Fantasmas

Aurora Serena é simpática com a Càirdeach de olhos negros, tomando assento primeiro, na poltrona do meio, de modo a ficar entre os dois Garou de sua matilha. Achava essa uma disposição elegante de lugares. Cruzou as pernas para trás, embaixo, passando um pé atrás do outro. Como a Família Real deveria cruzar as pernas. Mantinha ares amistosos no rostinho bonito, as poucas sardas no nariz dando um ar ainda mais jovial à garota. Os olhos já não estavam tão claros. A conversa com Nikolayev havia recuperado um pouco de seu humor e um tom celeste sólido se exibia nas íris da Galliard de cabelos-de-fogo.

- Scotch seria perfeito, Talita. Obrigada. - a Fianna normalmente torcia o nariz para tudo e quanto é bebida que se fazia fora da Escócia sob o falso pretexto de ser "uísque", mas os Senhores das Sombras costumavam ter refinamento para abastecer seus estoques. Recebeu o copo e dispensou comida ou água, bebericando o malte.

Até que ouviu as palavras "profecia" e "negócios" em uma sucessão vertiginosa.

Baixou o copo para o porta-copos e afastou os cabelos para trás das orelhas, olhando do Líder dos Theurges para o Líder da Seita. Com sua voz melodiosa e envolvente, a Galliard respondeu de forma simples e sincera:

- O senhor sabe meus negócios aqui, Ard Righ. Fui mandada para Além-Mar pelo Alto Conselho da Tribo Fianna em Tara, nas Highlands, a pedido da minha mãe, Nynaeve-bhanrigh. Sem nenhuma outra intenção que não encontrar segurança no serviço da Mãe, da melhor maneira possível. - era toda a verdade que a ruiva sabia e, sendo Hannibal de sua matilha, conhecia aquelas mesmas palavras de trás para frente. E agora Nikolayev também.

Por um instante, preocupou-se com o pensamento de que o Presas de Prata pudesse julga-la mal. Expulsa ou banida. Proscrita. Ostracizada. Não era nada disso, mas nobres são nobres e... Aurora Serena afastou novamente os cabelos para trás das orelhas.

- Ard Righ, peço sua sabedoria em compartilhar conosco a profecia de que falam. Talvez assim possamos deslindar melhor causas e consequências, conforme for de seu agrado.

A Galliard aguardou que os irmãos se manifestassem, levando a mão ao colar e puxando o floco-de-neve para a mão esquerda, onde o apertou com ternura. Até se sentir segura.

Gwenhwyfar O'Dyna era franca quanto ao modo de demonstrar seus sentimentos. Ela era muito diferente de Nikolayev, que por sua vez era frio e austero quando lidava com emoções. A tristeza dela era visível. Algo parecia tê-la machucado. Em um mundo sombrio, solitário e já sem muitas esperanças, a paixão daquela Fianna era algo que fazia toda a diferença. Ela, quando animada, conseguia dar fé e trazer confiança na batalha de Gaia contra a Wyrm. Mas para o bem de todos, sua tristeza era algo passageiro. Sua animação não demorou a voltar e logo Niko percebia que ela era como um Fênix. Renascia das cinzas!

Logo que se animou, havia graça e beleza em todos os seus movimentos da ruiva. Quando ela rodopiou e parou do lado do russo, Niko temeu que a mesma se desequilibrasse e caísse sentada no chão. Mas para seu engano ela parecia ser uma bailarina do Bolshoi. E os dois seguiram até a sala do Senhor das sombras enquanto conversavam coisas amenas.

Os dois, apesar do pouco tempo, já eram bem próximos. A ruiva com irreverência sabia derreter a muralha de gelo siberiana que era o Presa. Ele retribuía aquela personalidade calorosa e acolhedora com um leve sorriso... Um sorriso tímido... Um sorriso que disfarçava uma crescente inquietação que começava a surgir a partir daquela união.

Nikolay não havia exposto ainda, mas desde o término de sua apresentação, havia uma preocupação rondado os seus pensamentos. Aqueles pensamentos não estavam ligados aos comentários maldosos que poderiam sugerir que daquela aliança: uma possível quebra da litania. Não!  No íntimo de Nikolay, do Lua-Cheia sentia que as últimas ações da Fianna, firmando sua lealdade com ele diante de todos trouxeram para ambos uma perigosa visibilidade: nobre se unindo. Consequentemente, colocando um alvo em suas costas.

A Seita agora sabia a linhagem que precedia aqueles dois Garous. O Sangue de Diarmuid e o Sangue dos Tvarivich. Ambos garous poderiam ter se tornado peças valiosas nos jogos políticos daqueles muitos Senhores das Sombras ali presente, afinal, qual deles não gostaria de manipular sangue real? Aquilo poderia significava acesso a poder e influência.

* O poder do sangue nobre de unir simpatizantes, para o bem ou para o mal, sob um mesmo estandarte e trazer mudanças quando necessário nas mãos erradas pode servir para legitimar propósitos muito perigosos. Gwen precisa ficar atenta aos 'sorrisos polidos'. O velho senescal da Casa da Lua Crescente falavam isso, isso entre outras coisas... *

Quando chegam diante da porta do escritório, Niko se pega pensando nas lembranças de como o mordomo da casa também havia sido fundamental para transformar aquele garoto problemático que ele era hoje.

Palácio de Verão dos Tvarivich:

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Escritório de Augusto Nader, Caern de Bela Noite.

Quando finalmente chegaram na sala de Augusto, Niko viu que o líder tinha acesso a uma papelada com informações de todos que estavam ali presentes. E ao citar um breve card das origens de cada um, o russo imaginou que talvez ele estivesse preocupado com a aliança firmada entre o Presa e a Fianna. O Rei da Montanha, parecia conhecer bem os perigos que uma união entre monarquias poderiam significar.

Mas na verdade sua preocupação era outra: uma profecia!

Ele os indagou com uma severidade, Niko imagina que naquele momento o ancião estivesse maquiando uma certa preocupação. E por Gaia! Quem não iria tremer nas bases diantes de uma profecia?

Nikolayev se senta e agradece a hospitalidade soberano daquela montanha:

'- Obrigado por sua gentileza, meu senhor. Mas para mim nada.'

Após se acomodar e aguardar Gwen terminada, foi sua vez de se pronunciar:

'- Quanto aos meus interesses em Bela Noite, presumo que já deva ser também do vosso conhecimento a mácula que carrego. Uma maldição em meu sangue.... Pois muito bem, busco a cura, milord. Durante minhas investigações, descobri que entre estas montanhas existe um antigo templo, há muito perdido, com uma emanação de espiritual da Wyld tão poderosa que seria capaz de apagar a marca do dragão destruidor que carrego comigo.'

O caminho é indicado e Hannibal vai até o escritório bem decorado de Augusto. Augusto, aquele que era seu primo distante. Teria reparado melhor se importasse mais aquilo, mas no final, era apenas uma decoração bonita. A recepção era por parte de Talita, uma bela oriental, que enquanto fazia as honras nota Augusto mexer em um monte de papelada.

"É meu parceiro, seja líder ou não, no final do dia todo mundo tem boleto pra pagar..."

Então é oferecido um lugar para se sentar, sem pensar duas vezes pega uma cadeira a ponta e se senta. Cruza as pernas e aguarda para ver o desenrolar da situação que inicialmente culmina em bebida e comida. Nota Gwen pedir um bom Whisky. Scotch, pelo visto a fianna sabia beber. Já Nikolayev infelizmente não. Hannibal tinha uma certa preocupação com aqueles que não bebiam. Algo dizia que não eram de confiança ou talvez de caráter máximo, afinal, como pode-se desvirtuar um ser que não se deixa manipular pelas emoções do álcool? Ou é bem preparado para saber das consequências ou é um tolo. De qualquer forma Hannibal preferia ser um tolo bêbado do que um bem precavido, afinal, no frigir dos ovos, seja lá qual fosse o resultado, o álcool ajudava esquecer. Respondeu então para Talita:

- Talita, por gentileza minha querida, três Scotchs. Eu me responsabilizo pela dose extra caso Nikolayev rejeite. E se possível alguns ovos de codorna também. Obrigado.

Sorriu para Talita com um meio sorriso sendo simpático enquanto volta sua atenção para Nikolaeyv.

- Quem não bebe, não vê o mundo girar, Nikolayev. - Olhando para Gwen e sinalizando a Fianna completou - Um bom Scotch não é digno de ser dispensado, não é mesmo?

Para um bom entendedor, meia palavra bastava. Depois da apresentação audaciosa de Gwen, a sugestão do whisky era ambígua. Testaria a maliciosidade do Presas de Pratas recém-chegado. Sorriu mais uma vez e daí veio as explanações onde Gwen revelava causa e o motivo do porque havia vindo para Bela-Noite. Era um tanto quanto nobre ou talvez por excesso de nobreza havia parado ali. Destino incerto? Talvez, o fato é que ali escreveria sua nova história. Depois a versão de Nikolayev onde revelava buscar a cura em um antigo templo ali que era capaz de remover o dragão que existia em si.

"Se eu tivesse que buscar a cura, com certeza seria pra AIDS ou alguma DST... Que cara problemático..."

Isso remete à Hannibal alguns pensamentos sobre a cura. Os dois resolviam problemas familiares e parecia que para Hannibal não era diferente. Sua irmã estava ali e nesse momento era seu maior problema. Até que ponto era valiosa essa informação pra ser passada pra aquela Seita? Isso era um problema. Sendo um problema relacionada à Senhores das Sombras, que eram seus pais, isso deveria ser repassado com cuidado até ter certeza dessa profecia. Olhando para Augusto, curioso com o que iria dizer sobre a profecia anteriormente dita pelo Theurge, responde então sua pergunta sobre os negócios ali:

- Além de movimentar a economia da Porão com a ingestão diária de álcool resultando em sexo, pretendo colaborar estabelecendo ou aprimorando a paz em Bela-Noite. Não é uma tarefa fácil, sei que toda Seita trabalha nisso, mas mais cedo ou mais tarde acredito que consiga ler os que atrapalham tal objetivo meu e assim eliminar algum foco em potencial desse problema.

"Drogas, sexo e álcool, porque esses não poderiam ser meus problemas? Seriam tão simples de ser resolvidos... aaaaa mundo ingrato!"

Não falava de Yasmin pelo óbvio. Revelar os detalhes de sua irmã agora era dar um tiro no próprio pé, mesmo pra própria Seita, mesmo pra um primo distante. Roupa suja se lavava em casa e para isso contaria com Jack e Valerie. Não sabia nada sobre Yasmin e o tão pouco do Phelippe Lacraia. Era melhor saber mais antes mesmo da Seita saber, ou talvez saber pela Seita, mas não manter a descrição por hora era de suma importância.

- Quanto à profecia...

Olhou para Sonho de Luna, para Talita, para Augusto e então completou.

- O que é e no que nos envolve?

Sacou um cigarro de seu bolso, levando a outra mão no isqueiro acendendo um cigarro. O assunto era instigante.

Jack tomava o suco e parecia respirar fundo e soltava o ar calmamente de forma um tanto quanto cansada. No fundo, sabia que Antônio não fazia parte de Reis, Rainhas, súditos ou plebeus. O impuro é pacífico, prestativo e não era radical como um crias de Fenris, ardiloso como um Senhor, extremista como um Garras ou misterioso como um Uktena, então poderia conversar um assunto que gostaria de resolver, precisava de ajuda e Helena era algo que não precisava guardar segredos, então falaria numa boa, afinal, Jack por mais ardiloso, cínico e dissimulado que poderia ser em determinados momentos, ainda era jovem em formação de caráter e toda o seu lado negativo contrastava com uma certa ingenuidade pueril, o fazendo ser o mais leal ou talvez o mais perigoso conhecido que alguém poderia ter. A brutalidade e instinto primitivo de Jack o levavam para um caminho talvez diferente, sua corrida nas matas o agradou, talvez até mais do que uma incursão à qualquer ambiente urbano, era confuso o sentimento, mas passado a necessidade urgente de se falar de Yasmin, Jack ponderou em conversar com o theurge.

Sim, preciso de suas palavras... - Jack sabia um pouco dos gostos de Antônio, no fundo preferia aquele suco natural, água de um riacho, mas para seu irmão não ficar perturbando, sempre acompanhava com uma dose de scotch cowboy 12 anos, mas no fundo pensava o quanto era bom aquele suco natural - cinco amigas foram mortas em uma espécie de ritual espiritual. Esses dias estive distante para procurar pistas sobre e acabei descobrindo que todas eram parentes de outras raças metamórficas. Antônio, conhecer outras raças foi uma experiência incrível, pena que foi através de uma busca por respostas de um rito macabro. Todas elas, estavam com pontos no pulso e hoje, vagam na escuridão como aparições... Não conheço nada disso  e pretendo em breve estudar ocultismo.  

Jack levanta a cabeça, e Antônio percebia o quanto Jack era um péssimo manipulador, sua face quando era verdadeira era tristonha, olhar mais perdido e um jovem em uma confusão muito grande, mas que se prendia aos estereótipos de uma maneira até um tanto para se proteger, sabe-se lá do que.

- Ainda não descobrimos quem está por trás disso, mas ainda faltam algumas raças para fazerem esse ritual inclusive, 13 tribos de uma certa nação... - Jack pausa e seu olhar fica um pouco mais preocupado - - Parece que já fizeram no passado um ritual desse, foi com os Filhos do Leão Branco... Hoje os nossos inimigos, Espirais Negras...

Jack se serve mais um pouco de suco e bebe um gole, refrescando sua garganta e olhando para a natureza.

- É algo que preciso de estudos e principalmente em algum lugar que tenha registros antigos, preciso de um professor ou alguém que goste de ler, seja entusiasta em espíritos... - Jack sorri e aponta com o copo para o professor - como pode ver, meu forte é lutar e músculos, além do mais eu fiz Engenharia, e misticismo e espiritualidade ficam distante de ciências exatas....

O Theurge por algum motivo saí daquela reunião. A expressão do Senhor da Montanha era um pouco mais rígida nesse momento e Hannibal pode perceber que se tratava de algo mais sério. Sinalizou para Sonho de Luna em tom de despedida e focou-se no que Augusto tinha para falar. E então começou. O Ragabash ia acompanhando os pontos importantes e fazendo suas próprias reflexões.

"Tempos difíceis, tempos preocupantes... Ok, nenhuma novidade. Magos quietos, ok... isso é bom. Weaver se movimentando, não é bom... Usinas de Enriquecimento de Urânio corrompidas pela Wyrm, talvez posso explodir tudo lá e ainda vender esse Urânio, deve dar uma boa grana, mas melhor não... "

E aí vem a parte que Hannibal cerra mais os olhos. As atividades vampíricas estavam um tanto quanto incomum. Estavam quietos demais. Era essa expressão que Augusto tinha usado e de acordo com sua experiência aquilo era igual criança cagada: se tava quieta demais, é porque tava fazendo merda. Era óbvio que tinha algo de muito errado e isso só aumentava sua preocupação porque é claro que sua irmã estaria envolvida nessa maracutaia.

"Droga, por Gaia mulher, deixe esse homem falar!!"

Pensa Hannibal um pouco descontente ao ver ser interrompido por Talita. Era um recém-chegado. Augusto até tenta a dispensa de Talita alegando o apresentar de forma apropriada, mas ele havia vindo por uma ponte da lua. Aquilo com certeza era raro. Mais raro ainda por ser em Bela-Noite. Era um Garra-Vermelha e a postura de incômodo deixava Hannibal curioso com aquilo. Uma sala de reuniões do lado é mostrada para irem e aguardarem. Hannibal até ia, mas era intrigante as coisas sobre esse Garra-Vermelha e é para lá que ia. 

Se levantou, arrumou seu terno matando o que restava de seu whisky em uma golada só.

"Bora lá ver quem é esse Garra-Vermelha que chegou de ponte de lua..."

E então algo mais intrigante ainda. Seu telefone toca. Era Klébinho. Desistiu imediatamente de seguir com Augusto e decidiu atender a ligação indo para a sala de Reuniões. Abriu a porta da sala, e atendeu.

- Fala, vagabundo! O que tem pra mim?

Sorriu para Nikolayev e para Gwen.

Puxou a cadeira mais próxima se sentou enquanto aguardava pra ver se Nikolau ainda ia ter coragem de homem de beber seu whisky ou não. Torcia para que não, assim sobrava mais whisky para si mesmo.

O Filho-do-Falcão acompanha a preocupação do líder da Seita. Vampiros, Magos, a as ações humanas movidas pela própria Wyrm, tudo aquilo fazia de sua cidade um barril de pólvora. Bela-Noite era cosmopolita, reunia todo o Panteão sobrenatural. Nikolayev, em sua cadeira, não negligenciava as informações passadas pelo velho homem. Naquele momento, o Lua-cheia tolia o desejo de saber mais sobre a tal profecia.

Então, Sonhos-de-Luna se retira da sala. Pouco depois, a jovem Talita é quem entra e interrompe o Líder da Seita. Conseguiria o Senhor da Montanha um dia se ver livre de interrupções? - Pensava Niko.

Talita o informar a respeito de um viajante distante, que caminhando através de Pontes de Lua chegou em Bela Noite. A garota estava empolgada. Já Augusto Nader, surpreso e intrigado. A 'lista de curiosidade' de Niko acabava de ganhar mais um item:

* Uma Ponte da Lua? O que uma chegada como esta pode significar para o senhor Nader? *

Após uma breve pausa, pensando consigo mesmo, o príncipe se levanta da cadeira e decide que acompanharia o rastro do Senhor das Sombras. Iria ele conferir pessoalmente aquela apresentação.

Vendo que 'Han' estava ao telefone, Nikolay fala em tom baixo com Gwen para que sua voz não atrapalhasse o diálogo ao telefone do irmão de matilha:

'- Gwen, irei até o salão. Há algo que preciso conferir. Você também vem?'

O Presa de Prata então olha para o copo com a bebida que lhe havia sido servido e permanecia intocado no mesmo lugar. Aquilo porque Nikolayev tinha total controle sobre seus desejos e impulsos. Ele era o senhor de suas próprias vontade e as governava com mão de ferro. Seu irmão por vezes o chamava de Portador da Luz Prateada, um trocadilho em alusão aos Filhos da Quimera e sua alta força de vontade. O Tvarivich então pega seu copo cristalino e o posiciona no canto da mesa, deixando o mesmo sobre o local onde Hannibal estava sentado. Niko olha para o herdeiro mais velho dos Smiths ao telefone e acena levemente com a cabeça, uma clara alusão que ele poderia apreciar aquela dose extra.

O Ahruon caminha para proximo da porta onde seguiria para o salão ao passo que Gwen resolvesse o que faria a seguir.

Aurora Serena seguiu para o salão ao lado de Sangue-do-Dragão, com uma inquietação crescendo no peito. Seria por voltar a confrontar o local de apresentações poucos minutos depois do que houve com Dayenne? Não. Não era isso. É claro que estava chateada com a Philodox, mas... A sensação era muito mais visceral. Em silêncio, a ruiva aproximou-se do guarda-corpo a tempo de ver Augusto Nader recepcionar com palavras honrosas o recém-chegado. E foi naquele instante que a Fianna entendeu o que vinha agitando seus instintos.

Ela não precisava que ele tirasse a máscara. Ela não precisava que ele baixasse o capuz. A Humanidade tinha um ditado que fazia mais sentido ali, naquele momento, do que fizera para ela a vida inteira: os alphas se reconhecem pelo cheiro. Era ele. Aurora Serena sabia. Não reconhecia nenhuma daquelas tatuagens. Não entendia as roupas que ele usava. Ou como tinha atravessado uma Ponte da Lua. Mas era ele. Baixou os olhos pelo braço direito do Garou e sentiu o coração falhar uma batida. O torc dela adornava delicadamente o pulso do Ahroun.

E então ele se anunciou. Adren. As mãos de Aurora Serena agarravam com tanta força o corrimão que a madeira polida estalava sob seus dedos. A voz dele atingindo sua consciência como uma tempestade sobre a terra ressequida. A Galliard estava sedenta daquele som, daqueles graves de barítono, daquele uivo poderoso que fazia arrepiar cada pelo em seu corpo. E não havia mais ninguém naquele salão. Ninguém no resto do mundo inteiro. Por um instante suspenso no tempo, Gwenhwyfar contemplou Andrei como se fossem os únicos.

Por isso, a Fianna não percebeu que Nikolayev também reconhecia o Presas de Prata recém-chegado. Ela não saberia dizer onde estava Hannibal, ou qualquer dos membros da Aliança de Luna, mesmo que sua vida dependesse disso. Simplesmente se virou e correu para as escadas que levavam ao piso principal - que levavam a Andrei - desviando dos demais presentes mais por praticidade do que por se importar. Sentia como se desviasse de pilastras, de obstáculos menores entre ela e Andrei. E ganhou os degraus rapidamente, descendo correndo...

--- "A beleza de seu rosto confundirá corações" ---

A velocidade dos passos da Galliard diminuíram de repente e ela quase tropeçou. Continuou descendo, agora mais devagar, pedindo a Gaia que tivesse piedade de sua alma. Os membros da Seita haviam acabado de presenciar sua Philodox atirar acusações de quebra de Tradições em sua direção. Por um beijo no rosto. Por dar as mãos a um irmão.

--- "porém, se revelada a forma do amor verdadeiro, a perdição a alcançará" ---

As lágrimas chegaram aos olhos azuis de Aurora Serena no mesmo instante em que, tendo descido as escadas, seus olhos cruzaram com os de Anoitecer Selvagem. O único desejo de seu coração era correr e se atirar nos braços dele. Quebrar todos os malditos protocolos, que a Wyrm os carregue! Mas o que seria um abraço como aquele diante de uma Seita infectada de Senhores das Sombras?

Seria a Perdição. A Quebra do Voto de Diarmuid. A Vingança de Dannu sobre sua linhagem.

A ruiva não conseguia pensar. O coração marchava no peito dolorosamente e ela não podia mais respirar. Tinha que sair dali. E então, sem uma palavra sequer, empreendeu fuga desabaladamente, correndo com todas as suas forças para longe do salão dos Senhores das Sombras, do caern, de Andrei.

Hannibal nota que Nikolau simplesmente sinaliza o copo de Whisky onde realmente não iria beber colocando a frente de sua cadeira. O ragabash não faz charme, muito menos de arrogado. Estende a mão, agradece o Presas de Pratas por se furtar de um belo whisky e pega o copo enquanto escuta a primeira palavra de Klébinho. Pela sua respiração e pelo tom de voz, era óbvio somente uma coisa para Hannibal nesse momento.

"Deu merda..."

E realmente havia dado. Klébinho não havia achado nada da Lacraia, mas de repente, haviam achado tudo dele. A polícia estava atrás e também a facção rival. Corria risco de vida e era óbvio o motivo. Já estavam ligado nos esquemas de Klébinho e aquilo significava a morte pra ele. Deixaria tudo para trás para a cidade vizinha e com aquilo perderia um contato extremamente importante e também um aliado. Não havia conseguido as informações, apenas prejuízo. Não havia muito o que ser dito nesse momento. Seu semblante se fecha imediatamente puto com aquilo. Responde então para Klébinho.

- Quando chegar lá me avisa. Quero saber certinho o que aconteceu, ok?! Valeu.

Diz Hannibal e já desliga o telefone. Provavelmente aquela ligação poderia estar sendo rastreada ou interceptada. Quando menos falasse nesse momento era melhor. Ele já estava comprometido e se não fosse rápido, perderia Klébinho para algo que nem sabia com o que estava lidando.

"Vão pagar por isso bando de desgraçados..."

Pensava na vingança enquanto refletia sobre com o que estava lidando. Philippe Lacraia era mais forte do que suspeitava e se sua irmã estivesse envolvida com ele, isso complicava e muito as coisas. Tinha a desvantagem de não saber o que estava acontecendo e eles também por não saber o que Hannibal faria. O jogo estava empatado, com a diferença clara de saber que a qualquer momento poderia perder.