Michael – O Mais Próximo de Deus
Capítulo 1: Quis ut Deus?
- Trilha Sonora:
No conhecimento bíblico e pós-bíblico, Miguel é considerado o maior de todos anjos, seja nos escritos judeus, cristãos ou islâmicos, seculares ou religiosos.
No passado, Miguel já foi adorado como um deus pelos Caldeus, embora ele próprio tenha negado esse papel, pois apenas O Altíssimo é digno de ser adorado como Deus. Ele já foi o chefe da Ordem das Virtudes, governante do Quarto Céu, Príncipe de Israel, Guardião de Jacó, Príncipe da Luz (título anteriormente ocupado por Lúcifer, dado a Michael após derrota-lo na Grande Guerra Celeste) e atualmente é o líder da Ordem dos Arcanjos.
Porém, poucos, mesmo entre os estudiosos, sabem que Miguel já foi um anjo dentre as castas angelicais mais baixas. Seu próprio nome já denota a própria humildade (em hebraico: Mikha’el = “Quem é como Deus?”, uma pergunta retórica, para a qual se espera uma resposta negativa, e que implica que ninguém é como Deus. Quase como o exato oposto de seu futuro nêmesis, Lúcifer, considerado por muitos como o mais perfeito ser já criado por Deus, mas que foi embriagado pela própria soberba e orgulho, desejando ser superior ao próprio Criador.
Apesar disso, hoje, Miguel se perguntava se realmente era digno de tamanhas distinções. Nos Pináculos do Conselho, sobre a Cidade Eterna no Primeiro Céu, localiza-se a Câmara do Conselho dos Arcanjos, em um auditório esférico no pináculo mais alto.
Aqui, encontrava-se Miguel, solitário, esperando os outros Arcanjos, convocados por ele para uma reunião às pressas. Como esperado, o primeiro a comparecer era o Arcanjo Rafael:
- Irmão, por favor, me diga que os boatos não são verdadeiros! – dizia Rafael, olhando para o acento vazio que pertencia a Gabriel.
- Infelizmente sim. Gabriel foi Banido, eu mesmo o fiz! – E assim continuava contando os detalhes ao Arcanjo da paz, cujo semblante se entristecia mais a cada palavra.
Os próximos a ocuparem seus lugares eram Zadkiel (que surgia flutuando sem emanar qualquer ruído, seu semblante impassível como sempre), Raguel (cujo olhar por detrás de sua auréola dourada conseguia enxergar além da visão de qualquer outro anjo, descobrindo imediatamente o que ocorria) e Orfiel (cujas brumas frias prenunciavam antecipadamente sua presença).
Por fim, o último a comparecer era Uriel, cujo brilho flamejante de suas asas parecia levemente mais fraco.
Uriel não parecia se mostrar surpreso com os acontecimentos, e dizia que, infelizmente, o lugar de Gabriel precisava ser ocupado por alguém. Embora Miguel já imaginasse que ouviria isso, as palavras de Uriel o atingiam como uma espada em chamas infernais. O pensamento do Líder do Conselho voa para o passado enquanto os outros membros discutem.
...
Inicialmente, como um anjo mensageiro, Miguel ficou horrorizado com a rebelião organizada por Lúcifer (alguém a quem ele admirava muito devido aos trabalhos realizados por este ao Deus Supremo). Inconformado, Miguel infiltra-se em uma reunião clandestina do antigo Portador da Luz, primeiro para descobrir se o que ele ouvia era realmente verdade, e segundo, para colocar juízo na cabeça de Lúcifer.
Infelizmente, Lúcifer parecia estar além da salvação e ordenou que seus seguidores o obliterassem. Miguel consegue escapar por pouco, com a ajuda de Gabriel, seu mais antigo aliado nas Hostes Celestiais.
Após isso, ambos sabiam que não poderiam permanecer omissos, e se juntam aos exércitos celestes para combater a rebelião luciferiana. Devido a sua lealdade, coragem e determinação, tanto Miguel quanto Gabriel são presenteados com armas e armaduras do arsenal divino e têm seu poder e hierarquia aumentados, tornando-se generais na frente de batalha.
Em umas das principais contendas da guerra, Miguel e sua armada ficam frente a frente com Beliel, o antigo Arcanjo do Fogo, e seu exército.
Antigo líder da Ordem dos Arcanjos, Beliel já fora um anjo de virtude, tão antigo (senão ainda mais) quanto Lúcifer. Agora, seu semblante era de pura loucura, e sua arrogância o impelia a ofender seu rival, exibindo a diferença de castas de ambos:
- Eu era o primeiro dos anjos, e tu és quem?! Se teu tão amado Deus não tivesse lhe dado tua atual posição, tu não seria nada mais que um patético mensageiro. Tu não és páreo para mim, ser inferior, renda-se, e talvez eu ainda possa lhe aceitar como meu capacho quando derrubarmos Aquele a quem tu chamas de Altíssimo!
- E quem serias tu se não fosse por Ele? Te esqueceste de onde veio e para onde irás sem o Todo Poderoso. Não passas de um louco com delírios de grandeza, e eu rogo para que Deus me considere digno o suficiente para socar essa tua face ingrata e te enxotar para o inferno, criatura egocêntrica e desprezível.
Então, ambos os exércitos se chocam, e em sua fúria, Beliel oblitera brutalmente Fanuel, o principal general de Miguel. Enquanto a Essência do anjo se dissipava, Beliel olhava para Miguel e ria sadicamente.
Por um instante, Miguel, cuja temperança era invejável até para outros Arcanjos, se deixa influenciar pela raiva e ataca cegamente o rebelde.
Beliel tentava enganá-lo com estranhas Canções de ilusão, tentando atraí-lo para seu esconderijo. Pego de surpresa, Miguel é brutalmente atacado por Beliel. A experiência do inimigo fazia com que Miguel parecesse uma criança enfrentando um adulto, e em breve, o jovem Arcanjo seria a próxima vítima de Beliel, até que a voz de um aliado o fazia retornar a si.
- Lembre-se de quem tu és, e quem está do nosso lado, irmão!
Era seu eterno aliado, Gabriel, lutando contra um dos tenentes de Beliel, e Miguel percebia o quão tolo havia sido seu ataque inconsequente, e passava a agir mais calculadamente contra o rival. E desta vez, Beliel, confiante em sua vitória e na inexperiência do inimigo, é quem era pego de surpresa.
A batalha prosseguia, com ambos se digladiando, mas o vitorioso não seria aquele que mais odeia aquilo que deseja destruir, e sim aquele que mais ama aquilo que deve proteger.
...
Ao voltar para si, Miguel percebia que a votação já havia sido iniciada, e que seu voto seria decisivo para decidir se Gabriel seria substituído por um novo Arcanjo. Todos olhavam para ele, e o peso da decisão era forte demais em seus ombros, de forma que, mesmo tendo convocado todo o Conselho para lhe auxiliar em sua escolha, ao final, ele próprio acabaria sendo de qualquer forma quem decidiria tudo.
Miguel então, levantava a mão para uma pausa, pois precisava de mais tempo para ponderar.