"Mas, sejam fortes e não desanimem, pois o trabalho de vocês será recompensado".
Crônicas 2:15-7
Krystofor ficara até confuso com a cacofonia de vozes simultâneas que estavam se fazendo ouvir no ambiente então quando finalmente pode falar ele o fez
- Compreendo que nossos números permitem uma divisão em mais de um front e isso então nos permitirá cobrir mais terreno ainda, mais que vocês tem uma grande quantidade de pedidos de ajuda para atender e claro todos devem ser urgentes. Sobre aqueles que chegaram recentemente nas brumas é primordial ter cuidado com as mesmas e claro os lordes de cada território...
- Então quais seriam os pedidos de ajudam que vocês poderiam nos passar?
Raine: Eu também não sou oriunda deste mundo. Venho de um lugar chamado Arton, mais precisamente das Terras de Hongari, porém, já estou aqui no Núcleo há mais de dez anos, onde aprendi a maioria de minhas habilidades com uma vampira.
Ela tirou o capuz, revelando um rosto muito belo, porém pálido como alguém que não toma Sol há anos.
Raine: Mas não se preocupem.... não sou uma vampira, apesar da vontade de minha mestra. Ainda prefiro o sabor deste chá do que o de ter de me contentar com sangue.
Voltou sua atenção para as anfitriãs.
Raine: Eu concordo com uma divisão. Grupos grandes tendem a chamar mais atenção e eu creio que para alguns aqui, trabalhar com os outros possa ser um sacrifício muito grande. Dêem-nos então sua sugestão de acordo com o que ouviram de seus corvos e vejamos se o destino começa a fazer sentido.
Dasdingou ouve as palavras das anfitriãs e concorda, especialista em furtividade ele sabia que um grupo desse tamanho chamaria muita atenção e concorda que o grupo tem que ser dividido, ele olha todos a mesa e analisa quem escolheria caso fosse solicitado. E independente de pedirem sua opinião ou não ele espera os demais falarem e se pronuncia:
-Eu tenho, eu tenho uma sugestão!Hihihihi Eu fui com a cara de todos vocês, mas fui mais com a cara de Garu, Sanes, Raine e claro meu antigo amigo de jornadas Jack! É só uma sugestão, se quiserem acatar acho que agradaria todos! Então, então, então o que em dizem! Em, Em? Emmmmmm?
Ele voava de um lado para o outro enquanto falava e dava pausas com a mão no queixo pensativo antes de dizer alguma coisa, soltando os nomes aos poucos. Encerrando um um largo sorriso e cara de cachorro pidão.
Vamos, vamos, não sejam tímidos, estamos aqui para concordar e discordar!
Blöodgar'mindel não teve as perguntas diretamente respondidas, mas pode depreender o máximo do que a moça falara. Gostaria de ver essas brumas e o fato de ter pessoas ali acometidas pelo mesmo mal que ele era, no mínimo, amostra de algumas afirmações sobre o fenômeno. Havia pessoas que vieram do mesmo mundo que o mago e isso era no mínimo consolador apesar de não tencionar criar laços com alguém por esse motivo.
Entendeu o objetivo das humanas. Não era uma má ideia experimentar este mundo e fazer algum dinheiro no processo. Aliás, haveria algum dinheiro envolvido? Não queria ser a pessoa a tocar neste assunto, mas não partiria sem essa resposta. Queria aprender coisas e elas não eram aprendidas de graça! Não se opunha a ninguém mais do que a sua soberba o levava. Era uma criatura simples. Causa e consequência. Por este motivo não tinha preferências de com que grupo ficar. Ouvir a fada falar era para ele penoso. Se possível fosse, faria de tudo para não estar junto dele. Parecia que comera muito açúcar e o seu corpo não sabia lidar com isso. Gostava de ter um lutador ao seu lado, afinal, se dedicara a tornar essa pessoa mais forte. Quanto mais inteligentes as pessoas fossem com ele, melhor.
Esperou para ouvir ao invés de falar e confundir tudo. Imaginava que os grupos brigariam por ele, embora o açucarado não o escolhera, por Corellon. Graças!
Denna fica satisfeita, confirmara que podia ficar com o livro e o estudaria com regularidade e disciplina, lendo-o e explicando para seu amigo Andrei, afinal ele precisava saber e instruindo-o aprenderia duas vezes mais. Também gostara de ser ouvida quanto a divisão do grupo e gostara da companhia, embora seu coração ficou triste em se afastar do pixie, porém sabe que o outro grupo irá precisar das suas habilidades, pois não contará com as suas e Andrei iria ficar satisfeito em ter o elfo e o taliban ao lado, pois ele simpatiza com essas raças e olhando para Andrei balança a cabeça e sorri fazendo um gesto ao mesmo tempo de concordância e vibração com as escolhas, levanta a mão e aguarda a sua vez de falar.
Ao receber o sinal para falar, a disciplinada ranger diz: - Eu e o Andrei estamos satisfeitos com as escolhas, foram equilibradas e harmônicas, e estamos ansiosos por receber a nossa missão e de conversarmos sobre ela em equipe. Conclamo aos novos companheiros que se acheguem e sentemos em círculo, para facilitar o diálogo.
Tinha acabado com de perguntar a mocinha quando o pixie decidiu falar com ele. Sanes teve que apertar os olhos para enxergar o pequenino ser. Parou por um momento refletindo, se aquela fada estava o chamando de compatriota isso significava que não estavam mais em Faerun. Porquê só se usa esse tipo de referência quando não se está mais no lugar referenciado.
Passou os olhos ao redor avaliando ao ser redor. Hm.... passou a mão na sua barba reflexivamente.
- Sim sou de Faerun, não sou natural do mar da lua mas faço muito negócios lá. Myth Drannor é um lugar com mau nome, assim como o mar da lua. Imagino que se você conseguiu sobreviver lá, não deve ser nenhum docinho, hehe - deu uma leve risada irônica.
Riu quando o pixie falou que não gostava de Talos mas gostava dele, mas acabou por não falar nada sobre o assunto da sua fé. Como dizia um amigo seu, também mercenário, não era bom pros negócios falar de talos.
Depois uma das mocinhas decidiu falar. No meio do seu pronunciamento ela disse que um tal de doutor tinha sumido e provavelmente estava morto, mas a parte que interessou Sanes mesmo foi quando disse sobre o lugar aonde realmente estavam. O clerigo esfregou os olhos ao ouvir aquilo, inclusive puxou uma cadeira e sentou. Terra de Mordent e continente chamado núcleo em outro plano. Provavelmente se voltasse para o mar da lua considerando a demora da viagem de volta, seria um homem morto, ou pelo menos com a cabeça a premio.
Pegou um dos livros que estava proximo na mesa e começou a folhea-lo e passou a mão na boca enquanto fazia isso.
- Tem algo alcoólico e forte pra servir? - Olhou para Laurie e Gennifer.
Observou o outros já falando em escolher cada um grupo, mas ninguém tinha perguntado o que teriam que fazer.
- O que teremos que fazer? Não é porque estou preso nesse plano que automaticamente aceitei o trabalho que tenha a oferecer - argumenta Sanes.
Um corvo entregando uma carta para um bárbaro! Ofereceram biscoitos com geleia para um bárbaro! Esperam que um bárbaro estude em livros!
Quando a fada sugeriu uma divisão, Andrei tentou juntar os nomes aos presentes e viu que sobraria com Denna, o padre, o elfo e o caliban. * - Tudo certo aqui! * - Ele apenas acena para a ranger.
O sujeito com barba aparada parecia reclamar da sorte de estar ali. * - Esse não é daqui com certeza! * - Mas logo pergunta por bebida mais forte e ganha a simpatia de Andrei. - Muito bom! Ehh, quer dizer.. desculpe! Mas tem algo mais para beber? - Acabou falando alto demais e ficou se desculpando sem jeito.
- Mas já que já estão olhando para mim, o camarada aí fez boas perguntas né? Não só sobre bebidas... - acabou pensando alto - ... quer dizer, tem que saber o que vamos enfrentar para dividir direito, não? Mas claro! Eu, Denna e esses três já dá para socorrer alguém, com certeza!
O caliban olhou ao seu redor, focando nas anfitriãs. Fez uma cara séria por alguns segundos, antes de, com um certo ar de confusão, encarar as duas.
"Não me importo tanto assim com a divisão, já que não conheço ninguém ainda, mas essa coisa de usar a cabeça não é muito comigo. Eu até tento, mas a minha cabeça serve bem mais pra cabeçadas mesmo! Vou até ler o livro durante a meditação, mas vai levar um tempinho. Coloquem alguém esperto no meu grupo."
Com um tom mais sério, ele olhou para o seu copo vazio.
"Mas se mesmo esse tal Doutor está morto, então o risco de vida dessas missões de caçar monstros deve ser absurdo. Nada fora do comum... Mais uma perguntinha. Será que esses corvos de vocês podem ser usados para mandar cartas de forma discreta?"
Laurie observou a sugestão de Dasdingou e as reações favoráveis, dando aquele seu meio sorriso malicioso.
- Bem, era exatamente essa divisão que eu iria propôr! Que bom que estão de acordo...
Ela e Gennifer trocaram olhares, e a irmã de vestido vermelho escuro disse:
- Nós gostaríamos de ver como vocês se saem trabalhando juntos, então vamos mandá-los para regiões próximas. Há alguns casos que parecem envolver mistérios para investigar e pouca chance de perigo real. Nossos aliados corvos acompanharão discretamente suas atividades, e vocês podem enviar cartas para nós através deles.
Ela remexeu em alguns papéis que estavam sobre a escrivaninha e retirou o que pareciam ser duas cartas.
- Há um certo Comte Thomas d'Aloure, de Dementlieu, que escreveu relatando uma série de infortúnios, inclusive a morte prematura de sua esposa por uma doença. Ele tem certeza que há algo errado, mas não sabe o que poderia ser. Dementlieu é uma nação rica e sofisticada, então acredito que a equipe de Dasdingou se sairia bem lá.
Ela dobrou a carta e virou sua atenção para a outra.
- Na cidade de Mortigny, em Richemulot, uma senhorita chamada Charlotte Isabelle Haurie relata a morte não-explicada de sua irmã gêmea Jules, alegando que ela foi possivelmente assassinada. Apesar de ser uma aristocrata, Richemulot é um país bastante receptivo aos estrangeiros, apesar de aparentemente menos civilizados que Dementlieu. Creio que a equipe de Andre, Denna, Krystofor, Bloody e Anurag pode experimentar um teste à altura neste caso.
Laurie interveio nesse momento:
- Essas pessoas nos escrevem pedindo ajuda, e nós não cobramos por isso. Isso não impede que vocês negociem com eles um pagamento justo; até o Dr. Van Richten estipulava um valor por seus serviços. Mas pedimos que, caso vocês fracassem ou recusem o caso, nos informem, pois nós passaremos o pedido de ajuda para outros caçadores de monstros. Estão de acordo?
Essa era a pergunta definitiva, e cada um deles confrontava-se com uma decisão que representaria um compromisso de longo prazo.
Depois de todos expressarem suas decisões, Laurie falou:
- Agora, senhores, já está ficando tarde, e logo estará escuro. No andar de cima fica o quarto do Dr. Van Richten, mas nós o mantemos exatamente como ele deixou, e de qualquer modo ele não comportaria todos vocês. Vamos levá-los para duas estalagens locais para pernoitarem. As acomodações são por nossa conta, mas se desejarem beber ou comer, podem pagar pelo que quiserem; a qualidade do serviço é muito boa.
Gennifer disse:
- Aproveitem essa noite para descansar e se conhecerem. Nós nos reencontraremos aqui no herbanário ao meio-dia. Vou preparar cartas de apresentações, mapas e quaisquer informações úteis que eu possa pesquisar até lá. E também posso tentar responder mais questões que vocês tiverem.
Apagando a lareira e arrumando as coisas para partir, Gennifer pegou uma bolsa de mão e disse:
- Dasdingou, Jack, Sanes, Raine e Garu, podem me acompanhar por favor?
(Esses continuam no tópico ESTALAGEM ESPELHO BRILHANTE.)
Laurie esperou até que os outros saíssem com sua irmã para dizer:
- Bom, Andrei e Denna, Krystofor, Bloody e Anurag, vocês vêm comigo!
(Esses continuam no tópico ESTALAGEM DA GRANDE LAREIRA.)
Therak Vinn estava seguindo as pistas de Huayna Then, uma das poucas sobreviventes do massacre de sua tribo que fôra vendida como escrava. Até onde ele sabia, ela tinha sido negociada como serva doméstica a uma família branca rica e refinada que morava em uma cidade grande em algum lugar ao norte, chamada Petit-Dubois.
Ele e Onke viajavam cautelosamente, pois os homens de Florence Harper, a última mulher rica e branca que o tivera como escravo, ainda estavam caçando-o para recapturá-lo, perseguindo-o por todas as localidades que passavam.
Para evitar seus perseguidores, Therak e Onke viajavam longe das estradas, por grandes ermos selvagens, onde as habilidades de sobrevivência deles lhes dariam vantagem sobre os homens civilizados da Lady Harper.
À medida que avançavam, Therak e Onke percebiam a mudança no terreno, que passava de selvas ricas e abundantes para planícies e colinas com vegetação esparsa. O clima quente ao qual estava acostumado passava para uma temperatura consideravelmente mais baixa, fria e úmida, e nevoeiros frequentemente os cercavam com brumas tão densas que quase impossibilitavam qualquer visão do caminho; em tais situações, Therak confiava apenas em seu senso de direção para manter-se em movimento. Onke sentia-se cada vez mais tenso e alerta sobre os arredores, pressentindo perigo e uma espécie muito particular de... mal.
Quando finalmente emergiram do último, e pior, banco de névoas, o ecossistema em que Therak e Onke se encontravam era bastante diferente do que estavam habituados.
Era uma terra de florestas, planícies e pântanos, numa temperatura temperada. Lodaçais desolados e blocos de floresta densa ocupavam boa parte da região, variando de planícies baixas e nebulosas a urzais ondulantes. Os ventos sopravam fortemente nos charcos mais orientais, mas no lado ocidental havia uma costa marítima de onde vinham ventos gélidos, castigando as encostas rochosas e esbranquiçadas. O cheiro de maresia misturava-se ao vapor salgado de pequenas aldeias pesqueiras encravadas nas escarpas e falésias.
As comunidades litorâneas eram formadas por aglomerados estóicos de choupanas e tavernas antigas. As edificações esbranquiçadas eram sustentadas com estruturas grosseiras de madeira, tijolos leves e gesso. Os telhados com tábuas de madeira enfeitavam as estruturas simples, acinzentadas e degradadas pela brisa marítima. Todas as janelas e portas eram equipadas com venezianas resistentes contra as tempestades. Chaminés estreitas de latão soltavam fumaça branca no céu, e cata-ventos giravam freneticamente com as rajadas de ar imprevisíveis. Escadarias espiraladas de madeira desciam pelas escarpas íngremes, dando acesso às modestas naus atracadas nas docas logo abaixo.
Essas observações do terreno de Therak e Onke foram interrompidas por um vento uivante súbito e repentino, que pareceu se originar muito perto deles. Os dois estavam no meio de uma colina, entre o sopé e o topo, e o cume da colina era coroado por uma casa velha e imponente, um solar semelhante aos que a senhora Florence Harper e seus pares usavam como residências.
O vento uivante se repetiu, vindo claramente do solar em direção aos dois, gelando a carne e os ossos deles. O solar estava às escuras mesmo ao cair da noite, mas enquanto o observavam, uma luz fantasmagórica surgiu numa das janelas; o interior do cômodo continuava escuro, mas uma silhueta pálida e azulada desenhava-se contra a janela.
A atenção na visão quase hipnótica da estranha luminosidade foi interrompida por um chamado.
- Hey, vocês!
Era uma voz feminina poderosa e imperativa, que imprimira um senso de urgência no chamado. Seguindo a direção de sua origem no sopé da colina, Therak e Onke viram uma mulher montada num cavalo e segurando um lampião, olhando para eles com expectativa.
Therak andava em passos rápidos desde que soube de algumas notícias sobre Huayna Then. Seria sua chance de encontrar mais alguém para com quem pudesse dividir a sua missão. Sua tribo merecia isso.
Onke, seu amigo de algumas eras de vida e talvez até de vidas passadas, estava mais cauteloso. Andava mais atrás, em passos pesados e mais lentos, sempre olhando para Therak e para o caminho a sua frente. Parecia ponderar sobre sua recém liberdade assim como sobre os objetivos do seu companheiro. Não falava muito.
Ambos seguiam para uma cidade do norte, sem saber muito o que iriam encontrar lá. Apenas seguiam suas vontades. Os caminhos até pareciam tortuosos, mas, para a dupla, eram mais confortáveis do que a própria estrada. Tudo que precisavam, retiravam da natureza, até mesmo a proteção contra os seus caçadores humanos.
Mas logo tudo ao redor começara a mudar, tanto a paisagem quanto o clima. Ambos pareciam mais desconfortáveis. Onke analisava algumas gramas do chão, puxando-as com os dedos e cheirando algumas. Estava interessado por aquele novo tipo de vegetação, enquanto Therak encarava os céus como se pedisse a proteção de algo maior nos caminhos que viriam a seguir.
E, novamente, a dupla seguia. Contra o frio e contra o cansaço.
Vendo a agitação de Onke crescendo cada vez mais que adentravam aquela região, Vinn passou a andar mais perto do companheiro e a interagir mais com ele. Tentava acalma-lo um pouco, sem muito sucesso. Com a presença mais forte de lama e com a presença do vento gélido, os dois passaram a tentar andar mais sobre seus membros inferiores e, assim, conseguiam preservar mais sua parte superior sem muita sujeira. Iam se adaptando as intempéries, tentando.
O guerreiro da selva passou por alguns grupos que viviam na costa e até mesmo conseguiu lembrar de antigas guerras que seu povo promovia para confrontar tribos rivais que muitas vezes eram ribeirinhas. Mesmo a diferença entre a água doce e a água salgada não lhe tirou o peso das lembranças. Ao subirem uma colina, se depararam com uma imagem que lhes gelou a alma.
Onke parou o movimento e olhou Therak, que lhe respondeu de volta com seus próprios olhos. Pareciam se entender ali mesmo. Aquela casa trazia o que nenhum dos dois queria naquele momento. O peso das lembranças ruins. Mas, se a missão era resgatar uma companheira, teriam que enfrentar mesmo os mais agudos e agoniantes ventos assobiantes.
O homem então dá um passo a frente e o gorila o acompanha, corajoso. Os dois encaram a casa e aquela luz recém acessa até que tomam um susto do chamado repentino. No mesmo instante, Therak virou seu rosto de forma brusca até a origem da voz e Onke tentou se por na frente do seu amigo humano.
Então, viram a mulher e seu cavalo. Os corações apertavam com a desconfiança que o passado trazia naquele momento.
- Não queremos incomodar, estamos só de passagem e decidimos subir a colina.
Vinn até tentava não passar toda a tensão muscular que seu corpo lhe causava, mas Onke não fazia tanta questão. Seu rosto era pura tensão.
Therak escreveu:- Não queremos incomodar, estamos só de passagem e decidimos subir a colina.
A mulher fez sinais negativos vigorosos ao ouvir isso, e a voz dela novamente chegou aos ouvidos de Therak e Onke:
- Não vão pra lá, é perigoso! Não mexam com o Mal se não quiser que ele mexa com vocês!
Ela desceu do cavalo e se aproximou um pouco mais deles, mas ainda mantinha uma distância de um arremesso de pedra, mostrando cautela. A jovem de cabelos ruivos observou-os por um momento antes de voltar a falar:
- Já percebi que são forasteiros aqui. Se quiserem me acompanhar, há uma cabana de caça logo depois do sopé da colina onde eu planejava passar a noite, e seria um prazer dividir uma refeição enquanto ouço sua história. Também poderia responder qualquer pergunta que tiver, já que parece que você e seu companheiro gorila não sabem onde estão.
O céu nublado e o ar úmido prenunciavam que haveria uma tempestade durante a noite que se iniciava. Ele não sabia como era o abrigo que ela oferecia, mas poderia ser bem útil.
A moça falou novamente naquele tom imperativo:
- Eu sou Laurie Weathermay-Foxgrove. Aceita meu convite?
Durante a fala da mulher, Onke dividia seu olhar entre ela e o próprio Therak. O indígena, por sua vez, parecia ficar um pouco menos tenso com a iminência de uma batalha. Talvez conseguissem sair daquela situação sem um embate.
Com a aproximação da desconhecida, ambos deram um leve passo para trás.
- Já é tarde. O mal já tocou em mim. Tocou em nós. Ele olha rapidamente para seu companheiro de viagem lembrando do passado recente. - Mas não queremos nada de ruim, só buscamos uma companheira perdida por essas terras... Em seu rosto, um pequeno fio de tristeza despontou rapidamente. - Mas devo lamentar que não possamos aceitar seu convite, temos pressa...
Onke ainda olhava a mulher com um olhar penetrante. Com movimentos pesados e lentos, se aproximou mais de Vinn e pôs-se ao seu lado. Tocou-lhe no ombro como se falasse algo importante.
Therak olhou para o céu e notou a possível chuva. Não era uma boa ficarem ali no meio da tempestade, mas ainda relutava em aceitar.
- Certo. Me diga uma coisa, minha cara. Você sabe onde moram os Petit-Dubois? Sua pronuncia era meio arrastada, como se finalmente sua fala desse brechas de que ele não dominasse tão bem a língua. - É uma família com esse nome, ou algo parecido. Precisamos chegar lá e se estivermos perto, acho que seria interessante que continuemos nosso caminho... mas se ainda for longe, talvez devamos aceitar seu convite.
O homem olha de volta para Onke, que ainda desconfiado parecia ponderar cada vez mais em aceitar um teto sobre sua cabeça para se proteger da chuva. Ou talvez era isso que parecia quando ele encarava diretamente o céu.
Therak aguardava a resposta da moça para fazer sua decisão.
- Já é tarde. O mal já tocou em mim. Tocou em nós. Ele olha rapidamente para seu companheiro de viagem lembrando do passado recente. - Mas não queremos nada de ruim, só buscamos uma companheira perdida por essas terras... Em seu rosto, um pequeno fio de tristeza despontou rapidamente. - Mas devo lamentar que não possamos aceitar seu convite, temos pressa...
Os passos de cautela na direção contrária às da moça alertaram-na para a hesitação de Therak e Onke, e ela deteve-se.
Não escapou à observação do druida bárbaro que ela carregava uma espécie de espada na cintura, talvez um sabre ou florete, e também tinha um coldre preso no cinto, que poderia significar armas de fogo, às quais ele conhecia apenas os efeitos, mas não o funcionamento.
As palavras dele pareceram decepcioná-la um pouco, já antevendo a recusa do convite que ela fizera, mas ela ainda segurava as rédeas do cavalo com uma mão e o lampião na outra, sem menção de qualquer outra ação. A luz do lampião era a única luminosidade que se mantinha à medida que o dia caminhava para a escuridão da noite e o céu tempestuoso escondia as estrelas e a lua.
- Certo. Me diga uma coisa, minha cara. Você sabe onde moram os Petit-Dubois? Sua pronuncia era meio arrastada, como se finalmente sua fala desse brechas de que ele não dominasse tão bem a língua. - É uma família com esse nome, ou algo parecido. Precisamos chegar lá e se estivermos perto, acho que seria interessante que continuemos nosso caminho... mas se ainda for longe, talvez devamos aceitar seu convite.
A atitude da jovem tornou-se mais alerta e interessada nas informações que as perguntas de Therak revelavam.
- Não conheço ninguém chamado Petit-Dubois que more aqui perto. Talvez eles ainda estejam longe, podem ser alguma família de Dementlieu. Não sei se você sabe, mas estamos em Mordent, a alguns dias de viagem até lá. Posso ajudar a rastrear sua amiga e esses Petiti-Dubois, mas precisaremos de algum tempo de pesquisa. No momento, acho que o mais urgente é evitar ficar ensopado por essa tempestade que vai cair. Pode confiar em mim, não lhe desejo mal, senão teria deixado vocês irem até aquela casa assombrada ali em cima. Vai aceitar meu convite?
Mesmo já carregando muitos motivos para desconfiar da mulher, notar aquele coldre fora algo que lhe trouxera um frio na alma. Não era um objeto que Therak entendia muito, mas seu primeiro contato com armas de fogo viera com os seus captores e até mesmo uma imagem que lhe lembrasse àquelas armas lhe trazia quase que imediatamente o som estrondoso e o terror que já viveu. Seus olhos escorriam para o coldre em alguns momentos enquanto falava.
A noite apressava ainda mais a decisão do homem da floresta.
A mulher pôs-se a responder a dupla de viajantes e várias palavras ditas por ela, principalmente nomes, não faziam quaisquer sentido para Vinn. Mesmo assim, ele acenava com a cabeça. Provavelmente teria que aceitar o convite. Onke, por sua vez, não parecia tão mais focar no que a mulher falava pois sua atenção era tomada pela iminência da noite.
- Certo... Ele ainda parece relutante. - Peço desculpas pela minha desconfiança, mas também peço que entenda que temos nossas razões. Em todo caso, aceitamos seu convite e até mesmo sua ajuda, mesmo que eu não saiba muito sobre o porque você quer nos ajudar sem muito nos conhecer.
Terminava sua fala em um tom desconfiado, mas nada inquisitivo.
Logo, tocou em Onke para passar sua decisão a seu amigo, o que fizera com que o gorila tomasse um leve susto. Não demorou muito para explicar a situação de forma com que o animal entendesse e, também, pediu para que confiassem na mulher.
Ambos estavam dispostos, a partir dali, a seguir Laurie até o abrigo.
Laurie observou enquanto Therak falava com Onke, esperando até que os dois estivessem preparados para segui-la.
Ela conduziu o belo cavalo castanho pelas rédeas, mostrando a Therak o melhor caminho até o sopé da colina, enquanto falava, respondendo a última questão não formulada de Therak:
- Você claramente não é daqui, e sua aparência extraordinária e seu companheiro símio me indicam que você tem capacidades ímpares. Se você vagasse livremente por aí poderia cabar sendo atacado por aqueles que não o reconhecem pelo que é, ou poderia tornar-se uma ameaça grave para pessoas inocentes.
Chegando a um terreno mais plano, Laurie enveredou por uma trilha que se afastava da colina e seguia na direção de um pequeno vale. Numa clareira no meio do vale sobressaía uma cabana de caça de simplicidade enganosa.
Spoiler:
Laurie abriu a porta e deu passagem para Tharek:
- Entrem, eu vou desselar o cavalo e encontro vocês em alguns minutos.
O interior da cabana era quente e confortável, muito convidativo contra a chuva fria que já começava a cair.
Spoiler:
Logo, Laurie entrou, sacudindo gotas de chuva de seu traje de montaria de couro.
- Vou reforçar o fogo da lareira e preparar chá para nós, e enquanto isso podemos conversar. Podem se entar aqui perto do fogo.
Laurie incumbiu-se pessoalmente de todas as tarefas necessárias para ser uma boa anfitriã. Tharek estava acostumado a ver senhores e senhoras importantes ordenarem a servos que fizessem essas funções, e estava desacostumado de ter alguém branco e de classe social mais elevada atendendo-o daquele modo. Embora ela não fosse uma adepta da natureza como ele, Laurie também não parecia apegada às regras e cotumes das sociedades civilizadas.
Enquanto avivava o fogo da lareira, a jovem ruiva entabulou o diálogo:
- Percebi que você tem várias reservas, então vou dar informações úteis que talvez você não saiba antes de fazer qualquer pergunta.
Uma grande chaleira foi posta suspensa sobre o fogo, e Laurie colocou uma fornada de pães para assar, espalhando um agradável odor pela cabana.
- Não sei de onde você vem, mas estamos em Mordent, um país cuja capital, Mordentshire, é perto daqui. Mordent é só uma das nações do que nós conhecemos como Terra das Brumas. Alguns estudiosos dizem que a Terra das Brumas é um semiplano, uma dimensão limitada dentro de um plano de existência maior. As nações mais extremas do que nós chamamos de Núcleo são cercadas por paredões de névoas, as Brumas, que podem transportar aqueles que as adentram para lugares inesperados, inclusive em outras dimensões. O mais comum é encontrar pessoas que venham de outras dimensões trazidas por essas brumas e de repente se encontram presas aqui.
A água ferveu e Laurie começou a servir um chá de coloração marrom alaranjada em um conjunto de xícaras de porcelana decoradas com pinturas de temas silvícolas.
- Algumas pessoas neste Núcleo podem viver vidas inteiras sem encontrar nada sobrenatural, mas mesmo elas sabem que o Mal existe. Aqui em Mordent há muitos casarões assombrados como aquele que você encontrou, mas em outros lugares há outros tipos de perigos malignos para vitimar ou, mais provavelmente corromper, os incautos. Mais chá?
Após reencher as xícaras com mais chá, Laurie deu uma olhada nos pães e voltou a falar:
- Daqui a pouco os pães estarão prontos. Onde eu estava? Ah, sim, ameaças malignas! Alguns estudiosos teorizam que o semiplano aprisiona seres malignos aqui, e que as Brumas seriam a expressão de algo chamado Poderes Sombrios. O que são esses Poderes Sombrios, quais os objetivos deles, porque faem o que fazem, ou mesmo se são forças do Bem ou do Mal, tudo isso é especulação acadêmica. O certo é que existem muitas ameaças malignas e poderosas que afligem pessoas inocentes, e por isso indivíduos corajosos precisam se levantar para defender os que sofrem.
A jovem olhou novamente para a fornada de pães e dessa vez retirou-as do fogo usando um pano. Com uma adaga, ela colocou os pães numa travessa de latão amarelo alaranjado e trouxe-os à uma mesinha de centro, acrescentando também potes e mantega e geleia e uma delicada faca de cozinha sem pontas.
- Sirvam-se, por favor, fiquem à vontade. Como eu estava dizendo, algumas pessoas ousam enfrentar as forças malignas pelo Bem maior. Meu tio, George Weathermay, faz isso desde que eu era criança, juntamente com um amigo, o Dr. Rudolph Van Richten, que eu chamo carinhosamente de tio Rudolph. Ele viajou pelo Núcleo combatendo ameaças e fazendo pesquisas sobre as criaturas das trevas, ensinando a outros formas eficientes de enfrentá-las. O círculo de aliados que ele formou é informalmente conhecido como Sociedade Van Richten, da qual eu também faço parte, e estamos sempre à procura de novos aliados para nos ajudar. Isso explica o meu interesse em você.
À essa altura, Laurie já estava sentada numa poltrona de frente para Therak, olhando-o fixamente com uma expressão marota.
- Você disse que estava à procura de uma pessoa, e mencionou um nome, Petit-Dubois. Não me recordo de ninguém com esse nome, mas suponho que sejam de Dementlieu, um país vizinho daqui. Posso fazer pesquisas sobre isso, mas isso requer investigação e cautela. Talvez se eu souber mais sobre o seu caso poderia ajudá-lo melhor. Quer me contar mais sobre você?
Therak e seu companheiro seguiam a mulher em seu cavalo, atentos ao caminho e a própria guia.
- Therak não é ameaça. Onke também não é ameaça. Nós estamos aqui pra resgatar uma amiga. Respondeu durante o caminho.
Chegando à casa, Therak e Onke esperaram que Laurie voltasse depois de levar o cavalo até o seu local de descanso e, só aí, entraram na casa junto a anfitriã. Lá dentro, o conforto de uma casa já se fazia sentir em suas peles e seus corpos pareciam agradecer que não mais estavam lá fora. Onke parecia curioso e observativo com cada canto da casa, Therak o observava algumas vezes.
- Seria uma honra poder trocar histórias com alguém tão disposta a ajudar desconhecidos. Therak se senta ao chão, em uma posição parecida com alguém meditando, enquanto Onke se sentou um pouco mais perto do fogo, mas ainda perto de Therak. O gorila sentado parecia mais humano que o próprio Vinn.
Ambos acompanhavam Laurie com os olhos enquanto ela fazia algumas tarefas. Era de fato uma sensação diferente, até mesmo incômoda. Onke não parecia entender porque aquela mulher parecia tão gentil, mas logo esquecera qualquer desconfiança quando o cheiro dos pães subiu pelo lugar.
Therak tentava disfarçar, mas sua barriga não escondia que uma comida naquele momento cairia bem. Então, enquanto esperava, prestou atenção na explicação daquela mulher sobre aquelas terras que ele anteriormente estava desbravando sem nenhuma informação.
O homem aceita mais chá e o toma lentamente, já o Gorila não faz muita questão. Sua atenção estava nos pães.
Os assuntos que a mulher abordava eram um tanto complexos para Therak, mesmo ele entendendo muito bem sobre questões espirituais e até mesmo sobrenaturais. Mas, ainda assim, ele se encantava com tanta informação vinda tão facilmente naquela conversa.
Enquanto Therak Vinn ainda escutava a explicação, Onke praticamente pulara na direção da travessa com os pães e outros ingredientes. Um pão fora direto para sua boca enquanto um outro já esperava impaciente na sua mão para também ser engolido. Seu interesse na geleia e manteiga logo chegara e depois de algumas poucas tentativas de usar a faca de cozinha, como em algum momento de sua vida já tentaram lhe ensinar como "boas maneiras", Onke usou seus próprios dedos para passar esses condimentos no pão. Therak talvez o repreenderia, mas sua atenção estava em Laurie.
Um pão escorrega pelo chão até Therak, que o pega. Onke o jogou, preocupado com o amigo. Estava se segurando para não comer mais.
Therak dá uma mordida no pão.
- Entendo. Pensativo. - Realmente um bom motivo de estar interessada em nós. Acho que até mesmo eu, agora, estou interessado em vocês. Pondera por alguns poucos instantes.
Talvez aquela oportunidade fosse aquilo que ele precisava para conseguir começar a realizar seu plano de resgatar todos os seus companheiros de tribo. Aquilo provavelmente era um recado dos espíritos.
- Bem... tentando retomar um pouco da formalidade, vamos as apresentações que lhe faltaram. Me chamo Therak Vinn, sou um nativo de uma floresta que foi invadida por homens de uma metrópole para conseguir mão-de-obra barata e eficiente. Minha tribo... nossa tribo... ela foi dizimada e os que sobreviveram foram escravizados e separados por meio do comércio de pessoas. Eu, como muitos outros, fui escravizado por muito tempo e servi a inúmeros ricos que me usavam para o que bem entendiam e, então, um dia, consegui fazer o que desejava desde o primeiro dia da invasão. Fugi dos meus captores. Fugi para bem longe e desde então tenho como objetivo de vida encontrar meus companheiros que foram separados de forma tão horrível e injusta. Nesse caminho que escolhi trilhar, reencontrei meu amigo que está conosco agora, Onke... O Gorila limpa a boca e da uma bufada fortes com as narinas, como se fizesse a sua própria apresentação. - Então, juntos, estamos vagando por terras desconhecidas. Procurando informações que possam nos levar para que mais irmãos nossos sejam livres e nos acompanhem nessa missão de resgate a nossa cultura.
Ele toma um gole de chá, tentando recuperar o folego um pouco após falar tanto.
- A informação que tivemos é que Huayna Then, uma mulher da nossa tribo, está com esses quais lhe dei o nome: Petit-Dubois. Está trabalhando como serva domestica para eles em algum lugar ao norte. Talvez nesse lugar que você chamou de Dementlieu. Enfim, ter mais informações seria uma grande ajuda e vejo que você também está envolvida com seu próprio grupo que carrega interesses aparentemente honráveis em terras que parecem guardar tantas trevas como essas.
Therak olhou para Onke, conferindo se o seu amigo estava confortável com a situação. O gorila parecia estar mais tranquilo.
- Eu sei da importância de alianças para que objetivos sejam alcançados e como o que mais quero em minha vida é poder salvar a minha tribo, me ponho a seu dispor para ajudar seu grupo como eu puder em troca da ajuda de vocês com a minha causa.
Poderia parecer ingenuidade se abrir tanto naquela situação, mas Therak sabia que estava sozinho em meio a uma terra desconhecida na qual parecia ser até mais difícil de se viver que a sua terra natal. Ele tinha que se arriscar nas oportunidades que apareciam e ter mais contato com aquele grupo qual aquela mulher fazia parte era algo que talvez lhe rendesse mais possibilidades de encontrar Huayna Then.
Laurie escutou toda a explicação de Therak atentamente, demonstrando reações empáticas com as lembranças que o xamã revivia.
Therak escreveu:- Eu sei da importância de alianças para que objetivos sejam alcançados e como o que mais quero em minha vida é poder salvar a minha tribo, me ponho a seu dispor para ajudar seu grupo como eu puder em troca da ajuda de vocês com a minha causa.
A dama ruiva olhou sombriamente para ele antes de responder:
- Eu acredito que encontrar o paradeiro da sua amiga Huayna será a parte mais fácil. Os perigos além disso podem ser muito maiores. Mas se estiver disposto, eu e meus aliados apoairemos vocês de todos os modos que pudermos.
Ela se levantou da poltrona e tirou os utensílios da lareira, jogando outra acha para alimentar o fogo. Ela falou de modo mais descontraído:
- Seria melhor dormirmos agora, descansarmos para retomar a viagem amanhã. A minha cama fica ali no mezanino, mas você e o... Onke? - podem se acomodar aqui nos sofás perto da lareira.
Fora da cabana, era possível ouvir a tempestade trovejante despencando com ventos assobiando lugubremente, açoitando as paredes da habitação de madeira, que parecia resistir bravamente à intempérie dos elementos.
Laurie subiu uma escada vertical para o mezanino, onde Therak não podia mais vê-la embora pudesse ouvi-la, deixando-o sozinho com Onke.
Cansado, Therak cedeu ao sono mesmo naquele ambiente desconhecido.
Em seus sonhos, Therak viu alguns de seus irmãos de tribo que já tinham morrido, cada um deles que tinham sido arrancados de sua vida na aldeia, escravizados, maltratados, torturados e assassinados. As vivências traumáticas tornavam o sono de Therak extremamente inquieto, mas ele não acordava, revivendo cada uma das vidas miseráveis de seus irmãos.
Sonhos:
Apesar do sofrimento agonizante, Therak percebeu uma vantagem inesperada: através da vida de cada um dos que morreram, ele também ficava ciente de cada um dos seus irmãos de tribo que continuavam vivos, até daqueles que ele não conhecera pessoalmente. Ele não sabia o paradeiro deles, nem o que lhes acontecera, mas sabia que estavam vivos, pois não estavam entre os que assombravam seus pesadelos.
Therak acordou sendo sacudido por Laurie.
- Acorde! Você estava falando e se debatendo enquanto dormia! Acalme-se, você está seguro aqui, está tudo bem!
Laurie e Onke estavam na cabana, e um cheiro de chá já enchia o ambiente. Pela janela, um sol de manhã pálida iluminava o interior.
O desjejum preparado pela srta. Weathermey-Foxgrove estava saboroso e substancioso, mas ela guardou um silêncio respeitoso durante a refeição, permitindo que Therak reorganizasse seus pensamentos. Não chovia mais, e o orvalho úmido e frio recobria a vegetação ao redor da cabana.
Depois da refeição, Laurie saiu para cuidar e preparar seu cavalo, dando tempo para que Therak se reconectasse com a Mãe Natureza, renovando suas bençãos naturais. Logo, eles estavam prontos para partir.
Antes de iniciar a jornada, Laurie arrumou uma capa pesada para Therak se esquentar, e um capuz com manto bem comprido para Onke, embora os pés dele ainda ficassem bem à mostra. Ela também mostrou um mapa para Therak, indicando onde estavam.
Mapa de Mordentshire:
- Esse mapa foi feito por alguém de Dementlieu, por isso os nomes estão nessa língua afrescalhada deles. Você veio acompanhando o caminho pela Estrada do Sul, talvez tenha passado por Valachan, o reino mais meridional. Tumbledown já ficou pra trás. Se formos pela Estrada do Sul, teremos a Floresta sem Luz à esquerda e a Charneca Cinzenta à direita, com o Rio Arden ainda visível no horizonte. Nosso destino é Mordentshire, está vendo?
Laurie montou a cavalo e guiou Therak e Onke pelo pequeno vale até encontrarem a tal Estrada do Sul, que ao contrário do resto do solo daquele lugar, era construída sob terreno firme, fácil de transitar. Como a srta. Weathermay-Foxgrove explicara, à direita da estrada era visível por quilômetros uma extensa charneca, com um grande rio desenhando-se quase no limite do horizonte. No lado oposto, uma floresta tão densa fazia jus ao seu nome, parecendo sugar a luz tênue da manhã que caía sobre ela.
Charneca Cinzenta:
Floresta sem Luz:
Às vezes, alguma carroça de comerciantes passava por eles, e Laurie os cumprimentava educadamente com saudações amistosas, porém breves, com uma formalidade sem qualquer intimidade.
Pouco depois do meio dia, a estrada fazia uma curva, afastando-se para longe do rio, e caíam numa bifurcação, com uma trilha claramente menos usada serpenteando para uma colina distante, enquanto a outra continuava à esquerda. Nessa altura, Laurie explicou:
- Aquela estrada vai para um lugar amaldiçoado. Até mesmo meu tio George e o Dr. Van Richten me diziam para não ir para lá pois seria muito perigoso até mesmo se aproximar da Casa na Colina do Grifo.
A estrada à esquerda seguia uma longa reta e depois fazia uma longa curva à direita, atravessando bosques menos densos que a Floresta que ficara para trás, mas ainda mais silenciosos. Uma outra reta atravessava novos bosques, com árvores que quase se fechavam sob a estrada.
Finalmente, no fim da tarde, eles chegaram a uma nova bifurcação, mas havia um cavaleiro acampado na beira da via, e ele levantou os olhos ansiosamente ao vê-los. Levantou-se de um pulo e correu ao encontro deles.
Cavaleiro:
- Srta. Weathermay-Foxgrove! Estou esperando-a desde ontem! Seu avô, Lorde Jules, convocou você e sua irmã para uma reunião familiar, mas como a senhorita não estava em sua casa, ele me pediu para encontrá-la e pedir que agende a ocasião que lhe for mais conveniente.
Laurie ficou um pouco contrariada em ser abordada assim, mas respondeu de forma educada, ainda que friamente:
- Muito bem, James, obrigada por me avisar. Vou falar com Genniffer hoje e podemos marcar essa reunião familiar para depois de amanhã, se meu tio puder.
- Excelente, senhorita! Vou avisar Lorde Jules!
O tal James começou a desfazer seu acampamento e preparar seu cavalo para voltar, mas Laurie não o esperou e fez sinal para Therak e Onke seguirem com ela para a estrada que seguia à direita da bifurcação.
Quando estavam a alguma distância, ela explicou:
- Meu avô, Lorde Jules Weathermay, é o governante de Mordent. Ele mora na Mansão Heather, que é pra onde aquela outra bifurcação leva. Ele é viúvo e padece de uma enfermidade há alguns anos, de modo que está quase sempre acamado. Fico imaginando o que ele quer com essa reunião familiar...
Dentro em pouco, com a noite prestes a cair, a estrada começou a descer suavemente, levando à uma baía entre dois penhascos.
Logo, Laurie anunciou:
- Aqui estamos! Mordentshire!
Mapa de Mordentshire:
Aparência de Mordentshire:
OFF: Pode dialogar em qualquer parte que quiser, eu só quis adiantar algumas cenas.
Ao ouvir as primeiras palavras da moça, Therak assente com a cabeça.
- Estamos dispostos. Ele olha pra Onke que, mesmo em meio a sua fascinação pela comida, devolve o olhar decidido. - E também apoiaremos vocês no que pudermos.
O guerreiro das florestas parecia um tanto aliviado com os rumos inesperados que a vida lhes guiara. Uma hora estavam andando sem rumo, noutra estavam recebendo uma ajuda tão bem vinda. Os espíritos dos antigos olhavam por aquela dupla.
- Certo, aqui está ótimo. Ao menos bem melhor que lá fora. Seu tom tentava alcançar um pouco a descontração que a fala da mulher transparecia, mas não conseguira tanto. - Bom descanso e até amanhã... novamente, muito obrigado pelo abrigo.
Onke bufava com as narinas, também expressando sua gratidão.
Logo, ambos se aconchegaram para dormir. Os dois se colocavam bem perto da lareira, para deixar o fogo tocar-lhes o corpo, e seus corpos também estavam perto um do outro. Se sentiam seguros assim.
A noite, como todas as outras, era por si só um caminho exaustivo para Vinn. Sua mente era sensível ao outro lado e suas experiências sempre voltavam como que vivas para lhe atormentar os pensamentos. Mas, de certa forma, já lhe era costumeiro... afinal, aquilo fora o que decidira como objetivo de vida. Não ia deixar que novas imagens de irmãos que se foram se formassem ao fim do dia e que mais sangue do seu sangue fosse derramado.
Acordando ofegante diante da fala da mulher, Therak tentava respirar cada vez mais fundo para se acalmar.
- Perdão... Esqueci de lhe mencionar que mesmo meu corpo sendo livre para descansar, minha mente e minha alma estão sentenciadas a um tormento eterno. Não queria ter lhe acordado ou preocupado de algum modo. Seus olhos buscaram os da mulher, que parecia não entender muito bem o acontecido, e também o de Onke que mesmo não se agradando muito com aquilo, já parecia se acostumar com o sono inquieto do companheiro de viagem. - Ao menos posso acordar com a notícia que todos meus irmãos que ontem estavam vivos, puderam acordar no dia de hoje... Eles me falam. De certa forma parecia feliz.
A manhã era mais agradável que a noite, o que em si era reconfortante. Todos comeram o alimento preparado pela mulher e lhe agradeceram. Therak passara um tempo meditando junto a Onke, que mais observava o mundo ao seu redor do que em si exercitava seus pensamentos. Era uma atividade que ambos faziam juntos. Vinn estava preparado para mais um dia sabendo que seus ancestrais e a própria natureza estavam ao seu lado.
Já prontos para partir, ambos colocaram as capas que Laurie lhes deram e tentavam de alguma forma se acostumar com isso... principalmente Onke, que não tinha nenhum costume de se vestir.
Já olhando o mapa, Therak não entendia muito bem tanto por conta da língua, quanto por sua falta de costume de ler mapas, mas ainda assim entendia a ideia básica de por onde passaram e para onde estavam indo. Concordava mais uma vez com a cabeça. Seguiam a estrada sul, com ambos companheiros dividindo suas atenções nos arredores e na própria guia em seu cavalo. Prestavam atenção em todas as explicações e ficavam quietos, concentrados em entender o máximo possível daquele local e do que aquela mulher já tinha conhecimento e poderia lhes ensiná-los.
Chegando onde estava o cavalheiro, Therak novamente pôs-se em sua posição de desconfiança. Estava mais perto de Onke e tentando deixar com que Laurie assumisse ainda mais a liderança. Antes de se aproximarem o bastante, ele a perguntou.
- Você o conhece? Em tom desconfiado.
Ao se aproximarem ainda mais e o homem falar daquela forma com a moça, Therak o cumprimentou com um leve balançar de cabeças. Onke ainda se mantinha distante, sem muito contato até mesmo visual.
Continuaram o caminho, seguindo Laurie.
- Vejo que você parece ser de uma família ainda mais importante do que eu achei, Laurie. Apenas comenta. - Só espero que nossa presença não atrapalhe essa reunião que lhe convidaram.
Ao chegar na cidade, Therak não parecia se sentir tão a vontade. Era uma visão que lhe lembrava quão longe estavam das matas e da natureza... e isso lhes trazia sempre uma sensação ruim. Mesmo assim, seguira por onde Laurie os guiava.
A srta. Laurie Weathermay-Foxgrove não demonstrou incômodo com os sonhos premonitórios de Therak; parecia estar acostumada com coisas estranhas.
Durante a viagem, ela não falou muito, apenas explicando as coisas que Therak perguntasse.
Therak escreveu:- Vejo que você parece ser de uma família ainda mais importante do que eu achei, Laurie. Apenas comenta. - Só espero que nossa presença não atrapalhe essa reunião que lhe convidaram.
Laurie pareceu surpresa, e respondeu logo:
- Não se preocupe, Therak. Percebeu o modo como ele solenemente quase te ignorou? Os mordentianos, principalmente os mordentenses, têm esse jeito de tratar as pessoas, com uma amabilidade muito formal, sem expressar o que pensam de verdade. O meu avô, Lorde Jules Weathermay, é o nobre regente do reino. O meu pai, Daniel Foxgrove, é o prefeito de Mordentshire. Meu tio, George Weathermay, é um grande herói que combate os seres das trevas, mas mesmo com todos os seus feitos, ele é sutilmente desprezado pelos aristocratas. Eu e minha irmã também somos, um pouco mais por sermos mulheres. Como nós nos reunimos com frequência com forasteiros tão ou até mais exóticos que você, isso é só mais um motivo para nos desaprovarem.
Entrando na cidade, Therak e Onke passaram por uma estrada que ladeava grandes campos arados, em sua maior parte cevada, lúpulo, trigo e centeio.
Após essa área rural, começava o espaço urbano, com casas de madeira reforçadas. Enveredando por uma esquina à direita, eles passaram por ruas com casas e comércios de ambos os lados, sendo ainda possível ver no espaço além deles uma grande feira cheia de barracas.
Os mordentianos eram um povo pobre, agradável e endurecido por gerações de pesca e navegação. Sua pele era clara e corada, embora tons mais escuros fossem comuns. A cor dos olhos dos mordentianos eram azul, verde ou cinza claro. A cor dos cabelos variava muito, mas o loiro escuro e o castanho médio eram bastante comuns. Os homens deixavam seus cabelos bem curtos ou logo abaixo dos ombros. prendendo-os numa trança única ou um rabo-de-cavalo. As mulheres tinham cabelos excepcionalmente longos, mas as detentoras de mechas onduladas conservavam-nas pouco abaixo do meio das costas. A indumentária era feita de lã dura, mantida meticulosamente organizada e limpa sempre que possível. Os homens trajavam camisas largas com bombachas e meias altas; os mais ricos também vestiam coletes sobre suas camisas elegantes e rendilhadas, As mulheres usavam vestidos longos, justos na parte superior e largos abaixo da cintura. Os rnordentianos preferiam cores mais sóbrias. como o preto, tons de cinza ou tonalidades escuras de azul, verde, amarelo e vermelho. Não havia muitos adornos, com exceção de estampas listradas e xadrezes. As jóias praticamente não apareciam em nenhuma parte da aparência do povo.
As pessoas cumprimentavam Laurie, e por tabela Therak e Onke, de modo educado e amistoso, mas ligeiramente distante.
A srta. Laurie conduziu Therak e Onke até um prédio de três andares, com uma discreta placa que anunciava: "Herbanário Van Richten".
Herbanário Van Richten:
A donzela ruiva desmontou, enquanto a porta se abria e uma outra dama ruiva abria a porta do estabelecimento, e Therak teve a impressão de ver uma ilusão: as duas mulheres eram exatamente iguais em suas feições e compleições, com apenas as roupas as diferenciando.
Genniffer e Laurie:
- Olá, Genn! Estes são Therak e Onke. Essa é minha irmã, Genniffer Weathermay-Foxgrove.
A senhorita Genniffer não pareceu se perturbar pela presença obviamente imprevista de Therak e Onke, e saudou-os com um aceno educado e reverente com a cabeça.
- Sejam bem-vindos! Entrem, por favor, o chá está no fogo.
A porta do herbanário se abria para uma sala comercial cheia de estantes e recipientes de vários tipos, com um moedor no centro. Genniffer os guiou até uma escadaria nos fundos que levava a uma confortável sala de estar no segundo andar.
Spoiler:
- Sentem-se, fiquem à vontade, devem estar cansados da viagem! Eu vou servir o chá, e gostaria de ouvir como vocês encontraram a minha irmã.