Arco Africa - (Kenya)

Enquanto escutava os risos do adversário, Sivirino respirava fundo tentando não desmaiar. Estava exausto, corpo e mente, mal tinha energia para pensar e aquele golpe custara de mais de seus esforços, ainda mais por aquela ter sido a primeira vez que o realizou.

O brasileiro não foi capaz de derrotar Jack.

O golpe derrubou o inimigo, mas mal o feriu. Toda sua raiva e sentimentos naquele momento saíram em turbilhão e não foram suficientes para parar o sequestrador. Era algo significativo no momento.

Sivirino, em sua totalidade, se sentia incapaz.

Mas o guerreiro das terras áridas não era só ele mesmo. Tinha seus amigos que fez pelo caminho, aqueles que defendeu e que foi defendido, que ajudou e foi ajudado. Todos aqueles que tinham conhecido o nordestino faziam parte do que constituía o Khan'gaceiro.

Sivirino, sozinho, era incapaz... mas junto a seus amigos... talvez tivesse uma chance.

- E...le...na! Falou fraco, diante das palavras da guerreira.

Ela lhe fizera ver que ele desconhecia seu poder total. Sempre olhando para suas próprias capacidades e limitações, ignorando que sempre que pôde tinha alguém por perto. Gostava de ter companheiros, amigos, e aquilo era seu maior valor.

O amor pelas pessoas que considerava importantes para si mesmo. Aos poucos, suas pernas recuperavam um pouco de força.

Parecia que no Oitão ainda havia mais uma bala, ignorada até então pelo sertanejo. E ela superava qualquer outro poder que Sivirino da Silva pudesse ter.

Diante de si, viu a guerreira que conhecera a pouco tempo e que dividia a vontade de derrotar Jack partir para cima do adversário com uma ferocidade assustadora. Estava decidida a derrubá-lo e seus ataques firmes conseguiram desestabilizá-lo. Mas suas feridas eram profundas e Jack rápido demais. Em meio a muitos ataques, o brasileiro viu Elena ser golpeada e gelou.

Aquele era o fim?

Não. Aquela mulher era persistente e não se deu por vencida. Com um último movimento antes de seu corpo lhe abandonar, conseguiu jogar o vilão nos ares e gritou o nome daquele que já sabia o que fazer. Fechou os olhos.

"É agora Padim... Qui toda as reza qui fiz si faça valê agora." Pensou em sua última oração.

Abriu os olhos. Estavam ferozes.

Se ergueu rápido, segurou a Pexera com sua mão direita e correu. Mal sentia as pernas. Se aproximou na maior velocidade que seus pés aguentaram e pulou em direção ao corpo que fazia sua parábola no ar.

Estava calado.

Ergueu sua pexera e mirou no tronco de Jack. Fechou novamente os olhos. Pensou nos rostos de todos que havia conhecido naquela aventura: a amiga, a vila, as crianças, a guerreira, todos. Até chegar no último rosto, aquele que lhe era conhecido desde muito antes e que o havia lhe levado até ali.

Rosinha sorria enquanto lágrimas caíam dos olhos fechados de Sivirino da Silva.

O golpe cheio dos sentimentos de quase uma Nação inteira estava na pexera de Sivirino, um golpe que carregava a vingança, o amor, a vida, a luta de um povo, o suor de pessoas, a amizade, a vitória, a lâmina atingiu o corpo de Jack que já os havia subestimado demais, atingiu entre suas costelas, Sivirino se valeu da ajuda de companheiros e conseguiu acertar gravemente o maior vilão que já enfrentara.

O corpo de Jack caiu no chão, como um saco de areia com um baque surdo, Elena desmaiou, seu corpo se desfaleceu, mesmo que Jack tenha caído no chão e não levantado mais, ainda tinha algo a ser feito, Elena no chão sangrando, e claro, as correntes das cadeias de Rosinha e Morgana descendo para a morte em um caldeirão fervilhante.

O sangue do vilão enchia o chão fazendo uma poça, as armas jogadas no chão, a cabeça virada de lado com a máscara a arrepiar e assombrar o cangaceiro, mas imóvel, o vilão jazia, por enquanto não havia sinal de Dhalsim, ou ainda estava se aventurando nas masmorras ou encontrara resistência, mas o fato era que não havia passado tanto tempo assim, ainda era plausível presumir que estava em resgate das mulheres.
Um metro e dez centímetros, era a medida exata que as gaiolas estavam em relação ao caldeirão, e descia devagar, após o golpe mortal de Sivirino Morgana exclamou com alta e audível voz:

- CONSEGUIU!!!! ELE CONSEGUIU... HAHAHAHHAHAHA!!! ELE CONSEGUIU, SIVIRINOOOOO...

Rosinha não estava espantada, sabia desde o início que seu amado iria vencer, sabia que esta luta teria um fim, e o fim seria do grande vilão, azar o dele topar com a dupla de brasileiros mais perigosa de todas...

Sivirino sentiu sua lâmina transpassar a pele do adversário e raspar em suas costelas, mesmo de olhos fechados tinha muita experiência em enfiar facas em troncos humanos. Um grande alívio inundou seu peito antes mesmo de confirmar o resultado.

Talvez ele já soubesse.

Caiu junto ao corpo do vilão, sentindo muitas as dores do impacto em seu corpo já muito ferido. Mas nada se comparava a sensação que sentia de ter cumprido o destino que escolhera quando pós seus pés naquelas estradas estrangeiras.

- Amém... Falou baixo, finalizando suas preces mentais. - Issu Jáqui... é um Khan'gaceiro nordestino... isso sô eu... Falava ofegante enquanto ainda encarava a máscara inerte do homem que causara tanta desgraça a todos presentes naquele local. - E vucê caiu diante do isforço de todos aqui... o seu castelo di carteado caiu pelas nossas mão.

Morgana gritou e o cangaceiro sorriu.

Com grande esforço ergueu seu braço direito na direção das gaiolas enquanto mantinha seu polegar erguido. Era sua maneira de comemorar junto com as mulheres que lhe apoiaram mesmo estando em posições complicadas.

Mas aquela era a hora de focar em libertar Rosinha e Morgana que ainda corriam perigo.

Levantando vagarosamente, Sivirino da Silva rumou até o trono do adversário e lá procurou por algum mecanismo que pudesse parar a queda das jaulas que prendiam as duas mulheres.

- Argora é só tirá vucês daí... Cês tem alguma ideia ? Fala enquanto procura.

Tinha pressa.

Finalmente tudo aquilo estava acabando.

Sivirino então começou a procurar e notou que as garotas não responderam a sua pergunta, ao olhar para elas ele viu seus rostos em espanto, elas olhavam para frente e Sivirino decidiu ver o que as espantava, e era Jack, em pé, e colocava a mão devagar em seu rosto mascarado.

- Muito bem Khan Gaceiro, eu passo a lhe dar grande respeito a partir de agora, mas acabou pra você e para todos, chegou o fim, por que estou prestes a mostrar minha verdadeira fisionomia, construí meu grande império com um único poder, o poder demoníaco, isso mesmo, eu sou um Darkstalker...

Jack retira sua máscara e o que era humano deu lugar a um ser diferente, a crença em entidades estranhas no Brasil existia em uma remota cultura, vinha de índios, mas aqui diante do brasileiro estava uma criatura diferente de boitatá, curupira ou saci, não era um ser travesso, era um ser deveras demoníaco.

- Contemple Skurai o amaldiçoador, aquele que domina os homens, sua fé em seres superiores deve ser abandonada aqui, eu sou o onipotente, sob a fachada de Jack ninguém conseguiu desbaratar meu reino e agora em minha forma real ninguém irá sobreviver, todos que veem meu rosto, morrem... HAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!!

Morgana e Rosinha pareciam não acreditar no que viram, mas elas não conseguiam falar, algo estava acontecendo com elas que começaram a se contorcer de dor, Sivirino então notou que a presença do ser maligno estava de alguma form absorvendo a energia de todos ao redor...

Combate:

Ao notar a ausência da resposta das duas, lentamente ergueu sua cabeça e viu o espanto em suas faces. Estranhou. Sua cabeça lentamente começou a virar-se para olhar o que esta atrás de si, esperando não ser algo haver nem com Jack nem com Elena.

Não esperava aquilo que viu.

- QUIMIZERÉÉSSA?!!! Soltou no susto, espantado sem acreditar no que via. Praticamente sussurrava.

Sivirino era um homem religioso, ainda mais apegado ao padroeiro de sua família que era bem famosos pelas terras de onde nasceu: Padre Cícero. Mas sua cresça em Deus, assim como sua devoção, não foram suficientes para segurar seu medo em frente ao que ele entendia como o próprio demônio.

- Darquiuquê? De onde eu venho a gente chama de cramunhão. Responde com a voz trêmula, ainda receoso.

Ia continuar sua fala, mas algo o fez parar. Escutou os sons de dor das duas garotas enjauladas e isso o fez tremer de cima a baixo e sentir o quão fraco estava seu corpo. Se com seu máximo esforço conseguira derrubar Jack em sua última forma, o que seria dele contra um ser que parecia ter estremo poder. Seu impeto de lutar se transformava em medo de falhar e causar a morte de todos daquela sala, o que lentamente faz com que ele tenha que pensar em como lidar com aquela situação sem seu costume de resolver com sua própria força.

Engoliu a seco, como se junto descesse todo seu orgulho. Podia desejar ter paz junto a sua amada, mas o que mais queria era que ela fosse livre.

Abriu os braços.

- Ispere... eu... num tenho mar u qui fazê... As palavras arranhavam sua garganta.- U qui mar quero é a liberdade dessas dua, do fundo da minha alma... e eu notei qui vucê tem reunido muitos em seu nome. Muléres e Guerreiros... Eu num sei purquê vucê está fazeno isso, mas lhe proponho um acordo pela minha vida. Ergueu, simbolicamente seu braço até o inimigo, com a palma aberta.

Seus olhos estavam quase se fechando, mas continuavam fitando Skurai. Seu peito doía pela ideia de fazer acordos com o que parecia ser um demônio, mas era melhor garantir duas vidas do que três mortes.

- Dediquei minha vida intera pra ficá forte., treiná.. Acho qui lhi sirvo mais vivo du qui morto... e sirvo mais qui aquelas dua. Apontou para as jaulas que ainda desciam, fazendo seus pensamentos serem ainda mais rápidos em sua cabeça.

Antes de firmar suas últimas palavras diante da resolução daquela situação, em seu íntimo, pede perdão à Nossa Senhora e ao Padre Cícero pelo que ia fazer.

- Lhi ofereço minha vida introca delas.

Sua respiração estava difícil e pesada.

Aguardava a resposta de Skurai.

Skurai flutuava no ar, e se pudesse sorrir estaria o fazendo muito agora, ele então olha para Sivirino, as fendas escuras do crânio a fitar o brasileiro até sua alma, não há nada mais desejoso para um ser demoníaco do que corromper a alma de alguém, mesmo que em troca de outras vidas.

- Ora, ora... Hehehehehe!!! Vejo que diante de minha verdadeira presença, qualquer ser humano se prostra, eu sou o maioral de todos e você acha que pode me servir bem? Eu decido quem pode me servir bem, suas aliadas estão morrendo e então oferece uma vida em troca de várias... Não parece um bom negócio para mim...

A criatura se ergueu um pouco mais alto e também abriu os braços, começou a reunir poder, Morgana e Rosinha já não conseguiam dizer uma única palavra, O Darkstalker ainda fitava Sivirino sem atacar, parecia que ponderava sobre o a oferta do cangaceiro... Mas a jaula ainda não parava de descer, a cada segundo mais perto da morte estavam Rosinha e Morgana, além de Elena que estava ao chão desmaiada...

Seu coração pesava ainda mais ao escutar as palavras do demônio... estava traindo tudo que acreditava em troca de seu objetivo e da vida dos outros. Talvez fosse uma atitude digna, pois esperava do fundo do seu coração que tanto as três mulheres naquela sala quanto as que Dhalsim fora salvar pudessem seguir suas vidas.

Mas, mesmo assim, aquele ainda era um ser maligno... e Sivirino sempre tentara viver sem nenhum mal em seu coração.

Pigarreou tentando ativar novamente seus pulmões.

- Meu único objetivo nessi momento é garantí a vida dessas pessoa, eu lhi peço issu. Em troca, mermo que a minha vida num seje suficiente, lhi garanto buscar ortras em seu nome si essi fô o seu desejo. Si num acreditá em mim, pode me testá, eu lhi mostro qui sô mais do qui capaz. Te dô tudo que tenho em troca da vida delas... Se sentia humilhado pelas próprias palavras, seus olhos mal podiam enxergar o que estava a sua frente pois uma camada de lagrimas preencheu seu campo de visão até que escorrera pelo seu rosto. - Eu só ti peço, por favor, liberti elas e essi lugá.

Deixou seu corpo cair e se ajoelhou. Seus olhos fixos no chão.

Ele podia muitas vezes ser cabeça dura e sem muita noção do perigo, mas diante das circunstâncias não podia arriscar a vida daquelas que tanto fizeram por si. A decisão corroía a cabeça do nordestino enquanto o choro se tornava mais presente.

Dependia puramente da decisão do inimigo.