A Matilha Platinada

Com a posição de Juno e Sumé, Valentine e Edgar deram por decidida a questão. O phillodox quis deixar bem estabelecido o combinado:

- Então amanhã à noite eu irei à assembleia no Grande Caern, e Valentine irá ao Caern do Urso Pardo. Vocês deverão proteger os três filhotes durante todo o dia, durante a noite e até o nosso retorno, entenderam?


Após a noite bem dormida, os três filhotes acordaram cheios de energia. Edgar e Valentine estavam se preparando para as assembleias e não estariam disponíveis, deixando que Juno e Sumé tomassem o controle da situação.

Juno passou o dia todo tentando ensinar os três filhotes a vestir roupas e portarem-se como humanos, com resultados variados: Breno rasgou os fundilhos de uma calça em um movimento mais brusco e demonstrava não estar nem um pouco à vontade. Tiê e Paloma estavam bem mais entusiasmadas com as peças de vestuário, mas ainda estranhavam as roupas mais justas ao corpo. Nenhum deles conseguia entender como usar os cadarços. Juno sabia que teria que fazer o ritual de dedicação ao talismã para evitar que as roupas se rasgassem na primeira mudança de forma dos filhotes.

Em algum momento da tarde, os Filhos de Gaia mais experientes saíram para suas missões, de modo que ao cair da noite estavam na base apenas Sumé, Juno e os três filhotes.

Sumé aproveitou o silêncio da noite para ensinar aos filhotes sobre as criaturas sobrenaturais do mundo. Ele falou sobre os vampiros, mortos-vivos que se disfarçavam entre os humanos e sugavam o sangue deles para manterem sua não-vida. Falou sobre os metamorfos além dos garous e como eles tinham sido levados à beira da extinção pela Guerra da Fúria dos garous, o que os fazia odiarem os lobisomens. Falou sobre os magos, pessoas que conseguiam alterar a própria realidade ao custo de exaurir a energia sagrada da Mãe Terra. Sobre as fadas, criaturas de sonho à beira do desaparecimento na era moderna e cínica da humanidade. O uktena também abordou os diversos espíritos, principalmente os corrompidos pela Wyrm, detalhando suas diversas hierarquias, aparências, poderes, origens e hábitos. Nem tudo que Sumé disse era exatamente verdade, caindo muito mais para uma interpretação sob o ponto de vista tribal do que fatos comprovados, mas as histórias eram coerentes... e assustadoras.

Sumé não percebeu o quanto estava deixando os filhotes tensos e receosos, e de repente Paloma voltou para a forma lupina uivando ruidosamente, e logo Breno também mudou de forma, passando a latir furiosamente para todas as direções. Tiê tentava tranquilizar os irmãos mas a balbúrdia foi tamanha que ela só fazia aumentar a confusão. Até mesmo do outro lado do complexo seria possível para Juno ouvir o que se passava.


Valentine retornou apenas no meio da tarde do dia seguinte à assembleia, e sua postura e expressão não disfarçavam em nada suas preocupações.

Assim que a viram, os filhotes correram para ela, ainda assustados, e ela concedeu vários minutos para escutá-los com atenção.

Quando ela finalmente encontrou Juno, Valentine estava levemente irritada, embora disfarçasse bem.

- Juno, acho que cometemos um erro. Uktenas tem uma reputação sombria, e nesse caso acho que é merecido. Então quero que você se encarregue da educação dos filhotes, e não deixe-os mais sozinhos com o ragabash, entendeu?


Não foi até a manhã do segundo dia após a assembleia que Edgar retornou à base. Estava cansado e abatido, e parecia bastante desanimado.

Valentine se reuniu com ele e logo os dois foram falar com Sumé juntos.

-- Fui informado que você não está se dando bem com os filhotes. Não o culpo, nem todos são bons professores. Mas temos que pensar no que é melhor para os filhotes...

A theurge disse:

- Você poderia ter falado coisas mais úteis para os filhotes, coisas que eles poderiam usar imediatamente. O arqueirismo foi um fiasco, e suas instruções sobre ocultismo foram bastante traumáticas. Isso não é nada bom.

Edgar retomou a fala:

-- A situação na cidade está explosiva. Há guerra iminente, e os movimentos já estão acontecendo. Garous contra garous. Temos que sair daqui, tirar os filhotes daqui para a segurança deles. Vamos levá-los para ficar com Parentes, sem nenhum lobisomem por perto. O que você pretende fazer?

Valentine disse:

- Estamos aprendendo a confiar em você ainda, Revogador-de-Certezas, mas não podemos errar com os filhotes. Se concordar em obedecer Juno em tudo, podemos permitir que acompanhe ela e os filhotes para esse retiro.


Mais tarde, os dois veteranos falaram com Juno.

-- Juno, prepare os filhotes para viajar. Temos que tirar vocês daqui o mais rápido possível. Vamos levá-los para a Fazenda Mornigstar, em Parksville. Você deve ficar lá por um mês, treinando os filhotes do melhor modo que conseguir. Se daqui a um mês as coisas tiverem se acalmado aqui em Vancouver, levaremos vocês para uma assembleia no caern do Pássaro de Fogo. Vai, se apronta!

Sumé escreveu:- Tudo bem - Preparava-se para se retirar, mas a curiosidade foi maior, e ele perguntou, não conseguindo disfarçar o interesse na voz - O acordo, caiu?

Edgar suspirou e disse:

- É mais complicado que isso... Em sua maioria, os garous que residem na cidade de Vancouver ainda apoiam o velho presa de prata, Montgomery Abercorn, enquanto os garous de fora da zona urbana estão alinhados com os irmãos Luís e Victoria Corte-Real. Todas as tribos racharam com parte apoiando cada lado. Espera-se um ataque dos revoltosos a qualquer momento em qualquer lugar da cidade de Vancouver, e não há defensores suficientes para cobrir todos os lugares possíveis. Os Filhos de Gaia estão tentando reconciliar os dois lados, mas até entre nossa tribo há discordância sobre o melhor caminho a seguir. É por isso que vamos tirar os filhotes daqui, para afastá-los de qualquer violência entre garous, até que tudo se resolva.

Juno não teve muito trabalho para aprontar Breno, Tiê e Paloma para a viagem. Eles estavam olhando com receio para Sumé, mas isso poderia ser devido a seus trejeitos lupinos ainda bastante presentes.

Contrário ao que Valentine sempre preferia, a viagem não seria feita pela Penumbra, para evitar encontrar qualquer garou combativo. Infelizmente para os filhotes, fazer o caminho na forma lupina também estava fora de questão. Edgar tinha alugado um carro elétrico, uma minivan, para levar todos ao destino. 

Spoiler:

Edgar assumiu a direção, Valentine no banco de passageiro ao lado, Juno e Sumé ficaram no banco do meio, e os três filhote no banco de trás. Isso permitiu que Valentine conversasse com Juno e Sumé durante as quase duas horas de viagem.

- Estamos levando vocês para ficar na Fazenda Morningstar, um reduto de Parentes dos Filhos de Gaia da Colúmbia Britânica. É uma fazenda de produtos vegetarianos e veganos, com experiências de tratamento humanitário de animais. Os trabalhadores são imigrantes e descendentes deles de várias partes do mundo, mexicanos, filipinos, africanos, asiáticos, e nem todos são Parentes, mas é razoavelmente seguro falar dos garous por lá. Vamos apresentar vocês para os que já conhecemos, e eles vão introduzir vocês aos demais, então respeitem eles e o território deles enquanto estiverem lá.

Dirigindo-se especificamente a Juno, Valentine disse:

- Provavelmente vocês ficarão lá por um mês ou mais, Juno. O que nós queremos é que você use esse tempo para preparar os filhotes para o Ritual de Passagem. Assim que as coisas se acalmarem, vamos levar os três para um caern seguro durante uma assembleia pacífica para que eles sejam finalmente reconhecidos como parte da Nação Garou. Ensine tudo que eles precisam saber para poderem se tornar cliaths.

Quando finalmente chegaram ao destino, Sumé e Juno viram um letreiro anunciando o nome do lugar.

Spoiler:

A fazenda era um lugar enorme, verdejante e com estruturas bonitas e bem conservadas.

Spoiler:

Eles foram recepcionados por um homem grisalho sorridente, de pele morena e constituição forte.

Spoiler:

- Olá, sejam bem-vindos! Edgar e Valentine? Eu sou Jaime Camil, prazer em conhecê-los! 

Ele estendeu a mão para cada um dos visitantes, pela ordem: Valentine, Edgar, Juno, Sumé, Tiê, Paloma e Breno.

- Vamos para a sede da fazenda, os administradores estão esperando vocês.

Eles entraram no edifício de madeira e, após algumas salas e corredores, encontraram num grande escritório uma mulher negra, um homem de aparência latina e um homem de feições asiáticas. Eles foram apresentados respectivamente como Wanda Bernard, Hector Bonilla e Hiroki Nakamura.

Spoiler:

Wanda foi quem tomou o comando da reunião:

- Providenciamos uma cabana para que vocês fiquem confortáveis, com dois quartos. Vocês podem circular pela propriedade, desde que não perturbem os animais e não danifiquem nenhuma plantação ou equipamento. A não ser em caso de emergência, vocês não devem sair da forma humana durante o dia, e devem ser discretos durante a noite. Podem fazer as refeições conosco no restaurante da fazenda, mas comemos apenas os produtos que produzimos, então nada de carne. E esperamos que vocês respeitem cada uma das pessoas que encontrarem aqui.

Enquanto ela falava, Hector parecia quase cochilar. Já Nakamura estava sério e e concentrado, mas bastante calado. Wanda disse para Jaime mostrar o lugar que eles iriam ficar e apresentar alguns dos Parentes.

No caminho, Jaime encontrou algumas pessoas e foi apresentando-as: Victoria, Savanah e Leyla Han, três irmãs filipinas; Devon Spence, um filipino jovem e forte; Tom Rodriguez, um mexicano ágil e bem constituído; Enuka Okuma, uma jovem negra dde olhar fixo; Adrian Wallace, um homem negro grande e simpático; Michael Ealy, um negro de olhos claros denotando suas origens mestiças; e Trey Scott, uma pessoa que deixou os visitantes em dúvida sobre qual seria seu gênero.

Spoiler:

A cabana, alimentada por energia solar, era até espaçosa, com dois quartos com duas beliches, uma sala-cozinha ampla e apenas um banheiro.

- Fiquem à vontade, e chamem se precisarem de algo!

OFF: Fiquem à vontade para interagir e fazer qualquer ação que desejarem no primeiro dia da fazenda.

. - Obrigada por nos receber e não causaremos problemas, mas gostaria de saber quais pontos da propriedade são mais isolados para podermos treinar a noite possivelmente?- O tom dela é doce e quente. - Eles precisam ser ensinados e algumas coisas devem ser feitas nas formas que a grande mãe nos concedeu para protegê-la, mas é evidente que isso não pode ferir as nossas leis e nem as regras que vocês têm aqui.

Wanda ficou em silêncio por um momento, e foi Hiroki Nakamura que respondeu:

- Depois da vila da fazenda ficam os campos de plantações, que se estendem por cinco quilômetros até a cerca que demarca os limites da propriedade. Ao norte, a floresta começa logo depois da cerca. Lá deve ser o local ideal para vocês treinarem com privacidade.

- Mais uma vez agradeço por tudo.- Deu um novo sorriso para eles.

Jaime se despediu deles, deixando os cinco À vontade na cabana.

Os filhotes correram para olhar todos os cantos do local, uma casa bem menor do que o enorme complexo onde tinham ficado até então. Exatamente como crianças humanas, correram por todos os lados, comentando aos gritos tudo que viam de interessante.

- Eu e Breno em um quarto, você, Tiê e Paloma no outro?

Breno anunciou:

- Eu vou dormir em cima então!

E escalou a escada da beliche numa velocidade impressionante.

Enquanto Juno ajudava Paloma e Tiê a se instalarem e arrumarem seus pertences no quarto, Sumé deixou Breno à vontade em sua nova toca e saiu para conhecer os arredores.

As plantações eram entremeadas por alamedas naturais decoradas artisticamente com flores, heras e pequenos arbustos. O ragabash logo percebeu que o terreno era um quadrado, no qual a vila ficava na ponta sudoeste, com os campos se abrindo em leque até as demais extremidades.

A grande extensão da Fazenda Morningstar era ladeada por muros baixos apenas nos arredores da vila, sendo demarcada apenas por cercas de arame, mas não do tipo farpado, com apenas um metro de altura.

Num canto reservado, o Revogador de Certezas passou pela Película e foi explorar a penumbra do local. Supreendentemente, a paisagem umbral era bem semelhante à física, principalmente devido ao grande número de espíritos vegetais despertos. Por toda a parte a tranquilidade da fazenda se repetia também na contraparte espiritual.

Esqueci a da Juno

Já fazia dias desde que Sumé fôra embora.

Embora ele gostasse dos filhotes, o uktena estava mais interessado em descobrir o que exatamente estava acontecendo com a Nação Garou em Vancouver, e como qualquer uktena, não conseguia resistir a um mistério.

Assim, Juno estava treinando os três filhotes por sua conta e risco. 

Ela não estava sozinha, é verdade. Havia muitos Parentes amistosos na Fazenda Morningstar, que tratavam os três filhotes com carinho e compreensão.

Breno tinha se tornado o queridinho das irmãs Han. A alegre Leyla gostava de levá-lo para correr de manhã, a simpática Victoria fazia Breno provar várias comidas novas para o lupino, e a sofisticada Savanah gostava de ajudá-lo a se arrumar com roupas humanas.

Paloma gostava de conversar com os rapazes e estava quase sempre rodeando algum deles, fosse o soturno Devon, o tímido Tom, o sorridente Michael ou o debochado Adrian. Quem mostrava abertamente ciúmes era a sistemática Enuka, que já chegara a bronquear com Paloma por atrapalhar o trbalho deles. Juno desconfiava que houvesse mais coisas naquelas conversas, mas nunca viu nada comprometedor, e os Parentes pareciam respeitosos com a menina garou.

Já Tiê parecia preferir a companhia dos mais velhos e estava sempre ouvindo Wanda, Hector ou Hiroki, com atenção e simpatia. Ela também demonstrava bastante curiosidade e empatia com Trey e suas ideias andróginas.

Juno percebia a personalidade de cada um dos filhotes durante o treinamento também. 

Breno se saía melhor nas tarefas físicas, aprendendo rapidamente táticas de luta e sendo o primeiro a dominar as mudanças de formas. Ele era impaciente e ficava nervoso quando exploravam terrenos desconhecidos, principalmente na Umbra.

Paloma parecia ter uma inclinação natural para perceber dinâmicas sociais e foi a primeira a memorizar todas as 13 leis da Litania. Ela também entendeu rapidamente os papéis dos augúrios e as características das tribos da Nação Garou, e estava ansiosa para conhecer membros de cada tribo. Mas em combate e em assuntos espirituais, Paloma era lamentavelmente obtusa, talvez por desinteresse.

Tiê era a filhote que mais gostava de pensamentos complexos, e logo ela esgotou tudo que Juno sabia sobre a Umbra, os espíritos, os dons e os fetiches dos garous. Ela também fazia perguntas bastante difíceis que só mesmo Megumi poderia responder, sobre a natureza de Gaia, da Tríade, dos aspectos da Wyrm, da Wyld e da Weaver, coisas que davam até dor de cabeça em Canção-de-Luna.

Já fazia mais de um mês quando Jaime veio à procura de Juno:

- Señorita Juno, a señora Valentine ligou e pediu para lhe dar um recado. Disse que amanhã ela e Edgar virão buscar você e os filhotes.

Juno agora tinha que se preparar para voltar junto com seus três protegidos.

Com a partida iminente de Juno e os três filhotes, todos na Fazenda Morningstar (ou pelo menos todos que eles conheciam diretamente) estavam lamentando o fim da estadia deles.

Na hora do jantar, quando todos estavam comendo no grande refeitório, quase todos eles vieram até os quatro garous e expressaram seu pesar por saberem de sua partida e elogiando-os pelas pessoas que eram e por seu comportamento enquanto estavam na fazenda. As irmãs Han estavam à beira das lágrimas ao se despedirem de Breno, e os mais velhos abraçaram Tiê numa rara demonstração de afeto caloroso.

Paloma sussurrou para Juno:

- Tem dois Parentes que não queriam que você fosse embora. O Adrian e o Michael. Acho que eles queriam ser seus parceiros!

Juno tinha passado o mês concentrada em cuidar dos filhotes e mal trocara algumas palavras diárias com qualquer Parente. Mas nesse caso, a precoce Paloma parecia mais esperta em questões de relacionamento que a virginal Juno, que nunca nem namorara. Como só sairiam no dia seguinte, ainda haveria algumas horas para Juno tomar a iniciativa se tivesse vontade ou coragem suficientes.

No meio da manhã seguinte, Edgar e Valentine vieram buscar os quatro a bordo da van com que os trouxeram. Eles conversaram com os adminsitradores da fazenda, agradeceram bastante e finalmente estavam prontos para ir. Os três filhotes tinham se apegado rapidamente aos Filhos de Gaia mais velhos, especialmente Valentine, e estavam com saudades deles.

Edgar conseguiu falar com Juno num canto privado antes de eles partirem.

- A situação em Vancouver ficou irreversível, e não sabemos o que vai acontecer. Vamos concluir o treinamento dos filhotes e formá-los como cliaths. Se estiverem de acordo, nós seis podemos formar uma matilha e então decidirmos nosso caminho aqui ou em outro lugar. Nosso primeiro passo é ir ao encontro da Testemunha-das-Estrelas no caern do Pássaro de Fogo.

A viagem de volta a Vancouver foi feita em meio a um falatório incessante dos filhotes, que estavam ansiosos para contar a Valentine e Edgar tudo que eles tinham visto e feito no mês que passaram separados.

Ao chegarem a North Vancouver, Edgar estacionou no Café Corte Real, onde pediram permissão para usar a Ponte da Lua até o caern do Pássaro de Fogo, a qual foi concedida com alguma desconfiança.

Após a viagem pela Ponte da Lua, os seis garous chegaram à Pedra do Ninho, o ponto focal do caern que Juno já conhecia, mas que era visto pela primeira vez pelos três filhotes.

Megumi os recebeu, serena como sempre.

- Os rituais estão prontos para serem realizados, como vocês pediram. Descobriremos o augúrio de cada um dos filhotes e vocês poderão fazer o ritual de conquista para reconhecê-los como cliaths.

— Entendo.- Dizia ela com um tom preocupado. — As coisas nem sempre serão amenas ou resolvidas com longas conversas, às vezes o ego e orgulho cegam nossos irmãos.- A ideia de formarem uma matilha fez os olhos de Juno brilharem com algum entusiasmo.— Formar uma matilha juntos seria como ter uma família de novo…- Murmurou olhando Edgar com admiração.

Edgar concordou e disse:

-Tentamos o máximo que pudemos todos os meios de impedir a guerra. Agora que ela está ocorrendo, precisamos garantir que sobreviveremos à guerra, e principalmente os filhotes, que são mais crianças de Gaia do que nós memsos. Há muitas coisas necessárias para a formação de uma matilha, mas esse será nosso primeiro passo. Depois de dá-lo, decidiremos os outros.




De volta à Pedra do Ninho, diante de Testemunha-das-Estrelas, Juno sentia-se num lugar que já pensara em chamar de lá, mas não o era mais havia algum tempo.

O primeiro ritual que Testemunha-das-Estrelas realizou com os filhotes foi um Rito de Purificação, aspergindo água misturada com ervas sobre eles.

Depois, ela fez um movimento e o interior da Pedra do Ninho encheu-se de água, como um grande tanque ou piscina. Quando a luz de Luna caiu sobre as águas, ela chamou cada um dos filhotes, um por vez, fez um corte no dedo deles e deixou que uma gota de sangue caísse sobre a água ali parada. O sangue formava figuras na supefície da água sem afundar, e a forma era um glifo garou, o glifo do augúrio sob o qual o filhote nascera.

Apesar de serem irmãos, os filhotes não eram gêmeos. Cada um nascera numa lua diferente. O fato de terem mudado todos ao mesmo tempo mostrava a sintonia entre eles, mas disfarçara para Juno o fato de que cada um tinha um augúrio diferente.

Tiê era uma theurge.

Paloma era uma phillodox.

Breno era um ahroun.

Edgar e Valentine agradeceram muito a Megumi pela execução do ritual, mas a portadora da luz interior disse:

- Você agora sabe as origens deles, mas eles ainda não são membros da Nação Garou. Precisam passar pelo Ritual de Conquista para que sejam reconhecidos como cliaths de sua tribo.

Valentine respondeu:

- É verdade, mas os Filhos de Gaia não fazem teste para o Ritual de Passagem. Todos são Filhos de Gaia, está na Litania. Vamos apenas reconhecê-los agora mesmo.

Antes que Valentine iniciasse o ritual, Edgar virou-se para Juno e disse:

- Para se tornarem cliaths, eles precisam de nomes garous. Você conviveu com eles mais tempo do que qualquer outro, Juno. A honra de nomeá-los é sua.

Após um momento de solene silêncio, os filhotes Tiê Guardiã-dos-Mistérios, Paloma Voz-da-razão e Breno Coração-Guerreiro, levantaram-se e uivaram em comemoração. Não eram mais filhotes. Tinham sido reconhecidos como Filhos de Gaia de posto 1. Cliaths.

Até a séria Megumi sorriu ao vê-los pulando e dançando agitadamente para celebrar. Breno, Tiê e Paloma estavam genuinamente felizes de saberem quem eram e terem alcançado seu primeiro objetivo como garous.

Edgar colocou a mão no ombro de Juno e disse:

- Você escolheu bem, Canção-de-Luna!

Valentine acenou com a cabeça concordando.

- Muito bem, Juno!

Megumi disse:

- Vou deixá-los com seus assuntos agora.

E afastou-se, descendo a colina.

Quando os filhotes cliaths pararam de pular, Edgar acenou e chamou todos para se reunirem numa roda. Ele disse:

- Agora precisamos decidir o que faremos. Valentine, Juno e eu já tínhamos falado sobre formar uma matilha com vocês três, mas essa decisão é de vocês.

Os três responderam em uníssono:

- Queremos!

Edgar então disse:

- Muito bem, e qual será nosso objetivo como matilha? Vocês querem viver como uma alcateia de lobos ou atuar no mundo dos humanos?

Paloma foi a primeira a responder, ansiosamente:

- No mundo dos humanos, claro! É onde podemos fazer a maior diferença!

Breno acrescentou:

- É onde estão as maiores ameaças para combater!

Tiê acrescentou, olhando para Valentine:

- Eu ia dizer que na Umbra também tem ameaças para enfrentar, mas teríamos que ser mais fortes para isso...

Todos assentiram, concordando com ela. Edgar então prosseguiu:

- Nosso objetivo como matilha deve ficar claro, então. Nós temos Breno como nosso ahroun, Juno como nossa galliard, Paloma e eu como phillodoxes, Valentine e Tiê como theurges. Nenhum ragabash. Devemos decidir qual será nosso foco.

Valentine acrescentou:

- Isso também vai influenciar qual espírito totêmico nós vamos escolher para a matilha. Alguém tem alguma sugestão?

Os ex-filhotes pareceram incertos, e Edgar e Valentine olharam para Juno, como se já estivessem combinados para isso. A decisão seria dela.

[quote="thendara_selune"]

Juno Yadav Hominídea | Cliath | Galliard |  Nome Tribal Canção de Luna  | Filhos de Gaia   “Histórias… podem ensinar, corrigir erros, iluminar o coração, oferecer um abrigo psicológico, promover mudanças e curar feridas.” _______________________________________________________________________ Com os filhotes reunidos ao seu redor, Juno os parabenizou com um sorriso emocionado. Era um momento sagrado para ela e sentia que todos ali compartilhavam do mesmo sentimento. Mas, então surgiu um dilema: escolher um totem. Juno tomou a palavra com entusiasmo e começou a contar a história de como foi levada por uma ventania até o Érebo. Sua voz adquiriu um tom místico enquanto seus olhos viajaram para longe, revivendo as intensas memórias que ela tinha do lugar. As paredes do túnel eram escuras como se feitas de minerais antigos, como xisto ou ébano. O leito brilhante no centro do túnel parecia infinito, como se pulsasse uma canção perdida, mas era metal derretido, prata que vibrava a cada passo seu. Então, três lobisomens crinos sem pelos apareceram diante dela, as crias de Charyss, guardiões do lugar. Eles a desafiaram para um confronto e Juno quase falhou, mas conseguiu superá-los e trazer consigo o ritual da Forja de Prata e um fetiche, a Lança da Ninhada. Mas isso não foi tudo. Juno teve um sonho maravilhoso em que caminhava por túneis cavernosos cortados pelos rios de prata que ainda se lembrava bem. Sentia o Pássaro de Fogo sobre seu ombro e sabia que ele estava lá com ela. Ao chegar ao final do túnel, um imenso lago de prata líquida se estendia diante dela, com uma ilha no meio. Uma labareda do Pássaro de Fogo atrás dela mergulhou na prata líquida, criando pequenas ondas. Após alguns segundos, uma ave emergiu do lago, levantando voo em uma postura majestosa e disse: "Eu sou o Pássaro de Prata. Eu estarei com você em sua jornada daqui por diante, Canção de Luna". Enquanto contava essa história, Juno usava as mãos para dar vida a tudo o que dizia, como se as memórias estivessem ganhando vida naquele momento. Sua voz tremia com a emoção, mas seus olhos brilhavam com um fogo interior que só podia ser descrito como divino. Ela se sentia cheia da força de seu totem e suas veias borbulhavam com todos os sentimentos e emoções que a faziam ser uma filha de Gaia e uma gibosa. Todos os presentes se sentiam imersos na história e podiam absorver cada emoção que Juno transmitia. "Por isso, eu recomendo que o Pássaro de Fogo nos acompanhe nessa nova jornada". Obg pelo post

Todos se animaram com a sugestão de Juno, mas Valentine foi a responsável pelo choque de realidade:


- Você sabe o que o Pássaro de Fogo quer, Juno? Me pareceu que até Megumi e os theurges deste caern ainda estão tentando decifrar as motivações desse espírito. Os objetivos dele podem não combinar com os nossos, ou não sermos capazes de cumprir os dogmas dele. Por outro lado, o Pássaro de Prata tem uma ligação bem mais próxima com você. Se ele aceitasse, creio que seria mais fácil nos ligarmos a ele do que ao espírito deste caern...