♪ Eu Se ♪ - Pode me contratar quando ficar famosa. Quem sabe dessa vez eu começo a fazer Taekwondo DE VERDADE - sorriu para ela, brincalhão. - O quê!? Mal pode me ver que só consegue pensar em comida? O que eu sou, uma loja de conveniência? - riu alto. - Vem, vamos relembrar os velhos tempos.
Comprou o sabor favorito dela e pegou, para ele, o picante. Gostava de obrigá-la a comer um depois, como um desafio.
- Quase consigo comer esse daqui inteiro sem tomar leite agora - mostrou o polegar, para descontrair enquanto ela se preparava para falar e tirou o sorriso da cara enquanto ela falava.
Seu silêncio foi embalado pela fumacinha que serpenteava no ar. Toda aquela história de se fantasiar de garoto, muito apoiada pelo amigo empolgado que até chegou a emprestar seu nome a ela, agora parecia tão absurda para os dois que era difícil explicar como tinha começado. Um mês tinha se passado desde a primeira audição e ela tinha conhecido pessoas diferentes, amigos que desejavam ter aquilo que ela desprezou por tanto tempo, ou que de tão desesperançosos não chegavam nem mesmo a sonhar - isso considerando somente o microuniverso de conhecidos seus, e as dezenas de “não” que foram ouvidas e não televisionadas naquele dia?
O amigo concordou de leve com a cabeça. Quando começaram com isso, não podiam imaginar quão longe ela chegaria. Será que tinha algum objetivo no início?
- Você chegou muito longe - o amigo começou a dizer, deixou o lamen de lado. - Hoje foi muito corajosa em deixar que a sua voz saísse como você é. Acho que… espera que eu estou tentando organizar o que eu tenho para dizer. - riu - Você começou isso tão pequena e com medo. Estava presa naquele mundinho de ricos por causa do seu pai e eles nunca te ouviram dentro de casa. Eles te controlavam em tudo, até na coisa que você mais gostava, que era a música. De repente, boom, tá, você ainda é pequena, mas ganhou uma oportunidade de poder viver a música do jeito que queria, mas só poderia fazer isso se fosse outra pessoa… Só que, veja bem, parece que agora você está mais feliz, mais tranquila, mais… você. Eu sei que você tem medo que te descubram, e talvez até já estejam preparando os papéis pra te expulsar, mas não foi legal? Você subiu naquele palco e aposto que nunca sentiu nada do tipo. Estava feliz, não estava? Acho que, mesmo se te descobrirem, você não pode voltar para o que era antes. Tem que lutar pela pessoa que está descobrindo agora e assumir o que quer fazer. Sabe, quando eu ia comer na tua casa, achava que estavam sempre pisando em ovos, como se todo mundo quisesse dizer algo, mas não tivesse a coragem. Já pensou se seus pais têm segredos entre eles também? O que aconteceria se você fosse a primeira da sua família a ser sincera? Talvez você pudesse transformar tudo lá dentro. Já pensou? - fez uma pausa para beber refrigerante. - Se tudo der errado, sabe que a minha mãe gosta de você. Vai lá ficar comigo. Prometo que você vai ser só minha irmã. Lá não tem muita coisa, mas tem escola, tem casa, comida… e eu ainda vou te buscar de lambreta. Vai fazer inveja pras suas amigas. Olha que diferente. - sorriu. - Quanto a mim…
O amigo contou um pouco sobre sua rotina no interior e a tal da lambreta que tinha comprado. Não estava fazendo muita coisa nas férias, mas tentou exaltar as belezas naturais do lugar para que ela se sentisse à vontade para ir visitá-lo. Falou sobre sua família e algumas fofocas familiares e de amigos em comum da época de escola.
Ele a levou de volta ao hotel, onde Minki ainda não estava. Provavelmente com Hyerin. Amihan perguntou se ela estava bem e Bae já estava no sétimo sono, o que o amigo a aconselhou a fazer também. Tinha o fim de semana para aproveitar antes do dia dos resultados marcado no café onde Shin Hee trabalhava.
♪ Shin-Hee ♪ As fãs adoraram as brincadeiras, diziam que ele era o favorito sempre, era o mais “bonito e simpático”. Myeon se comportou como uma lady, tentando não reagir, mas usava o cheirinho de perfume amadeirado sob seus ombros para lembrar que eram só fãs.
No estacionamento, SeulBi sorria orgulhosa com as palavras do filho. Ver que ele encontrava um novo propósito a deixava aliviada, mas ela começava a se perguntar se deveria contar um pouco mais a ele sobre essa sua “vocação”. Passou tanto tempo pensando a respeito nos últimos dias e vê-lo em palco a fazia acreditar que ele merecia isso.
Sua namorada o observou abraçando a mulher, que trabalhava para aquela família desde sempre. Ficou surpresa com essa relação tão próxima. Não tinha esse tipo de tratamento na casa dela. A conversava tomava aquele rumo embaraçoso e ela só conseguia sorrir sem jeito.
- Ah, seu menino mentiroso, tentando enganar suas ommas. Eu bem que desconfiei que tinha alguém... - a Senhora Ming deu uma boa olhada em Myeon, que queria se enfiar debaixo da terra, e deu um sorriso largo sem revelar tudo o que tinha pensado. A outra respondeu meio sem jeito.
SeulBi sorriu discretamente. Aparentemente aprovava aquela garota, por ter bons modos, mas confiava no julgamento do filho.
- Bem, gostaria de conhecê-la melhor em outro momento. Por favor, venha jantar em casa.
Myeon nem acreditava em como as coisas estavam evoluindo. Horas atrás tinha um coração partido por achar que seu crush de anos gostava de outra.
- Será um prazer, senhora Yoon…. - sua voz saiu um pouco baixo, mas ela foi simpática.
Com todos no carro, a conversa partiu dos sentimentos de Shin antes de entrar no palco, para as performances dos outros e um pouco de maledicência da Senhora Ming sobre alguns coleguinhas (“quem era aquele que parecia um pombo?” “coitado do garoto, um frango, dançando como se fosse um homem crescido”). Isso fez o clima descontrair um pouco e até Myeon conseguiu rir. A mãe quis saber sobre ela, o que fazia da vida e ficou curiosa ao saber que naquela idade ela já era jornalista. Lembrou-se também das feições da menina na escola, com quase nada de maquiagem, e como ficava diferente fora do colégio (a mesma impressão que Shin teve ao vê-la em seu ‘habitat natural’). Os dois estudaram juntos no fundamental, mas nunca se aproximaram daquela forma. Só recentemente Shin tinha começado a enxergá-la diferente. Até SeulbI mal podia imaginar que aquela moleca pequena que às vezes via em apresentações escolares viraria essa moça. Sentiu-se velha, mas acabou sorrindo e também pedindo desculpas pela rudeza do marido com o pai dela.
- Não se preocupe. Meu pai não se importa. Que bom que a senhora o está apoiando a participar do programa.
A mãe de Shin aproveitou o momento nostalgia para perguntar sobre alguns momentos de escola e reconheceu a garota de histórias antigas. Ficou muito surpresa de notar como o tempo passava e as coincidências os reuniram ali. Já a senhora Ming decidiu expor a infância do garoto, falando que Shin também cresceu muito, que não fazia muito tempo que ele ficava correndo pela casa e citou uma vez que ele supostamente quebrou um vaso em casa brincando com uma bolinha e foi ali que elas acharam que o garoto seria um jogador de tê...
Um breve silêncio tomou o carro. Myeon se remexeu no assento, olhando de canto para o namorado, mas a senhora Ming foi rápida em mudar completamente o assunto. Voltaram a falar do programa, falaram mal do diretor e riram um pouco de outros colegas. Perguntaram sobre como seria a próxima etapa, mas ele não saberia responder.
Myeon foi deixada em casa, despedindo-se de todos, mas ficou com o blazer, cruzando os braços na frente dele para simular um abraço discreto. Compreendeu que ele precisava de um tempo com a família e correu para dentro. É claro que ele receberia milhares de mensagens fofinhas mais tarde, perguntando se tinha chegado bem, se tinha se comportado bem, se a mãe tinha alguma lembrança ruim dela na escola e se ela achou ruim de saber “quem era ela”. Mandou beijos, corações, e uma foto de si mesma com o blazer, anunciando que pensou em fazer um cobertor daquilo, pois o cheiro era muito bom. Ficou feliz com o convite e anunciou que dormiria, para não acordar com cara de cansada no dia seguinte.
SeulBi e a senhora Ming se reuniram em um restaurante em Gangnam em clima de comemoração e ela quis saber mais sobre a primeira garota que tinha conquistado o coração de seu filho. Teceu elogios sobre ela e reforçou que gostaria mesmo que ele a levasse para jantar em casa. Ali eram mesmo como uma família de duas mães. Seu pai não fazia falta nenhuma.
♪ Eun-Ji ♪ Sonja trocava olhares preocupantes com Bora. Como a orientadora tinha deixado que algo assim ocorresse sem nunca avisar autoridades? Quando recebeu a garota em suas aulas, pensou que era apenas mais um caso de bullying, com uma família complicada, mas não
nesse nível. Ela ficou desconfortável, cruzando os braços. Precisava conversar urgentemente com Bora quando terminassem de deixar a garota em casa. A professora de música nem sabia o que falar para uma pessoa que repetia com a maior naturalidade as atrocidades que vivia em casa.
A orientadora apenas disse um triste: “Eu sei, querida...eu sei…”.
Sonja lançava olhares gritantes de alerta para Bora, que apenas reagia com a ternura de sempre.
Quando foram embora, era um alívio para as três pessoas no carro, até que a menina pediu para parar o carro, em prantos. Bora pensou que ela pudesse estar passando mal (e de certa forma estava, no coração), e encostou o automóvel.
A moto, o figurino, a estatura, os cabelos… Não havia dúvida de que era ele.
Sonja olhou para fora e sabia que aquela roupa era a mesma da pessoa que ficou em pé na plateia. Algo que Bora não diria, mas que a professora achava que a menina precisava saber:
- Sim, Eunji… era ela - sua voz saiu um pouco sem vida, sem saber se estava fazendo a coisa certa. Provavelmente não, porque Bora a olhou dando uma bronca silenciosa. Sentia todo seu esforço em tentar reanimá-la indo por água abaixo. Suspirou pesadamente.
Bora fechou as janelas, respeitando o luto emocional da garota, e trocou a rádio para o canal de trânsito. Eram os congestionamentos mais melancólicos do dia. A orientadora não forçou conversa. Abriu a porta do carro para ela e a trouxe para fora, na tentativa de comerem algo no restaurante.
Sonja ficou no carro, e Bora desceu com ela, indo até a porta. Viu que a menina mal respondia o boa noite, então antes de tocar a campainha, parou de frente para ela, abaixando-se a sua altura e a segurou para os ombros.
- Querida, eu te amo, está bem? Apenas durma. Amanhã será um novo dia. Sempre chegará um novo dia. Lembre-se disso por favor. - Bora a puxou para um abraço forte, mesmo que fosse unilateral. Mesmo que não fosse sua mãe. - Quero que tente se lembrar de toda e qualquer coisa feliz. De como estava linda. De como teve o apoio de suas amigas. De como eu e a Sonja viemos só para te ver e amamos como cantou com todo o seu coração… - passou os dedos debaixo de seus olhos, para secar o rostinho dela. - Você vai ser feliz. Eu te prometo, querida.
A professora secou o próprio rosto com um lencinho e tocou a campainha. Jeong não demorou nem um segundo, como se já estivesse atrás da porta e apareceu com o radiante mau humor de sempre. Olhou a filha como um pedaço de qualquer coisa e pediu que ela entrasse. Despediu-se da senhora Bora e fechou a porta na cara dela.
A filha toda carente veio abraçá-la e ela começou a falar alto.
- Ai, o que é isso, garota? - segurou seus braços para tentar soltar do abraço, mas ouviu suas palavras. Pela primeira vez que se lembrava, Jeong não empurrou a menina no chão ou gritou com ela. Olhou bem em seus olhos com uma expressão enigmática. Era muito difícil interpretar o que estava ali. Mas era… diferente. Até que um estalo a fez voltar ao normal. - Está debochando de mim? ESTÁ DEBOCHANDO DE MIM? Me solte e vá para o seu quarto, antes que eu te dê uma lição.
A mãe saiu andando meio brusca, sem lhe dar nenhuma tarefa naquele dia. Era até esquisito, mas ela não toleraria nenhuma conversinha, apenas gritando para que fosse para o quarto.
Mais do que nunca, o quarto de Eunji parecia ainda menor. Limpo, simples, e com ares de hospital que sua religião exigia, exceto pelas bonecas. Suas roupas a incomodavam como nunca antes. Não faziam parte dela. A ausência do telefone, dos amigos, de carinho e afeto… tudo ali não combinava com o que já tinha sentido de diferente no programa. Seu coração pedia por mais e era por isso também que a sensação de perder Dam doía tanto e coisas aconteciam dentro dela que ela nem podia imaginar.
Antes acostumada com o sofrimento, parecia que nunca, e aqui essa palavra era bem empregada, lhe fez diferença ser bem ou mal tratada em casa, pois era tudo o que conhecia nos abusos em casa. Mais de uma vez ela deixou de enxergar o que de bom lhe acontecia, presa nas experiências passadas.
A partir do momento que experimentou dar seus primeiros passos para fora, descobriu o amor, a amizade, o afeto e a alegria. Enquanto os vivia, não pareceu perceber o quanto realmente sua vida estava se transformando, cercada por amigos e até seu primeiro amor, sempre focada na tristeza que lhe puxava novamente em casa. Mas agora, que sentia como se tivesse perdido tudo, ela talvez ainda não conseguisse se dar conta da lição importante que poderia aprender.
Ironicamente, o próprio reconhecimento de sua tristeza e a sensação de que tinha perdido tudo significava duas coisas: a primeira, é que tinha experimentado a felicidade. A segunda, é que era possível que seu inconsciente tinha começado a rejeitar as experiências passadas de sofrimento e não queria mais repetir esse ciclo.
♪ Yuki ♪ Taegyu aceitou a resposta da irmã um pouco a contragosto, engolindo seus pensamentos. Sentia que estavam se afastando, que ela estava naquela idade em que não dividiria mais seus problemas com o velho irmão. Sentia que precisaria apelar para seu "contato secreto". Não queria ser um espião na vida da garota, mas era o que lhe restava para saber se ela realmente estava bem.
Em casa, a expressão chateada da mãe se transformou um pouco, enchendo-se de algum brilho aliviado. Ela até chegou a sorrir, mas fez uma expressão preocupada quando ela mencionou Minsoo.
- Min-soo é o rapaz de antes, certo? - parou, olhando a filha atentamente. - Yuki-chan, por acaso você está... - notou que ela desviava o olhar e achou bonitinho, fazendo um carinho em seu rosto e a ouviu falar até o fim então. - Sua amiga já está melhor? Uma jovenzinha tão recatada, mas tão expressiva no palco... Por favor, nos dê notícias dela. Quanto ao restante... Eu entendi. Vou explicar a ele, não se preocupe. - sorriu. - Ficamos muito nervosas na frente de quem gostamos, não é mesmo? - levou a mão à bochecha, tendo recordações da juventude. - Ah, Yuki, eu quero que você não se iluda com rapazes como ele, por favor. Meu coração ficou apertado ao pensar que nós poderíamos ter atrapalhado você, mas agora que entendo qual foi o problema, fico feliz que não foi o caso. Mas eu preciso lhe dizer mais uma coisa agora que está ficando crescida e se mostrando ao mundo, querida. Embora eu e seu pai concordemos que aquele rapaz é muito educado e gentil, acho que entende que ele não faz parte... - a mãe respirou fundo e evitou olhá-la, agora com uma expressão entristecida. - do
nosso mundo... É difícil exigirmos mais do que simpatia de pessoas como seu amigo. Não quero que pense que é menos do que ninguém, não, isso não. Porque não somos! Mas não é assim que eles foram criados, querida... infelizmente. Nossa casa continuará aberta para que venha comer Bibimbap, é claro. Mas, Yuki, para o seu bem, ouça o que eu tenho a dizer: por favor, tire esse rapaz da sua cabeça o quanto antes. Não quero que sofra demais. Está bem? - era muito difícil para a senhora Kazuko dizer aquelas duras palavras para Yuki, e era provável que ela
já soubesse das dificuldades que a filha enfrentava socialmente por causa deles, mas agora não queria que ela sofresse a decepção de um coração partido por expectativas irreais. Era a mania dos pais de dar conselhos que não seriam seguidos, na vã tentativa de evitar a dor dos filhos.
Então mais um capítulo chegou ao fim. Gostaria de agradecer pelo apoio de vocês sempre. A história deve acabar no 6, então peço paciência e vamos tentar encerrar esse joguinho juntos! Estou fazendo o meu melhor, podem ter certeza. E quero que vocês tenham cenas interessantes e momentos memoráveis aqui dentro.
Espero que ainda estejam curtindo. Fighting.
Ah, podem responder uma última vez, claro.
Gostaria muito de saber se vocês têm planos para os dois dias de folga que vocês têm. Se tiverem, escrevam em algum lugar no post. Se não, eu vou preparar a meu modo, ok?
Enfim, obrigada de verdade! E desculpem qualquer coisa.