Meileen - Shamps

Quando Allen levou Clover para longe, Meileen agradeceu mentalmente. Uma maga doente não era nada útil e sua amiga precisava descansar. A elfa estava de costas quando Kros proferiu suas ''gentis palavras'' e ela só arregalou os olhos, incrédula. Preferiu dar sua atenção à Julia, que aparentava ter muito mais juízo do que aqueles três.

- Tudo bem, Julia. Você não tem que saber tudo.

Julia comenta sobre uma possível gravidez de Clover, causando um estado de brancura total na face de Allen. Ele fica zonzo e cambaleante, ate que se recobra depois de respirar profundamente duas ou três vezes.
- Será possível Julia? Mas nós nem fizemos sex... – diz Allen, que então se da conta de seu ato falho. Ele cerra os olhos, franzindo a testa irritado – Você esta tirando comigo, não é? Isto vai ter volta!

O guerreiro então ajuda Clover a se afastar para o outro lado da sala, enquanto faz gestos provocativos para a cleriga. Enquanto isto Julia procura por alguma parte faltante do símbolo de Solaris, mas não encontra nada de útil. Canalizar energia divina também não surte efeito algum.

Julia então compartilha seus conhecimentos com Meileen e Kros. O bárbaro fica pensativo, algo que lhe causa grande dor de cabeça. Finalmente ele diz:
- Demontração de fé em minha deusa Bloodrayne é matar muitos inimigos e empilhar cabeças no altar. Kros é muito religioso, problema são vermes que saem da boca e orelhas, altar não fica nada bonito.

Com a brincadeira feita por Julia com Allen, a elfa não conseguiu segurar uma gargalhada.

- Allen, meu querido, você é ótimo. Cuide bem da minha amiga, viu!

Julia orava, mas sem resultados, até Kros notou isso. Seu comentário foi estranho, a elfa era ligada à natureza e para ela vermes faziam parte da decomposição, mas cabeças empilhadas...

- Isso é nojento, Kros - disse - cabeças enfileiradas? Os vermes são até normais, mas isso... argh!

- Hummmm... posso tentar uma busca mais apurada. Minha raça tem uma sensibilidade para esse tipo de coisa - ela explica para Julia, pondo-se imediatamente a procura de algo mais escondido.

Diante daquele impasse, Julia permanece em observação pela sala, em busca de algum sinal de que pudesse lhe ajudar para decifrar aquele mistério. Enquanto isto, a elfa Meileen faz uma busca minuciosa por entre os destroços, procurando por entre as pedras, observando minucias presentes no chão, vasculhando as paredes por algum rastro. Após meia hora, embaixo dos escombros, ela encontra um livro empoeirado, encadernado com o couro de algum animal, escrito em sua capa o seguinte “Uma breve historia sobre os feitiços”.

Procurando  por portas secretas, a elfa acaba encontrando um livro com  capa de couro. Folheia-o rapidamente e anuncia ao grupo:

- Achei um livro sobre feitiços! Acho que pode nos dizer algo sobre o que houve aqui.

Passa-o para Clover.

Meileen entrega o livro para Clover, que tinha melhorado de seu enjoo. Tal tomo de conhecimento parece dar nova vida a maga, os olhos brilhantes diante desta fonte de informações.
- Hmm, interessante, ele conta fatos arcanos de antes do Imperio, de como os elfos entraram em contato com a magia e a aprimoraram... Interessante, são coisas que eu não sabia... – diz, depois de folhear algumas paginas.

A cleriga Julia chama a atenção de todos com um grito.
- Ei, o símbolo de Solaris começou a brilhar!

Um livro que falava sobre magia élfica... a ranger sentiu que aquilo lhe dizia respeito de alguma forma. Mesmo sem ter crescido entre seu povo, Meileen ainda tinha o sangue mágico do povo belo.

- Se tem a ver com elfos fica comigo então - e puxou o livro da mão da amiga - depois te deixo olhar mais um pouco. Se bem que não entendo desse blablablá mágico... de qualquer forma, é meu...

Enquanto guardava o livro, ouviu o grito de Julia e foi até lá.

- Interessante... o que acontece agora? - olhou para a clériga com curiosidade. Aquilo era fascinante.

Clover devolve com relutância o livro sobre os feitiços, olhando para ele enquanto Meileen o guarda.

Após o aviso de Julia, todos os aventureiros vão até onde ela estava. Mas parecia que aos poucos a intensidade do brilho ia diminuindo, até se apagar por completo.

A cleriga de Solaris procura uma pedra para se sentar, e fica pensativa.
- Engraçado, o brilho estava aumentando, mas quando vocês chegaram, ele começou a diminuir. Vocês estavam fazendo alguma coisa enquanto eu estava examinando o símbolo?

Kros leva a mão a cabeça, tentando se lembrar.
- Kros estava vigiando a porta, enquanto mascava raiz do norte e cantava canção “Orc bom é orc morto!”

Allen, que ainda estava chateado com Julia, alça os ombros.
- Você não disse para tomar conta da Clover? Pois me parece que ela esta bem melhor agora.

A maga acena com a cabeça.
- Sim, acho que chega uma hora que o corpo acostuma – diz Clover, enquanto leva mão na boca para suprimir um soluço – Então, tem este livro que a Meileen achou, mas nem deu tempo de ler muito, pois “a minha amiga” tomou de minhas mãos...

As palavras da clériga soaram estranhas para a elfa e Meileen arqueou as sobrancelhas.

- Acho que essa luzinha não foi com a nossa cara - tentou entender qual a ligação de uma coisa com outra. Não viu como a aproximação ou o que cada uma fazia podia fazer a luz esvanecer. Abraçou Clover quando ela a chamou de amiga - você também é minha amiga - sabia que Clover estava sendo sarcástica, mas não deixou de se manter animada - ora Clover, melhora essa cara - e voltando-se para Julia - você acha que tem algo a ver? - e retirou o livro da mochila e passou à clériga.

Julia pega o livro, examina sua capa e começa a ler algumas das passagens. Subitamente o símbolo de Solaris volta a brilhar.
- Já entendi! Toda vez que aprendemos alguma coisa nova sobre magia, é uma demonstração de fé para Solaris! – diz, e então continua a ler. A intensidade da luz aumenta cada vez mais, até que um mecanismo é acionado, girando o símbolo e abrindo uma porta, que revela um corredor mais adiante.

O grupo avança pelo corredor, até uma sala de 12 por 9 metros, recoberto no chão e paredes de ladrilhos de mármore matizados de violeta, muitos deles rachados ou quebrados. Há luminárias presas nas paredes em cada canto, mas somente uma ainda mantem sua tocha, que emite uma luminosidade fraca e esverdeada. Um sarcófago de mármore maciço, com mais de 2,5 metros de comprimento, jaz no centro do aposento. A pedra foi talhada com pesados motivos draconicos e a cabeceira do sarcófago é idêntica a face de um dragão. Fechos de metal enferrujado trancam firmemente a tampa do sarcófago.

Com o brilho se intensificando e abrindo a passagem com a leitura do livro, a elfa deixa escapar um sonoro:

- Caramba!

Diante do corredor à sua frente, ela não temeu e foi entrando, mantendo cautela apesar de tudo. A pouca luminosidade não foi problema para ela. Antes de entrar no salão que se revelava à frente, ela olhou em volta para se certificar de que era seguro entrar.

- Uau! Olha aquilo - a elfa estava impressionada com o que via, um belíssimo sarcófago - alguém sabe quem jaze ali? - ela puxa pela memória se já tinha ouvido algo sobre algo assim.

Os heróis entram na grande sala com cuidado, e todos ficam impressionados com o sarcófago de mármore. Todos, com exceção de Kros. “Tumba de ancestrais de Kros muito mais maneira. Estilo rústico combina muito mais, vovó de Kros sempre falar: menos é mais!”, comenta  com voz gutural.

Julia revira os olhos indignada. Ela passa a mão sobre os motivos draconicos, ate acariciar a cabeceira de dragão. “Não vê que a beleza esta nos detalhes? O dragão é reverenciado pelos seguidores de Solaris, sendo a criatura mágica mais poderosa do mundo!”, diz a cleriga, que então subitamente para e da dois passos para trás. “Mas o que será que tem dentro? “

Esta era a pergunta de Meileen também. E tudo que sabia é que deveria haver um cadáver, e nada mais.

Allen estabelece um perímetro em torno do sarcófago, afastando a todos com as mãos a frente. “Muito bem, muito bem, passinho atrás, por favor. Não sabemos nada do que tem ai, e para mim mexer em troço deste tipo da muito azar”, diz temeroso, olhando por cima do ombro para o dragão esculpido.

Julia, com as mãos na cintura, tenta argumentar. “Allen, esta sala é secreta! E se é secreta, esconde algo muito importante! E se é de Solaris, tenha certeza que é muuuuiitttoo importante!”

Assim como os outros, Meileen também estava admirada com a descoberta e refletiu sobre as palavras simplórias do bárbaro.

- Questão cultural, Kros. Os povos bárbaros são mais simples, natural que sua cultura seja sem exageros visuais. Assim como as coisas élficas são mais refinadas, embora eu nunca tenha visto uma tumba élfica!

Julia era, sem dúvida, a mais empolgada com a descoberta. Ela parecia adorar a imagem do dragão. Era inegável a beleza da escultura, mas a elfa manteve seus pés no chão e não deu tanta importância àquilo.

- Geralmente dentro de tumbas costumam ter criaturas mortas, até onde sei - respondeu à clériga, mas não havia ironia na sua voz.

Allen estava temeroso, e com razão, não se sabe o poderiam encontrar ali.

- Com certeza, Julia, muito importante e por isso... deve continuar aí! Isso não está tão protegido à toa - ela estava curiosa também, mas estava tentando manter as aparências - e se for perigoso? Algum demônio que foi lacrado aí pela própria Solaris? Vão querer encarar isso aí?

Ao mesmo tempo concordava com Allen e com Julia. Olhou para todos no local.

Parecia que o grupo encontrava-se num impasse. Enquanto Allen gostaria de sair de la o mais rápido possível, Julia queria abrir a tumba para ver o que tinha dentro. Meileen tinha duvidas se havia algo muito perigoso que pudesse ter sido lacrado.

A maga Clover permanecia a uma certa distancia dos outros, olhando para o recinto, a mão apoiando o queixo. “Tanto um lado como o outro pode estar certo...”, argumenta reflexiva, “podemos estar prestes a descobrir um tesouro fantástico, ou estarmos libertando um mal terrível de uma outra época. A sala estava oculta, não era acessível por qualquer pessoa.”

Ela alça os ombros e suspira. “Bem, nossa missão original era descobrir o que os seres planta estão fazendo. Sabemos que o grupo anterior enviado para investigar esta perdido e que deixaram um monte de goblins mortos por eles. Estamos investigando estas ruinas faz horas, e ainda falta o lado direito,” explica de modo sucinto.

Kros saca sua arma. “Kros entendeu. Da pra abrir caixão quebrando mármore. Marmore quebra super-facil!”, diz, dirigindo-se ao sarcófago.

Clover da um grito histérico. “Você não entendeu nada, Kros!”

As palavras de Clover faziam todo o sentido, e ela também tinha razão quanto a missão deles.

- Você está certa, Clover - disse - mas há de convir que isso também é um belo achado!

Quando o grandão do Kros ergueu sua arma para quebrar a tumba, a maga gritou, e também a elfa, que segurou o braço dele.

- Tá maluco, cara - havia espanto em sua voz - mármore é caro! E tem todo o misticismo da situação. Você não pode ir quebrando túmulos alheios. E se você for amaldiçoado? Não vai quebrar nada - foi incisiva.

Olhou para Julia e Clover:

- Não tem só os homens plantas. Clover, lembra dos homens que nos atacaram? E se eles estavam atrás disso - e aponta para a tumba - talvez não tenha nada a ver, mas... e se tiver?

Ao se ver impedido tanto por Clover como Meileen, o enorme bárbaro se detem e da meia-volta, contrariado. “Mulheres falam uma coisa, querem outra, vai entender!”, resmunga para si mesmo.

A maga revira os olhos e balança a cabeça. Quando a elfa então fala sobre suas suspeitas, a principio Clover ignora, achando sem ligação nenhuma. Então subitamente ela para, a mente fervilhante. “Não havia pensado nisto, talvez sim tenha uma ligação! Eles estavam junto com os goblins, orientando... E aqui também estão estes goblins... Estão procurando por algo, que pode muito bem ser este sarcófago!”

A garota começa a andar de um lado para o outro, pensativa. Estava com um ar de indecisão. “Agora por que os goblins estavam na floresta, próximo da casa em ruínas de seus pais? Estavam procurando por algo mais? E qual a relação com os homenzinhos-planta? As coisas estão complicando cada vez mais...”

Julia, de braços cruzados e teimosa como uma mula, fala incisiva: “Bem, uma questão de tempo ate acharem esta sala. E é melhor nós mesmos abrirmos este sarcofago, do que eles. Solaris não nos causará mal algum, confiem em mim.”

Allen ergue uma sobrancelha, desconfiado. “Não foi voce que estava em duvida de abrir, por medo do que tenha ai dentro? Por que a mudança repentina?”

A cleriga fica ligeiramente irritada. “Não ter medo diante do desconhecido é tolice. Somente os tolos não tem medo de nada.”

Assim que Kros se afasta resmungando, a elfa apenas revira os olhos e balança a cabeça.
Clover faz uma raciocínio que não faz sentido algum para Meileen:

- O que a casa de elfos mortos tem a ver com isso aqui? - parecia que ela não tinha problemas com o passado - este lugar fica em direção oposta à casa de minha infância. A não ser que eles, procurando este lugar, tenham encontrado a casa e ido lá investigar  - e deu de ombros.

A discussão prosseguia de forma acalorada, com cada um expondo sua ideia, quando a elfa finalmente se aproxima do túmulo e o começa a examinar enquanto fala:

- Se for uma entidade ou objeto maligno que estiver aqui e abrirmos e liberarmos esse mal no mundo, estaremos ferrados. Se deixarmos tudo aqui e pessoas mal intencionadas o encontrarem, estaremos ferrados. Então que diferença faz? - continuou examinando e vendo como estava lacrado o sarcófago ou se tinha algum dispositivo para abri-lo sem recorrer a violência - quer saber? Vamos abrir!

Ela retira o livro da mochila e começa a folhear, para ver se tem algo relacionado àquele lugar, caso não ache nada na tumba.

- Também pode ser algo bom.