Prólogo

O Barão Arthminos sentou-se somente após Necross se acomodar à mesa, e já se virou para chamar por algum atendente que estivesse passando por entre as mesas naquela parte do salão. O atendente veio, anotou o pedido de Necross com um olhar de curiosidade para o morcego que o acompanhava, e se abaixou para ouvir um pedido extra de Arthminos, que preferiu falar em voz baixa aos pés do ouvido do atendente enquanto os outros três buscavam se conhecer melhor.

Necross era uma pessoa que não passava despercebida aonde quer que fosse. Seus trajes, seu jeito peculiar e seu morcego eram alegorias chamativas em qualquer um dos reinos de Faêrun. E dizer, em tom suficiente alto e claro, a mesa de uma estalagem lotada de que era um necromante e que podia montar um exército de mortos-vivos não ajudava em sua discrição. Muitas pessoas ao redor sobressaltaram-se ao ouvir aquilo, algumas chiaram (de modo que o necromante não escutasse) palavras rudes contra aquele tipo de prática, enquanto outras acharam melhor ir procurar um outro lugar da estalagem para ter a sua refeição da noite em paz.

O atendente que viera atendê-los já tinha se retirado e o Barão Arthminos, alarmado com a situação que Necross os colocara, tentou aliviar o clima que especialmente aquela parte aos fundos do salão, ficara tenso. Primeiro ele se dirigiu aos seus três companheiros enquanto pegava um instrumento de sua mochila.

- Vou desviar a atenção das pessoas, e vocês três, tenham conversas mais sadias enquanto estiverem aqui, não estamos à beira de uma estrada. Volto logo depois da canção.

O Barão Arthminos se encaminhou até um pequeno palco que havia na parede oposta à da lareira. As pessoas o aplaudiram quando ele disse que ia tocar uma música para alegrar aquela noite. A fama de bom menestrel de Arthminos era muito conhecida e suas canções muito apreciadas naquela região, e até mesmo as pessoas que tinham ouvido falar o Necross dizer aquelas palavras logo estavam inebriados pelo tom ameno e excitante da canção do bardo.

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- Humf – o oficial da justiça bufou, sem acreditar que aquela insolente estava o questionando, e ao fazer isso a fumaça do cigarro saiu por suas narinas. – O que eu espero? Eu espero que você fique presa, que a sua culpa seja comprovada no julgamento e que você seja punida. Guarda! Leve essa mulher daqui e apresente os calabouços da cidade a ela.

O guarda reaproximou de Shaíra, segurando-a pelo seu cotovelo direito. Deu tempo ainda do oficial fazer um último gracejo.

- Tenha uma boa estadia na prisão – disse.

O Barão Arthminos encerrou a música, curvou-se para receber os aplausos das pessoas e retornou à mesa, onde Janus, Grimlock e Necross estavam entretidos numa conversa sobre princípios morais. Ele se sentou, guardou o seu instrumento musical e encheu a taça de vinho. Ele havia escutado a última parte do que foi conversado, e esclareceu:

- Zankharon não será atacado, como eu disse mais cedo. Não temos motivos para fazer isso. Ainda não. O que precisamos é dar prosseguimento ao nosso plano inicial, Necross.

Os dois nunca haviam formado um plano em conjunto, mas barão incluiu o necromante nessa. Ele bebericou a bebida, e prosseguiu alternando a sua atenção entre Grimlock e Janus, já que Necross conhecia essa parte da história. Eles agora conversavam em voz baixa, procurando não chamar mais a atenção dos que estavam a sua volta.

- Aencar foi um rei brilhante, e seu nome repercute entre o povo dos Vales até os dias de hoje. Ele é uma espécie de lenda entre os cidadãos daqui. A maioria já ouviu falar sobre alguns dos grandes feitos de Aencar, que foram muito além de reunir os Vales sob a sua bandeira. Ele participou de guerras, expulsou inimigos de suas terras e fez investidas contra nações com potencial para se tornarem um problema no futuro. Junto com Aencar, quem ganhou fama foram os pertences que ele usava nessas empreitadas. O seu estandarte tinha um poder místico e simbólico aos seus soldados e aos seus inimigos; a sua espada era a mais mortal de todos os Vales, e o seu elmo ficou famoso por ter aparado um golpe de machado de um bárbaro que certamente deveria ter matado Aencar. O que precisamos, meus companheiros, é recuperar esses itens, que desde a morte de Aencar, andaram sumidos.

Arthminos pegou o pão, cortou com as mãos um pedaço e comeu, dando a Grimlock e Janus um tempo para digerir as informações e fazerem suas perguntas. Depois, ele se voltou novamente ao necromante.

- Necross, você trouxe os mapas que você fez das passagens dos drows pela superfície? Precisaremos deles para achar o rastro de pelo menos um desses itens.

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Shaíra foi levada pelo guarda. Eles saíram do cercado que oferecia uma proteção pobre ao vilarejo e foram até um posto de vigia ao noroeste de Essembra. O posto de vigia não passava de uma torre pequena de dois andares. Lá dentro havia uma escada para o subterrâneo, e no subterrâneo havia meia-dúzia de celas, todas vazias. O guarda deixou Shaíra nas mãos do carcereiro, que levou-a até uma das celas, abriu a porta de ferro e trancou logo depois da prisioneira ter entrado. Era um lugar apertado, não havia espaço nem para deitar, e a única luz que entrava era a iluminação das tochas no corredor através da porta de metal.