Teryn, O bardo.
O torneio realizado no dia anterior havia sido um sucesso. Agora as pessoas mais influentes da região festejavam no banquete de comemoração. O salão estava lotado, homens se regojizavam com as glórias que tinham obtido nos mais diversos tipos de competição. Outros diziam pertencer a linhagen de um herói lendário para conquistar as donzelas. Enquanto isso, numa parte elevada de madeira, um bardo solitário tocava uma canção sobre reis e rainhas. Ninguém parecia notar sua presença, mas se alguém por acaso estivesse sóbrio naquela noite, poderia notar que o velho que usava o alaúde tinha um brilho diferente nos olhos.
Teryn havia escolhido uma canção de arranjo simples para tocar naquela ocasião. Durante os seus sonhos, havia imaginado diversas formas de obter sucesso em seu plano, mas a maioria terminava com seu sangue tragado pelo chão. A determinação havia se transformado em cautela. Em cima do palco, conseguia ter uma visão ampla do que acontecia no salão. Conseguiu identificar Elfric, um homem de armas que havia se sagrado campeão nas disputas de montaria. O homem de estatura pequena se gabava pela vitória com uma mulher, que sorria enfaticamente a cada palavra que o vencedor lhe dizia. Teryn continuou observando o salão. No início não notou nada interessante. As poucas conversas que conseguia decifrar era sobre o desempenho no torneio ou uma proposta indecente para alguma criada. Teryn havia desenvolvido essa habilidade quando ainda era novo, utilizava esse subterfúgio para saber os interesses das mulheres, a fim de facilitar a sua conquista. Ele sorriu ao se lembrar do jovem menestrel sedutor que percorria as cidades em busca de novos desafios. Talvez no fim de sua vida, iria compor uma canção de sua história. Seus pensamentos nostálgicos foram dissipados quando percebeu que estava sendo observado. Um jovem vestido com boas roupas estava sentado sozinho numa mesa, um pedaço de cordeiro ao mel repousava intacto no prato a sua frente. Teryn observou atento como o homem se portava. Sabia que se tratava de alguém com uma posição privilegiada, o tecido que cobria seu corpo atlético era usado somente por nobres. Um nobre em treinamento nas fileiras da tropa, talvez Teryn concluiu com dúvida.
O alaúde, dito por muitos que era encantado, pareceu vibrar por alguns segundos e suas cordas esquentaram de maneira suave, o som foi se transformando aos poucos. Teryn sentiu-se atraído por um novo mundo e fechou os olhos. O som do alaúde agora era mais doce e quando Teryn abriu os olhos começou a recitar uma canção de amor.
Vai a Donzela, com a felicidade do mundo a levar
A beleza, encanta todos deste lugar
O príncipe não tem liberdade para amar
Mas a donzela o ensinará a andar.
Com a felicidade do mundo a levar.
No fim da canção, Teryn notou que havia agradado não só ao jovem, mas sim grande parte das pessoas. A canção teve um efeito mais forte que Teryn podia ter imaginado, pois assim que desceu do pequeno palco o jovem caminhou em sua direção. Sentiu o peso da idade recair sobre seu corpo, a confiança que sentiu em cima do palco agora era apenas uma lembrança. Teryn agarrou seu alaúde de modo instintivo.
-- Devo dizer que foi uma bela apresentação. Agora sei o motivo que levou aos organizadores a insistir que você fosse o único bardo a se apresentar essa noite. -- Os olhos do jovem possuíam um brilho de fascínio, mas Teryn era velho demais para se deixar enganar. O fato de ter citado os senhores da região era um sinal claro que tinha alguma coisa escondida por trás do elogio.
-- Oh, que indelicadeza. Me chamo Eldamar.-- E eu sou Teryn, O Bardo. O que ouviu essa noite é apenas um pedaço de minhas canções, há histórias que vivi que fariam qualquer guerreiro ficar paralisado de medo. -- Teryn analisou o jovem, ele tinha uma expressão de satisfação no rosto.
-- Mas creio que isso não é o que alguém procura numa noite como essa. Diga meu rapaz, que tipo de canção gostaria de ouvir?
Eldamar pareceu receoso por um momento, suas mãos se agitaram sob o tecido macio. Por fim ele abriu a boca para dizer algo, mas acabou sendo interrompido pelo menestrel.
-- Uma donzela. -- Teryn fez uma pausa dramática e sorriu.
-- Conheço muitas canções que ela vai adorar. O banquete seguiu-se de forma satisfatória. Vinho de boa qualidade e as especiarias mais raras foram servidas aos convidados. Os condes mais influentes da região festevejam devido a um acordo de paz que fora feito ali. Poucos dias antes, aquela região estava em pleno conflito, o qual agora tinha o seu fim comemorado pelo banquete que fora organizado nesse dia. Teryn acreditava que aquela paz era irrisória. Talvez, Teryn estivesse apenas receoso quanto a própria paz, algo que ultimamente não era comum ao bardo. Sua profissão era de certa forma perigosa, mas palavras sábias e um pouco de carisma era suficiente para que ele se livrasse de qualquer problema. No entanto, a medida que os anos foram se passando, Teryn se via completamente afundado em problemas, tão sérios que ameaçavam a sua vida. Há poucos dias atrás, enquanto voltava de uma taverna em que conquistara uma jovem dama, Teryn havia sido atacado. O bardo havia conseguido fugir se escondendo enyre as sombras, mas sabia que seu perseguidor ainda estava em algum lugar da região. Desde então, não houvera nenhuma noite que o bardo não se mostrasse cauteloso e receoso. Por pouco, Teryn não rejeitou o pedido de Eldamar, mas o que seria um bardo se não ajudasse dois jovens amantes em suas aventuras?
Ao final da noite, Teryn caminhava pelas ruas escuras ao lado de Eldamar. As casas ao redor indicavam que tipos de pessoas residiam naquele local. Construções de pedra se consistiam em casas de luxo e poucas pessoas conseguiam obter uma. Ali certamente residia os membros mais influentes da região. Teryn havia ficado surpreso quando soube da posição privilegiada de Eldamar, não se tratava de apenas um nobre qualquer, mas sim um herdeiro de um grande comerciante local. A conversa fluiu de maneira agradável pelo longo caminho em direção ao sul da cidade. O ar naquela região era carregado, as ruas estreitas pareciam se comprimir para dar espaços as casas de madeira. As pessoas se moviam de modo furtivo, até mesmo as crianças pareciam terrivelmente perceptivas com o que acontecia em sua volta. Se Teryn fosse um herói como os da sua canção, sentiria um pesar na consciência.
"Mas sou feito de carne e osso e tudo que eu quero é livrar do fardo que carrego comigo."Eldamar parecia estar adaptado aquela realidade. Seus passos ali eram firmes e sua postura era perfeita.
"Ele já andou por aqui, talvez até centenas de vezes." O bardo pensou. Finalmente saíram da cidade, se encontrando agora numa pequena clareira a margem da estrada. Havia um cavalo magricela se alimentando das raízes que despontavam do chão. A clareira era iluminada por uma débil luz proveniente de uma fogueira, fazendo as sombras das árvores dançarem de maneira hipnótica. No canto, uma figura encolhida preparava um ensopado.
Teryn percebeu de imediato que se trata da amada de Eldamar. O ar de seriedade foi substituído por uma expressão suavizada no rosto do nobre, seus passos se apressaram. O rosto da mulher tinha um formato oval e o nariz era um pouco alongado. Olhos negros e profundos combinavam perfeitamente com os cabelos desajeitados. Ela exibia um ar selvagem e Teryn sentiu-se levemente atraído pela beleza diferenciada.
-- Pensei que você tinha esquecido do nosso encontro. -- Teryn ouviu a jovem falar enquanto dava um beijo rápido em Eldamar. O manto que ela vestia era desgastado e sua cor original já estava difícil de distinguir. --
Quem é esse que você trouxe aqui?O bardo permaneceu em silêncio enquanto analisava o casal. Sentia que naquela noite finalmente daria um passo decisivo em direção de seus planos, o sorriso que nasceu em seu rosto era carregado de tensão.
"Sim, essa noite." Ele afirmou para si próprio a fim de aumentar sua confiança.
-- É um menestrel. -- Eldamar tinha um tom de voz de satisfação.
-- Se apresentou hoje no banquete e agora está aqui para nós. -- Sinto-me honrado por isto senhorita, mas devo dizer que só vim pois Eldamar demonstrou estar completamente apaixonado. Como posso ser um bom menestrel se me recusasse a recitar para dois amantes na vida? -- Teryn fez uma mesura, imitando uma saudação para uma rainha. Conseguiu com isso, obter um sorriso da jovem.
-- Fico encantada. -- disse a jovem.
Teryn sentou-se numa pedra enquanto conversavam trivialidades. O nome da jovem era Johanne e ao que parecia havia se apaixonado por Eldamar fazia bons meses. Os encontros eram feitos ali, pois Eldamar acreditava que sua família jamais passaria pelo lado pobre da cidade, de modo que seu amor permanecera no anonimato por um longo tempo. Johanne serviu um caldo espesso com pedaços de carne e algo que Teryn não conseguiu identificar. Ficou fascinado quando a jovem informou que havia preparado não só o ensopado, mas também a fogueira.
"Agora sei o que ele vê nela, ele não só vê um amor e sim um modo de completar a si mesmo. Uma selvagem e um nobre. Uma boa oportunidade para mim. " O bardo pensou.
No auge da noite o vento se tornou mais forte, espalhando folhas secas pelo local. O velho menestrel segurou seu alaúde e se preparou para tocar. Imaginou que devia alegrar o coração do casal, visando uma melhor receptividade quando botasse seu plano em funcionamento. Sentiu o peso dos olhares fascinados a espera de seus movimentos. A velha sensação tomou conta de seu corpo e os dedos ágeis imitaram o movimento do vento.
A distância faz sentido
Por esse amor ser proibido
Mas a lembrança traz acalento
Á um coração repleto de sentimento
Orgão nobre que a saudade corrói
É o mesmo em que a esperança constrói
Um mundo que aquiesça essa relação
E que assim, possa seguir seu coração.
Abriu os olhos e viu Johanne e Eldamar se abraçarem mais forte, o amor que unia os dois era tudo que o bardo procurava. Finalmente Teryn deixou a cautela de lado e transformou o que sentia na forma de canção. Havia chegado a hora de por seu plano em prática, então ele dedilhou seu alaúde.A melodia era triste e dramática.
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A luz invadiu o celeiro em que Teryn dormia, despertando-o de uma noite longa de sono. O bardo esfregou os olhos e bocejou, tentando aprontar sua carne para enfrentar um novo dia. Estava velho, mas seus joelhos ainda possuíam força o suficiente para se levantar sem que ele se desequilibrasse, mesmo com o sono ainda impregnando a sua carne. Aquela noite havia sido relaxante, Teryn havia se livrado de seus perseguidores há dois dias atrás, quando convencera Eldamar e Johanne a lhe ajudarem a sair daquela situação. Havia sido difícil convencer o casal, mas a promessa de uma canção da paixão dos dois, sendo cantada em todo continente, fizera que os mesmos assumissem o risco. Na realidade, Eldamar não havia encontrado muitos problemas em ajudar o bardo, uma vez que o jovem era influente e rico, pagando então que homens de armas lidassem com o perseguidor de Teryn. E assim fora feito, e Teryn novamente havia se livrado de outro problema. No entanto, ele sabia que aquela paz era por pouco tempo, e que aquela região não era mais segura para ele, e por isso, Teryn se preparava para viajar em direção a Fyrtorn, pois soubera durante o banquete que estavam recrutando pessoas para ir até a Ilha Perdida. Um local que certamente nenhum outro perseguidor teria coragem de ir , e que ao mesmo tempo, saciava o orgulho egoísta de um bardo, o qual por sinal, resumia a vida de Teryn. Era a busca pelas histórias, a chance de conhecer coisas que só ele poderia contar aos outros, e que assim, se tornaria o bardo mais famoso do continente por suas aventuras e histórias.
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Pergaminho contendo uma história. O papel está amassado e rasgado nas laterais, e grande parte do seu conteúdo está borrada pela água, tornando quase impossível de ler.
" Desde menino, ele sempre demonstrou talento para as artes, encenando peças com seus amigos que os deixavam deslumbrados. Ele também demonstrara um talendo para conversas, e dizem que ainda criança, convencera um pastor a trocar uma vaca magricela por sementes "mágicas" de maça. Seja isso verdade ou não, seus talentos aumentaram a medida que os anos se passaram. A criança se tornou um jovem bonito e esbelto, com a voz fluída e encatadora que todos menestréis possuem. No começo de sua carreira, ele era treinado por um tutor. Um tutor humano, que lhe ensinou não só a arte de cantar e tocar, mas também de seduzir e ludibriar. E o jovem bardo aprendeu bem essas coisas, e inúmeras confusões ele arrumou por causa de garotas...
... Ele teve que fugir da cidade, e passou cinco longos anos escondido na mata. Algumas teorias diziam que o jovem bardo havia sido assassinado por um lorde que fora traído,, outros fcontavam que o jovem era tão encantador que conseguira convencer um elfo a lhe ensinar sobre essa arte, e que permanecera então por todo esse tempo sob a tutela de memebros dessa raça, residindo então em Elvenön. Certamente, se isso for verdade, isso explica o talento que o jovem apresentara depois desses anos. Mas devemos nos perguntar: O que fez o jovem bardo sair de Elvenön? Ora, ninguém em sã consciência sairia de tal tutoria! Mas ele decidir seguir esse caminho, na verdade, fora obrigado e banido de Elvenön. Por quê? Bom, é uma história longa que escreverei nos próximos volumes, mas resumindo, ele é um humano, e como tal, é repleto de defeitos! Sim, egoísmo por suas histórias e a vontade de ser lembrado como o mais habilidoso dos bardos! Tais pensamentos não são compativeis com os elfos, seres puros que praticam tal arte apenas por prazer. Não restou outra opção aos senhores elfos o banimento de tal bardo humano, pois sua convivência por mais tempo certamente resultaria numa infecção que poderia se alastrar aos outros elfos, deturpando tal arte.....
... Ele não é indefeso, durante suas jornadas, ele aprendera a manejar algumas armas e se defender utilizando suas habilidades peculiares...
... Você deve estar perguntando, como é a vida de um bardo após envelhecer? Eu te digo apenas uma palavra, PROBLEMAS! MUITOS PROBLEMAS! Ainda mais se tratando dessa pessoa em específico, o qual costuma contar histórias de suas aventuras e a de outros, moldando os fatos a seu próprio prazer e tentando sempre glorificar os seus feitos e sua participação. Isso não é digno de um bardo, ou talvez seja assim que as coisas são. Pode alguém contar uma história e não aumentar os acontecimentos? Seja como for, suas histórias - famosas e com letras belíssimas -, com o passar do tempo, acabaram trazendo-lhe problemas. Condes, mulheres e todas as pessoas que podem se identificar com essas histórias, muitas vezes acumulam raiva, e aqueles que tem determinados poderes, sentem-se impelidos a silenciar o bardo. A última história que eu escutei foi a do lorde beijoqueiro, uma canção sobre um lorde influente na região norte, e que possui um casamento com uma mulher de uma familia poderosa, e que mesmo assim, saía todas as noites para beijar mulheres pela cidade! E se isso não fosse ruim, o bardo recitava que um "justiceiro do amor" havia dormido com a mulher desse lorde para fazer a justiça. Dizem que o lorde contratou uma série de capangas para dar fim ao bardo, mas essa história ainda esta sendo escrito, de modo que eu aconselho a você, leitor, que não passe pela região norte comentando sobre essa história, há não ser que você queira ser enforcado..."
por Garahel Seg Dez 24, 2018 6:14 pm
já criei os outros tópicos fixos, vou colocar as fichas prontas nos templates e postar lá, e tbm postar um codex pra vcs começarem a se ambientar 
mais tarde devo sumir pra ceia, e amanhã reapareço (ou hj msm de madrugada a depender da minha insônia). Feliz Natal pra vcs 
Obrigado, Rosen!
