a alguma resposta.

*Após analisar o guarda-roupas ele dá uma boa 'cheirada' pelo quarto, dando ênfase na janela e outros meios de se entrar e sair, chegando até a verificar por baixo da cama*

Sem uma resposta óbvia o caçador segue como pode, utilizando cada pista que lhe surge à frente para tentar seguir adiante.

Foi só isso que percebeu, não havia nada debaixo da cama, a arma, claro não estava lá, o cômodo do quarto estava livre de pistas, pelo menos que Dickens tenha notado. Era hora de revisar as coisas.

Ao verificar a janela novamente, notou que o celeiro, estava quieto e calmo, o mato em volta da casa ainda alto, alguns dos caules do matagal quebrados e tortos.

A casa rangia, sinal da dilatação da madeira velha, novamente olhando a janela e Dickens viu algo além da cerca, era uma pessoa andando e olhando para a casa, não dava para ver quem era, se era homem ou mulher, estava além do portão, parou e ficou olhando a casa.

Ficou alguns segundos parado, e colocou uma das mãos na cerca de madeira, como o quintal de Hex era extenso, talvez Dickens não conseguisse entrar em contato com a pessoa mascarada, mas era muito suspeito.

Dickens fica intrigado com o ser lá fora a analisar a casa do Xerife mas nada o faz por enquanto.

Permanece onde está, vigiando o ser enquanto tenta descobrir mais sobre o mesmo ou o que pretende

Aguarda para ver o que o ser irá fazer.

A pessoa apenas vira de costas e começa a caminhar na estrada de terra, caminha lentamente em direção ao vilarejo, depois sai do campo de visão de Dickens, mesmo com uma janela grande do xerife não foi possível ver para onde a pessoa foi na verdade, mas com certeza não estaria ali nas imediações da propriedade de Hex.

Dickens ouviu uma das portas ranger, parecia a do banheiro, depois uma risada de criança, ele podia jurar que ouvira isso, uma risada de criança, mais especificamente de uma menininha, do teto uma gota de água suja pinga em seu rosto, era um líquido avermelhado, quase cor ferrugem, as madeiras da casa ainda rangiam.

Estar sozinho nesta casa o fazia sentir um medo estranho, ou um sentimento parecido, ele não sabia explicar ao certo, bem tudo naquela região era esquisito, Dickens estava num silêncio mórbido, mas a casa parecia que tinha algo a dizer, e parecia que queria dizer "Cai Fora!!!"

Era o que havia de mais estranho, na terra não existia pegadas, parecia que ninguém havia ficado parado ali no portão, o que Dickens podia imaginar daquilo tudo, o pensamento de estar ficando louco o incomodava, como um sopro gelado no inverno. Lá fora depois do portão de madeira estava o caçador parado olhando em volta sem saber o que mais investigar na cena.

Dickens viu um farfalhar na mata, na estrada, que era uma plantação de milho fora das propriedades do xerife, era o vento, ou parecia algo mais, de lá do mato sai um homem de cabelos negros, usava cavanhaque e tinha uma expressão séria, trajava uma vestimenta verde escura, abaixo dela, quase imperceptível uma vestimenta de cor alaranjada, seu traje cobria quase todo o corpo.

- Longos dias e belas noites meu camarada!? E então conseguiu algo aí dentro?

Ele foi andando até Dickens e parou perto da porteira do Xerife:

- Descobriu algo lá dentro?

- Hehehehe... É engraçado não é? Parece que o Xerife não consegue enxergar o que há naquela casa, somente você, e eu também, mas eu não conta, as pessoas estão sempre procurando algo, mas eu sempre saberei o que você procura, pois está em seu coração, hehehehe. Bem deixa isso pra lá. Vamos me diga o que descobriu até agora?

O homem permaneceu olhando a casa e uma leve brisa passou pelos dois, um pouco de terra se levantou:

- Sei que não quer confiar em mim, mas não se preocupe, apenas fale, deixe as preocupações de lado, algo persegue você para onde você vá, mas de mim, você não pode e não vai conseguir se livrar, e mesmo se eu quisesse seu mal não poderia fazer nada contra você...

O homem continuava a olhar o horizonte, não parecia uma pessoa ruim, de alguma forma Dickens não se sentia ameaçado diante dele, mas confiar nele talvez fosse difícil para o caçador, visto que era um estranho.

- Hahaha!!! Bingo!!! Acho seu raciocínio de alguém ter se escondido no guarda-roupas inteiramente plausível, afinal, ele deixava a porta destrancada durante o dia, como seu capanga mesmo disse a você, então se esconder lá dentro com paciência seria uma forma útil de roubar a arma.

O cara apenas olha o céu e pensa coçando sua barba pequena:

- Eu sei tanto quanto você, o que você sabe eu sei, só isso, mais nada, eu apenas sirvo como uma espécie de resgate de lembranças e coisas que estão em sua mente, agora quanto ao xerife estar realmente bêbado na noite de ontem, bem temos a palavra dele de que não bebeu tanto assim. Disse que nem sequer tinha ido ao bar, agora caso ele tenha mentido, hum...

O homem apenas continuava a ajudar e organizar os pensamentos de Dickens, parecia saber dos passos do caçador como ninguém.

- Quanto ao que tem na casa, bem, diga você mesmo, na cidade você viu coisas, na casa ouviu coisas, diante de mim você fala coisas, pensa coisas, eu apareço e posso ir embora quando eu quiser, a mulher de cabelos verdes, a garota desfocada, o garoto zumbi, as vezes nem sempre as coisas que vê ou ouve lhe podem prejudicar. A casa por si só em sua presença reagiu, a cidade reage a você, tudo reage a você, mas deixemos isso de lado agora, se concentre na casa e nos acontecimentos, se o bandido em si estava no guarda-roupas como ele fugiu? Sera que ainda está na casa?