Com a mesa limpa e o aposento iluminado pelas tochas e pelas velas, Shayla dá início à sua pesquisa pelos documentos antigos. Muitos deles estão em élfico, sendo, pois, indecifráveis para ela. Talvez algum especialista possa traduzi-los.
A busca segue surpreendentemente rápida, como se a sede de conhecimento da elfa tivesse acelerado seus movimentos e sua leitura. Em uma hora, metade dos pergaminhos já foram abertos e analisados. Entre os que estão na Língua Comum, a maior parte são registros de nomes e datas sem muita importância, enquanto outros são poemas e canções.
Aproveitando da eficiência de sua pesquisa, a maga começa a também procurar pelas prateleiras qualquer item ou compartimento oculto, ou algum pergaminho que não esteja tão visível. Essa procura, entretanto, mostra-se infrutífera.
Já chegando nos últimos documentos, Shayla abre um pergaminho que parece interessante. É antigo, bem antigo, com suas bordas amareladas já se desfazendo. Também a tinta da escrita original em élfico quase se evanesceu por completo, sendo quase ilegível. Felizmente, alguém escreveu uma tradução para a Língua Comum no verso do pergaminho, com a tinta mais nítida indicando que aquilo foi um trabalho recente. Aparentemente, trata-se de uma carta.
Um nome conhecido imediatamente salta aos seus olhos: Siona. A elfa que estava no centro da confusão que deu início à Segunda Marcha Exaltada e levou à expulsão do povo élfico dos Vales. Muito mistério ronda aquela época, já que poucos registros restaram, e as versões da Chantria e dos elfos Valeanos são contraditórias em muitos pontos. Se aquilo é de fato um documento tão antigo, seu valor é inestimável.
- carta:
Elandrin, nosso irmão.
Deixe que aqui seja mantida a verdade, para que não sejas tu lembrado como um traidor, nem que nosso sofrimento pareça uma aflição passageira.
Apesar de teres jurado servir nosso povo, houve aqueles que questionassem teu coração.
Lutáramos amiúde contra humanos ao longo de nossas fronteiras, até que o começo evanescesse da memória. Rumores de um rapto surgiram. Como é costumeiro, a Chantria foi rápida em espalhar inverdades. Com pressa e com raiva, eles mataram a irmã de Siona por vagar perto demais da trilha dos caçadores. Tu carregaste o corpo dela de volta a nós e lamentaste conosco - teu coração, todavia, estava distraído. Siona implorou por vingança, e tu viraste tuas costas a ela.
Cada vez mais, tu desaparecias sem palavra ou explicação. Quando surgiram murmúrios de que tu te jurarias ao Criador deles, nós tememos o que estava por vir.
Siona buscou salvar-te, trazer-te de volta a nós. Ela perdera uma irmã, teria que perder também um irmão? Sob as árvores vislumbrou-te com uma mulher, aquela que te afastou de nós. A mulher gesticulava em direção à vila. Tu e ela viraram-se para contemplar os muros da Chantria.
Siona retornou. Ela contou-nos como os humanos estavam virando-te contra nós. As mentiras deles deviam ter te preenchido. Como um servo leal da causa do Criador, tu trairias nossos segredos. Quando fomos perguntar-te se havia alguma veracidade nisso, tu já havias partido.
Assim, nós buscamos parar-te. Apressadamente, Siona levou seu povo até a vila. Lá, nós confrontar-te-íamos. Lá, nós trazer-te-íamos de volta para nós... ou para a justiça. Na penumbra de uma noite sem lua, ela visualizou Siona através das árvores e correu em sua direção, um grito em seus lábios e algo em suas mãos. A flecha de Siona voou. E assim tombou a mulher, o nome "Elandrin" morrendo em seus lábios, e margaridas escorregando de suas mãos.
Os homens da vila suspeitaram da fuga da moça, e ouviram seu grito. Eles caíram sobre os elfos, mas não foram páreos.
A pressa de Siona superou a tua. Tu ajoelhaste sob as árvores, pétalas ensopadas de sangue grudando em suas vestes em um último abraço. Quando mais humanos vieram, tu não te moveste - e eles não escutavam. As flechas encontraram teu coração, e tu caíste ao lado dela. Nós achamos teu corpo no rio onde eles atiraram-te. Ela foi tomada pelos outros de sua raça. Não foi o fim, mas tua parte passou.
Descansa agora como um irmão honrado novamente. Uma grinalda de margaridas em teu arco, a carta que ela carregava em tuas mãos. Quem quer que te guie, quem quer que a guie, que vossas almas encontrem-se uma vez mais no Além.
Junto está um pedaço menor de pergaminho, rasgado e manchado de sangue, assinado por Elandrin. Provavelmente, a carta que Siona carregava quando foi morta. Ambos deveriam estar junto ao elfo em seu túmulo, mas, por algum motivo, foram parar ali.
- carta de elandrin:
Adalene,
Que importância dou eu por deuses que não vi, por um Criador que eu desconheço? Que os outros distraiam-se com preocupações tão elevadas. Eu conheço apenas esta vida, eu vislumbrei apenas este mundo, e eu importo-me apenas contigo.
Talvez tua sacerdotisa desconfie da sinceridade de elfos "selvagens". Se ela precisa ouvir-me dizer que sigo o Criador, que assim seja. Vosso deus intercede tanto quanto os nossos. Minha vida não se alterará.
Eu retornarei em duas semanas. Meu coração anseia por ti até lá, e depois continuará contigo para sempre.
Elandrin
Aquelas duas cartas são muito mais importantes do que Shayla pensou a princípio. Nelas, está descrito com detalhes o conflito que ocorreu na vila de Travessia Vermelha, e que foi o estopim da Marcha Exaltada. Uma história de amor entre um elfo e uma humana, que, depois de uma série de mal-entendidos, chegou a um fim trágico. Nem a versão da Chantria nem a versão dos Valeanos está correta.
Tais informações, se tiverem sua veracidade comprovada, podem valer muito dinheiro. Especialmente se vendidas à Chantria, que pagaria muito para não ter vazada qualquer versão destoante da por eles anunciada. Por outro lado, os elfos Valeanos também teriam muito interesse nesses pergaminhos, para provarem ao mundo que eles não matavam humanos por mero prazer, e que o conflito foi apenas um mal-entendido.
De qualquer maneira, a Chantria tem acesso ao mapa e, consequentemente, à localização daquela biblioteca oculta. Qualquer documento que ali restar será, com certeza, confiscado e estudado pelos especialistas religiosos. O que quer que Shayla deseje preservar dos olhos das madres, terá que levar com ela.
- off:
Perdão pela demora pra postar, mas porque é um post caprichado XD
Ambas as cartas aparecem em
Dragon Age: Inquisition. Eu traduzi do original tentando usar um português mais arcaico para melhorar a ambientação. Espero que tenha ficado bom e.e
Mas agr estamos a um post do desfecho do prólogo
dps de vc decidir o que fazer, e se vai acampar aí dentro msm ou se vai sair, eu posto finalizando tudo. Sem mais testes (a n ser que vc tente fazer mais alguma coisa XD), agora é só
roleplay