Tudo que acontece em Deadwood, fica em Deadwood...

Sorriu ao ver que enfim a pistoleira havia concordado, candidatando-se inclusive para ir naquele exato momento se assim fosse necessário. No final das contas parece que só era necessária uma causa nobre para que Annie se junta-se ao grupo que começava a se formar.

- Excelente, Senhorita Starr!- Exclamou com aprovação, imediatamente dirigindo sua atenção aos outros.

Ficou mais uma vez satisfeito quando outro, o misterioso homem que estava bisbilhotando até poucos momentos atrás, demonstrou seu interesse no trabalho. Este também era favorável a esperar a chuva passar e ir pela manhã, mas não importava, pois o que Anthony realmente queria era ter certezas e nenhum dos dois ali parecia ser do tipo que volta atrás.

- Ótimo! Senhor..?- Indagou, sem saber como chamar o homem que convidava-os o grupo a sentarem-se e talvez jogar cartas. Anthony com certeza passaria a segunda proposta, pois sabia que perderia até sua última moeda jogando dinheiro com aquele homem.- Estou de acordo. Podemos ir pela manhã.

Com tudo certo entre os três ali, restava saber como a moça oriental responderia ao convite. Anthony esperava que ela concordasse, aumentando os números do grupo formado.

Desde que pisara em terras ocidentais, a jovem Yue não estranhava mais aqueles tipos de olhares desconfiados ou pervertidos, mas ela tinha um objetivo ali e não deixava que coisas daquele tipo a perturbassem.
Ela entendeu o chamado do homem de aparência rabugenta como um convite para ouvir a conversa, só não entendia qual a utilidade dela participar daquilo, mas como estava em uma busca, pensou um pouco mais na questão e decidiu que toda informação era bem-vinda.

- O senhor queler que eu participa da conversa? - pergunta com seu sotaque e inglês intrincado - certo - e se aproxima sem aparentar medo ou preocupação - em que eu poder ajudar?

Ela ouve o resto da conversa e sorri com a história, mesmo achando um absurdo alguém descumprir as regras de um lugar, mas a freira era uma mulher santa e isso a oriental respeitava.

- Fleira Malia ser uma mulher corajosa - ela olha para todos - mim aceitar... não, não... eu aceita - fala toda orgulhosa de seu inglês, mesmo estando levemente errado - e vocês podem... ajuda eu com idioma inglês - sorri esperando uma resposta positiva de todos - inglês ter uma... plonúncia difícil.

Sempre prestando bastante atenção ao que era dito, Yue tentava pegar as nuances do idioma inglês.
Sam oferece bebida a todos e ela sorri com a alegria dos demais e segue para a mesa indicada por um deles.

- Eu queler quarto também - falou.

Ela observou atenta o homem pegando o baralho e manuseando-o. Era muito diferente do que ela conhecia.

- Que jogo usa balalho diferente assim? - indagou.

Annie ficou grata com a rodada de bebidas e ouviu com desconfiança a apresentação de Canáris – Pois me mostre como é esse seu “joguinho”, senhor Sete de Copas – sentou-se em um dos lugares indicados pelo homem e o observava com atenção, mesmo tendo falado com desdém.

Estranhava um pouco o grupo com que estava se envolvendo e procurava as armas que os outros estavam portando. Não pareciam os típicos mercenários nem pessoas acostumadas com aventuras, mas Starr era muito orgulhosa de si e contava apenas com suas habilidades combativas.

Após aceitar a oferta do quarto por parte de Sam, obviamente disposto a pagar-lhe o valor se fosse necessário, Anthony segue com os outros para a mesa indicava pelo homem das cartas. Não incomodava-se com a atitude suspeita de alguns, muito menos com o fato de não conhece-los realmente, mas Anthony não gostava da ideia de não conhece-los pelo nome. Era um decreto de que nem ao menos fingiriam confiar uns nos outros.

Ouviu silenciosamente o inicio da conversa e as respostas de Annie e da estrangeira, dando-se conta de que também não sabia o nome dela também. A estrangeira o surpreendeu por não conhecer o baralho, mas realmente era comum que conhecesse.

- Sinceramente não entendo nada de baralho também.- Respondeu a pergunta da estrangeira, aproveitando para tentar descobrir seu nome.- Podemos saber como se chama, senhorita?

De qualquer forma, o tutorial d jogo de cartas proposto pelo Sete de Copas havia conseguido a atenção de Anthony.

- Também não tenho objeções, senhor Sete de Copas. Sou todo ouvidos.

Sem ter grandes preocupações externas, Yue não se importou de se juntar aos estranhos. Observou o manejo das cartas e notou que a outra mulher à mesa estava um pouco desconfiada, enquanto outro perguntava o nome da oriental.

- Ah, eu chamar Li Yue e vocês?

- Deixe-me ver se entendi bem. Você viu essas baboseiras todas nessas três cartas? - apesar das palavras duras, Annie franziu o cenho quando Sete de Copas "leu" sua última carta referente à tragédia, mas logo procurou se recompor - E eu crente que aprenderia a jogar poker ou algum outro jogo de azar. Achei que o senhor fosse um jogador de poker e não um cigano. Achei que tentaria me roubar o dinheiro e não a paciência.

Annie Starr virou a taça do vinho que mais parecia um vinagre, já um pouco alterada pela quantidade de álcool ingerido, se levantou e disse - Amanhã as 7:30h estarei aqui esperando os senhores e a senhorita. Espero que não se atrasem ou irei sozinha. Estou me recolhendo - Ela então pegou uma chave com Sam e foi em direção ao quarto indicado.

- Maldição, sempre cobro os nomes e agora esqueço de me apresentar...- Reclamou Anthony consigo mesmo. Não deixou passar a pergunta da estrangeira Li Yue.- Perdoe-me por não me apresentar antes, senhorita. Chamo-me Anthony Fitzgerald.

Depois de se apresentar apropriadamente, voltou sua atenção ao Sr.Sete de Copas. Para ele o jogo com cartas nada mais era do que uma brincadeira curiosa, sendo assim não encarava com seriedade aquilo que as cartas diziam sobre ele. Considerou imaginar que talvez o Sete de Copas realmente fosse mais bem humorado do que inicialmente havia suposto, visto que o objetivo do jogo não parecia ser realmente conhece-los melhor.

Anthony levou como uma brincadeira interessante e bem executada, enquanto Annie pareceu não ter gostado nenhum pouco. A jovem retirou-se depois de demonstrar sua indignação, e Fitzgerald apenas sorriu com a situação. Seria bom ter alguém direta como a senhorita Starr com eles.

- Interessante jogo, senhor Sete de Copas.

Ela observou o homem se apresentar, prestando atenção à pronúncia de seu nome.

- An.To.Ni - falou devagar, mas não pausado, para garantir que falava corretamente. Por sorte eram fonemas presentes em seu idioma, o que não causou grandes dificuldades, porém o sobrenome... - Fe... Fei... Chizu... Gue... - arriscou várias vezes, mas não conseguiu falar - eu não consegue. Desculpa eu - falou sorrindo, cobrindo a boca com a mão. Estava envergonhada - nome muito difícil.

Depois da gafe com o nome de Anthony, a chinesa seguiu as instruções de Copas e pegou as três cartas. Achou curioso sua fala e sorriu, sem demonstrar interesse.

- Legal essas palavlas - disse - no meu país também leem sorte, mas em folhas de chá.  

Depois observou Annie sair, um tanto brava, da mesa. Achou que não tinha necessidade para tanta fúria, mas preferiu não falar nada, apenas acenou e sorriu.

- Acho esse bom hola pala voltar ao... pala... o quarto meu - e sempre com seu caderninho de anotações em mãos, seguiu até Sam e pediu a chave, para então rumar para seu quarto. Decidiu que faria sua refeição em seus aposentos.

Mesmo após o termino do jogo de cartas, Anthony permaneceu na mesa por mais alguns minutos, quase uma hora inteira. Não chegou a beber ou puxar conversa com os que também ficaram por mais algum tempo, somente continuou sentado tentando se entreter com alguma confusão do lugar ou alguma conversa fútil. Estava cansado e um pouco receoso, perguntando-se se teria feito o certo ao juntar-se com pessoas tão "distintas", afinal não sabia nada sobre nenhuma delas.

Quando a manhã do novo dia chegou com o sol escaldante, Anthony aborreceu-se por não ter se preocupado em dormir mais, e tratou de estar à espera dos outros pelo menos trinta minutos antes do combinado. Se ainda não houvesse ninguém por lá, aguardaria contando os minutos em seu relógio e cumprimentaria educadamente aqueles que fossem chegando.

Fez apenas uma breve analise da igreja por puro capricho, cada vez mais intrigado com a razão que a tal freira tinha para querer manter aquela estrutura de pé. Talvez a mulher estivesse apenas procurando confusão no final das contas. E foi durante sua observação que a freira apareceu de dentro da igreja carregando uma bacia de água e com uma Peacemaker pendurada na cintura. Anthony imediatamente ficou apreensivo, absolutamente certo de que não se tratava de uma freira muito comum.

Quando a mulher começa a deslizar as mãos ao revolver na cintura e aborda o grupo sem esconder toda sua desconfiança, Anthony levanta os braços em sinal de paz e anda dois passos à frente.

- Por favor, muita calma com isso doce irmã.- Deteve seu andar antes que a freira resolvesse atirar em seus pés e tratou de colocar um sorriso no rosto.- Não vai querer ferir aqueles que vieram atender suas preces.

Annie havia trancado a porta do quarto e colocado uma cadeira por baixo da maçaneta a fim de ter mais segurança à noite. Sabia que dormiria pesado com o tanto de álcool que ingeriu, e esse tipo de precaução que ela tomava era tão comum que não precisou raciocinar muito.

No outro dia cedo acordou com o calor e a sede. Era como se tivessem jogado uma pá de cal em sua garganta, e tratou de se arrumar rapidamente e fazer um desjejum ali na estalagem.

Starr chegou pontualmente no horário combinado, e no exato momento em que a freira surgia pela porta. Ela respondeu após Fitzgerald – Viemos em paz, e definitivamente não vim rezar. Na verdade é uma pratica que costumo deixar para meus inimigos. – e então observou Anthony se aproximar, enquanto permanecia imóvel e imaginando de que planeta ele era por chamar aquela mulher cheia de cicatrizes e arma na cintura de “doce irmã”. Annie não sabia se ficava irritada ou se ria da maneira que aquele homem tentava acalmar a freira, que certamente deixou de ser “doce” à muito tempo.

Antes de dormir, Yue se alimentou e deixou parte da comida para o desejum do dia seguinte, já que não comia muito, de qualquer forma. A chuva não foi incomodo algum, foi até  um alívio para calor, por mais que a noite fizesse mais frio na região tão árida como aquela.

Ao acordar, fez sua higiene matinal, comeu o que tinha deixado no prato e fez uma rápida meditação. Sempre acordava cedo para essa prática e por isso ainda tinha tempo.

Chegou na hora marcada, quase junto com o homem do nome complicado, ela riu por lembrar do vexame de não conseguir pronunciar seu nome. Ao se aproximar, o cumprimentou:

- Bom dia, Antoni... acertei, né? - falou sorrindo. Usava uma típica roupa chinesa, bem simples e trazia sua mochila, além do caderninho que usava para praticar o idioma inglês - bom dia, senholita - saudou Starr logo que ela chegou.

Assim como todos, observou a igreja, mas a olhava com muito respeito, pois era um templo para o povo da religião ocidental. Só ficou triste pela aparência mal cuidada da prédio.

Manteve o sorriso quando avistou a freira e, mesmo com sua postura ameaçadora, aquilo não diminuiu seu bom humor. O homem a saudou de forma estranha aos olhos da chinesa, mas nada disse.

- Bom dia, senhola sacerdotisa - disse com calma - não viemos lezar... - pensou na palavra dita pela freira e tentou repeti-la da melhor forma possível.

Simples palavras não fariam aquela mulher baixar a guarda. Anthony recuou um passo, sem se arrepender de ter ao menos tentado acalmar a fera. Se fé de uma mulher que arriscava a própria vida para manter de pé uma igreja era o que guiava sua mira, certamente não era sábio ficar no caminho dela enquanto estivesse apontando o revolver.

- Sabemos que conhecer o velho Sam da estalagem.- Voltou a se aproximar, dessa vez um pouco mais sério do que antes. A freira precisava ver que falavam sério para que houvesse confiança.- Foi ele quem nos contou sobre o seu problema. Estamos aqui para dar conta do serviço...por algum pagamento é claro.- Não queria que parecesse que estava extorquindo uma freira aflita, mas também não arriscaria sua pele fazendo caridade.