[Capítulo 1] Missão Narumi

Espaçonave Morpheus, 12 de novembro de 2177

Melissa Lopes tinha uma tripulação proativa, e talvez por isso não ser algo muito comum ela se incomoda, principalmente com o outro militar à bordo, que mesmo se submetendo às suas ordens parece mostrar sua liderança sempre que pode. A capitã vê o grupo se desfazendo após as palavras do major brigadeiro e dá ela mesma a ordem de dispensa, e fica sozinha com seus pensamentos e preocupações na ponte.

Mitzrael Brüder tinha pressa, com pouco tempo já estava aparatado para sair da Morpheus, ele vai até a escotilha localizada ao lado da sala esterilizada, o corredor até lá não será difícil de percorrer mas por precaução ele faz todo o trajeto, dentro da sala vários fios e ferramentas estão espalhados pelo chão, e a cápsula fechada e pronta para receber sua carga, a única complicação será movê-la dentro da Morpheus, uma vez que não foi feita para locomoção, seu peso é considerável, e não possui rodas ou algo do tipo.

Depois do major, a Dra. Wiane Kepler chega na sala, pede desculpas pela bagunça e começa a juntar as coisas, o lugar precisa estar limpo para receber a nova “carga”.

O engenheiro vai cuidar dos seus próprios preparativos para a detecção no exterior da nave, não seria necessário mudar muita coisa, todos os aparelhos já estavam funcionais, então cabia a ele ajustar o raio de alcance e frequência, o que é feito em poucos minutos.

Quando tudo está pronto é hora de repassar o plano, cada um em seu próprio posto, os comunicadores funcionando e a nave pronta, Melissa desliga a gravidade artificial, Brüder levanta a cápsula sem nenhum esforço e a direciona para a escotilha de acesso, onde Wiane já aguarda para fazer a despressurização, Cross já tem leituras dos sensores, e não é surpresa não haver nenhuma assinatura de calor até onde as leituras se estendem.

Mitzrael olhava o espaço à sua frente, onde centenas de pedras flutuavam a pouca distância da nave, aguardando as direções de Cross para fazer a coleta e retornar.

Espaçonave Morpheus, 12 de novembro de 2177

Mitzrael apoiou uma das mãos no suporte ao lado da porta, inclinou o corpo para fora da nave e saltou, as camadas de tecido e material impermeável eram tudo que mantinham ele vivo agora, um cordão de aço o mantinha preso à Morpheus e o traje pressurizado exibia informações tanto de suporte de vida quanto dos objetos à sua volta e distância da nave, Cross tinha acesso à câmera posicionada ao lado do capacete e podia ver tudo que o major brigadeiro via, na ponte de comando Melissa tinha a mesma visão, todas as atenções se concentravam nele naquele momento.

Cross se move de um lado para outro diante das telas, ele localiza o corpo mais próximo da nave, dentro do alcance do major, e que não está despedaçado, ele envia os dados para o major imediatamente, uma silhueta de luz se forma no vidro do capacete, assim como números indicando a distância do objeto. Com um impulso Brüder se move na direção indicada, as pedras próximas se movem em baixa velocidade e são contornadas com facilidade, ele se aproxima do corpo e vê o que já foi uma pessoa à sua frente, o corpo desfigurado com a carne derretida pelo calor é irreconhecível, ele já está congelado pelo frio do espaço, o que aconteceu na estação Alpha foi suficiente para derreter até ossos, e fundir metal aos corpos.

Brüder passa o cordão que o mantém preso à Morpheus pelo corpo em sua frente, evitando segurá-lo, uma vez que a doutora havia alertado sobre “contaminantes desconhecidos” todo cuidado se faz necessário, outro impulso na direção contrária e o major já está retornando à nave, atrás de si, um corpo congelado é puxado pelo cordão de aço.

Outro sucesso para os tripulantes, o corpo é colocado na cápsula de isolamento e levado para dentro da nave, onde a doutora Wiane faz a descontaminação antes de abrir as portas. Depois de posicionar a cápsula na sala preparada pra isso todo o corredor também é descontaminado e finalmente a tarefa é concluída. Wiane solicita permissão à capitã para iniciar os testes, e pede que só entrem na sala em último caso, antes que ela tenha todos os dados ainda pode ser perigoso ela diz.

Finalmente a turbulência parece ter acabado e todos respiram aliviados, os impactos das pedras deixaram alguns problemas menores para serem tratados, mas nada grave ou urgente, pouco a pouco a tripulação volta à rotina de atividades, ainda com algum tempo até a chegada ao objetivo em Beta Xuanyuan 14.

Ações:

Espaçonave Morpheus, 20 de novembro de 2177

Os dias correm tranquilos no restante da viagem, os tripulantes se ocupam com seus próprios afazeres enquanto apenas a Dra. Wiane ainda permanece focada na dissecação e análise do corpo capturado há alguns dias, as precauções com a contaminação afetam drasticamente a velocidade do seu trabalho, que lentamente apresenta resultados, há dois dias atrás ela saiu do que parecia um “transe” pela primeira vez, para informar aos outros o que já havia descoberto:

- As diversas marcas no corpo indicam uma explosão de grande magnitude, com temperaturas superiores a 1000° no seu epicentro, os metais fundidos ao corpo indicam aumento instantâneo da temperatura, como se imediatamente se elevasse de 25° a 1000°, enquanto a onda de choque destroçou a estrutura metálica da estação, ela também derreteu os destroços.

Ela para por um momento, para que alguém que queira se manifeste, e depois ajeita os óculos e continua:

- Não detectei nenhum tipo de radiação conhecida, mesmo após passar várias vezes o scanner em todas as frequências, no entanto, em testes de células eu encontrei um composto orgânico não catalogado na medula… bem, o que sobrou dela. Não havia muito com o que trabalhar, mas posso confirmar que seja o que for, não está na base de dados da Terra, e também não pertence ao… vocês sabem, o morto. Eu ainda quero tentar mais algumas análises pra verificar a procedência, mas não posso garantir muita coisa, já que não tenho muito com o que trabalhar aqui.

Ela se levanta, indicando que aquilo era tudo, e anda até a porta da sala de reuniões, então para por um momento e sem se virar, ela diz:

- Vocês sabem o que isso significa, certo?

Então continua andando, deixando os outros três tripulantes se entreolhando enquanto absorvem as notícias.





Enquanto Cross está com um sorriso estampado, rodeado por um sem número de fios e ferramentas dentro da oficina, colocando sua finalmente construída luva magnética, o major Brüder passa grande parte do tempo apoiado na parede diante da sala onde Wiane trabalha no corpo, ele já tinha suspeitas sobre tudo aquilo mesmo antes da última reunião, e agora elas tinham se confirmado, ele evitaria, se necessário, que qualquer perigo saísse de dentro daquela sala.

Em seu quarto, a capitã Lopes faz alguns exercícios, quando é interrompida por HAO:

- Capitã, estamos há 5 minutos de Beta Xuanyuan 14, quer que eu faça a acoplagem ou prefere fazê-la a senhora mesmo?