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    Ayana Ngozi

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    Mensagem por Rosenrot Sáb maio 12, 2018 9:51 am


    primeiro dia de aula @ayana

    High School




    Aquele dia tinha começado como qualquer outro das férias de verão de Ayana. Era uma segunda-feira cinzenta e sem cor no céu, mas sua nova casa já estava em movimento. Seus novos pais acordavam cedo para o trabalho. Ela tinha tido um verão interessante, na maior parte de adaptação a sua nova vida e sua nova família. Eles saiam ocasionalmente para coisas como cinema, passeios e Ayana chegou até a "viajar" para a "cidade grande" por alguns dias. Ela tinha um novo quarto, novos brinquedos e uma casa muito maior do que se lembrava de ter tido antes: tinha até um quintal e uma piscina no fundo. Nas férias escolares, ela e Alex construiram uma casa em cima de uma das árvores...

    Mas ainda faltava algo. Ayana tinha contato com os irmãos, mas não era a mesma coisa de viver com os irmãos, assim como sentia falta de ter amigos... Pessoas com quem brincar, crianças da sua idade, portanto a volta as aulas podia encher Ayana de ansiedade e medo. Uma mistura de sentimentos quase inquietante. Aquela manhã, de muitas formas, começou como todas as outras, mas para a Ayana ela talvez tivesse tons diferentes.

    Ela tinha ganho uma mochila nova - a sua escolha - e uma sorte incrível de matérias escolares, Alex e Richard podiam ter optado por colocar Ayana em uma escola mais distante (e melhor), porém achavam que seriam bom para a menina que se frequentasse a High, até porque era possível que os irmãos dela também estivessem lá. Seria bom para ela, eles achavam. Talvez estivessem certos, afinal.

    Naquele primeiro dia, Alex tinha prometido que levaria Ayana até a escola - eles tinham criado um laço maior durante as férias, ele tinha mais tempo livre, já que Richard, como médico, passava bastante tempo no único hospital de Derry. Ele estava do lado de fora da casa, esperando-a no carro, a porta do carona aberta. Quando Ayana chegou, Alex lhe indicou para por o cinto, então sorriu.

    - Pronta? - Perguntou ele.


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    Mensagem por ayana Ter maio 15, 2018 9:03 pm

    Ayana Ngozi Adichie

    Hoje era um dia muito importante na vida de uma garotinha de 10 anos.

    "Meu Deus, meu Deus, será que eles vão gostar de mim?", foi a primeira pergunta que Ayana se fez na manhã do primeiro dia de aula na nova escola. Não era uma pergunta nova. Ontem mesmo, antes de dormir, ela a repetiu mais de uma vez conversando com Deus. Embora ele tenha reiterado que ela encontraria bons amigos, à medida que a hora da verdade se aproximava, ela se sentia mais insegura.

    Era mesmo um dia muito importante, por isso ela saltou da cama agitada como um beija-flor. Precisava de tempo para se dedicar ao visual como faziam as outras meninas ricas e populares. "Meu Deus, será que elas vão gostar do meu cabelo?", pensou enquanto secava e desembaraçava os cabelos diante do espelho. Não ficava bom de jeito nenhum. A solução foi apelar para um método infalível para lidar com os fios desordenados.

    - Papai! - Saiu correndo com os pés descalços e enrolada na toalha - Papai! Papai!

    Encontrou Alex no quarto dele e lhe entregou a escova de cabelo.

    - Faz uma trança pra mim?

    Esta foi uma das habilidades que Alex adquiriu desde que adotou Ayana. Ainda precisava de mais prática, mas foi suficiente para fazer duas tranças irregulares que, na avaliação da garota, estavam quase perfeitas. Só não se comparavam ainda com aquelas que sua mãe costumava fazer, mas um dia ele chegaria lá. Ela mal podia esperar para contar isso aos irmãos: "Meu novo papai faz tranças no meu cabelo igual à mamãe."

    Como de costume, batia um vazio enorme sempre que pensava em Lekan e Chike. Ela tinha esperança que um dia todos voltariam a morar juntos, por isso, num primeiro momento, empenhou-se em falar mal da família adotiva dos irmãos. De fato, ela tinha muita birra do casal Collins desde que a rejeitaram no orfanato.

    Um dia, conversando com Chike por telefone, ela disse que tinha quase certeza de que o sr. Collins era um lobisomem, porque ele era muito peludo e cheirava a cachorro molhado. Richard ouviu tudo. Ficou bravo e muito triste com ela, assim como Alex, quando ficou sabendo. À noite, foi a vez de Deus dizer que também estava bem decepcionado. Profundamente arrependida, ela prometeu para todos eles que jamais contaria essas mentiras de novo. A partir daí, foi necessário recorrer a outra estratégia, que se tratava de exagerar nas qualidades de seus dois papais. Assim, quem sabe os irmãos não sentiriam vontade de fugir para morar com ela?

    Ayana poderia apostar que se pedisse com jeitinho, seus pais aceitariam adotar seus irmãos. Eles já acatavam todos os seus pedidos. Os últimos foram uma mochila vermelha com a forma de uma joaninha, uma caixa da Faber Castell com sessenta lápis de cor e um carrinho de controle remoto que ela daria de presente para os irmãos. Se Deus quisesse, iria encontrá-los ainda hoje, caso estivessem matriculados na mesma escola.

    Estava quase na hora de partir. Ayana correu até Alex, que a esperava do lado de fora da casa. O trajeto até a escola seria bem rápido. Não demoraria nem mesmo se fosse a pé, porém ao contrário da maioria das crianças, ela gostava de ir aos lugares acompanhada de seu papai. Sentou-se no banco de trás do carro ofegante e inquieta, balançando as sapatilhas sem encostá-las no chão. Estava com frio na barriga, ou como papai dizia, havia borboletinhas dentro dela.

    - Pronta? - Ele perguntou.

    Ela olhou para ele com olhos grandes e brilhantes como duas jabuticabas. Não seria capaz de esconder a ansiedade, nem o medo de ser rejeitada pelos novos colegas. Ela engoliu a seco e perguntou com a voz embargada de preocupação.

    - Papai, que que eu faço se as outras crianças não gostarem de mim?
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    Mensagem por Rosenrot Dom maio 20, 2018 11:16 pm


    primeiro dia de aula @ayana

    High School




    A casa de Ayana era repleta de uma paz e uma organização invejável: havia uma moça que cuidava da casa e da arrumação e Ayana tinha uma babá também. Ela era uma jovem de 16 ou 17 anos, que vinha apenas quando os pais de Ayana chegariam mais tarde, era uma moça simpática, mas não gostava muito de brincar ou coisas assim.

    Naquela manhã em especial, Ayana tinha a casa e as atenções todas para ela, praticamente. Os pais tinham mudado os horários para que pudessem passar a manhã com elas e lhes dar mais atenção, foi assim que ela encontrou Alex sem muitos problemas, ao querer sua trança no cabelo.

    Alex tivera que, por algum tempo, procurar instruções de como fazer aqueles penteados, antes de pegar alguma pratica, gastará algumas horas na internet tentando encontrar alguma direção, mas aos poucos foi pegando o jeito e aquilo se tornou menos trabalhoso. Conseguiu fazer a trança - nada muito sofisticado, claro - sem muitos problemas naquela manhã.

    Ele tinha ligado o carro e começava a se preparar para sair, quando a pergunta de Ayana lhe atingiu.

    Alex ficou um momento calado. Não sabia exatamente como lidar com aquele tipo de situação, os livros e as pessoas falavam muito sobre isso ou aquilo, mas a coisa real era muito mais difícil do que qualquer outra coisa. Respirou fundo, manobrando o carro devagar e matutando como responder aquilo.

    - E por quê elas não gostariam? - Arriscou.

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    Mensagem por ayana Qua maio 23, 2018 11:37 pm

    Ayana Ngozi Adichie

    - E por quê elas não gostariam? - Respondeu Alex com outra pergunta.

    Ayana arregalou os olhos mais uma vez. Os dedinhos da mão direita não paravam de abrir e fechar o pingente em forma de coração com a foto da família dentro. Uma mania comum gerada pela ansiedade. Ela desviou o olhar para baixo enquanto pensava. Dependendo da resposta, seu pai poderia ficar magoado, e só mesmo Deus para ter ideia do quanto ela se sentiria mal se isso acontecesse. Naquela hora faltavam palavras. Faltava maturidade para concatenar tantos receios emaranhados como a primeira tentativa de Alex fazer uma trança no cabelo dela. Ayana abriu a boca para responder mas relutou uma, duas vezes. Encheu os pulmões de ar como um patinho prestes a mergulhar e disse atropelando as palavras:

    - Porque eu sou diferente das outras crianças.

    Ela fingia que prestava atenção no abrir e fechar do relicário quando deu uma espiadinha pelo retrovisor na reação do pai. Ele parecia confuso e ao mesmo tempo muito interessado em entender o que ela queria dizer. Era uma expressão que apareceu em diversas ocasiões. Nela, Ayana reconhecia o esforço de Alex em aprender a ser pai. Não um qualquer; ele se esforçava para se tornar o melhor papai do universo!

    - Você sabe… tem umas pessoas que olham pra mim de um jeito estranho e falam coisas baixinho pra eu não ouvir.

    Algumas vezes ela conseguia ouvir os comentários homofóbicos contra seus pais. A relação de afeto entre dois homens e uma criança era o detalhe que mais chamava atenção, mas não era o único. Ayana queria deixar isso muito claro para que seu pai não achasse que ela tinha vergonha quando andavam juntos. Por isso, apressou-se em completar.

    - Só que o maior problema mesmo é a minha cor de chocolate.

    Aqui a preocupação não tinha exatamente a ver com racismo, que na cabeça de uma criança de 10 anos, ainda era um conceito bem subjetivo. Por enquanto, ela nunca havia se sentido discriminada mesmo quando outra criança perguntou se ela tinha nascido na África. Naquele dia, ela respondeu que não e fez questão de enfatizar que seus avós tinham saído da Nigéria para morar nos Estados Unidos.

    Ayana ficou quieta e mais uma vez o olhar acanhado desviou do retrovisor para o relicário na altura de seu coração. Voltou a mexer nele, dessa vez sentindo na ponta dos dedos o baixo relevo de linhas formando desenhos que remetiam a flores. Sentia-se envergonhada, mas não por causa de seu pai. Era como se outras crianças estivessem ao redor do carro, olhando através dos vidros, apontando para ela e dizendo: "É você! A filha do crioulo bêbado! Aquela que foi adotada por duas bichas!"

    Instintivamente, ela olhou para os lados à procura do cobertor. Embaixo dele, nada poderia lhe fazer mal. Só que o cobertor estava em casa, cuidadosamente estendido sobre a cama, cada vez mais distante à medida que ela se aproximava da escola. Em breve, Alex também se afastaria e Ayana teria de desbravar todo um universo de novidades sozinha… o pensamento vinha como um eco...

    Não, não, não e não! Se Deus com toda sua misericórdia estivesse ao seu lado, ela encontraria os irmãos na escola... ou até quem sabe, ele lhe apresentaria ainda hoje amizades verdadeiras e especiais. Daquele tipo que merecia ser guardado em seu relicário, um lugar onde os sentimentos eram eternos.

    "Tomara, meu Deus, tomara!"
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    Mensagem por Rosenrot Sáb maio 26, 2018 1:08 pm


    primeiro dia de aula @ayana

    High School




    Alex ficou em silêncio por um momento: aquele assunto tinha sido muito discutido com Richard, quando ele demonstrou a vontade de adotar uma criança. Sabia que em alguns países por exemplo, a homoafetividade era vista como doença, na América as coisas não estavam tão boas, mas ainda tinham mais direitos: e um deles era o de adotar. A adoção por casais homo tinha aumentado nos EUA, apesar das barreiras legais e eles decidiram arriscar, mas sabiam também o que esperaria a criança que fosse ser deles.

    - Todos somos diferentes e não há nenhum problema nisso. Lembre-se sempre. - Foi a primeira coisa que conseguiu dizer, antes de começar a reunir palavras para continuar. - As pessoas são cruéis, Ayana. Às vezes porque não conhecem algo novo e esse algo novo as assusta, às vezes porque são tristes demais com a vida que tem e a única coisa que as consola e fazer alguém se sentir tão triste quanto elas. - Outra pausa, precisava escolher com cuidado as palavras, afinal ela era uma criança. Uma criança esperta, mas ainda sim...

    - Mas você não deve deixar isso te desanimar ou chatear. Quando a oferecerem essas coisas, você oferece um sorriso ou uma palavra de carinho. Não podemos deixar que controlem o que sentimos, você entende? - Ah, Deus, esperava que sim. E também esperava que as pessoas tivessem um pouco mais de empatia por aquela menininha que já tinha passado por tanta, tanta coisa e merecia não apenas um momento, mas uma vida inteira de pura felicidade, mas sabia - talvez melhor do que ninguém - que as pessoas não pensariam assim.

    Restava desejar e torcer para o melhor.

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    Mensagem por ayana Dom maio 27, 2018 5:57 pm

    Ayana Ngozi Adichie

    - Todos somos diferentes e não há nenhum problema nisso. Lembre-se sempre. - Foi a primeira coisa que Alex conseguiu dizer.

    Desde muito cedo, Ayana teve consciência de que era diferente. Isso aconteceu na época em que Deus começou a visitá-la à noite, dizendo que ela era uma criança especial. Ser diferente era um enorme privilégio! Entre bilhões de pessoas no mundo, Deus lhe entregou o dever de mostrar a todos o caminho da bondade. Assim, o mundo se tornaria um lugar muito melhor.

    A segunda vez que a menina teve consciência de que era diferente foi no enterro de seu pai. Uma multidão havia comparecido. Dias atrás, quando sua mãe foi sepultada, não havia tanta gente, tantos curiosos...

    A descoberta do corpo congelado de Abbe, estirado em uma calçada no centro, rendeu conversas por vários dias na pequena cidade pouco habituada com casos de morte acidental. Alguns veículos de comunicação repercutiram o caso. A única matéria que Ayana viu, talvez a mais completa, foi publicada no dia seguinte no jornal local. Contava a história de um homem que tentava lidar com a perda da pessoa amada, mas que por um descuido acabou se juntando a ela. O autor retratou a tragédia com tanta sensibilidade que fez Ayana derramar todas as lágrimas acumuladas desde a morte dos pais. Em meio a tanta emoção, um detalhe lhe passou despercebido: quem assinava a matéria era um tal de Alex Bernstein.  

    Para alguns, por outro lado, a matéria falava sobre um crioulo - ah, tinha que ser preto mesmo - covarde que encheu a cara no bar e caiu de bêbado na rua. Ora, se esse vagabundo egoísta tivesse ficado em casa cuidando dos filhos, não haveria essa tragédia. Muitos desses cidadãos de bem foram ao enterro. Curiosos, precisavam se sentir ainda mais revoltados com a negligência do pai; precisavam ver quem eram as pobres criancinhas desamparadas. Nem foi necessário apontar quem eram os órfãos. Três pontinhos pretos se destacavam, abraçados como se dividissem o espaço de uma jangada minúscula que navegava por um mar de pessoas brancas.

    Naquele mesmo dia, Ayana reparou que não era apenas a cor de sua pele que a diferenciava. Ao contrário dos irmãos, ela não chorava porque agora precisava permanecer forte para cuidar da família (que depois de alguns meses iria se separar). Como parecia menos abalada, foi a única a receber a maioria das condolências. Muitas pessoas sussurravam que ela era uma menina muito corajosa. E ela ficava se perguntando: "Quem é essa pessoa me abraçando? Será que ela me conhece pra dizer que eu sou corajosa?"

    Ayana repetiu em pensamento a frase que se tornaria uma chave para destrancá-la de um passado que não trazia boas recordações: "Papai disse que não há problema em ser diferente". Em seguida, voltou a prestar atenção no que Alex dizia.

    - As pessoas são cruéis, Ayana. Às vezes porque não conhecem algo novo e esse algo novo as assusta, às vezes porque são tristes demais com a vida que tem e a única coisa que as consola e fazer alguém se sentir tão triste quanto elas.

    A garota não entendeu a segunda parte, talvez porque não tivesse dimensão da crueldade humana. Como seria possível alguém se sentir bem ao fazer outras pessoas ficarem tristes? Quando Ayana estava triste e via que os irmãos também estavam tristes, logo ela dava um jeito de começar uma brincadeira. Foi assim que ela começou a brincar de super-heróis, já que as brincadeiras "de meninas" traziam recordações de sua mãe.

    Em contrapartida, super-heróis poderiam ser tão fortes quanto Deus, por isso não havia nada que eles não pudessem fazer. Ninguém que eles não pudessem salvar. Ao final da brincadeira, exaustos de voar pelo pátio do orfanato, os três se deitavam na grama para tomar fôlego. Como pequenas gotas que caem para anunciar a chuva, Ayana se dava conta de que havia felicidade. Assim como a chuva, não era preciso entender de onde ela surgia... bastava sentir na pele.

    Agora, contudo, ela estava convencida de que a felicidade surgia a partir das brincadeiras. Era essa orientação que ela, como uma futura profetisa, daria para todas aquelas pessoas tristes que só transmitiam mais tristeza. Antes de ela ter a oportunidade de perguntar onde encontraria essas pessoas, seu pai prosseguiu.

    - Mas você não deve deixar isso te desanimar ou chatear. Quando a oferecerem essas coisas, você oferece um sorriso ou uma palavra de carinho. Não podemos deixar que controlem o que sentimos, você entende?

    Ela levantou o rosto com um sorriso largo e os olhos pretos brilhando como sapatos engraxados.

    - Eu vou chamar elas pra brincar comigo, papai! Eu sempre fico feliz quando tô brincando!
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    Mensagem por Rosenrot Qua maio 30, 2018 10:24 am


    primeiro dia de aula @ayana

    High School




    Houve silêncio dentro do carro, enquanto Ayana pensava sobre tudo que tinha sido dito e enquanto Alex pensava se tinha conseguido fazê-la entender o que ele queria dizer. Esses tipos de conversas eram difíceis para ele ainda, não sentia que tinha o toque especial de pais com "experiência", aquele jeito de saber falar as coisas na entrelinhas sem manchar a inocência nas palavras. Mas sabia que aquilo, como fazer as tranças, era questão de prática e que conversas como aquelas ainda iriam acontecer muitas vezes.

    O carro percorreu o resto do caminho que faltava e no instante em que Ayana falou aquilo, Alex encostava na frente da escola. Pode observar as crianças entrando, a maioria desacompanhada: era uma cidade pequena, afinal. Virou-se para trás, sorrindo para a menina. - Essa é mesmo uma ótima ideia! - Ele disse, mostrando bastante entusiasmo na voz. - Caso aconteça alguma coisa, você lembra dos números? - Ele falava dos números de celulares, tanto dele quanto de Richard, mas mesmo que Ayana não lembrasse, os números estavam anotados na agenda dentro da mochila. Soltou o cinto e após a resposta da menina, Alex abriu a porta do carro e saiu, abrindo a de Ayana em seguida.

    Agora não tinha mais volta, ela podia observar a entrada da escola, onde lia-se High School Derry, havia na frente um local para bicicletas que estava ficando cheio, outros carros paravam por ali, as crianças saltavam e corriam para dentro. Ayana até o momento não tinha visto os irmãos, mas esperava poder vê-los. Alex estendeu a mão para ela.

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    Mensagem por ayana Seg Jun 04, 2018 1:24 am

    Ayana Ngozi Adichie

    Se por alguns segundos Ayana pensou que tivesse dito uma bobagem, a reação entusiasmada de seu pai trouxe um grande alívio, como quando alguém ri alto depois de escutar uma piada sem graça. Bastava a aprovação dele para a garota receber uma dose significativa de confiança.

    - Caso aconteça alguma coisa, você lembra dos números?

    Apesar de não se lembrar dos números, Ayana assentiu. Sabia que se fosse necessário, poderia consultá-los em sua agenda. Seria a última hipótese. Se ligasse, os pais ficariam preocupados, teriam de vir à escola e chegariam à conclusão de que ela não era capaz de se virar sozinha. Além disso, pensando bem, a ajuda dos pais não seria muito útil quando o maior receio dela era não conseguir fazer amizades.

    De fato, hoje era um dia muito importante, até porque um resultado positivo dependia, em grande medida, das atitudes dela. E mesmo se não tomasse as decisões corretas, ainda poderia esperar por uma intervenção divina a seu favor. Foi o que Deus lhe prometeu ontem antes de ela pegar no sono. Mas, como sempre, ele disse que só ajudaria se a situação fosse bem complicada. Por mais emburrada que ela ficasse com tal restrição, não havia mais choro nem vela, afinal Deus também deveria zelar pela vida de milhões de outras de garotinhas.

    Assim que o carro parou em frente à escola, Ayana esticou a cabeça até quase encostar no vidro de trás. Como num jogo de caça-palavras, seu olhar percorreu a área do colégio à procura dos irmãos. Não havia sinal deles e nem motivo para desespero. Só mesmo por uma coincidência divina, ela conseguiria encontrá-los logo de cara. E bem, como já foi dito, Deus não estava disposto a lhe entregar tudo de mão beijada.

    De repente, o corpo de Alex tomou todo seu campo de visão, o que lhe gerou um pequeno susto, um pulinho para trás e um apertão na mochila envolvida em seus braços. Ele abriu a porta do carro e ela saltou. As sapatilhas fizeram um estalo único sobre a calçada. Ayana olhou ao redor e mais uma vez não encontrou ninguém conhecido. A ansiedade, uma brisa gelada dentro da barriga, estava se intensificando… bem devagar... e então... (ela olhou para cima e viu o sorriso do papai que se replicou nos lábios dela) parou. Algum dia caberia entender como foi possível os dois estabelecerem uma conexão tão extraordinária ao longo das férias. A filha abriu um pouco os braços e logo em seguida o pai se agachou para abraçá-la. Ao se agarrar no pescoço dele, Ayana lhe deu um beijo no rosto e sussurrou:

    - Não fica preocupado, tá! - As palavras serviam de alento para ele e para si mesma.

    - Eu amo você! - E deu mais um beijo.

    Outras crianças ficariam constrangidas em estabelecer qualquer interação afetuosa com os pais na frente de tantas pessoas. Ayana, por outro lado, não tinha a menor noção de que estaria transgredindo alguma regra natural e implícita de convivência. Para quem havia passado pela dor da perda, era difícil resistir à tentação de abraçar e sentir o calor vivo dos familiares.

    Entretanto… assim que se desgarrou do pai, Ayana se virou em direção ao colégio. Algumas pessoas olhavam fixamente para ela, para o seu pai e até mesmo para o carro. A princípio, pareciam olhos felinos mirando a presa em uma noite escura. Ela engoliu a seco e deu alguns passos curtos e indecisos do caminho pelo qual deveriam seguir.
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