Ao terminar de ler o pergaminho, enquanto a goliath atrevida - qual era mesmo o nome dela? - estava parada, por perto, e o Sr. Namfoodle trocava palavras com o Sr. Lysander, estremeço.
Com as mãos levemente trêmulas, Nadien desenrolou o pergaminho. Escrito com um tipo de caligrafia estranha e ao mesmo tempo fascinante, o documento guardava em sua trama de palavras uma aura pesada, pulsante de segredos profanos e saberes arcádicos. Tinha em suas mãos a misteriosa chave que lhe abriria o caminho para o temível e simultaneamente atraente desconhecido - a Configuração dos Lamentos. Seguindo a caligrafia em espiral, seus olhos vasculharam as linhas, desvendando o segredo intricado da caixa. Seus lábios se moviam silenciosamente, dando voz à complexa trama de informações que seu cérebro tentava digerir. Ela sentiu o texto revelar-se como uma miríade de caminhos entrelaçados, se aprofundando mais na estrutura da realidade do que a perspectiva humana poderia normalmente discernir. Ela percebeu que o segredo de abrir o cuboide não era simplesmente uma questão de manipulação física. Não, era muito mais do que isso. Requeria uma compreensão profunda de si mesmo, uma exploração dos próprios limites da sensação e da dor, um desejo insaciável de conhecer o desconhecido. A caixa, conforme descrito no pergaminho, era uma promessa de prazeres indizíveis, de sensações extremas e de revelações assombrosas. Mas também era um portal para os Cenobitas da Ordem do Gash, seres de um reino inimaginável cujo entendimento da satisfação e do sofrimento transcendia os limites da compreensão humana. Com uma respiração trêmula, Nadien continuou a leitura. Com cada linha, sentia uma mistura estranha de medo e expectativa se aprofundar dentro dela. Havia uma promessa ali, uma promessa de descoberta e talvez até de poder, mas à custa de um preço terrível. Quando terminou de ler, Nadien guardou o pergaminho cuidadosamente (se você não quiser guardar, mas devolver a Lysander é só dizer). Sua mente estava cheia das possibilidades e perigos que o texto descrevia. Sua alma sentia-se estranhamente atraída pela ideia de abrir a caixa, de provar os prazeres que ela prometia. Mas ao mesmo tempo, um calafrio lhe percorreu a espinha ao pensar nos Cenobitas da Ordem do Gash. Pelo fogo dançante da taverna, Nadien ponderou sobre as palavras que acabara de ler. O prazer extremo e a dor indescritível estavam agora, de algum modo, entrelaçados em sua mente, um eco da intricada Configuração dos Lamentos que a esperava em algum lugar no desconhecido.
Eu não sabia o que eram os Cenobitas de Gash até este momento. Prazer extremo com sofrimento sem limites... Isso... Isso...
Não consigo evitar relembrar meu passado, e tudo o que me havia acontecido até o momento em que fui ordenada paladina. Eu lembro como o prazer de alguns causava um sofrimento atroz em outros, e lembro muito bem qual era o meu lugar na ordem das coisas, naquela época.
Primeiro a meio-gigante, e agora isso?
Fico algo distraída, dispersa, chocada com o que tinha acabado de ler.
É com muito esforço que retorno ao ambiente no qual estava, minha percepção voltando, aos poucos, ao que acontecia ao meu redor.
Dane-se meu próprio sofrimento. Dane-se o meu desconforto com a grandona ali. Danem-se os caras maus no outro canto da sala. Isso aqui era muito serio e demandava uma boa explicação. O Sr. Lysander não parecia ser maligno, por si só, mas aquela demanda era um risco não só para nós, mas para o mundo inteiro!
Quando ele faz menção de abandonar a mesa, ergo a mão, em sinal de protesto, e como um claro comando para que ele parasse onde estava. Começo a falar e minha voz, agora, era dura, séria, carregada de importância e significado, ciente do conteúdo do pergaminho:
Sr. Lysander, se bem compreendi o que li aqui, nossa jornada termina com a localização e abertura de um artefato chamado Configuração dos Lamentos, um cubóide bastante peculiar, e que é a chave para um portal planar que leva, justamente, ao reino dos Cenobitas da Ordem de Gash.
Pelo que pude apreender, também, estes seres adoráveis podem proporcionar, não só a nós, mas ao mundo inteiro, prazeres indizíveis ou sofrimentos implacáveis.
Consigo ler além do óbvio apelo das linhas neste pergaminho, caro empregador. O que o senhor quer, de verdade, nesta cripta? Há segredos que é melhor deixar ocultos, e não vejo uma única boa razão para colocar o mundo inteiro em risco para satisfazer sua ambição pessoal.
Quem falava, agora, não era Nadien, a meio-elfa abusada durante a infância e adolescência, a mulher frágil e traumatizada que lutava, dia após dia, para vencer seus próprios demônios internos. Quem dizia era A Azul, a Paladina de Tyr, voz da bondade e da justiça nesta terra. E era com a autoridade de Tyr, do próprio Deus, que falava.
E ai de quem ousasse interferir naquele interrogatório.