Meileen - Shamps

Cruzando os braços, Meileen deu um sorriso, aparentemente se divertindo com o mau humor de Maeve. Era a primeira vez que a via daquele jeito.

- Ah, então você é capaz de se irritar. Impressionante! Enxerida é você, mas fico feliz com algumas respostas. Você é bem escorregadia, hein – depois ela fala para Clover, que parecia bem impressionada – ela deve estar com vergonha de ter levado um olé de alguns goblins, hahaha!

A elfa não ficou muito impressionada com a luz, finalmente a viagem estava chegando ao fim, só não esperava perder a consciência. Estava em uma clareira com cogumelos e olhou em volta para ver seu equipamento e se tinha algum perigo eminente.

- Não foi um sonho. A bruxa estava lá, mas sumiu de repente... típico dela. Bem, agora somos só nós duas... para onde agora? – ela observa o céu para buscar alguma referência e observa também os cogumelos e as outras plantas.

Enquanto aguardava a sua amiga se recobrar do descanso forçado, Meileen olha para o céu tentando se localizar. O primeiro indicativo de que estava num local diferente veio pelo seu olfato, que sentia um cheiro de fumaça e pó espalhado pelo ar. O céu parecia ser cinzento, diferente do azul cobalto que estava acostumada a ver em sua terra natal.

As arvores pareciam ser do mesmo tipo que existiam em Galia, então não estavam em terreno tão diferente assim. Os cogumelos também não eram estranhos, e formavam um circulo ao redor das duas.
- Trata-se de um circulo feérico, usado para transporte entre os mundos pelas fadas... Já li algo sobre isto em um tratado sobre as fadas – diz Clover, meio agachada observando os cogumelos.

A maga olha ao redor, e cutuca Meileen chamando a atenção. Ela fala baixinho:
- Parece que não estamos sozinhos... Olhe naquela direção...

Ao seguir o dedo apontado pela maga, a elfa percebe um casal recostado a uma arvore, beijando apaixonadamente. Suas vestimentas eram estranhas, seriam de algum reino distante?

Um céu cinzento revelou-se sob sua cabeça e a elfa procurou observar se er a cor natural do céu ou se eram apenas nuvens em um dia nublado. Por sorte, as plantas e os fungos não pareciam estranhos e ela suspirou aliviada, apesar do cheiro estranho de fumaça que estava no local. A ranger ouviu as palavras de sua amiga sobre o círculo e sugeriu:

- Vamos sair daqui então. Não quero ofender nenhuma fada. Elas são muito... errr... “complicadas de lidar”, se é que você me entende – fadas eram muito problemáticas e temperamentais e ela não queria aborrecimentos com elas.

Ela seguiu Clover e viu o casal com roupas estranhas se beijando. Ao menos pareciam humanos, mas, ela mais do que ninguém, sabia que as aparências enganam.

- Vamos aborda-los e descobrir onde estamos – a elfa prepara seu arco – eles podem ser perigosos. Vamos cerca-los, vá por ali e vou por aqui. Prepare-se!

A elfa sai de trás das árvores com seu arco apontado para o casal.

- Quem são vocês e o que fazem aqui? De onde vieram? – ela queria perguntar onde estava, mas não queria parecer forasteira demais – não se mexam!

A elfa olha para o céu e percebe que aquela era a cor natural mesmo, não o efeito causado por alguma nuvem. O que tinha no ar desse local que fazia mudar a cor do próprio céu?

Percebendo a presença do casal apaixonado, Meileen decide não baixar a guarda e vai ate a dupla com o arco preparado para atirar. Tão entretido com os afagos que aqueles dois estavam fazendo, que só perceberam a presença de Meileen e Clover quando as duas praticamente estavam na frente deles.
A moça se assusta com aquilo e da um grito, mas para quando a maga faz um sinal de silencio. Meileen faz perguntas ao casal, mas os dois se entreolham, como se não estivessem entendendo nada. O rapaz leva a mão ao bolso e retira uma bolsa fina de couro, e de dentro dela retira e entrega para a elfa umas 3 tiras de papel fino e verde, com uma imagem no meio e letras de uma escrita estranha nas pontas.

A maga cerra os olhos para aquilo.
- Cuidado, pode conter algum tipo de runa maldita ai neste papel, avisa desconfiada.

Nada satisfeita com a cor daquele céu, a elfa apenas suspira, tinha muito a fazer.

Acostumada a lidar com animais ferozes e monstros, a elfa não se assusta nem se importa com o grito da moça, mas não gostou da movimentação do rapaz.

- Eu disse para não se mexerem – falou em um tom mais duro e fechou o semblante – eu fiz perguntas, me respondam!

Ela olhou rapidamente para o papel verde, pois sua atenção estava no casal e não queria distrações.

- Clover, tem alguma magia para imobiliza-los? Consegue analisar se é mágico ou não?

Meileen retesa ainda mais o arco, mostrando que não estava para brincadeiras ali.

O casal estava muito amedrontado, o que era bem visível na expressão facial dos dois, e falavam coisas numa língua desconhecida e incompreensível. Ao comando de Meileen, Clover inicia os rituais arcanos necessários para conjurar uma enorme teia, que se fixa nos troncos de duas arvores e prendem o casal por entre os filamentos pegajosos. Ate o rapaz começa a gritar, junto com a garota, ambos tentando se soltar, sem resultado.

A maga pega o papel verde e conjura nova magia, e nega com a cabeça.

- Não tem nada de magia. É um papel verde comum.

Clover volta o olhar para a elfa, e aponta discretamente para os dois presos que não paravam de gritar.

- Esses dois já estão me deixando surda... Não entendem nossa língua, mas tenho a magia perfeita para isso!

A maga conjura a arcana de compreensão de linguagens, e repete a pergunta feita por Meileen. O casal para de gritar, e fica impressionado por dessa vez entender o que seus captores estavam falando. É o rapaz quem diz:

- Nós? Somos John e Mary, e estávamos namorando aqui no parque! E a gente é da zona sul! Por favor, peguem todo o dinheiro e nos deixem ir embora!

Observando o casal assustado, ela cruza os braços e apenas observa enquanto Clover faz sua magia.

- Shhhhh – ela fala põe o dedo na frente do lábio, pedindo silêncio ao casal quando eles começam a gritar – sem magia? Menos mal – ela parece aliviada com a resposta da amiga.

Clover faz com que os quatros presentes passassem a se entender, o que era bom, já que o casal tinha parado de gritar.

- John e Mary? Que tipo de nomes são esses? Vocês dizem que vem da zona sul? Pankul, Vanzin? Zona sul é muito vago para mim – ela fala, agora pondo as mãos na cintura e se inclinando para o casal – dinheiro? Oras... não queremos seu dinheiro, não somos ladras. Estamos atrás de um ladrão... chama-se goblin saqueador... onde ele está?

Ela pega o dinheiro da mão de Clover e estica a nota verde diante do rosto do rapaz.

- E que tipo de dinheiro é esse? E por que esse céu é cinza e por que esse lugar fede? – olhava bem séria para os dois.

O rapaz já parecia estar se recuperando do susto inicial, e começa a reparar mais naquela cena. Uma moça de orelhas pontudas que se parecia muito com a garota élfica do Hobbit, e a outra parecia que estava com aquelas roupas de festival da idade media... e fez a teia que estava prendendo eles. Meu, isso só podia ser por conta do Patrick, aquele nerd!

John começa a dar risada, as lagrimas se enchendo nos olhos. Que piração!

- Ah, já entendi, vocês duas foram contratadas pelo Patrick para dar um susto em mim e na Mary. Muito bem, meninas, vocês conseguiram! Caramba, o cosplay de vocês esta nota 10! E a hora que fizeram a magia, meu, perfeito, o que é isso? Silicone? Esta demais! O Patrick ta por ai com a galera? Porra, tudo isso, só porque eu e a Mary faltamos na seção de RPG? Caraca, são nerds demais, esses caras...

Mary cochicha para John.

- A gente tem que parar de jogar com esses caras, eles levam muito a serio este troço de RPG...

Levemente indignada por não ter suas questões respondidas, Meileen fecha os olhos e massageia as sobrancelhas, um pouco antes de o rapaz cair na gargalhada. Isso fez com que a elfa erguesse o olhar e encarasse o rapaz. Ele estava rindo dela?

- Qual é a graça, garoto? Eu pareço engraçada para você? – sua expressão era de surpresa – Patrick? Quem é esse? Clover, consegue verificar se há mais alguém aqui?

Se houvesse mais alguém lá, elas não poderiam deixar escapar. Ela tinha sido contratada sim, mas não por esse rapaz que o casal mencionava.
Eles mencionavam palavras estranhas, que elas nunca tinham ouvido falar, mas era natural, uma vez que elas estavam em outro mundo. Ela só tinha que aprender.

- Não sei o que esse tal de cosplay, nem RPG, nem silicone – ela fala aproximando seu rosto do dele – eu não entendo de magia para saber se isso se chama silicone. Para mim isso é teia de aranha – ela dá uma cutucada na teia e se afasta – quem são esses tais de nerds? Eles têm alguma ligação com os saqueadores?

A audição aguçada da elfa permitiu que ela ouvisse tranquilamente o cochicho da moça e isso a deixou indignada. Eles ainda achavam que era uma brincadeira. Meileen saca sua espada e faz alguns floreios com ela e depois se aproxima do casal, pega uma folha e a corta com a lâmina da espada. Ela coloca a lâmina diante dos olhos dos dois e fala muito séria.

- Isso parece uma brincadeira para vocês? Se não quiserem se machucar de verdade, sugiro que me falem onde encontro o goblin saqueador... AGORA!  

Essa Maeve coloca a elfa em cada enrascada, a elfa pensava enquanto esperava a resposta. Em busca de pistas, ela começa a fuçar os bolsos dos dois e suas bolsas e carteiras.

- Qual é a graça, garoto? Eu pareço engraçada para você? – sua expressão era de surpresa – Patrick? Quem é esse? Clover, consegue verificar se há mais alguém aqui?

Clover, sem entender muito do que estava acontecendo, observa ao seu redor atentamente.

- Não Meileen, nesta área estamos somente nós quatro. A menos que este tal de Patrick esteja bem escondido, diz a maga, olhando desconfiada para as árvores.

NRPG: Intimidar. 6. Falha.

A elfa fica indignada com a reação daqueles jovens estranhos, e os ameaça, cortando uma folha com a lamina de sua espada. Pra John tudo aquilo não passava de uma encenação. Ele faz uma cara de assustado e acena com a cabeça.

- Isso parece uma brincadeira para vocês? Se não quiserem se machucar de verdade, sugiro que me falem onde encontro o goblin saqueador... AGORA!

- Oh não, minha cara elfa, acreditamos em você! Faremos tudo aquilo que pedem, pode ter certeza! Os nerds são os meus amigos de faculdade, e o chefe dele é o Patrick, o nerd dungeon master, o mais poderoso de todos os mestres! Com certeza ele conhece esse goblin saqueador, deve ser um parecido com o do jogo do Diablo... Se voce nos libertar, nós as levaremos até ele!

Meileen não se da por satisfeita e começa a fuçar os pertences. Mary começa a reclamar, mas John diz que estava tudo bem, fazia parte da brincadeira. A elfa ve entre as coisas materiais muito estranhos, e outros parecidos com aquelas que ela conhecia, porem com formatos bizarros: chaves, doces, moedas. Porem o mais diferente era um artefato magico, que ao ser tocado, fazia aparecer uma imagem no vidro. Clover fica fascinada com ele, e pede para dar uma olhada. Porem quando recebe em suas mãos o artefato começa a vibrar e tocar uma musica, e a maga o joga no chão com medo, caindo em meio a grama rala.

John levaria a mão até a cabeça, mas a mesma estava presa na teia.

- Ah, meu, assim vai quebrar o meu celular! Deve ser o Patrick ligando, deixa eu falar com ele! – diz o rapaz, apontando para o artefato magico.

Suspirando, Meileen apenas coça o queixo ao saber que não tinha mais ninguém por ali, seria um perigo a menos. Ela apenas acena positivamente com a cabeça.
A elfa já estava bastante indignada: a chata da Maeve, esse mundo bizarro, uma missão idiota e agora essas humanos estranhos, mas algo chamou sua atenção nessas pessoas. Eles pareciam destemidos demais. Ela estreita os olhos claros e o encara fervorosamente, ouvindo sua história, de tempos em tempos encarando a moça também, para ter certeza de que ele não mentia.

- Hmmmf! Você é ousado, rapaz – dá uns tapinhas no rosto dele – mas vocês vão sim me elevar a esse Patrick – ela guarda a espada e se afasta – jogo diablo? Nunca ouvi falar – e estala a língua. De tantos jogos que ela conhecia, como cartas ou dados, esse tal de diablo não fazia parte de nenhum deles.

Mexendo na bolsa de Mary, ela via os objetos estranhos e os analisava. Os doces ela cheirou e achou agradável o aroma, mas não ousou fazer mais nada. Metal ela conhecia, mas as formas que aquele metal tomava eram diferentes. O artefato mágico foi o mais curioso. Meileen tinha retirado da bolsa um quadrado preto de um material muito estranho e o alisou para sentir a textura daquela peça e ao ser tocado no vidro, ele acendeu. A elfa não precisou de magia e nem fazer esforço algum para conseguir luz.

- O que é isso? – perguntou enquanto passava para Clover, que estava fascinada com a magia. O quadrado preto tremeu e dele saiu uma música, o que assustou a maga – que feitiçaria é essa? – a elfa sacava novamente sua espada e apontava para o celular. Temendo que fosse perigoso, a desconfiada elfa parte ao meio o artefato – chega de truques sujos, humano! Onde encontro esse Patrick? – a elfa voltava a ficar irritada.

John esbugalha os olhos ao ver seu celular partido em dois.

- PPoooooorrrrraaa!!! Meu Galaxy S8 novinho!!! Voce esta louuuuccaa!!! – vocifera o rapaz, que luta contra os fios de teia para se soltar.

Mary, que também estava espantada com tudo aquilo, coloca a mão sobre o ombro de John, tentando acalma-lo.

- John! John! Calma! Não ve que estas duas ai estão noiadas? E são perigosas, olha como a espada cortou o seu celular, como se fosse manteiga! Melhor levar elas direto para o Patrick!

Ao ouvir essas palavras John volta a razão, e mais conformado, se dirige a Meileen.

- Muito bem, nós levamos voce ate o Patrick... Poderiam nos soltar por favor?

Clover se aproxima de Meileen e cochicha em seu ouvido.

- Não sei não, acho que deveríamos tomar cuidado... Pode ser que estes dois estejam levando a gente para algum tipo de armadilha. Podemos confiar neles?

A elfa respirou fundo para se recompor e olhou calmamente para John, pegou um dos pedaços do celular e observou-o.

- Então o nome disso é S8? E o que isso faz? - se levantou e caminhou até o casal, olhou no fundo dos olhos de Mary e respondeu com calma - não somos perigosas, os goblins são... somos só perigosas com nossos inimigos - e suspirou, já farta daquela situação e voltou-se para Mary novamente - eu vou descobrir o que significa noiada e espero que seja algo bom, senão...

O rapaz mostrou-se mais sensato e aceitou leva-las até Patrick, mas, assim como Clover, ela não estava muito confiante em soltar o casal. Eles pareciam cheios de truques e poderiam fugir. Não que isso fosse um problema para elas, mas preferia evitar um desgaste desnecessário.

- Também não confio neles. Você tem alguma magia para garantir que eles falam a verdade ou para que não nos traiam?

Por estar em um lugar diferente, a elfa pensou em buscar mais informações com quem conhecia de fato o lugar: as árvores. Não queria parecer leviana ao usar aquele dom, mas ela estava em uma missão e toda ajuda era bem vinda. Juntou uma das folhas da árvore e repetiu as antigas palavras de poder deixada por sua mãe.

- Então o nome disso é S8? E o que isso faz?

John, ainda preso nas teias de aranha, levanta uma sobrancelha, olhando desconfiado para Meileen.

- É um... celular? – diz, e então suspira – ah sim, você esta representando uma elfa, e nos reinos dos elfos não existiam celulares... muito bem, segue o jogo... celulares são aparelhos que servem para falar com uma outra pessoa a distancia... acho que tem uma magia no D&D com esse nome...

- Vento sussurrante – responde Mary.

John olha surpreso para a namorada.

- Caraca Mary, que memória boa voce tem! Pensava que voce não gostava de jogar...

- eu vou descobrir o que significa noiada e espero que seja algo bom, senão...

Mary apenas engole em seco e da uma risadinha sem graça.

- Também não confio neles. Você tem alguma magia para garantir que eles falam a verdade ou para que não nos traiam?

Clover fica pensativa, olhando de soslaio para Mary, enquanto brincava pensativa com uma mecha do próprio cabelo.

- Hmm, muito estranho, aquela garota mencionou uma magia que eu conheço... Cada vez entendo menos este mundo... Bem, tenho acesso a uma magia de Enfeitiçar, deste modo podemos ter certeza que um deles não irá nos trair por pelo menos 3 horas... E creio que seria bom encontrar um local para também descansarmos, para que eu possa recarregar minhas magias.

Juntou uma das folhas da árvore e repetiu as antigas palavras de poder deixada por sua mãe.

Enquanto a maga amparava o corpo desacordado de Meileen, a elfa sente cair dentro de um turbilhão de arvores e verde, só que ao mesmo tempo ela sente que envolvido com ela também há uma fuligem negra e uma corrupção maléfica...

As folhas e flores e fuligem se vão, e Meileen se ve frente a frente com uma dríade de cabelos róseos, trajando roupas estranhas de cor marrom.



Ela olha intrigada para a elfa, mantendo as mãos no bolso. Ela fala, com uma voz jovial e desembaraçada:

- E ai!? Olha, para mim é novidade falar com alguém que não seja planta, mas a sua vibe é super-legal! Hmm, mas voce não é deste planeta, é bem diferente dos humanos, alias, voce tem algo de planta nos seus genes... Ah sim, meu nome é Cherry...

Com um olhar curioso, Meileen analisou o celular do rapaz e diante de sua resposta ela soltou um singelo "oh". Sua surpresa foi genuína com a sugestão de John sobre sua raça.

- Ouviu essa, Clover? - se voltou para a amiga maga - por que você acha que estou interpretando? - olhava com surpresa e curiosidade para o casal - um humano poderia simular minha raça? Somos delgados e mais leves, como poderia fingir isso? E nossa feição única? Com esses olhos mais angulares e de cores tão vivas... e nossas orelhas? - ela pôs os cabelos para trás da orelha e inclinou na direção do casal - vocês dois sim é que são estranhos.

A elfa deu uma risada sem entender muito aqueles humanos estranhos e olhou para Clover.

- Isso é mesmo possível, Clover? Um humano fingir ser um elfo? E outra... por que eu faria isso? Não faz o menor sentido...

Ainda o assunto do celular despertava a curiosidade das forasteiras e Mary parecia saber bem mais do que queria revelar. Para isso Meileen deu um sorriso debochado.

- Então para vocês isso é um jogo!? Uau! Eu tenho que fingir ser humana? Bah... vocês são dois malucos... - olhou para Clover e concordou com a sugestão da amiga - faça, Clover. Enfeitice-os... por três horas estaremos seguras, além de termos tempo para achar os saqueadores. Não se preocupe, vamos descansar em breve, minha amiga.

Meileen juntou a folha e fez seu ritual, sem saber o que acontecia do lado de fora quando ela fazia isso, a elfa apenas mergulhou na magia e seguiu seu fluxo. A fuligem deixava um cheiro azedo no ar, desagradável, mas que ela tinha que suportar enquanto caía no turbilhão verde. Ao se recuperar da "viagem", viu-se diante de uma dríade com roupas tão estranhas quanto as dos humanos presos na árvore. A criatura começou a falar e a elfa achou tudo muito estranho.

- Planta nos meu genes? Genes? - do que ela estava falando? Cherry era simpática e Meileen a saudou também - ah... sou Meileen e... vibe? Bem... realmente não sou daqui. Onde exatamente é aqui? Que lugar é esse? Quer dizer, que planeta é esse?

Meileen ainda estava se acostumando com essas viagens e tentou parecer natural diante da dríade.

- Fui trazida até aqui por uma bruxa chamada Maeve e estou fazendo um trabalho para ela. Estou atrás de um goblin ladrão e preciso encontra-lo o quanto antes, mas para isso preciso de ajuda. Se puder me passar mais informações sobre esse lugar ou... sobre onde os goblins daqui se escondem... ajudaria muito.

- Planta nos meu genes? Genes? - do que ela estava falando? Cherry era simpática e Meileen a saudou também - ah... sou Meileen e... vibe? Bem... realmente não sou daqui. Onde exatamente é aqui? Que lugar é esse? Quer dizer, que planeta é esse?

Cherry tira a mão da jaqueta e a leva no queixo, sorrindo divertida.

- Ora, chegou aqui e não conhece? Este é o Grande Verde do planeta Terra. Algo como a internet das plantas, hihi... Todas estamos conectadas no Grande Verde. Porém a poluição anda atrapalhando a comunicação, e isto é mau, muito mau.

- Fui trazida até aqui por uma bruxa chamada Maeve e estou fazendo um trabalho para ela. Estou atrás de um goblin ladrão e preciso encontra-lo o quanto antes, mas para isso preciso de ajuda. Se puder me passar mais informações sobre esse lugar ou... sobre onde os goblins daqui se escondem... ajudaria muito.

A dríade moderna ouve as palavras da elfa sem entender muito do que se tratava. Mas estava disposta a ajudar.

- Olha, não entendi nada do que me falou, mas posso te levar para conversar com alguém que tenha as informações... É a mais velha entre nós, e a parada que você me contou, tem cara de coisa antiga. Me dê sua mão!

Ao tocar na mão de Cherry, Meileen sente novamente um turbilhão, mas desta vez foi algo bem rápido. Logo a ranger estava em outro local, desta vez em frente de uma antiga árvore, com uma face anciã formada no tronco.



Estava dormindo, e Cherry teve que cutucar varias vezes nela para acorda-la. Com uma voz carregada do peso de milhares de anos, ela diz:

- Ah, uma elfa... Ahhum, sim, uma elfa! Muito, há muito tempo que não vejo uma elfa... Ainda existem elfos por aqui, Cherry? Hmrumph, não acho que não... Maeve? Conhece Maeve? Ah, a velha bruxa... Ela já era velha quando eu era um broto... Nem da Ordem, nem do Caos... Não espere maldade dela, tampouco bondade... Agora os goblins ladrões gostam de coisas brilhantes e valiosas, e seguem a Rainha Cobiça... Ah sim, sim, tenho um presente para você, minha querida elfa... Maeve sempre quis o presente, mas não dei a ela... Mas agora estou tão velha e cansada, não tem mais uso para mim... Fique com ela, pequena...

Uma das raízes se desprende da terra e de sua ponta pende um colar verde.



Ao pegar o colar, ocorre novamente um turbilhão. Meileen esta de volta, deitada na grama, e sente em sua mão o colar entregue pela dríade anciã.
De pé está sua amiga Clover, que a ajuda a se levantar.

- Essa sua viagem no mundo verde me deixou preocupada! Bem, já lancei minhas magias em John e Mary, e eles disseram que vão nos levar até esse tal de Patrick. Estão bem bonzinhos, e não vão nos causar problemas... E então, qual é o plano?

De fato Meileen não costumava vagar pelo Grande Verde e não sabia de tudo que ele poderia oferecer. Ela olha para a desenvolta dríade e sorri apesar de não entender metade do que ela falava.

- Terra? Então esse é o nome desse lugar? Minha cara Cherry, eu não costumo vir até aqui, descobri a pouco tempo essa habilidade e só a uso em emergências.  Eu não sei o que essa internet de que fala, mas a poluição sim é um problema. Como lida com isso?

A cerejeira não entendeu o que a elfa falou e ela tentou ser mais simples em sua fala, para se fazer compreender.

- Está certo... bom, eu estou atrás de um ladrão. Ele é um goblin.

Por sorte Cherry conhecia alguém que poderia ajudar a elfa, o que a deixou aliviada, mal notando quando ela segura sua mão. Meileen piscou várias vezes após a sensação que a elfa teve, um formigamento em sua mão. Puxou o fôlego e olhou para a dríade.

- O que foi isso? – ainda segurava-lhe a mão.

Finalmente chegavam até a velha árvore, que ainda adormecida, seria a solução dos problemas da elfa. Cherry levou um tempo para conseguir acordar o ser milenar e Meileen observava maravilhada a cena. Estava diante de um ser de grande sabedoria.

- Sou Meileen... estou encantada em conhece-la... Mas... o que? – ficou muito espantada – não existem elfos por aqui? – a árvore anciã falava e Meileen se surpreendia a cada frase dela – Maeve é mais velha que a senhora? Uau! Coisas brilhantes? Já é uma pista sobre onde encontrar esses seres...

Diante do ser de grande sabedoria, a elfa não poderia deixar de pensar em uma coisa: alguém tão antigo e sábio poderia saber algo sobre o rei elfo.

- Grande Árvore, em meu mundo, um rei de minha raça matou meus pais por conta de um conhecimento antigo. A senhora saberia algo a respeito dele ou desse conhecimento que ele deseja? E o que Cherry quis dizer com DNA de planta?

A árvore ainda tinha surpresas para a elfa.

Um presente? - a elfa estende a mão direita para pegar o colar e admirá-lo, mas é surpreendida novamente pelo turbilhão de sensações. Aquele colar significava muito e agora a elfa sabia – o usarei com honra. Muito obrigada, Grande árvore – mal teve tempo de terminar sua frase.

De volta, ela sacode a cabeça e se levanta, acalmando a amiga preocupada.

- Estou bem, Clover... obrigada – ela observa o colar em sua mão direita e depois olha para a maga -  ganhei da Grande Árvore... esse lugar se chama Terra e não há elfos aqui... sou a única – sorri, veste o colar e o guarda dentro da roupa para não ficar exposto.

Ela olha para o casal preso na árvore e sorri.

- Maravilha! Vamos até o tal Patrick? – e como quem fala com uma criança, ela pergunta ao casal.

- Terra? Então esse é o nome desse lugar? Minha cara Cherry, eu não costumo vir até aqui, descobri a pouco tempo essa habilidade e só a uso em emergências. Eu não sei o que essa internet de que fala, mas a poluição sim é um problema. Como lida com isso?

Cherry fica um pouco desanimada e suspira.

- Lidamos como podemos... Sobrevivendo. A anciã me disse que antigamente podíamos sair do Grande Verde e assumir formas humanas, e assim falar com os humanos. Mas não creio que isto seja possível.

**

- Grande Árvore, em meu mundo, um rei de minha raça matou meus pais por conta de um conhecimento antigo. A senhora saberia algo a respeito dele ou desse conhecimento que ele deseja? E o que Cherry quis dizer com DNA de planta?

A Grande Árvore movimenta vagarosamente seu olhar para Cherry, que apenas limita-se a arquear os ombros. A anciã resmunga alguma coisa para si mesma, e então diz:

- Olhe para si mesma, elfa! Mesmo com toda a sintonia que os elfos tinham com a natureza, nenhum deles chegou ao Grande Verde. O Grande Verde é um local onde somente as plantas tem acesso. Então existe dentro de você algo especial, não acha?

**

- Maravilha! Vamos até o tal Patrick? – e como quem fala com uma criança, ela pergunta ao casal.

John e Mary acenam com a cabeça e lideram o grupo por uma trilha entre as arvores. Não demora muito e os sentidos aguçados de Meileen percebem a presença de outras pessoas bem próximo. E quando finalmente atingem o outro lado do bosque, a elfa teve a certeza que estavam em um lugar bem diferente de casa.

Varios humanos andavam em fileiras, em uma concentração tão grande quanto o de uma feira na sua cidade natal, só que multiplicado por mil! Algumas corriam, outras passeavam com seus filhos e cães, outros vendiam alimentos e bebidas em garrafas, fazendo um som ensurdecedor! A elfa olhou para o lado e viu que Clover também estava impressionada com aquela quantidade de gente.

- Meileen! Nós devemos estar numa cidade tão grande quanto União! Nunca fui para la, mas já me disseram que la também as pessoas não tem nem espaço para respirar nas ruas!

Felizmente para as duas viajantes extra-planares, a saída estava próxima, e logo estavam andando por locais menos movimentados. As ruas eram cobertas por alguma coisa bem dura, e a terra deveria estar escondida abaixo deste negocio preto. Mas o mais impressionante eram as carruagens sem cavalos que passavam a grande velocidade! Clover não se cansava de ver estas carruagens, e comentava que provavelmente eram movidos a magia.

Finalmente eles chegam numa casa espaçosa, com um grande jardim na frente com varias estatuas de gnomos com chapéus vermelhos. Depois de tocarem na campainha e esperarem por cinco minutos, um homem abre a porta de madeira e sai, arrumando seus óculos.



Porem ao bater olho em Meileen e Clover, ele parece ter um ataque do coração, ficando pálido e levando a mão ao peito. Depois de se recompor, ele vai ate John e o abraça.

- Então é por isto que vocês não vieram no jogo de fim-de-semana? Para me dar esta surpresa! Nunca vi duas garotas tão lindas em um cosplay tão perfeito! Vou te dar 100000 xp por isto, John! – comenta Patrick.

Ao ouvir as palavras da árvore anciã, o coração de Meileen ficou apertado, já que ela não se considerava bem uma elfa. Pouco sabia sobre seu povo e seu passado, graças a interferência do tal rei élfico que matara seus pais. Por conta disso, a elfa ficou privada de seu passado e sua descendência. Cresceu entre humanos, em uma comunidade distante, onde o único elfo que viu na vida foi seu próprio reflexo no espelho; e tudo que aprendeu foi com eles, elfa ela só se considera na aparência.

-Verdade? Sei muito pouco sobre os elfos. Cresci entre humanos - ela suspirou e deu um sorriso melancólico para a velha dríade -  agradeço suas palavras. Me lembrarei sempre delas.

***

Já de volta à Terra, a elfa caminhava com firmeza, sempre de olho no casal, alerta a qualquer movimentação suspeita deles. Sua mão descansava no cabo da espada e seus passos eram firmes. Seus sentidos mais apurados que o dos humanos lhe passavam novas informações a cada passada. À medida que saiam do bosque, o cheiro forte e desagradável tomava conta de suas narinas e ela tinha a sensação de peso dentro delas. Barulhos estranhos também se tornavam nítidos com tempo e, de repente, um choque.
A elfa ficou espantada ao por seus pés na cidade grande e estranha em que estavam. Arregalou os olhos e olhou para todos os lados e o que via era gente, gente e mais gente nas calçadas. Calçadas essas muito diferentes das de sua cidade. Os vários cheiros se misturavam, de azedo à vários tipos de perfumes, de fumaça à lixo decomposto.
Como o casal, enfeitiçado por Clover, seguiam pelas calçadas, a elfa e a maga os seguiam de perto. Ela se aproximou de alguns carros estacionados para analisa-los de perto, tocando em vários pontos.

- Clover... - disse para amiga - vidro e metal. Esses dois não sei o que são - referia-se aos pneus de borracha e ao vários tipos de plástico que constituíam algumas peças externas do automóvel - hey, vocês dois. O que é esse material? - perguntou ao casal. Depois repetiu o gesto ao tocar no asfalto, já em uma rua menos movimentada.

Aquela coisa preta era muito estranha e tinha um aspecto muito sufocante, aliás, como tudo naquele lugar. Meileen não via área verde por ali, salvo o bosque de onde saíram.

- Clover, acho que excesso de humanos é o menor dos problemas dessa cidade - respondeu para a amiga, que estava admirada com a população local e as carruagens mágicas.

Aquela visão cinza já estava cansando Meileen até que finalmente chegaram à uma casa enorme, como todas as que tinham visto pelo caminho, bem diferentes das de seu mundo. Ao menos lá tinha grama e a elfa sentiu alívio ao mesmo tempo tristeza por só aquele pedacinho de verde. Agora entendia as palavras de Cherry e vendo aquela natureza, achou melhor mesmo que as dríades não pisassem mais ali.
John bateu à porta e essa se abriu rapidamente, revelando um rapaz jovem e com óculos, devia ser o tal Patrick. Usava o mesmo padrão de roupas estranhas que o casal, porém sua reação que chamou a atenção da elfa. Ele começou a passar mal de repente e a elfa já se preparava para prestar auxilio, se aproximando dele, porém o que veio em seguida deixou-a confusa: o rapaz abraçou John e o agradeceu, além de dizer palavras estranhas.

- Veja, Clover - cochichou no ouvido da amiga - de novo essa conversa de cosplay, deve ser algum código secreto deles. E o que seria xp? Ele ganhou 100000, mas não vejo nada com ele. E você viu aquelas esculturas no jardim... o que acha que são? Parecem uma mistura de anão com gnomo, só que mais feio - e deu uma risadinha.

Ela foi se aproximando dos dois, ainda com a mão na espada e interpelou o anfitrião.

- Você é Patrick? Esse jovem disse que você sabe o paradeiro do goblin saqueador... preciso que me passe essa informação imediatamente - sua expressão era séria, refletindo a importância e urgência de sua missão.

- Clover... - disse para amiga - vidro e metal. Esses dois não sei o que são - referia-se aos pneus de borracha e ao vários tipos de plástico que constituíam algumas peças externas do automóvel - hey, vocês dois. O que é esse material? - perguntou ao casal. Depois repetiu o gesto ao tocar no asfalto, já em uma rua menos movimentada.

John responde brevemente as perguntas da elfa, somente dizendo o nome. Clover, intrigada, cutuca e cheira os materiais, sendo observada com curiosidade por alguns transeuntes.

- Hmm... Essa borracha deve ser o couro de algum animal daqui... Agora plástico deve ser um tipo de metal de baixa qualidade, olha só como quebra fácil! Agora o mais estranho é esse asfalto... Como é que da para plantar alguma coisa, com este negocio cobrindo toda a terra?

- Veja, Clover - cochichou no ouvido da amiga - de novo essa conversa de cosplay, deve ser algum código secreto deles. E o que seria xp? Ele ganhou 100000, mas não vejo nada com ele. E você viu aquelas esculturas no jardim... o que acha que são? Parecem uma mistura de anão com gnomo, só que mais feio - e deu uma risadinha.

Clover, que estava com a mão no queixo, pensava a mesma coisa.

- A magia de compreensão de linguagens não consegue decifrar códigos, então vamos ter que ficar bem atentas a qualquer atitude suspeita desses ai... Não fosse o feitiço, estaria desconfiada deles nos traírem a qualquer momento. Olha Meileen, este mundo é louco, e se continuarmos muito tempo aqui, capaz de contrairmos as loucuras das pessoas daqui... E sim, estas esculturas são muito feias! Odiaria ver um desses de verdade!

- Você é Patrick? Esse jovem disse que você sabe o paradeiro do goblin saqueador... preciso que me passe essa informação imediatamente - sua expressão era séria, refletindo a importância e urgência de sua missão.

Ao ouvir a expressão goblin saqueador, Patrick muda repentinamente de atitude. Ele arregala os olhos e depois cerra os mesmos, como se quisesse ver tanto Meileen como Clover com uma lente de aumento. Ele se aproxima para pegar na orelha da elfa, mas bastou dar uma olhada na espada para que se contivesse.

Ele recua um pouco, olha de cima a baixo para Meileen e Clover e põe a mão no queixo. Ele então diz:

- Sim meu nome é Patrick... Mas de onde vocês tiraram esta historia de goblin saqueador? Nunca usei nenhum deles em meus jogos de D&D, e não falei sobre eles com John, nem Mary... A menos que... A menos que... As minhas teorias realmente estejam corretas!

E então Meileen percebe que Patrick muda de idioma... Ele estava agora falando em élfico!

- Você conseguir entender o que falar? Vocês não ser daqui, ser? De onde ser? Forgotten Realms? Greyhawk? Dragonlance?