Capítulo 3 - O Terror dos Piratas

O Marlin Negro atravessara o Mar Interior, também conhecido como o Mar das Estrelas Cadentes, e acabara de adentrar a Orla do Dragão, este pequeno trecho de água que ficava entre Sembia e a Vastidão. Eles não tiveram contratempos durante a viagem, e o clima pesado que havia se instaurado no navio pela morte de Oriun foi se abrandando com o tempo. Roosevelt, o capitão, evitou sair de sua cabine o máximo possível para não dar margens a cochichos inconvenientes.

Lewellin continuou como o principal encarregado de fazer Jolly Roguer se lembrar da Ilha de Ferro e de sua localização. No começo, o escrivão insistia que o lugar estava escondido num lugar remoto da orla e que seria difícil encontrá-lo mesmo que ele se relembrasse. Utilizando de suas melhores habilidades, desde o dom de convencer as pessoas até sua aptidão mágica, Lewellin conseguiu fazer as memórias do velho voltarem à tona.

A ilha ficava num trecho alto do mar, difícil de navegar devido às correntezas e um curso raramente usado por quaisquer espécies de navios. Uma série de rochas grandes também ajudava a tornar a viagem difícil, pois era necessário tomar muito cuidado para o casco da embarcação não bater numa destas pedras e se quebrar. Dyke conseguiu guiar bem o leme do Marlin Negro, desviando-se dos obstáculos para enfim chegarem ao seu destino.

- Estou vendo a ilha, só pode ser ela! – Hymma grita lá do alto do cesto.

Toda a tripulação, com a exceção de Roguer que estava em seu gabinete, se aproxima da borda da proa para ver a tão temida Ilha de Ferro. Era fim de tarde, e o máximo que os marujos conseguiam ver nesta distância era um ponto preto que se assomava no horizonte. Eram os contornos sombrios de uma fortaleza.

Frac ouve o alarde de Hymma do alto do cesto e olha na direção a qual o navio apontava.

Ele apenas pensava:

"Espero que o maldito capitão esteja certo, ou a coisa vai ficar feia para o lado dele com certeza."

Ele se referia ao ouro que encontrariam e nada mais.

- Preparem-se marujos... Vamos ver se essa ilha é tão perigosa quanto dizem... Recomendo que se preparem pra um possível combate... Pois como sabem... Coisas piores acontecem no Mar!... Dizia Roosevelt a tripulação, seus olhos já brilhavam só de imaginar o tanto de ouro que poderia haver naquela sombria fortaleza.

Após deslumbrar a ilha, ele volta rapidamente para sua cabine, arrumando seus equipamentos, ajeitando sua espada, refazendo a pintura facial e treinando um pouco suas habilidades com a Espada cortando o vento de várias maneiras diferente, esperando ansiosamente o chamado de Hymma novamente quando chegasse enfim mais próximo da ilha, a ponto de desembarcar.

Lewellin estava aparentemente tranquilo, mas em seu interior estava muito ancioso e curioso pelo Ilha de Ferro, queria entender o motivo do velho escrivão temer tanto retornar para lá.
Quando Hymma gritou indicando a ilha, Lew foi um dos primeios a chegar na borda do navio para avistar a ilha, só podia-se ver um ponto negro no meio do horizonte.

O jovem bardo estava ancioso e inquieto. Por um instinto de pura maldade ele foi até o gabinete de Roguer avisá-lo que estavam chegando na maldita ilha:

- Hey velho! - Gritou após bater na porta do gabinete, ainda do lado de fora - Já podemos ver a ilha, estamos chegando!

Conforme o navio aproximava-se do local, foi fácil perceber o por que dele ser chamado de a Ilha de Ferro. A fortaleza erigida ocupava quase que por completo a base da ilha, suas muitas torres e torreões despontavam no céu que começava a escurecer-se. Esqueletos, provavelmente de piratas, foram vistos amarrados ao redor das rochas que seguiam o curso da embarcação. Eles eram presos por grossas corentes, e apesar da correnteza bater forte nas rochas, os esqueletos resistiam. Era um tormento sem fim para suas almas vis.

Lewellin havia escapulido até o gabinete de Roguer para comunicá-lo sobre a chegada à ilha. O velho não gostou do que ouviu. Ele abriu a porta e disse:
- Escuta aqui, jovem... Não espere encontrar ouro e glória neste local maldito... A Ilha de Ferro como eu conheci a duras perdas não existe mais... Mas algo de terrível aconteceu para expulsar os sembianos de lá. Nem mesmo eu faço ideia do que ocorreu... Só lembro-me de gritos de uma batalha feroz e de pessoas fugindo como podia... Eu era apenas um garoto amedrontado com tudo que vira com meus próprios olhos... Mas passado tanto tempo, as marcas de suas torturas persistiram... – Roguer mostra a sua mão direita, onde faltava-lhe dois dedos. Ele sempre havia dito que o resultado disto fora uma mordida de tubarão. – Os sembianos não só arrancaram meus dedos, como esfolaram-no até ficar em carne viva... Agora, jovem, me ajude a subir até o convés... Tenho uma última coisa a falar ao capitão.

Lew fica satisfeito de ouvir o que Roguer dissera e manifesta sua satisfação com um sorriso de canto de boca, afinal ele gostava de causa tumulto nas emoções dos outros e fazê-las serem manifestadas com ações e palavras "Melhor ferir o próximo do que guardar a guerra dentro de seu peito". Era o que o jovem acreditava.

Ele ajuda Roguer à ir até a cabine do Capitão, sem bater na porta ele grita, do lado de fora:

- Capitão! O velho Roguer está aqui para falar-te algo!

Fica com o velho escrivão, com esperança de poder participar da conversa. Caso o capitão o expulse ele sairá e irá voltar a fazer suas tarefas. Afinal as coisas não estavam bem no navio para ele ficar perambulando e curiando a ilha. Não queria dar motivos ao Frac.

Ao subir pela escotilha, Lew percebe que Roguer evita olhar para o fronte da embarcação, onde seria possível avistar a Ilha de Ferro. Ele se volta imediatamente à cabine do capitão, na popa. O capitão porém, já havia sido avisado por Hymma da nova aproximação da fortaleza, e agora Roosevelt se encontrava ali fora no convés ao lado de todos os outros marujos.

O escrivão, ao notar a presença do capitão, se dirige à ele:
- Capitão... Tem mais uma coisa que o senhor precisa saber... Existem, ou existiam, dois portos na Ilha de Ferro... Um porto ao sul e outro porto ao norte. O porto na face norte era escondido, ficava dentro de uma gruta... O senhor não deve ter problemas em encontrá-lo se der a volta na fortaleza... Bom, era só isso que tinha a mais para falar... Não adianta me pedir detalhes da prisão, pois nem eu mesmo me lembro... E como já disse antes, não colocarei meus pés novamente nesta ilha... Só tenho a desejar boa sorte à você e a tripulação.

Todos os marujos encontravam-se ali fora, e portanto, haviam ouvido as palavras de Roguer.

- Tudo bem Roguer... Espere a gente no navio! Responde Roosevelt a Roguer.

O capitão apenas esperava silenciosamente o navio se aproximar o suficiente pra todos descerem, não estava com medo da ilha, sua ambição não deixava lugar a esses sentimentos fracos de um tolo.

Lew, que estava ao lado de Roguer, aguarda o capitão terminar sua fala e diz ao velho marujo à seu lado:

- Então velho, quer ajuda para se esconder dentro de sua cabine com os ratos e traças? Posso te levar até lá se tiver uma boa garrafa de rum jogada dentre tantos papéis inúteis...

Frac'Eido observa a tripulação com os olhos de quem estava prestes a se divertir bastante e quem sabe descobrir novos métodos de tortura, era isso que as histórias contavam.

-Mexam-se suas lesmas do mar inúteis ouviram o capitão! Vamos atracar o Marlin Negro, não quero ninguém atoa e de conversinha aqui.

Finalmente era a hora de sair do navio e imediatamente Roosevelt começa a dar ordens aos marujos, aproveitando que no momento estavam todos na proa, eram recomendações simples.

- OOOOOOOOOOOWWWWWWWW..... Grita o capitão pra chamar a atenção pra si.

- Negócio é o seguinte... Vamos organizar essa bagaça aqui... Vai ser feito dois grupos pra explorar a ilha, em especial os dois portos, como Roguer falou... Eu, Frac'Eido, Dyke e o maldito do Lewellin vamos pro porto escondido, no norte... Raggeti, Hymma, Salaman e os irmãos Albett e Royce vão pro Sul, Raggeti irá liderar esse grupo até a volta ao Marlin Negro... Os que eu não falei vão ficar no navio, cuidando do Marlin Negro... Cada um sabe o que deve fazer no navio. O capitão tasca uma garrafa de Rum e dá um gole, passando a garrafa pra quem estava no lado beber também, ele imaginava que talvez fosse o último gole de Rum de alguns.

- Os dois grupos devem estar no Marlin Negro até antes do anoitecer de amanhã... É isso... Vocês tem cinco minutos pra se arrumar caso não estejam prontos... Vamo vamo vamo!!! Roosevelt já estava pronto, portanto esperava os de seu grupo ficarem prontos também e assim partiriam imediatamente dali, em cinco minutos.

Dyke ouve as ordens do capitão, olha para os membros do outro grupo e faz uma careta, uma brincadeira como era comum do rapaz e entrega o leme ao imediato e vai em busca dos seus equipamentos, recolhe tudo que acha necessário e cumprimenta seus companheiros marujos do outro grupo.

- Boa sorte seus malditos, que Valkur olhe por nós e que traga todos de volta.

Dyke era muito supersticioso e acreditava em quase todas as histórias misticas.

Fraf'Eido aceita um gole do rum que o capitão o eferecera, confere seus pertences presos ao seu cinto e em seguida diz:

-Eu estou pronto capitão.

O contramestre já estava ansioso para ver as câmaras de tortura e mecanismos usados pelos sembianos, sem se esquecer do maldito ouro.

Lewellin sai de seus aposentos sem ter ouvido nada que o capitão dissera anteriormente, afinal estava arrumando suas tralhas, pegando algo para comer e escondendo nos bolsos, enchendo o cantil, preparando sua adaga e, claro, garantindo levar sua gaita consigo...

Ao sair ele depara com a tripulação se dispersando apressada e pegando algumas coisas pelo caminho, Lew chega próximo de Dyke e pergunta baixinho para o contramestre não ouvir:

- Hey, Dyke... quais as ordens? O que perdi?

Ele mantinha a postura de quem sabia certamente o que fazer, mas estava mais perdido que cego nem batalha.

Dyke repassa as ordens do capitão ao marujo Lew. O Marlin Negro então começa a dar a volta para alcançar o porto do norte. O que mais assombra a tripulação é o tamanho da fortaleza-prisão. Ela era alta e espaçosa. Não se via árvores ou montanhas em nenhum espaço da ilha. Roosevelt pode contar pelo menos uma dúzia de torres. Uma muralha negra acompanhava o trajeto do navio, e de vez em quando era possível ver novos esqueletos piratas presos em suas paredes. A única coisa boa era que a Ilha de Ferro parecia estar desabitada. Era uma falsa sensação.

O Marlin Negro finalmente alcança o porto. Uma gruta, com tamanho suficiente para passar embarcações pequenas como um bote ou barcaça, se abria na rocha bruta. O imediato Scrum dá as ordens para descer o único barco a remos que tinha no deque da popa. O capitão, o músico, o timoneiro, o contramestre e o próprio imediato iriam nele. Scrum iria remar e deixar os quatro no interior da fortaleza. Depois retornaria com o bote e levaria o outro grupo de marujos para o porto do sul.

Quando o grupo alcança a caverna, a noite já tinha caído por completo. Lá dentro, então, se tornou impossível enxergar algo. Roosevelt tivera que acender uma tocha. A gruta era pequena e gotas de umidade caíam das estalactites no alto. Scrum guiava o remo com seus braços musculosos. Num determinado trecho, ele disse:

- O mar ‘tá baixo, capitão. Meus remos 'tão tocando no chão.

Sendo assim, os quatros marujos tiveram que descer do barco. As águas batiam-lhe em seus joelhos. Scrum começava a fazer o trajeto de volta com o bote.

Teste Oculto: