Prólogo: Pesadelos

- Senhor, acho que você não está em condições de matar todos os que estão ajudando na reconstrução do navio - diz Emelina. - Mas acho sim que devemos entrar escondidos no navio.

A senhorita Ashwood segue Barbarossa até um ponto afastado onde eles poderiam entrar na água despercebidos. Eles começam a nadar para mais longe da costa, até que o chão deixasse de bater em seus pés. O capitão vai na frente, enquanto a moça o seguia bem de perto. Eles nadam por vários metros, tomando todos os cuidados possíveis para não serem avistados. Por fim eles alcançam o outro lado do navio, o lado que não era visível para quem estivesse na praia. Havia uma janela a 3 metros acima de onde eles estavam, mas não havia nenhum meio para subir até lá. Eles não possuíam cordas, e a unica coisa que poderiam fazer era tentar escalar o casco do navio.

ESCALAR:

Nunca duvide das proezas do capitão Barbarossa - Diz enquanto dava braçadas em pleno mar, guiando a moça logo atrás.

Assim que chega no ponto desejado o capitão aponta por onde deveriam subir, agora completamente calado.

Sem muito esforço o coroa começa a tentar escalar o navio.

Spoiler:

Barbarossa consegue escalar o casco do navio em sua terceira tentativa. Após ter entrado pela janela, ele verificou que a sala se tratava de um depósito de carga, com vários caixotes empilhados um em cima do outro. A sala estava escura, mas a sombra das caixas era visível com a luz da lua que entrava pela janela. A seguir Barbarossa estendeu o seu braço para Emelina, que se agarrou nele e pôde subir então até o local. Sons de passos eram ouvidos do corredor da frente e de cima a todo instante.

- Estamos dentro do nosso destino agora mulher - Diz olhando para a moça - Parece que está cheio de gente aqui nessa merda, que tal esperarmos aqui escondidos até chegarmos em algum lugar? - Olha ao redor e vê as caixas - Me parece que estamos em um depósito de carga, vamos procurar algum lugar pra gente se esconder aqui, amanhã quando estiverem fazendo barulho a gente olha o que tem dentro dessas caixas - Diz já procurando um lugar pros dois se esconderem.

Pra quem estava preso numa maldita cela, era um alívio estar de volta em um lar pirata, um grande navio.

Spoiler:

Barbarossa e Emelina Ashwood se esconderam atrás de uns caixotes grandes que haviam aos fundos do deque. Eles ficaram lá em absoluto silêncio, apenas ouvindo o som de passos nos corredores. Por duas vezes, um pirata male-acabado entrou no local para depositar uma caixa com alguma nova provisão. Barbarossa e Emelina passaram despercebidos. Seria quase impossível alguém vê-los ali onde estavam, e como eles ficavam praticamente imóveis, ouvi-los só seria possível pelo fraco som que suas respirações faziam.

Já tinha se passado três horas, e as costas do capitão começavam a reclamar de dor, não só as costas como todo o seu corpo mutilado. Emelina se compadeceu com a dor de Barbarossa, mas nada podia fazer. Na terceira vez em que um pirata abriu a porta e entrou no deque, o capitão teve uma grata surpresa. Tratava-se do Rato, um antigo comandado de Barbarossa no Indomável. Era um rapaz razoavelmente jovem, com um corpo magricela e um rosto que se assemelhava a um roedor. Ele estava tendo dificuldades em segurar a caixa que trazia, que parecia estar bem pesada se levarmos em consideração seu porte físico.

- Ei, deixa eu te ajudar com essa caixa, hohohoho - Diz Barbarossa se levantando atrás das caixas. - Quanto tempo não o vejo Rato, por onde esteve por esses tempos? - Diz enquanto segurava uma das caixas pesadas que o pobre rato levava - Como está a construção do navio? Você já está sabendo que esses malditos nos atacaram?Ou melhor, me atacou, atacou o seu capitão!

O Rato cai de susto ao ver a figura mutilada de Barbarossa sair de seu esconderijo e falar com ele.
- C-c-capitão... - gagueja Rato, ainda caído. Ele engole em seco, tentando se controlar do susto que levara.- N-não s-sabia que o senhor e-estava... er... é-é bom revê-lo, s-senhor capitão. - Ele olha para os lados, tentando encontrar as palavras para falar o que era preciso. Emelina continuava escondida atrás de uma pilha de caixas. - Eu não v-vi quando te atacaram... m-mas o Hendrik me contou tudo, sim... Eu não pude fazer nada, senhor. Mas você sabe que sempre serei leal à você, ao grande capitão que nos levou a tantas vitórias. O que o senhor precisa? Que tipo de ajuda o Rato aqui pode te oferecer? Estou às suas ordens novamente, capitão.

Ele já parecia mais seguro de si do que a dois segundos atrás.

-Meu caro rato... Diz enquanto se aproximava lentamente do marujo. -Me diga quem está por trás de tudo isso, se realmente gosta de seu capitão. Olha fixamente nos olhos de Rato. Antes de me responder qualquer coisa, saiba que eu sou o poderoso Capitão Barbarossa! O imortal! Quem me traiu sentirá a pior dor do mundo- Diz tremendo de raiva enquanto se lembrava de tudo que havia acontecido com o Capitão. - E quem me ajudar será conhecido por todos os mares, então me diga a verdade rato!

Rato se levanta de onde caíra e ajeita suas vestes imundas com palmadas desajeitadas.
- Senhor, há um homem por trás disso tudo, sim. Ele é grande, tão feio quanto eu, e me assusta mais do que seria sensato admitir para o senhor, capitão Barbarossa. Ele se auto-intitulou o novo capitão desse navio antes mesmo dele estar pronto. Ele não assusta só a mim, mas aos outros também. A prova disso é que ninguém ergueu uma só palavra contrária ao seu veredito de ser o capitão, e nem sabemos se ele já foi capitão alguma vez na vida antes.

- Quem é esse homem, rato? - Diz irritado, não com Rato, mas com a situação.

- Ninguém pode saber que estou aqui, certo? Traga comida, bebida e arma e armadura pra mim, irei mostrar quem é o Capitão dessa porra aqui, e quem é o Rato! Ninguém mexe com meus marujos! - Desabafa.

- Você sabe, um navio sem um Capitão não dura nada!

Capitão Dente-de-Podre, segundo o que Rato explicara, era como o homem que tomou o navio se apelidara perante os outros prisioneiros recém-promovidos a marujos. Ele havia chego primeiro ao porto e se autodeclarou dono e capitão do navio semi-destruído. Depois ele escolheu algumas pessoas para serem seus oficiais, entre elas estava Hendrik, e começou então a ordenar a reconstrução do navio. Obviamente o número de prisioneiros da Ilha de Ferro era muito maior do que o número de tripulantes que o navio poderia receber, de modo que houve alguns princípios de confusões, mas rapidamente apartadas por Dente-de-Podre e seus novos oficiais. Eram todos homens duros, em modos gerais. Eles usavam puramente da força para estabelecer o seu domínio, uma prática mais ligada aos bárbaros do Norte do que aos piratas.

Mesmo com a limitada inteligência do Rato, ele conseguiu chegar à mesma conclusão de Barbarossa: Se alguém desafiasse o Capitão Dente-de-Podre e o vencesse numa luta justa, os outros piratas passariam a ser comandados pelo vencedor, que se tornaria portanto o novo capitão do navio. Dente-de-Podre tomou o navio à força, e à força poderia ser tirado dele. Era uma situação complicada, visto todos os ferimentos no corpo de Barbarossa, mas não custaria tentar. Para isso ele precisaria se revelar e desafiar o capitão à vista de toda a tripulação.

- Rato, irei recuperar dos meus ferimentos, e desafiarei este inútil! Busque mantimentos parar mim, uma falcione e uma boa armadura, vc consegue? Assim que estiver bem tomarei nosso navio de volta! Qualquer um sabe que não estou em condições para uma lutar.

Em uma bela noite de lua cheia Babarossa, o vindo dos mortos iria mostrar o que é ser temido, ser um verdadeiro capitão!

Rato se mostrou mais útil do que seria o esperado. Tá certo que ele não passava de um frangote, um pirata medroso como poucos vistos antes, mas quando o assunto era discrição e lealdade, Rato desempenhava seu papel quase que com perfeição. Ele ajudou Barbarossa tratar de seus ferimentos trazendo água pura, sabão, gelo, panos e compressas. A senhorita Ashwood, que não via razão para continuar se escondendo do Rato, ficou encarregada de fazer o trabalho de curandeira, e ela era boa nisso! Passava as compressas geladas com cuidado em torno dos ferimentos de Barbarossa, e fazia todo o resto da mesma maneira delicada e atenciosa.

Os dias iam se passando enquanto o capitão recuperava suas forças. Rato trazia as novidades do navio em construção e da tripulação do Dente-de-Podre. Agora faltava pouco para o navio estar finalizado e em movimento, e Barbarossa pensou que a melhor oportunidade de fazer o que tinha que fazer era em alto mar, longe da Ilha de Ferro e de todo o resto que foi a sua quase perdição total como pirata. Além de novidades, Rato trouxe também a arma e armadura pedida. A arma era uma espada longa, antiga mas com o fio apropriadamente afiado. Já a armadura era um camisão de cota de malha que parecia novinho em folha. Após mais dois dias, Barbarossa e Emelina sentiram o navio se balançar.

Eles finalmente estavam se pondo em movimento.

Como já era esperado, Rato fizera perfeitamente o seu papel, ao contrário do traidor Hendrik, mas este já tinha um destino traçado por Barbarossa, ou melhor, por sua espada.

Quando o navio já estava em movimentação Barbarossa aproveita a presença da senhorita Ashwood e de seu majuro Rato e se aproxima dos dois para dar o recado:

- Nós temos que tomar o controle deste navio, irei desafiar o tal capitão, peço que fiquem atentos. Rato, caso algo aconteça comigo, cuide da senhorita Ashwood - Em toda vida, Barbarossa estava sendo a primeira vez grato por uma moça, pois de uma coisa ele sabia, sem ela ele estaria morto.

Enquanto passava o recato o velho lobo olhava para seus ferimentos curados e vestia sua nova armadura.

- Rato meu nobre homem - Sorri - Vá lá e veja o que está acontecendo, quando for a melhor hora pra eu aparecer me avise, você sabe muito bem como gosto da minha entrada.


A idéia de um desafio agradava muito ao capitão, afinal já havia muito tempo que ele não arrancava uma cabeça.

Emelina se surpreendeu mediante as palavras de cuidado de Barbarossa. Nunca esperaria isso de um criminoso. Já Rato continuava a desempenhar seu papel com perfeição. Ele saiu do depósito às pressas, subiu a escadaria, e logo retornou, ofegante pela sua corrida.

- Senhor... uff uff... senhor, se você sair por essa janela... escalar o casco e... uff uff... alcançar a amurada do navio, você encontrará o Dente-de-Podre do outro lado do deque principal, com toda a tripulação reunida à sua volta. É a hora perfeita para desafiá-lo, senhor...

OFF:

Satisfeito com o papel desempenhado por Rato, o Capitão verifica mais uma vez o fio da sua espada cortando um pedaço de trapo, depois olha para o luar enquanto terminava de se ajeitar.

- Você fica aqui - Ordena para a mulher.

- Rato, suba para acompanhar o espetáculo, você não irá querer perder, certo? - dizia ao começar a escalar pela janela.

Depois de escalar, o Velho lobo subiria pela amurada e iria caminhar despercebidamente de forma lenta até próximo aos marujos, e quando menos poderia se esperar ele pularia no meio dos piratas, rindo com as mãos na cintura, desarmado.

- Boa noite Senhores... - Dizia enquanto caminhava em círculos calmamente - Voltei! - Abre um largo sorriso - Que tal você ir me falando o que está acontecendo por aqui, marujo? Diga logo! - Diz olhando para o Dente-Podre

Spoiler:

Rato cumpriu o ordenado pelo seu capitão, e Barbarossa colocou o plano em prática. Ele escalou pelo lado de fora o casco do navio, o que foi uma tarefa árdua que requisitou muito empenho e atenção para não dar nada errado. Por fim alcançou a amurada do deque principal, cujo espaço estava cheio de piratas. Talvez o navio estivesse com uma superpopulação - o que poderia ser perigoso - mas o fato é que ninguém percebeu de imediato o capitão. Todos os marujos estavam com os seus olhares voltados para o centro do navio, onde uma só figura esbravejava.

Barbarossa então desceu da amurada e começou a se enfiar no meio da tripulação, lutando para conseguir chegar próximo do centro. Após algum esforço, ele finalmente chegou na primeira fila e pôde então ver o tal capitão Dente-de-Podre. Era um sujeito de dois metros de altura, com os seus braços musculosos marcados por cicatrizes. Na face também havia algumas cicatrizes, e a mais apavorante era um corte na boca. Metade do lábio do capitão tinha sido arrancado, o que deixava sempre um lado de seus dentes podres à mostra.

O capitão Dente-de-Podre parou de falar suas bravatas quando Barbarossa se apresentou ao centro do deque, dividindo a atenção dos marujos sobre os dois.
- O QUE...?!?! - grunhi Dente-de-Podre. - Quem é você que se acha no direito de interromper minha assembléia? Fale o seu nome marujo antes que o jogue na boca dos tubarões.