Bloody escreveu:- Senhor Maynard, por acaso o ofício do timoneiro é conhecido de toda a tripulação? É algo muito difícil? Gostaria de ouvir falar e talvez aprender sobre ele, se não for pedir muito.
O capitão Maynard estava com uma bússola e um mapa ao lado de um marujo manejando o leme. Ele levantou os olhos quando Blöodgar'mindel aproximou-se, ouviu as perguntas dele segurando o cachimbo e deu um meio sorriso ao responder:
- Ah, senhor elfo! Tenho certeza que é muito mais inteligente que eu, mas manobrar um navio assim exige esperteza, força e habilidade. Além de mim mesmo e do Sr. Volantis aqui, só há mais dois tripulantes que eu confiaria para essa posição. Se estivéssemos a favor da corrente e do vento, seria fácil e até o senhor mesmo poderia aprender rapidamente a dirigir o navio. Mas quando navegamos a contravento, temos que marear a no máximo 6 quartas da proa... quer dizer, imagine que estamos ziguezagueando na diagonal, então em vez do vento nos empurrar para trás, ele nos leva para frente. Não é tão rápido, mas nos faz vencer a corrente. Mas isso exige força pra manter o leme firme, atenção para a inclinação do barco e para a direção do vento. Está vendo esse mapa? Se estivéssemos descendo o Arden, levaríamos apenas uma semana de Valachan a Mordentshire, mas indo contra a corrente e bolinando, vamos levar três semanas para a viagem completa. O ponto onde vocês desembarcarão deve ser alcançado em 5 a 7 dias.
Denna escreveu:- Senhor Marsh, gostaria de aprender um pouco de rastreamento náutico, pode me ensinar?
Denna subiu até o cesto do mastro e encontrou o pequeno e magrelo Moses Marsh, que a olhou com uma expressão fria e quase antipática. Numa voz áspera com uma entonação casual, ele respondeu:
- Você tem olhos e boca, então só o que falta é prestar atenção. Nós aqui no cesto somos a orientação para toda a tripulação, temos que avisá-los de qualquer coisa que vemos. Melhor seria saber exatamente o que está vendo, mas às vezes é melhor avisar logo sobre algo que você ainda não entendeu bem o que é, por exemplo quando o navio pode colidir com ele. No mar, qualquer sinal de terra deve ser comunicado imediatamente, mas no rio Arden nós enxergamos as margens quase o tempo todo, então os alertas são pra bancos de areia ou outras coisas levadas pela corrente. O ideal, se você foz capaz de calcular, é informar a distância. Se você tiver familiaridade com graus, você pode usá-los para indicar a direção. O mínimo que você precisa saber é diferenciar bombordo e estibordo, que alguns chamam de boreste; olhando para a proa, bombordo é o lado esquerdo do navio, e estibordo é o lado direito. Agora, se quiser ficar aqui, vamos prestar atenção no curso, certo?
Andrei escreveu:- Meu camarada, eu aceita alguma ajuda com o cordame? Acho que aqui posso ser útil e ainda aprendo alguma coisa.
O sorriso de Gallen se abriu amplamente de novo, exibindo seus dentes brancos e brilhantes.
- Ora, mas é claro, meu amigo! Sabe, a maioria da tripulação não dá muita importância para isso até precisarem de uma corda. Se você reparou, em cada canto da amurada tem um rolo de corda pronto para ser usada, mas o truque é o nó que damos na ponta de cada cordada. Cada nó tem um modo de fazer e uma utilidade diferente. Olhe esse aqui...
Gallen falava muito, quase tanto quanto sorria, mas pelo menos entendia do assunto. Após algum tempo observando e tentando imitar, Andrei já tinha pelo menos conhecido quatro tipos diferentes de nós, embora refazê-los quando precisasse seria um pouco mais complicado.
- Nós:
Krystofor escreveu:- Não te preocupas na viagem, pois o Senhor das Manhãs está conosco.
Krystofor percebeu que a maioria dos marujos tinha uma reverência especial por Ezra, que eles chamavam de Nossa Guardiã nas Brumas, mas todos mostraram apreciar ter um sacerdote do Senhor da Manhã a bordo, e não faziam objeção às preces que ele se empenhava em fazer.
No meio da manhã, Ed Eaton passou pelo convés, distribuindo um gole de rum para todos, "para espantar o frio", nas palavras dele. De fato, o frio úmido carregado pelos ventos fluviais parecia pior agora do que no litoral da Baía Arden. Ao meio-dia, Ed tocou um sino e chamou todos para junto de um caldeirão, onde serviu a cada um uma tigelade lata contendo um ovo cozido, um ensopado de peixe e uma espécie de farofa temperada com vegetais. Junto, uma caneca de cerveja.
Na metade da tarde, quando o Sol já tinha se escondido atrás de nuvens cinzentas, deixando apenas uma claridade pálida, todos estavam de volta às suas ocupações.
Denna ouviu o sr. Marsh prender a respiração repentinamente e ficou alerta. Moses apontou um pequeno vulto sombrio descendo com a correnteza do Arden, no sentido oposto ao do Pantera do Rio.
- O que é aquilo? Um barco a remo? Mas sem remos?
A confusão do vigia não durou e no instante seguinte o grito dele ecoou por todo o convés.
- HOY! Estou vendo algo! Parece um barco a remo! Dez graus a bombordo, cerca de meia milha, e se aproximando!
Todos no convés correram para a amurada e forçaram a vista, inclusive o capitão Rivers. Parecia ter alguém deitado no pequeno bote. Maynard logo gritou:
- Sr. Gates! Prepare as cordas, vamos puxar aquele barco!
Gallen sorriu de modo tenso, mas com prontidão disse:
- Aye, capitão! Vamos, senhor Koz, me dê uma mão aqui! Vamos usar um nó duplo para laçar aquele barquinho!
Com a ajuda de Andrei, Gallen rapidamente capturou a extremidade do barco desconhecido. Eles envolveram também a popa em outro nó e o içaram até o convés.
A pequena embarcação era mais uma canoa rústica que qualquer coisa, e em seu interior havia uma mulher jovem de longos cabelos loiros cacheados, deitada e de olhos fechados. Em suas mãos, um pequeno livrinho. Apesar do semblante sereno que ela exibia, bastou um toque em sua pele para Andrei e Gallen constatassem:
- Bote:
- Ela está morta, capitão!
Ao lado de Bloody, o capitão fez um sinal de proteção.
- Ezra, Nossa Guardiã nas Brumas, nos proteja! O que causou a morte dela?
Gallen não sabia, e Andrei também não viu nenhum sinal de violência no corpo da jovem. Os tripulantes pareciam receosos até de tocar no cadáver.
Rivers sentiu a necessidade de dizer alguma coisa, e falou:
- Padre Krezkov, o que acha que devemos fazer?