Capítulo Um: Cheiro de Sangue Seco

Enquanto Rakum divagava sobre a vida e não percebia que Hildir havia falado com ele, Ahrcon pula por sobre a terra fofa sem ver nada de incomum e começa a trabalhar na fechadura. Sem muita dificuldade, pois se tratava de um mecanismo simples, o ladino destranca a porta e abre caminho para o grupo investigar a alfaiataria de Tahir.

Ahrcon ouve o som desejado, recolhe seu equipamento, o guarda e abre a porta lentamente, mas não vê nada, pois estava escuro. O ladino se esgueira para dentro da alfaiataria, acende um bastão solar e começa a analisar o lugar buscando pistas.

Ahrcon sorri de satisfação aos ouvir o 'click', e entra na alfaiataria a passos lentos. Os outros, ainda na rua, do lado de fora, perde o companheiro de vista depois de dois ou três passos, quando Arhcon é envolvido pela escuridão, mas logo o ladino acende um bastão solar, iluminando a si mesmo e a casa onde entrava.

A alfaiataria era ema casa estreita e comprida e Arhcon não vê muita coisa além de estantes e mesas forradas de tecidos, linhas, agulhas e peças de roupas inacabadas. Mais ao fundo, ao lado de uma porta, havia outra mesa, com livros e uma cadeira gentilmente acomodada. Do outro lado da mesma parede, uma escada subia por sobre a mesa até o andar superior.

off: glem, e quem mais entrar na casa, deve fazer um teste de ouvir

Moore é o segundo a entrar. Ele fica atento a cada detalhe do lugar, inclusive sua primeira ação é conjurar sobre si, detectar magia e olhar cada canto do local.

- Bom trabalho Ahrcon, bom trabalho - sussurra Hildir ao ver que seu companheiro conseguira destrancar a porta sem maiores problemas. O halfling então monta em Duncam, faz um sinal para Rakum acompanhá-lo e entra na casa do alfaiate logo depois de Moore.

Hildir parecia um cavaleiro em miniatura, com a sua armadura resplandecente, a espada de ferro frio numa mão e o escudo de metal na outra. E, é claro, ele estava montado num cachorro ao invés de um cavalo. O halfling observava os cantos do aposento iluminado pelo bastão solar de Ahrcon e deixava seus ouvidos atentos à qualquer ruído suspeito.

Rafur estava teremoso em entrar, afinal eles entraram em uma propriedade particular e ainda por cima arrombaram a porta:

-As suas intenções nem sempre são aquilo que parecem ser... Murmura o anão para si mesmo.

Alguém poderia chegar e pegá-los invadindo e perderiam muito tempo dando explicações, assim ele fica sendo o último a entrar e puxa a porta lentamente enconstando-a para que parecesse ainda trancada.

Ao entrar tenta aguçar ao máximo seus sentidos para que a qualquer barulho ou movimento estranho esteja pronto para agir.

-O objetivo final é o mais importante e todos os pequenos delitos serão perdoados... Ainda murmurando para si

Após entrar na casa de forma sutil logo atras de seu amigo percebe que seu não havia feito o pedido que o outro nanico havia feito. Agora já era tarde, de aquela situação esta tirando completamente a atenção de Rakum.

Com os ouvidos levantados Rakum tenta ouvir e localizar algo que os olhos de seus amigos nao pudessem enxergar.

Todos entram, com calma e atenção, na alfaiataria mas, na noite e com apenas um fonte de luz, não conseguem ver muito. Arhcon havia caminhado até o meio da sala quando Rafur ouviu um clic da porta se fechando. O ladino, com seus olhos aguçados, viu por todo o chão pequenos arranhões, e o que mais chamou a atenção de Arhcon era seu padrão: els vinham sempre aos pares, e os arranhões da direita tinham aproximadamente a mesma distância entre si, assim como os da esquerda. Só quando o ladino se aproximou mais é que ele percebeu que outras marcas acompanhavam os arranhões. Sulcos na madeira, menos frenquêntes que os arranhões, não muito profundos e quase do tamanho da cabeça de uma criança humana, seguiam juntos dos arranhões, mas um pouco mais a frente. Estas marcas estavam por toda a sala, mas se concentravam mais próximo da mesa e da escada.

Thomas estava parado, ainda próximo da porta, com os olhos envolvidos por um brilho tênua e lilás, e não percebceu quando Hildir passou o seu lado montado em Duncan, que farejava tudo o que alcançava com o focinho, com Rakun logo atrás. Thomas perscruta toda a sala em busca de alguma aura ou vestígio mágico, e a única coisa que conseguiu encontrar foi uma leve aura necromântica de uma magia que já tinha sido conjurada a algum tempo.

O bárbaro, até então atento aos próprios pensamentos, notou que os papéis na mesa ao fundo estavam revirados e no chão haviam mais papéis e dois cadernos grossos com capas de couro. Um estava fechado, mas o outro caíra aberto sobre o primeiro. A primeira vista Rakun não estranharia, mas sabendo o que havia acontecido com Tahir, o alfaiate, este talvez seja o resultado de algum tipo de luta. Assim que o halfling pensou em ir até a mesa investigar mais, ele ouviu um leve ranger no andar de cima que foi interrompido assim que percebido por quem, ou o que, o estivesse causando. Rakum olhou em volta e notou que o gnomo também ouviu, pois tinha voltado seus olhos lilases para o teto e depois para ele. Thomas e o bárbaro olharam em volta e viram que seus companheiros não tinham ouvido nada.

Quando Hildir se aproximou de onde Arhcon estava, Duncan parou abruptamente, farejou o chão e ergueu a cabeça, rosnando e mostrando os dentes. Em seguida vieram dois latidos sonoros, acompanhado por um longo rosnar e outros dois latidos. Hildir sentiu sua montaria inclinar-se para a frente, e isto, somado aos latidos e rosnados, era um sinal claro de que algo incomodava Duncan.

Ao entrar na alfaiataria Ahrcon vasculha o lugar procurando por pistas, quando percebe risco com padrões regulares no chão o rapaz se agaixa para examinar melhor e percebe que se tratava de pegadas, rastros que andavam pela sala e subiam as escadas. Ahrcon indica as pegadas para os companheiros e fala em baixo tom: Alguém esteve aqui. Quando o ladino estava caminhando para as escadas, quando o cão de hildir começa a rosnar e a latir. Ahrcon olha para cima, retira lentamente duas armas, e aponta a escada para o pequeno bárbaro indicando que ele fosse na frente se assim desejasse.

Rafur estava caminhando lentamente tentando não fazer barulho e murmurando para si...

-Por Moradim, alguém foi arrastado aqui...

Ele então vê que a sua inteção de permanecerem ocultos dentro do local fora quebrada pelos cães que estranharam alguma coisa. Cachorros tinham uma sensibilidade ao mal fora do comum e o anão já havia visto isto uma vez ou outra.

Mais do que depressa ele precisava ajudar os que não viam bem na escuridão e ativa a magia luz sobre seu escudo, sacando também seu martelo, fazendo uma prece.

-Que a luz cubra a escuridão e que Moradim mostre através de mim e meus companheiros o imenso poder do bem sobre o mal. E que assim seja.

- Quieto Duncan, quieto!

O halfling ficou preocupado com os latidos de seu cachorro de montaria, pois ele não era de fazer isso. E agora se houvesse alguém na casa além deles, essa pessoa ou criatura estaria alertada pelo som dos latidos - não que eles estivessem sido totalmente furtivos até então...

- Rakum, você consegue identificar essas marcas? - Hildir aponta para os arranhões que seguiam pelo chão da casa. - Veja que há um sulco do tamanho de nossa cabeça um pouco a frente, o que poderia ser isso? - questiona o halfling para o seu amigo.

Moore ouve barulho acima. Ele aproveita de sua magia recente para olhar acima da escada. Para isto ele se aproxima da escada, sem passar a frente de Ahrcon que já havia se aproximado de lá. Olha para cima para buscar auras mágicas e alertar seus companheiros. Fosse o infame, certamente haveriam auras mágicas.

Quando ouviu seus amigo solicitar para que investigasse as marcas já era tarde, o nanico ja havia batido em disparada para os andares superiores correndo enquanto sacava sua arma, se alguém estivesse lá com certeza fugiria com o latido do animal. O nanico achava que poderia chegar a tempo.

Mal Hildir terminara sua frase e Rakum já corria escada acima o mais rápido que suas curtas pernas permitiam. Nenhum dos outros teve uma chance de impedir ou acompanha-lo em seu impulso e Thomas quase foi derrubado pelo bárbaro enquanto estava concentrado, procurando por auras mágicas no andar de cima. Ahrcon, quando indicou o caminho à Rakum não imaginou que ele seguiria de forma tão precipitada, e o ladino sabia, assim como os outros, que tudo o que restava era seguir o companheiro o mais rápido possível para evitar que ele terminasse caindo sozinho numa armadilha.

Mas... algo estava errado.

Hildir sente uma leve tontura e por um momento precisa segurar na cela para não cair das costas de Duncan. Rafur sentiu o martelo e o escudo pesarem em suas mãos e a visão embaçar e com certeza teria caído se não fossem suas pernas fixas como rochas no chão, e Thomas precisou dar dois passos para trás para evitar cair de costas por causa da forte tontura que o tomou enquanto estava com a cabeça para trás. Arhcon subiu o primeiro degrau da escada e procurou por Rakum antes que tivesse que se segurar no corrimão para não desabar no chão. Uma forte dor na fronte da cabeça e na nuca acompanhava as tonturas e também um formigamento nos braços e nas pernas, manter-se em pé havia se tornado difícil e erguer qualquer coisa além do próprio corpo demandava um esforço terrível. Por um momento, um estranho temor tomou corações e mentes.

Rakum pulava os degraus com força e ajudava a investida pela escada se agarrando ao corrimão e puxando a si mesmo. Chegou ao andar superior antes mesmo de conseguir terminar de pensar se era Crvenka quem estava na alfaiataria ou se era outra a ameaça, e pensou nisso enquanto observava ao redor. Quem quer que fosse, não tinha muitos lugares para se esconder. À esquerda da escada havia uma porta, que se encontrava fechada, e do outro lado todo o andar se abria numa grande sala da mesma forma que o andar térreo. O halfling pode ver duas janelas na parede oposta à escada, estantes forradas com tecidos virgens à esquerda, uma grande e estreita mesa de madeira à direita e diversas cadeiras espalhadas por toda a sala. Rakum pensou ter visto um vulto próximo da janela e outros ao longo da sala, mas uma forte dor na nuca e na fronte da cabeça lhe tomou a atenção antes que ele pudesse confirmar o que achou ter visto. O bárbaro quase caiu de joelhos e deu dois passos para frente e se apoiou na estante. Rakum não tinha forças para sacar arma alguma e a dor não o deixava se concentrar nos vultos a frente, e Rakum tinha certeza de ter visto um homem alto e sem cabelos a lhe sorrir...

Uma sensação de tontura tomou repentinamente conta de Hildir. O halfling balançou sobre o cão de montaria e teve que se segurar na sela para não cair no chão. Sua mente inebriada não conseguia raciocinar como devia, e ele não tinha ideia do que estava acontecendo. A única reação imediata dele foi olhar à sua volta e tentar detectar a maldade naquele lugar em que estavam.

[usei detectar o mal em todas as direções]

A sensação era horrível, nem em suas piores febres e doenças Rakum não tinha sentido algo tão desagradável, o que mais deixava irritado era ele o que tinha feito era certo, foi para o local certo na hora certa, agira certo, mas estava incapaz de fazer algo, sem poder fazer nada ele levanta a cabeça a procura de algo.

Por conta da concentração na magia, Moore se abateu seriamente quando uma vertigem violenta recaiu sobre ele. Suas pernas tremeram e ele teve que voltar dois passos para não cair. Ele não conseguira ver nada sobre a escada e esta tontura o fez desfazer a magia. Ele procura algo em que se segurar e volta a olhar a escada esperando por notícias e um norte...

Ahrcon vê o Bárbaro passar correndo, ele não imaginava que seria assim, mas também não poderia deixar que ele fosse sozinho e começa a subir as escadas com armas nas mãos. Quando Ahrcon começa à subir as escada ele sente uma dor fulminante em sua cabeça. o Ladino larga suas armas ponhe uma mão no corrimão para não cair e se ajoelha na escada colocando as duas mãos na cabeça tentando parar a dor.

A dor que tomou a cabeça de Rafur foi forte de uma forma que parecia que os Sete Infernos e o Abismo travavam sua guerra milenar na mente do sacerdote de Moradin. O peso do martelo era grande em suas mãos e a cabeça de pedra fez um som seco e pesado quando caiu no chão de madeira. Rafur não demorou a acompanhar sua arma, e a última coisa de que o anão se lembra antes da escuridão é de cair de joelhos e dos rosnados de Duncan, que havia sido fundamental para Hildir se manter de 'pé'. O cavaleiro vacilou por um momento, mas fechou os olhos, respirou fundo e clamou por sua deusa, que amenizou a dor até ela não ser nada além de um zumbido e logo sumir.

Hildir se voltou para os companheiros e viu Thomas cair de costas em um baque seco. O gnomo sentiu uma forte dor por toda a cabeça, como se centenas agulhas incandescentes tivessem sido enfiadas em seu cérebro ao mesmo tempo. Antes de tombar, antes ainda de Rakum passar correndo aos trombões, Thomas teve a certeza de que um usuário da Arte estava na alfaiataria, pois havia uma forte aura de conjuração no andar de cima.

Já no chão, Thomas teve tempo apenas de erguer umas das mãos na direção da escada, onde Ahrcon agonizava, com as mãos na cabeça. O ladino estava a poucos degraus de Rakum, mas pouco conseguiu ver do andar superior da casa; Ahrcon ouviu apenas o barulho do metal quicando alguns degraus abaixo e sentiu um dos joelhos batendo na quina de outro, o que o fez cair sem apoio sobre a escada, batendo também o peito e o baço contra a madeira. Ahrcon ainda tentou rastejar até o bárbaro, mas logo tudo se tornou trevas. Hildir sentiu o coração apertar. Um a um, seus companheiros foram caindo.

No breu, Rakum estreitou os olhos para confirmar o que pensou ter visto, mas a dor turvou sua visão e por um momento o halfling teve vontade de arrancar os próprios olhos para não sentir mais nada. Rakum caiu sobre um joelho, lutando contra a que lhe causava aquilo, e soltou um grito gutural quando sentiu algo que parecia brasa sobre seus olhos e sua cabeça sendo esmagada. Vencido, o bárbaro caiu sobre o outro joelho, com a certeza de que o sorriso agora havia se tornado um riso baixo e malicioso.

Um a um, seus companheiros foram caindo. 

O baque que Rafur fez ao cair de joelhos no chão da alfaiataria abriu os sentidos de Hildir para o que estava acontecendo a sua volta. A tontura que afligia o halfling devia ser a mesma que estava atingindo seus amigos... porém Hildir foi o único a conseguir suportá-la. Depois do anão, foi a vez de Thomas e Ahrcon caírem, cada um à sua maneira. Por um momento o ladino colocou as mãos na cabeça e rastejou em direção à Rakum, mas logo depois perdeu completamente a consciência. Aquilo tudo era preocupante, mas Hildir não tinha tempo para pensar a respeito. Na sequência foi a vez de seu amigo halfling tombar.

Algumas imagens passaram rapidamente na cabeça de Hildir quando este ainda morava em sua aldeia natal com Rakum. O seu amigo vivia se metendo em algum tipo de confusão, e Hildir buscava sempre orientá-lo para fugir das brigas e discussões. Teve uma vez, esta em terras estrangeiras, em que Rakum havia aceitado uma disputa de braço-de-ferro com um humano e havia o vencido. O humano, furioso por ter perdido por alguém tão pequeno, partiu para cima de Rakum e se Hildir não estivesse lá para acalmar os ânimos ninguém sabe o que poderia ter acontecido. 

Tudo isso passou pela mente de Footsilver enquanto via seu mais leal companheiro se desmoronar por um inimigo invisível e intangível. O bravo Rakum que já resistira à tantos golpes de machados e espadas estava caindo por... tontura? Ou seria uma magia poderosa impregnada naquele local? Não importava nada naquele momento. Algo devia ser feito. Hildir foi tomado pelo impulso, ajoelhou-se ao lado de Rakum, e o tocou para livrá-lo de qualquer doença a que ele pudesse ter sido submetido.

[remover doenças]