Skye Jenkins

A mulher sorri quando Skye perde o controle. Uma risadinha que parece um sino. "Você é uma gracinha. Eu volto para a gente conversar mais outro dia e vou trazer algo divertido." Ela diz de um jeito misterioso e animado. Como se ela mal pudesse esperar. Aquilo faz Skye imaginar sem querer o que ela poderia trazer de divertido. O que era divertido? A mulher se levanta como se fosse leve igual algodão doce. Ela tira um caderno muito pequeno do bolso. Muito pequeno mesmo. Faz uma anotação muito rápida com uma caneta que estava presa nele e sorri de novo para Skye. Calorosa. Dentes bonitos. Feliz. "Terminamos aqui." Ela diz, mas só sai do quarto quando a mãe de Skye entra. O sorriso radiante virado para ela agora. A mãe parece pega de surpresa e fica olhando de uma para a outra.

Skye não sabe porque, mas o desconforto da mãe é claro e ela se segura para não... Skye não sabe o que ela quer dizer ou fazer. Difícil demais para entender os adultos. Agatha sem deixar de sorrir. "Eu adorei a Skye, o cabelo dela tá lindo..." A voz dela era estranha. "Um dia desses eu volto pra brincar com ela, tudo bem?" A mãe fez aquela cara de que vai arrastar Skye o sotão e deixar ela trancada sem comida. "Não vai ser problema nenhum, é só não atrapalhar os estudos dela." Ela sorri de um jeito muito esquisito e elas se despedem e os dois saem. A mãe os acompanha até a porta e Skye espia do corredor. A mãe se vira irrada quando a porta fecha. O rosto vermelho. Os passos pesados no chão na direção da cozinha. Lá de baixo ela grita. "Pro sotão, não me faz te levar pra lá!" Veneno em cada silaba. Skye não conseguia imaginar o que tinha feito de errado, mas ela claramente tinha deixado a mãe extremamente irritada.

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Foram dias até conseguir fugir de novo. Ou semanas. Quem sabe? Quando ela finalmente consegue era tarde e Skye olha o céu mudando de cor com o sol vermelho no horizonte. Ela desce como fez da outra vez e pula e corre e se esconde. Ela corre e corre e se esgueira e está livre. Wally a segue de um lado para o outro quando ela chega. Estava escuro quando ela finalmente se estica na janela de Clara. A menina não estava em lugar nenhum, mas debaixo da cama tinha um travesseiro e uma coberta dobrada.

Wally a seguia pelo jardim a chamando para brincar. Querendo correr e pegar. O cão para quando ela chega na janela grande da sala e anda para longe distraido. Ninguém ali também. Skye já deu a volta quase toda. Quando ela termina volta encontra Wally em frente a uma figura estranha. O cão ainda não se decidiu entre atacar ou brincar. Ele provavelmente era muito forte, já que era maior e mais pesado que Skye e cães eram fortes e ferozes. Mas não Wally. "Oi garoto, não vou invadir nada, não vou machucar sua família e nem roubar sua comida. Não vim tomar a sua casa." Ele vira a cabeça de lado como se considerasse as palavras e olha para o estranho com atenção. O estranho era uma forma no escuro. Parado exatamente onde a sobra de uma árvore ficava na frente do poste. Os contornes eram estranhos e sem forma. Sem definição. Uma coisa escura no escuro. "Eu tenho comida e posso dividir." A voz era feminina e tinha alguma coisa que fazia Skye prestar atenção como se algo importante estivesse acontecendo. Era algo que ela não conseguia entender ou perceber, como aqueles apitos que aparecem no ouvido sem razão nenhuma.

Skye se percebeu encarando e quase fugiu. Quase se escondeu, mas já estava escondida. A pessoa tira alguma coisa de um bolso na barriga e morde e mastiga. Wally parece finalmente decidir por acolher e partilhar da comida. A pessoa nem liga. Deixa Wally comer e faz carinho de leve. Skye pensa em ir embora de novo, mas ela sabe que ao se mover será vista. Ela sente a atenção sobre ela como um farol. A pessoa se levanta e não é grande. Isso é bom. Pessoas grandes são mais assustadoras que pequenas. Wally segue lambendo a mãe da forma estranha que anda na direção da janela de Clara se revelendo uma pessoa magra além de baixa. Pessoas fortes e altas são mais assustadoras que magras e baixas. Skye se sente dividida. Seus planos esquecidos e só a lealdade que tinha por Clara a impede de ir embora. A pessoa está vestida de cinza escuro ou preto ou alguma cor no meio disso com algum nome que ela não conhece. Tem cheiro de orvalho e alguma outra coisa que lembra almoço. Wally não para de lamber aquela mão nem quando ela olha dentro do quarto por um instante.

Subitamente a pessoa vira na direção e Skye e ela congela sem saber se poderia fugir ou não. Talvez fosse hora de atacar. A pessoa balança a cabeça e o capuz cai revelando um cabelo escuro e um rosto claro. Uma expressão séria, mas a cara que alguém faz quando derruba um copo e ele não quebra nem um pouquinho. Alguma emoção sem nome que Skye entendia. "É melhor você voltar de manhã. Se quiser eu espero com você até ela acordar." Agora ela não estava falando com o wally. Era uma mulher com certeza. "Posso te emprestar o meu casaco se tiver com frio. É perigoso." Ela diz isso e fecha a mão que wally está lambendo. A mão parece suja de molho. Não dá para ver sem luz e de qualquer forma Wally já está terminando de lamber. Ela não olha diretamente para Skye, fala como se esperasse que ela ouvisse e mesmo assim fala baixo. Ela se senta em baixo da janela de Clara. "Se você não correr eu posso te ensinar um truque. Já sabe andar só com as mãos?" A mulher conseguiu colocar um pouco de desafio na voz um pouco acima de um sussurro. Alguma coisa no fundo de uma parte sem nome achava aquilo familiar. Uma parte dela estava cansada. A mulher também parecia cansada.

Ela mal parece ouvir a primeira pergunta ou a segunda, mas responde. "Eu conheço a Clara. Pode me chamar de Amy." Ela vira o rosto de lado quando Skye diz que sabe se cuidar. Ela avalia Skye com cuidado lento e assente com a cabeça. Ela assente de novo sobre andar com as mãos. A mulher coloca as duas mãos no chão e logo estica as pernas como se fosse deitar de barriga. Então ela tira uma perna do chão e logo depois a outra como se não tivesse peso. O rosto uma máscara de serenidade. Ela tira uma das mãos do chão e coloca a frente logo em seguida. Depois faz a mesma coisa com a outra. De novo e de novo virando de lado para Skye como que para ser vista. Wally passa de um lado para outro sem entender a brincadeira. Quando Skye estava achando a coisa mais impressionante que estranha Wally sobe em cima da mulher derrubando os dois no chão. Wally se sente claramente traido ou assustado ou animado demais e buffa dando pulos satisfeitos. A mulher tira grama do rosto e rola de lado rindo sem som. "Quer tentar?" A voz da estranha ainda carrega um pouco de animação mesmo diminuida pelo tom conspiratório e baixo.

Wally cheira os pés dela desconfiado e olha para Skye como quem faz alguma pergunta de cachorro que ela nunca vai entender. Ele faz um barulho com o nariz quando ninguém o responde. Focinho. Skye sabia a palavra. Claro que sabia. "É difícil de primeira, mas você é forte. Eu sei que é." Ela espera Skye responder ou fugir, mas não dá atenção demais para ela. Wally estava recebendo uma coçadinha atrás da orelha e parecia ter esquecido suas dúvidas de cachorro por enquanto.

"Porque o que? Porque andar com as mãos ou porque eu conheço a Clara?" Ela cheira o pelo de Wally enfiando o rosto todo pescoço do animal por alguns segundos. Um alvo fácil por um instante. "Você disse que consegue se cuidar, né? E já te vi escalando por aí. Você é forte, ou leve. Ou um pouco de cada." Ela ri animada da interação com o cão, mas ainda assim mantém a voz no mesmo tom. "Eu acreditei em você, é melhor eu mudar de ideia?" Quando Skye diz que não lembra dela a mulher dá de ombros e não fala nada. Mas responde a pergunta sobre Wally. "Ele é lindo, mas eu cuido de crianças. Ensino elas a fazer coisas. Construir coisas com as mãos." Ela sorri com os olhos no céu.

Ela vê Skye tentando e acompanha com os olhos e se move como que para Skye copiar. "É mais fácil começar assim." Ela senta e coloca as mãos no chão e depois levanta e coloca os joelhos nos cotovelos. O movimento lento. Os olhos o tempo todo em Skye. "Se não conseguir de primeira é só tentar de novo." Ela se deixar cair no chão sem fazer barulho. Wally que já tinha perdido o interesse e deitado no chão olha para ela e para Skye. Decide ir investigar Skye da mesma forma que investigou a mulher e quando Skye estava quanse conseguindo. Ela tinha certeza que estava quase conseguindo. Ele coloca o peso de cachorro dele em cima dela e os dois desabam. Ele dá pulos satisfeitos e faz festa em Skye. A risada agora é um pouco alta demais e ela coloca a mão na boca e olha na direção da janela. "Quer sair daqui? Eu sei correr nas paredes, quer ver?" Ela parecia pronta para sair correndo pelas paredes como se fosse uma aranha feliz.

Quando Skye diz que conseguiu Amy só confirma com a cabeça. Mas quando ela pergunta se Amy a iria ensinar a mulher abre um sorriso grande e travesso. "Só se você for esperta." Ela não espera uma resposta, mas corre dali. Wally se assuta e corre atrás dela. Skye também corre. Não ia começar ficando para trás. A mulher usa o truque de andar nas mãos para pular a cerquinha que separava Wally do mundo. Alta demais para Skye tentar o mesmo, mas ela sabia escalar e não demorou nada para chegar do outro lado. Amy não tinha ficado esperando e já estava correndo. Skye corre atrás chegando cada vez mais perto. A mulher era maior, mas Skye era mais rápida.

Ela vira em uma esquina assim que Skye a alcança e a menina derrapa antes de virar. A mulher tinha feito alguma coisa com o corpo para fazer a curva. "Antes de correr pra cima você precisa só de uns passos pro lado." Ela corre mais rápido depois de falar isso e se empurra com o pé em uma placa com nomes de ruas fazendo uma curva. Skye faz a mesma coisa e quase escorrega, era metal coberto com água que aparece nas manhãs frias em cima de quase tudo que fica fora de casa. Ela vê a mulher entrar na praça onde as pessoas andavam de Skate e cair em uma das piscinas vazias e tortas. Um, dos, três passos antes de Skye ver a mulher lá embaixo. Ela sorri travessa de novo e corre na parede torta, não para cima, mas para o lado e pula para borda do outro lado. O olhar um desafio para Skye. Ela fica na ponta dos pés esperando Skye tentar.

Skye se joga correndo e acaba indo rápido demais e não consegue parar no lugar certo. Ela se vê escapando pela borda para cair de lado no fundo. Ia doer, ela sabia que ia doer por um tempo. Amy não ajuda ela e nem diz nada quando Skye cai. A dor da pele ralada e dos ossos sacodidos ameaça fazer ela gritar, mas a vergonha e o orgulho são mais fortes. Afinal, ela já tinha sentido pior. Os passo da mulher se aproximam sem pressa. Uma mão aparece perto de Skye. Estendida e aberta. "De novo?" Nenhuma pena. Nenhum desprezo. "Ninguém acerta tudo de primeira." Nenhuma decepção. Nenhuma provocação. A mão continua ali paciente enquanto a dor vai deixando os corpo de Skye e só o calor sobra onde ela tinha se machucado. Ela conta os segundos enquanto a dor desaparece. A mão continua ali esperando uma resposta.

Skye consegue na segunda e Amy começa a seguir a menina na corrida. Ela é quase tão rápida quanto Skye. "Acho que você tem jeito." A voz não traia nada além de diversão. Ela pulava por cima de obstáculos que Skye só precisava correr mais rápido para ultrapassar. Os adultos sempre tinham mais trabalho. Elas correm e a outra chega mais perto e mais perto. Ela não parecia ficar cansada. Logo a frente uma parede alta virava uma arquibancada de frente pra lugar nenhum. Skye teria que correr de volta ou em volta dela. A menina tenta e consegue e a adulta vai direto sem parar, na verdade corre mais rápido como se não tivesse parede nenhuma ali. Skye para e assiste e tem certeza que ela vai enfiar a cara no blocão de concreto que é a arquibancada mas a mulher pula e empurra a parede com um pé e se estica toda para pegar a borda com a mão. "Vem, tenta também." Esforço na voz. "Se não alcançar o degrau pode pegar meu pé. Que nem um soldado." Ela balança o pé de um lado para o outro devagar e fica olhando lá de cima. Esperando. Uma mão para baixo abandonada e a outra na beira. Uma de boba no rosto vermelho da corrida. O cabelo preto e colorido bagunçado pelo vento e meio colado de suor.

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Ela estava sentada, meio deitada e meio jogada no chão. Parecendo tão exausta quanto Skye sentia. "Eu tenho que ir. Daqui a pouco tenho que levar as crianças pro colégio." Ela faz que vai se levantar, mas desiste e ri olhando para o céu nublado. Escuro. "É pra lá, me acompanha?" Ela aponta na direção da casa de Skye. Quase. Talvez, era difícil saber depois de ir tanto pra lá e pra cá e subir e pular. "Você precisa de um tênis melhor pra isso. Pra pegar melhor nas coisas. Mas to feliz que cê não se machucou." Ela fala olhando pro céu de novo. Skye tinha se machucado sim, mas machudos duram pouco. Ela finalmente se esforça e levanta de verdade se esticando toda. Skye sabe que ela tá esperando uma resposta enquanto limpa a roupa.

Era alto demais. Skye não conseguiu não tentar. Não conseguiu desistir no meio. Ela tentou até os dedos não pegarem a borda e ela começar a descer ela ainda estava tentando. Mas foi rápida o bastante para agarrar o pé da outra e escalar até o topo. Escalar era fácil para Skye. Amy ri como se estivesse sentindo cocegas e luta para não se mexer muito. Quando Skye chega lá em cima a outra estica a mão que estava para baixo pedindo ajuda de Skye para subir. "Forte." Ela diz quando finalmente chega no alto junto com Skye. Ela gira os ombros pra desfazer a tensão e olha para a menina cheia de expectativa. Um olhar que é um incentivo e desafio ao mesmo tempo.

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"A noite já tá acabando. Olha bem pro céu. Olha com calma e vai ver que a cor de um lado não é bem a cor do outro. Do alto da árvore vai dar pra ver melhor." Ela aponta como se a cor realmente fosse diferente e sorri como se Skye pudesse perceber isso. "O sol vai nascer de lá." Ela ainda tinha o dedo apontado para cima. "Eu ainda tenho que tomar banho e fazer comida para eles." Ela faz uma careta.

Então Skye fala sobre seu super poder e a mulher olha de um lado para o outro preocupada. "É segredo." Ela parece bem séria. "Isso é um segredo que você não pode contar pra ninguém. Ninguém mesmo até você ter certeza que pode. Cê vai saber, eu sei que vai." O tom sério e secreto muda no final para pura e simples confiança. Uma confiança leve do tipo que não precisa ser reforçada com coisas banais como razões e motivos. "Pro colégio? Claro que pode, é de graça. Sua mãe só precisa te colocar lá, se quiser eu falo com ela." Ela começa a andar, mas continua falando da mesma forma, como se Skye estivesse a acompanhando. "Você vai adorar eles, Jason também adora correr e Arys gosta de desenhar e Ilona é muito esperta. Os outros são muito pequenos, umas gracinhas. Dá vontade de morder só de olhar." Nenhuma gota de preocupação. Ela não conhece a mãe de Skye, é claro. Não sabe como ela é. Não sabe o que ela vai fazer com Skye, nem Skye sabe o que ela vai fazer.

A noite parece um pouco mais fria, mesmo o céu mudando de cor para anunciar o dia. Pelo menos é o que ela falou...

Skye escreveu: Eu não posso ir pro colégio.

"Claro que pode, você é ótima. Ia adorar ter você onde eu dou aula." Ela fala sem nem olhar de novo para Skye, não precisava.

Skye escreveu:Eu não sou... boa com as outras crianças.

"Eu não vi nada de errado com você Skye." Ela fala o nome da menina com carinho inesperado. "Cê merece um monte de amigos pra correr e brincar e bem mais. Cê vai querer um monte outras coisas, aprender também." As mãos da mulher balançando com os passos, os movimentos cançados e lentos.

Skye escreveu:Ela não vai me deixar ir mesmo.

A mulher para por um instante, o pé direito raspando no chão. Ela mexe a boca como se tivesse mastigando alguma coisa. "Ela não vai deixar? Tem certeza?" Era quase uma ameaça. Quase um desafio. Tinha algo afiado e selvagem por debaixo da pergunta. Ela suspira e olha para Skye. "Eu posso tentar falar com ela. Você deixa eu tentar?" Uma inversão estranha, um adulto pedindo pedindo permissão. Um adulto olhando para ela e esperando uma permissão. Pedindo para ela um limite.

"Eu nunca fui expulsa. Mas eu fugi uma vez quando eu briguei com um menino." Ela balança a mão como se não fizesse diferença "Você vai ficar bem se tiver um motivo pra ficar. Clara parece uma boa amiga, eu ficaria orgulhosa de você ser amiga dela se eu fosse sua mãe." Ela balança a cabeça como se isso confirmasse o que disse.

"Eu vou dar um jeito de conversar com a sua mãe, não hoje talvez amanhã. Preciso de uns papeis da escola. Clara não estuda lá, mas aposto que a convenço a diretora a oferecer uma bolsa de estudos pra Clara se você for pra lá." Ela confirma de novo e quando Skye finalmente dá sua permissão Amy sorri um sorriso grande e satisfeito. Sem nenhum sinal ela começa a correr de novo. "Quem chega por último perde."

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Skye teve uma semana horrivelmente chata e a mãe estava mais mal humorada que o normal e vigiava ela o tempo todo. Os dias iam se juntando em um só. Uma coisa meio sem começo e sem fim onde nada acontecia para marcar o tempo. Até que a porta do sotão é sacodida. A massaneta indo e voltando. "A senhora disse que não tem nada aqui. " Uma voz masculina desconhecida. "Não oficial, não tem nada." A voz da mãe tinha algo estranho, um fio diferente. "Você vai abrir?" A voz do homem era impaciente e tinha uma frieza que fazia os pelos ficarem em pé, era uma voz que fazia você querer ir para debaixo da cama. "Não tem necessida..." Mas o seguinte cortou o que ela tinha para dizer. Um estalo alto e subito seguido de outros menores, um graveto gigante partindo muito rápido. Era a porta, agora pendurada pela metade. A mãe grita assustada. Skye sabia como era a voz da mãe com medo. A silhueta entrando no sotão com um faixo de luz na mão. "Skye, você tá aí?" Agora ele parecia preocupado, ou esperançoso. Era difícil saber o que os adultos pensavam ou queriam dizer. "Eu já disse que ela fugiu do quarto hoje, deve estar no parque brincando." A mãe se mete na frente do homem e abre os braços para ele não passar. A porta range enquanto se acomoda em uma nova posição. "Você tá se complicando, senhora. Eu não sou cego." A voz era dura de novo. Fria. Assustadora. "Eu sei que você tá aqui Skye." O faixo de luz começa a procurar a menina.

Skye deixa luz a encontrar e a lanterna apaga. "Essa criança que fugiu?" Ele diz deixando o braço com a lanterna cair. A mãe de Skye fica sem palavras por um momento. "Pode subir achei a criança no sotão." Estavam procurando ela. Procurando Skye. A mãe a surpreende se jogando de novo entre os dois e dessa vez de frente para Skye. "Não vão tirar ela de mim. Não vão. Ela minha. Minha filha tá aí dentro. Se levarem ela, ele ganha." O rosto da mãe parecia cheio de dor e sofrimento. As coisas que ela dizia não faziam muito sentido. O homem alto na porta continua lá sem se mover. Na luz entrando atrás dele a criança consegue ver o uniforme azul escuro da policia de Dover. Ele tinha até uma arma. Mas o moço ficou lá parado olhando com uma cara muito, muito séria, como se a mãe de Skye fosse algum tipo de criminosa.

Logo um segundo homem aparece e no fundo um terceiro que Skye já tinha visto antes, o amigo de Agatha. Ele parecia que tinha acabado de acordar. A mãe já estava chorando e segurando ela. "Não precisa piorar nada senhora. Já tá ruim o bastante." O menor deles se esforça para passar segurando os oculos para não cairem. "Vim aqui antes, lembram de mim?" Ele desvia da porta com cuidado exagerado. "O que a gente viu aqui é sério, mas não quer dizer que vocês não vão mais se ver. Não vão ser mais mãe e filha." Ele parece não saber o que fazer com as mãos. Ele se abaixa um pouco, mas não muito e fala baixo para os homens na porta não ouvirem. Skye sabia que eles iam ouvir, ele era ruim de segredos. "Eles tem causa para usar força se necessário, é melhor cooperar, uma agente mulher foi acionada e ninguém vai sair daqui antes dela chegar, mas podemos esperar lá embaixo, não é?" a ultima pergunta ele faz alto e sai esperando ser seguido.

A mãe continua olhando para ela. "Você conseguiu." Ela diz para Skye com raiva torcendo a boca e a voz. "Você vai levar minha menina embora, minha Skye." A mãe devia estar muito confusa dizendo isso para ela. Ela era Skye. A filha. "Tá me ouvindo filha? Aí dentro? Eu não vou desistir, eu vou achar um jeito de tirar isso de você." A voz carregada de afeto de uma hora para outra. Tão cheia de carrinho e amor e intensidade desesperada. A mãe soluça e segura o choro o transformando em um sorriso triste. "Não esquece de mim, meu amor. A mamãe vai te achar e te soltar." Ela deixa as mãos cairem ao lado do corpo depois de tocar com carinho delicado o rosto da menina.