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Apesar de estar resoluto para receber o estigma, Aramis sentiu um frio na espinha quando o Oneiro se aproximou com o carimbo da sua guilda em mãos. O símbolo era uma lira, que reluzia com uma luz prateada e como uma figura holográfica ilustrava a boca de uma caveira a cantar o Réquiem dos Mortos. O Oneiro explicou que a marca era necessária para que ele pudesse pertencer à guilda dos Bardos, também conhecida como Lamúria, sua casa de agora em diante e para todo o sempre.
- Guilda dos bardos? Que apropriado! E Lamúria? sempre achei que fosse um dos temas favoritos dos mortos...Ouvir o hino da Lamúria ecoando em sua alma era perturbador, e Aramis demorou alguns versos para reconhecer a poesia de Poe. Ele tinha estudado a ponto de poder ser considerado um erudito, e a literatura do velho Edgar fôra uma das que conseguia expressar o pesar e o luto dele após a morte de Nadine.
"Bem-vindo à guilda dos Bardos, meu amigo. Agora você é parte da nossa irmandade e pode começar a descobrir as maravilhas e os mistérios do mundo espiritual e lhe entregou um violino stradivarius, forjado pela egrégora que se desprendeu do casulo da mariposa necrótica. É um objeto imbuído de muito sentimento e emoção. Era um lindo instrumento e provavelmente de valor único no umbral"
Aramis acenou com seriedade para o oneiro, sentindo uma certa solenidade na ocasião. Quando ele lhe entregou aquele violino stradivarius, com o madeirame vermelho sangue luzidio, Aramis arregalou os olhos, impressionado. Ele tinha adquirido habilidade suficiente para tocar qualqer instrumento de uma orquestra, e embora o piano fosse seu preferido, o violino tinha uma classe inigualável. E aquela era sem dúvida nenhuma uma obra-prima, valioso mesmo no mundo dos mortos.
- Obrigado, senhor! Eu o usarei dignamente!♫♫♫
Miranda escreveu:— A propósito me chamo Miranda.
Aramis fez uma pequena reverência para Miranda, apresentando-se:
- Enchanté, madame Miranda! Je suis Aramis D'Anjou. Sotaque britânico?Ele era fluente em inglês e reconhecia o sotaque dos ingleses.
Obrigada de qualquer maneira, você parece bem jovem e esse senhor seria seu parente?
E não somos parentes, senhorita. Acabei de encontra-lo, assim como à senhorita. Creio que nunca nos vimos antes.
Ele acenou, confirmando as palavras do morto mais velho.
- Todos nós acabamos de chegar... mas parece que não morremos ao mesmo tempo. Intrigante... — Se vocês forem explorar, gostaria de ir junto.
Aramis gesticulou rápido com os dedos, dizendo:
- Mas é claro, madame! Vamos andar juntos aqui antes que o oneiro nos chame para partir para a cidade eterna.♫♫♫
O homem mais velho mostrava-se impaciente, mas a curiosidade de Aramis não considerava aquilo ruim. Quando ele subiu as escadas, D'Anjou subiu atrás dele com cuidado e elegância, mostrando-se atento para o caso de Miranda precisar de auxílio.
Enquanto o velho tentava fazer experimentos, Aramis apenas observava, aprendendo com as experiências dele.
Havia duas almas mortas na sala acima das escadas, e os nomes deles, Alice e Samuel, eram do conhecimento dele, mas ele não sabia como poderia saber disso. Mais um dos mistérios que o intrigavam naquela dimensão falecida. Tudo ao redor estava abandonado, mofado, podre e velho. Muito triste. E havia uma fome fantasmagórica começando a incomodá-lo.
Para espantar aquelas sensações, Aramis apanhou seu novo instrumento, posicionou as cerda do arco sobre as quatro cordas e tocou leves acordes, sentindo a melodia daquela peça pela primeira vez.