16 de Tarsakh, 1372
Por todo este êxtase, eles levaram um belo balde d’água fria quando se deram conta de que o ouro tinha se esgotado. Sobraram apenas alguns punhados de cobre que não serviriam para pagar nem a mais feia, gorda e desdentada das putas. O contador do navio, o ancião Jolly Roguer, foi quem deu a triste notícia para o capitão. Raggeti, por sua vez, reuniu todos os marujos nos fundos da taverna, com a exceção de Lyed, que não foi encontrado em lugar algum.
- Tenho uma notícia a dar a vocês – começou o capitão, como se estivesse prestes a anunciar a morte de um parente próximo. Após um breve pausa dramática, veio a declaração fatal que ninguém estava esperando: - O ouro acabou!
Um murmúrio de consternação prosseguiu entre os marujos. Ninguém estava acreditando que todo o lucro da aventura de suas vidas havia ido pro fundo do mar. Isso significava só uma coisa: eles teriam que voltar pro alto-mar, voltar à dura rotina do navio e a brandir armas, arriscando novamente suas vidas. Raggeti era o único de pé dentre os tripulantes, e com a mão direita ele fazia trancinhas em sua barba, um claro sinal de preocupação.
- Eu ouvi uma história ontem – Frac’Eido havia erguido a voz, e quando o temível contra-mestre fala, os outros ouvem. – Uma pessoa disse que tinha arranjado um mapa para um tesouro, e ela tava querendo vendê-lo a outra, mas parece que o negócio não foi fechado.
- Um mapa do tesouro? – Raggeti disse com escárnio na voz. – Eu não acredito nessas baboseiras que tentam nos vender. Se existe algum tesouro mesmo, por que a pessoa que tem o mapa não vai até lá e pega pra si?
- Porque pode ter pelo caminho obstáculos difíceis de ser superados – sugeriu Abbadon.
O capitão suspirou, e então disse:
- Vamos tornar as coisas democráticas aqui. Quem é a favor de ir atrás desse mapa, erga a mão e diga os seus motivos.