A Torre de Marfim

O grupo ainda estavam no começo do corredor, banhados pela rara luz da lua que ali chegava. O ar de dentro da Torre era frio e estagnado, dava uma sensação estranha, misteriosa, era quase palpável.

A sua frente não enxergavam muito do que se encontrava adiante no corredor. Com a visão se habituando a escuridão, se tornava discernível algumas silhuetas do que deveriam ser suportes para tochas nas paredes. A mais alguns passos na escuridão, outras silhuetas maiores eram visíveis, se encontravam paralelas na parede da esquerda e da direita, provavelmente eram portas para os cômodos do primeiro andar. Mas seria difícil ter certeza, ou avançar, sem alguma fonte de luz.

Hastur teme pela pronuncia do seu nome, ele entendia o poder dos nomes, e seus perigos. Por sorte as forças daquele lugar não se pareciam com a entidade que o atormentava, era uma feitiçaria diferente, mas nem por isso menos tenebrosa. Sombra retornará as convulsões que estava tendo antes, ainda que fossem esporádicas, o intervalo entre elas parecia diminuir em um ritmo notável.

O mais tranquilo parecia ser Bhori que descansava em um canto, mas isso era apenas na superfície. Os mais atentos notariam na face do homem uma clara careta de dor, ainda que o rosto queimado do homem já passasse essa sensação, dessa vez parecia ser pior...

Hastur toma o papel de organizar a situação, e chama para que um dos mais combatentes ali se adiantasse e cuidasse da vanguarda. De imediato Raizen avança, com arma e escudo em mãos, para averiguar a porta apontada pelo feiticeiro. Enquanto isso a Caçadora tentava conversar com o Guerreiro, que estava escorado na parede, mas seus chamados são ignorados, afinal, Bhori dormia. De perto Lili podia ver que não era só dor que estava estampada no rosto do homem, tinha também medo, horror.

Bhori se via num corredor composto de pura escuridão, ele corria, de longe ele podia ver chamas, de um tom vermelho, não era as cores de um fogo normal, era um vermelho ainda profundo que o do sangue. Esse fogo devorava o espaço e avançava vorazmente em direção ao guerreiro, o mesmo que corria em desespero, mas todo seu esforço era falho, quanto mais ele corria, mas o fogo avançava, até que as labaredas rubras o alcançaram…

O Guerreiro abre seus olhos em sobressalto. As memórias do sonho ainda queimavam na sua cabeça, deixando uma marca profunda no homem, seu corpo parecia descansado, mas sobre os efeitos desse pesadelo, sua mente continuava tão cansada quanto antes. E em contraste com o calor mortal que esperava sentir em seus sonhos, na realidade, era frio que o homem sentia, como se em seus braços segurasse uma estátua de gelo. E não estava longe disso, já que Zaphyra ainda estava em seus braços, e a garota, que já tinha uma pele branca, agora parecia quase que feita de neve, até mesmo a sensação de frio ao tocá-la era parecida daquela de tocar neve.

Enquanto isso Raizen avançava cautelosamente para dentro da Torre, logo depois seguido pela Caçadora que empunhava uma adaga, pronta para qualquer ação mais hostil. Passos cuidadosos os levam a porta da esquerda, ela era de madeira simples, áspero, com um puxador de ferro que dava uma sensação fria ao toque. Ao abrirem a porta o dois se deparam apenas com a mais pura escuridão, como se as trevas tivessem tingido o ar de dentro do quarto, era certo que aquele quarto não tinha nenhuma janela ou fonte de luz aparente, tornando impossível identificar qualquer coisa dentro.

O Guerreiro dormia, ignorando por completo o chamado de Lili. Suspirando a jovem toca a testa do homem, a sensação da sua pele era morna, ele não parecia nem febril e nem fria. Após tirar sua atenção de Bhori, Lili ouve Hastur e Raizen chama-lá, pedindo por uma tocha, mas infelizmente nenhum dos três tinha uma.

Felizmente a voz rouca e profunda do Guerreiro é ouvida. -A Sombra tem algumas tochas com ela. Podem pegar uma. Dizia ao pegar uma tocha na mochila e oferecer a Lili. Aparentemente ele tinha acordado enquanto conversavam sobre a tocha. Ele estava pálido, assustado, mas aos poucos a cor voltava ao seu rosto enquanto o mesmo pegava a jovem ladina em seus braços. -Podemos continuar? Indagava Bhori enquanto Lili entregava a tocha para Hastur, declarando que ela demoraria muito tempo para acender a tocha.

Após acenderem a tocha, finalmente podiam ver os detalhes do ambiente. O chão e as paredes do corredor e dos cômodos paralelos pareciam comum, composto do mesmo material branco-leitoso da entrada, mas sem o brilho sobrenatural que as paredes do lado de fora pareciam ter. O corredor não tinha nada mais que as entradas para os dois cômodos paralelos e alguns suportes de tocha, o resto do corredor ia além do que a tocha podia iluminar no momento.

Os dois cômodos, por outro lado, podiam ser totalmente iluminados pelas tochas, e eles eram completamente iguais. Duas camas simples, e pouco confortáveis, se encontravam nas duas extremidades de qualquer um dos cômodos, e do lado contrário da porta se encontrava um simples armário de madeira desgastado, já destacando seus muitos anos de uso. E era apenas esses os móveis de cada um dos cômodos, possivelmente não eram mais que o quarto dos empregados.