Meileen - Shamps

Aliviada com a derrota de seus adversários, Meileen corre em direção ao acampamento para tentar encontrar Clover. Os humanos do lugar já tinham partido, por sorte estavam à cavalo. Seria difícil alcança-los, mas não segui-los. Assim que encontrasse a maga, iniciaram uma investigação no acampamento em busca de pistas do paradeiro do homens e quais eram seus objetivos. Dependendo do que fosse encontrado reportaria ao seu superior ou partiria direto ao encalço dos humanos.

- Clover!

Meileen corre para o acampamento e olha ao seu redor. Nenhum sinal de outros goblins, encapuzados, cavalos ou dragonete. Nenhum sinal de Clover. A procura de pistas, a ranger entra numa das tendas, onde encontra apenas fêmeas e crianças goblins mal-cheirosas. Os rastros de um dos encapuzados levava ao seu cavalo, e o mesmo tinha partido em direção ao oeste. Meileen força a vista, mas o mesmo provavelmente já estava atrás de uma colina. O outro rastro levava aonde estava o dragonete, e ainda era possível ver um pontinho no céu que se tornava menor, indo em direção das terras de Nova Karzek.

A ranger corre para onde tinha visto Clover, quando ela estava aprisionada. O sangue dos encapuzados ainda estava no chão, e os rastros da amiga estavam misturados ao dos goblins que tinham saído em sua perseguição. Meileen segue as pegadas com pressa, e conforme avança encontra os cadáveres de alguns goblins... dois deles com ferimentos provocados por frio intenso, outro com um buraco no peito, e um quarto desfigurado com acido. Finalmente, mais a frente, encontra Clover, recostada numa parede de rocha,uma mão segurando a barriga, com o sangue vermelho vertendo de seu ferimento ao chão, a outra mão com uma adaga, a mesma que tinha usado para abater os dois últimos goblins.

“Meileen!!!”, diz, e vai ao chão sem forças para se manter pé. “Você podia ter fugido, me abandonado... Mas você ficou! Serei grata pelo resto da minha vida, amiga!”

Com os olhos marejados, a maga passa a mão pelo rosto da elfa, e então perde a consciencia.

Vasculhando o acampamento, a elfa fica desapontada por não ter encontrado nada de importante, além de goblins fracos. Não perderia tempo com fêmeas e crianças. Infelizmente os bandidos já estavam longe, ao menos teve uma direção de seu paradeiro: Nova Karzek. Rumaria para lá assim que encontrasse Clover.
Ela segue as pegadas da amiga e pelo caminho vê os sinais de combate e felizmente eram os agressores no chão. Ao avista-la, corre até lá e fica estarrecida ao ver que estava ferida.

- Claro que não a abandonaria - ampara a amiga antes que ela caia no chão. Ela sangrava na barriga e Meileen pega uma atadura e algumas ervas maceradas que trazia na bolsa e tenta conter o sangramento da maga. A amiga precisava ser levada o quanto antes à cidade para receber tratamento. Infelizmente a perseguição ficaria para outro dia.
Tempo para interrogar uma das fêmeas do acampamento também não tinha. Apenas pegou Clover no colo e a levou de volta para a cidade.

Após cuidar dos ferimentos de Clover, Meileen decide retornar para a cidade. Sabia que o caminho era longo, e com seus conhecimentos da natureza consegue improvisar uma maca com galhos de arvores e um tecido encontrado no acampamento goblin. A viagem de volta é árdua e extremamente cansativa, a ranger sente que seus músculos estão rígidos e doloridos, estando a ponto de desistir em alguns momentos. Porém ela se mantém firme, e ao alcançar os limites da pequena cidade de Naporia, só tem tempo de avisar um menino da fazenda para trazer seu chefe, para cair exausta no chão logo em seguida.

***

Depois de descansar um tempo em uma cama localizada em um dos cômodos do quartel, Meileen é chamada para fazer seu relatório. Ela encontra o anão Toressar tamborilando os dedos impaciente na mesa, passando a mão na barba com mais frequência que o normal. Com um pigarro sonoro ele começa:
- Para não te deixar preocupada, deixe-me dizer que Clover esta passando bem. Agora poderia me explicar como uma simples missão de reconhecimento quase terminou em tragédia? Qual a parte de pedir reforços que vocês garotas não entenderam?

Após um abençoado descanso, Meileen segue para a sala de seu chefe para a merecida bronca e para passar o relatório da missão.
Seu chefe, o anão Toressar, esta bravo e com razão, mas elfa ficou tranquila ao saber que Clover estava bem.
Com a expressão séria e as palavras duras do chefe, a elfa ficou pálida e suas mão frias, mas não tinha escapatória.

- A culpa foi minha, chefe - a elfa começa, mantendo-se firme e sem mentir começa o relatório - tínhamos um bom plano, eram poucos goblins e daríamos conta deles tranquilamente, mas falhei em meus disparos e uma sucessão de erros nos levou até esse duro final - ela conta em detalhes tudo o que aconteceu, finalizando com as possíveis direções que os suspeitos seguiram - e isso foi tudo o  que conseguimos, senhor. Fico mais tranquila por saber que Clover está bem.

De fato, a ordem do chefe para viessem buscar ajuda não tinha sido cumprida.

- O que o senhor pretende fazer conosco?

Toressar ouve o relatório de Meileen impassível, passando a mão pela barba impacientemente. Ele não da mostras de que esta gostando, ou não, apenas ouve quieto. Ao final ele começa, dando um longo sermão sobre obedecer ordens e evitar perigos, cuidados e deveres, que faz as orelhas élficas de Meileen doerem de tanto ouvir suas reiteradas repetições.

O anão faz uma pausa para beber um pouco de agua, olha duro para a elfa e passa a mão pela barba. Finalmente suspira e diz:
- Por outro lado, foi um feito de grande bravura. Um tanto quanto arrojado demais, mas de grande bravura. Preciso de gente assim, que tenha fibra, que saia de sua zona de conforto. Mas lembro que estamos em dias difíceis, e não quero imaginar o que poderia ter acontecido se vocês duas tivessem sido presas. De qualquer maneira, suas informações são valiosas.

Toressar se levanta e olha para um mapa colado na sua parede.
- Os goblins que desceram as colinas e foram para a floresta estavam a mando de alguém, possivelmente humano. Voce disse que tinham dois, e que fugiram para locais diferentes. O do dragonete foi para Nova Karzek, e isto tem tal importância que tenho que informar União. Agora o outro... Foi para um ponto em Galia mesmo... E devemos obter mais informações sobre onde deve ser este ponto.

O chefe bate nos ombros de Meileen, fazendo um grande esforço para alcança-los.
- Você é a nossa melhor rastreadora. Forme um grupo, com voce e mais tres membros da guarda, para investigar a tribo dos goblins. E também a presença dos goblins na floresta. E tome cuidado desta vez! Dispensada.

Durante o sermão dado por Toressar, a jovem elfa permaneceu impassível, engolindo seco algumas vezes, mas sabia que o chefe estava certo, por isso nada disse em momento algum. Quando ele pausa para beber agua, ela respira fundo para manter-se estática. Logo a conversa muda de direção e Meileen mal pode acreditar nas palavras de seu chefe, elogiando sua bravura e esforço. Isso a deixa um pouco mais calma.
Prestando atenção às instruções de Toressar ela segue:

- Imediatamente, senhor – bate continência e sai, mentalizando quem seriam os três guardas que poderiam acompanha-la.

Antes de seguir pelo corredor ela dá uma parada rápida à porta e fala para o chefe – se fosse capturada, eles iriam sentir minhas flechas de dentro para fora – e acena com a cabeça, mostrando seu sempre presente otimismo, então segue correndo pelos corredores com um sorriso estampado no rosto.

Seguindo pelos corredores e salas do quartel, ela vai chamando seus homens para formar a equipe.

- Preciso de três homens para uma investigação na floresta – ela busca por um bom guerreiro, um batedor e alguém que fale a miserável língua dos goblins, para ajudar.

Assim que ela deixa seu pedido pelos salões, ela segue para visitar sua amiga Clover, pois ainda sentia-se culpada.

Meileen sai da sala do chefe e começa a recrutar voluntários para a equipe a ser formada nesta nova missão. A ranger já tinha em mente um perfil daqueles que estariam sob seu comando, porém entre aqueles que ali estavam, nenhum se encaixava, exceto por um guarda que havia sabia falar a língua dos goblins. Boa vontade todos tinham, porém suas habilidades ainda deixavam algo a desejar.

Meileen então sai do quartel e se dirige para o local onde estava Clover, a enfermaria da guarda. Ainda pensando em como fazer para conseguir o seu grupo, ela entra no quarto distraída...

NRPG: A continuação do seu post está no tópico da Julia/Moon. A resposta você posta por la mesmo, Shamps.

Meileen observa como tanto sua amiga Clover como o rapaz da guarnição Allen ficam corados com as brincadeiras da cleriga Julia, e tem suas suposições confirmadas. Após esperar a saída de Julia, a elfa relata os acontecimentos com o chefe anão Toressar.
- Pois é, acho que também vou levar bronca do chefe... mas o que importa é que tudo acabou bem – diz Clover, dando um sorriso para Allen. Ela se volta para Meileen novamente – Bem, quando é que saímos para investigar os goblins?

Allen da um croque na cabeça da maga, que fica com um enorme galo.
- Você ta louca, menina? Ate poucos momentos atrás voce estava entre a vida e a morte, agora quer voltar para a panela? – diz Allen, e se volta para Clover – Eu vou acompanha-la, Meileen.

Clover fica indignada.
- Espera um pouquinho ai! Quem é voce para decidir o que eu faço, ou deixo de fazer? Sua amiga me curou com magia, e estou me sentindo ótima! Nem marca ficou, olhe!

A maga levanta a camisa, e todos podem ver que não tinha ficado nem cicatriz. Infelizmente, em seu ardor para mostrar a cura milagrosa, Clover levantou a camisa demais, o que imediatamente fez com que Allen tivesse uma enorme hemorragia nasal, sendo necessário chamar os atendentes para estancar a torrente vermelha.

Vendo os dois amigos, a elfa ranger não se conteve e riu da situação dos dois.

- Então minhas suspeitas estavam certas, hein? - e deu tapinhas nas costas dos dois.

Assim que Julia saiu, ela narrou toda a conversa com o chefe e o alívio que sentiu depois que ele lhe deu a segunda chance.

- Bronca, minha amiga, será brincadeira se você levar. Prepare-se!

Quando a amiga empolgou-se com nova missa, Meileen ergueu uma sobrancelha e se juntou ao protesto de Allen.

- O Allen está certo... e não adianta fazer essa cara. Curada por magia ou não, não importa. Não quero arriscar... - e vendo que a amiga, indignada, levanta a blusa, Meileen arregala os olhos com a ousadia da amiga, mas logo poe-se a gargalhar com a reação do jovem humano.

- Hahahahahahaha - segura a barriga - agora, depois de mostrar suas carnes minha cara Clover, vai ter que casar - e dá mais risada. Allen incrivelmente vermelho jazia no chão em sua vergonha juvenil e a elfa respira fundo para recompor-se - não não Allen, depois dessa... não levarei nenhum dos dois - e rindo deixa a sala antes que os protestos recomeçassem.

Meileen deixa então a sala, onde ficaram uma Clover totalmente vexada por ter mostrado mais do que devia, e um Allen quase moribundo com dois enormes chumaços de algodão no nariz.

O sorriso estampado no rosto da elfa quase vai ao chão ao se dar conta de que estava em frente da cara feia do anão Toressar. Com um sinal do dedo ele chama a elfa para conversar do lado de fora, enquanto caminham. Já estava escuro, a lua cheia ajudando a iluminação por meio de lanternas da pequena cidade de Naporia.
- Vi que não teve muito sucesso em chamar pessoal experiente para sua nova missão... O que acontece é que mandei um bom grupo para investigar um caso numa fazenda, e eles ainda não retornaram nem mandaram noticia – diz, coçando a barba – E não tenho mais pessoas qualificadas para o trabalho, tendo que dar conta só com os mais jovens, sem experiência...

O chefe da guarda pigarreia, desconcertado. Ele alça os ombros.
- Não temos muito o que fazer... Seria bom se voce arranjasse alguns aventureiros só para esta missão. A guarda da cidade não tem muito dinheiro, mas acho que posso arrecadar alguma recompensa com o prefeito.

Caminhando calmamente até a saída do prédio da enfermaria, Meileen ainda ria da situação cômica dos amigos a minutos atrás.
Seu sorriso se desfaz ao avistar o chefe, sério como sempre. Ela o acompanha após ser chamada e ambos caminham pela suave luz da lua.

- Aaaaah... viu só chefe - fala erguendo as mãos - o senhor tirou bons homens do meu comando - põe a mão na cintura e balança a cabeça - mas tudo bem chefe, só assim que os mais jovem ganharão experiência - responde ao chefe quando ele fala que só tinham os jovens para as missões.

Toressar prossegue de forma infeliz, o que não era típico dele, parecia desconfortável e a elfa logo entende o porquê.

- Aventureiros? O senhor quer que reúna um bando de desocupados loucos por dinheiro para me acompanhar? - uma certa dose de preconceito ficou evidente nas palavras da jovem, sua carreira militar a faz pensar mal dessas pessoas, pois os considera inconstantes - me desculpe chefe, mas onde vou arranjar aventureiros? Em um bordel? - ela nunca tinha trabalhado com aventureiros antes e sua expressão demonstrava seu desgosto.

- Se o senhor quiser, eu posso ir até essa fazenda e ajudar, assim levo esse grupo melhor comigo e não pessoas indisciplinadas.

Diante da proposta de Meileen de ir ate a fazenda, o anão pigarreia e balança a cabeça negativamente.
- Não Meileen, o que for que tenha acontecido com eles, você sozinha provavelmente não dará conta. Primeiramente vou aguardar o contato deles, e depois vou formar um outro grupo para investigar – diz, e começa a caminhar na frente – Venha comigo... Tenho alguns conhecidos que talvez possam ajudar na sua missão...

A elfa e o anão deixam a área da guarda e caminham pelas ruas da cidade de Naporia. A noite estava calma e silenciosa, a maioria das pessoas já em suas casas preparando suas refeições e descansando com suas famílias.

Toressar e Meileen conversam sobre coisas amenas, até que eles chegam em frente de uma casa simples, com um belo jardim na frente. O anão Toressar bate palmas, e depois de alguns momentos a porta se abre. Apoiada num bastão, uma mulher aparentando uns 50 anos se aproxima. Ela tem um lenço na cabeça e usa seu cabelo amarrado em uma longa trança.



O anão sorri, algo muito raro, e a cumprimenta.
- Como vai, Melanie! Faz um bom tempo que não como a sua torta de maça, precisa aparecer mais vezes la na guarda! Como vão os seus filhos?

Melanie da um abraço forte em Toressar, e acaricia sua barba.
- Estou bem, graças a sabedoria de Solaris! Espero que não esteja maltratando muito sua barba, seu carrancudo! Alias, minha menina saiu correndo com o Allen para a guarda, o rapaz estava todo desesperado. O que aconteceu?

Toressar lança um olhar de esguelha para Meileen.
- Uma das minhas subordinadas se feriu gravemente, mas felizmente sua filha pode cura-la com o poder da deusa. Ela não te contou? – pergunta o anão, coçando a barba.

A humana nega.
- Julia não chegou ainda... Espero que não tenha se metido em nenhuma encrenca... – diz, e olha para Meileen – Hmm, você é Meileen, a elfa da floresta, não é?

Melanie se aproxima e passa a mão pelos cabelos da elfa.
- Incrivel como vocês não envelhecem, continua a mesma, mesmo depois de tantos anos... Conheço sua mãe, Loren, eu comprava tecidos em sua loja. Como ela está?

Conversando com o chefe, Meileen fica com as bochechas vermelhas e expressão indignada:

- Puxa chefe, assim o senhor me deixa no chão. Me senti um fracasso agora – mas não dura mais que alguns segundos, porque o anão ainda demonstra confiar no trabalho da jovem elfa – que conhecidos, chefe?

Eles seguem tranquilamente, a elfa respirando o ar puro várias vezes, ambos riam (ela no caso) de momentos em momentos com as trivialidades da vida que mal percebem quando chegam na casinha. Ela logo percebe onde estão; ao longo dos anos e das patrulhas frequentes, a elfa sabia quem eram e onde morava cada cidadão e onde ficava cada construção da cidade, logo ela sabia quem morava ali. Comtemplou o belo jardim.

- Ah – quando se revela a senhora, a ranger a saúda – como vai Melanie? Digo o mesmo – assim como o chefe, ela também não comia a muito tempo aquela saborosa torta, das vezes que ela tinha visitado o anão. Elas não se conheciam apesar de tudo. Meileen coloca as mãos na cintura e sorri com a amizade entre os dois. Então Melanie fala de sua neta e Allen e de repente tudo se torna claro à elfa: a filha de Melanie era Julia.

- Pela Deusa, hoje eu esbarrei em sua filha, literalmente – fala tentando fugir do embaraço causado pelo chefe – não a reconheci. Fazia tempo que não a via e nem a senhora.

A velha senhora se dirige a elfa e fica impressionada com a juventude dela, apesar dos anos de vida que a elfa já tem:

- Sim senhora, sou eu – sorri para Melanie – até onde eu sei os elfos vivem bastante. Minha mãe está bem, só não tem mais a mesma vitalidade de antes. A senhora poderia visita-la, ela ficaria muito contente!

Melanie acena com a cabeça.
- É, faz tempo que não vejo vocês duas... Depois que meus filhos cresceram e saíram pelo mundo, tenho passado mais tempo em casa – diz, dando um longo suspiro – Amanhã mesmo vou na sua casa para visitar sua mãe, Meileen!

O anão Toressar dá um pigarro, interrompendo a conversa.
- Bem, Melanie, na realidade eu vim aqui para fazer uma proposta a voce... – diz, olhando para a senhora com a mesma dureza que a ranger estava acostumada – Nós da guarda da cidade estamos com problema de pessoal, parece que todos os problemas do mundo estão acontecendo agora nestes dias... Sei que está fora da ativa já há muito tempo, mas é que nestes momentos de crise não tenho mais ninguém a recorrer... Em nome dos velhos tempos, gostaria que acompanhasse Meileen em sua missão!

A mãe de Julia demonstra claramente que foi pega de surpresa, arregalando os olhos e abrindo a boca. Ela leva a mão até o peito e toma um tempo para se recompor.
- Toressar, amigo, assim voce me mata do coração – diz, quase sem ar. Mas então da um sorriso. – Como tinha dito, eu passo muito tempo em casa, e agora com os filhos crescidos, não tenho muito o que fazer... Que melhor maneira para passar o tempo do que ir numa boa e velha missão? Creio que já passou da hora de exorcisar os fantasmas do passado. Eu aceito, meu amigo...

O chefe da um abraço apertado em Melanie, e depois se volta para Meileen.
- Meileen, Melanie fará parte do seu grupo. Agora vocês duas descansem, que terão um dia duro pela frente. Dispensadas! – diz, e então parte de volta para o quartel.

Meileen ficou bem contente quando Melanie disse que visitaria sua mãe, pois sabia que isso faria muito bem a idosa que cuidou da elfa desde criança. Loren já tinha seus 84 anos e Meileen não gostava muito de pensar nisso, mas sabia que sua mãe partiria em breve, pois os humanos viviam muito pouco. Ela não suportaria vivenciar a morte de um ente querido outra vez. A única pessoa naquela cidade mais velho que ela era Toressar e ele seria o único que ainda ficaria vivo quando os anos se passassem para a elfa, por mais que anões não vivessem tanto quanto os elfo, mas já era um alento.
Ela espantou aqueles pensamentos e olhou para ambos com carinho e disse:

- Por favor dona Melanie, ela ficará muito contente.

O chefe anão, como sempre com sua carranca adorável, fala de suas motivações para o momento, deixando a elfa pasma. Meileen arregala os olhos e fica boquiaberta com a proposta do velho anão:

- Mas o que, chefe? - ela sacode a cabeça negativamente - que ideia estapafúrdia é essa? Ela já está aposentada, humanos se aposentam por um motivo, não é? - olha para a dona da casa - sem ofensas Melanie. Eu... eu não consegui proteger uma jovem, imagine ser responsável pela morte da avó de Julia. Eu não me perdoaria.

Vendo que a velha agente de Toressar aceita sua proposta, a ranger fica mais indignada ainda.

- Hey! Isso está fora de cogitação. Nem que eu vá buscar reforços em outra cidade, mas não posso deixar a senhora fazer isso. Chefe? - olha implorando para o chefe.

As palavras de Meileen provocam uma alteração no semblante antes animado de Melanie, os cantos do lábio caindo e os olhos semi-cerrados. Por sua vez Toressar fica com a face rígida como se fosse esculpida em pedra. Ao final ele ignora a elfa e vai em direção da amiga. “Tudo bem com você?”, pergunta o anão.

Melanie ergue o rosto e ensaia um sorriso.
- Esta tudo certo... Ela tem razão, na minha idade eu seria apenas um estorvo. Que ideia idiota a minha, tenho que cuidar da minha casa e minha horta... Agora com licença, que esta tarde e preciso dormir – diz a humana, que rapidamente entra em sua casa e fecha a porta.

Toressar balança a cabeça e volta seu olhar para Meileen. Ele diz de maneira fria, quase mecânica.
- Se eu convoquei Melanie, é porque eu conheço suas capacidades. E também sei o que é melhor para ela. Mas se voce não confia no julgamento do seu chefe, então siga seu próprio caminho.

O anão recusa qualquer outra conversa, e vai em direção de sua casa.

Foi perfeitamente compreensível a reação que Melanie e Toressar expressaram no momento, mas Meileen não poderia arriscar por em risco daquela maneira uma senhora humana. Ela não duvidava das capacidades da mulher e talvez até pudesse aprender muito com ela, já ouvira muito sobre ela, mas naquele momento sua confiança estava um pouco abalada para aceitar por em risco qualquer outra pessoa.
Preferiu naquele momento apenas deixar que o chefe se afastasse. Claro que as palavras duras do anão a magoaram e ela sabia que o melhor a fazer era deixar ele ir e ficar quietinha em seu lugar.

- Ah, que droga - a elfa esfrega a cabeça, preocupada - eles vão me odiar pelo resto da vida... mas melhor me odiando do que mortos. Me perdoe Melanie - a ranger falou obviamente para si.

A elfa permanece mais um tempo parada no jardim  de Melanie, observando as estrelas, pois o caminho a seguir era o mesmo que o anão seguia e ela não queria arriscar encontrá-lo, não enquanto ele estivesse furioso. Passado um tempo, ela segue de volta para a cidade, para o quartel, descansaria e no dia seguinte decidiria o que fazer.

Meileen, em sua meditação, deixa sua mente vagar pelos acontecimentos do dia anterior. A procura dos goblins, o combate, a quase derrota e sua superação. A conversa com o chefe e o desentendimento. Já é de manhã quando ela finalmente desperta, não totalmente relaxada como de costume, provavelmente por causa dos conflitos acontecidos.

Ela se ergue junto com seus colegas de quarto, e após rápida higiene vai até o refeitório. A elfa entrou na fila para esperar sua vez de ser atendida, quando sentiu um cutucão em seu ombro.

Meileen se vira e ve um homem enorme atrás, aparentando 30 anos, alto e com músculos fortes e bem delineados.



De cima ele sorri e diz com a voz grave:
- Você é uma elfa bonita! Pensando bem, não existem elfos feios. No norte não se ve elfos, mas tem muita gente feia, ah isto tem. Minha tia, Wanda, é tão feia que quase a mataram pensando ser um orc invasor... Meu nome é Kros Esmaga-orcs Muthvur.

O bárbaro estende a mão para cumprimentar, e aprecia as formas de Meileen.
- Hmm, sim, muito bom, muito bom. Primeiro dia aqui, e já estou gostando.

O dia raiou afastando os pensamentos nebulosos da noite anterior. Meileen se levanta e como todas as manhãs segue até o refeitório para o desejum.
A monotonia da fila foi quebrada por um sujeito corpulento e grosseiro. Ela ficou chocada com suas palavras.

- Espero que não tenha ganhado esse apelido após ter tentado esmagar o crânio da sua tia - falou com espanto.

Ao perceber os olhares dele analisando suas curvas, ela fala em um tom severo:

- Acho bom encurtar esses olhos se não quiser uma flecha fincada neles.

Certamente as palavras dele não soaram como um elogio. Foi se afastando com sua bandeja em direção às mesas e sentou-se. após duas garfadas começou a pensar em seus planos, quem levaria, talvez não houvesse outro jeito: teria de levar Clover e Allen mesmo. A menos que... o grandalhão poderia ser útil, mas primeiro tinha que saber o que ele fora fazer no quartel.

- Hey grandão - olha na direção dele - veio atrás de emprego, guardas ou confusão? - o tom não era mais severo e sim curioso.