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    A Balada da Fênix e do Bastardo

    Tellurian
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    A Balada da Fênix e do Bastardo Empty A Balada da Fênix e do Bastardo

    Mensagem por Tellurian Sáb Jun 17, 2023 7:27 pm

    O som dos trovões ecoavam pelo céu noturno. O cheiro do vento deixava claro a qualquer um que nele prestasse atenção que, em breve, viria a chuva. Normalmente, os agricultores que cultivavam o trigo nas enormes planícies ficariam felizes com a chegada da chuva depois de tão longa estiagem. Mas as plantações estavam destruídas agora. Os lavradores que conseguiram escapar a tempo encontraram refúgio dentro das muralhas da Capital e não mais cuidavam das terras arruinadas pela guerra.

    As runas mágicas brilhavam aos pés da elfa. A luz perolada que emanavam ressoava no ritmo do cântico que ela entoava, em uma língua a muito esquecida dos homens. Ela sentia a exaustão queimar seus músculos conforme ela reunia cada gota de mana que conseguisse. O ritual era muito mais complexo e demorado do que imaginara. Ela sentiu a urgência arder em seu peito conforme tinha dúvidas de que terminaria a tempo. Seus profundos olhos verdes contemplaram a planície a sua frente. Não podia realmente chamar aquilo de luta. O massacre estava no fim. Ela precisava se apressar. Sentiu-se culpada do sacrifício de centenas de homens, mas não podia deixar a culpa consumi-la. Seus homens eram soldados que deram suas vidas no cumprimento do dever e tombaram em glória. Ela precisava se concentrar.

    Na planície a sua frente, a batalha alcançava o climax. Duas unidades inteiras do exército foram combater o Titã. Cavalgaram orgulhosos até o campo de batalha. Cento e cinquenta soldados e cinquenta Conjuradores. Suas armaduras brilhantes e túnicas imaculadas e prateadas envergavam com honra o brasão da Fênix, símbolo dos Elfos Livres. Agora, duas unidades inteiras do exército foram chacinadas sem piedade. Diante do Bastardo, tudo o que duas centenas de vidas puderam comprar foram poucas horas.

    O corpo sólido revestido de aço negro simplesmente parecia não ser afetado pelos balanços das espadas curvadas élficas. Vez ou outra um golpe bem desferido ou uma flecha magistralmente lançada encontravam uma fresta na armadura e faziam jorrar sangue quase tão negro quanto o aço que o cobria, mas parecia apenas não fazer diferença. Ele nem ao menos parecia sentir. A magia dos Conjuradores desaparecia. Era como se tivessem sido castrados, sua conexão com a mana cortada completamente diante da presença Dele. As palavras mágicas não tinham a mesma sensação, pareciam apenas sussurros ininteligíveis e inuteis.

    Cada grito de guerra, cada golpe, parecia apenas alimentar a fúria sem fim do titã ao qual enfrentavam. Aquela arma que ele usava, gigantesca demais pra ser chamada de espada, parecia cantar enquanto cortava o ar em seus amplos balanços. Ninguém conseguia fazer frente a ele. Mesmo os mais poderosos capitães élficos, orgulhosos de sua força, pareceram crianças indefesas diante da selvageria brutal dos balanços da Devoradora.

    Quando o ultimo guerreiro encontrou seu fim brutal sob a lâmina do Bastardo, ele se ergueu e urrou aos céus. Retirou o elmo negro que usava e o lançou ao solo. Queria ar. Queria vê-la. Olhou para o topo da colina a sua frente com seus olhos vermelhos em brasa, e então reconheceu o ritual que ela desempenhava. O Banimento estava em ação.

    O ferro negro de suas botas feriram o chão como se ele odiasse a terra. Correu com força em direção a elfa. Não podia permitir que o ritual se completasse. Deveria transpassá-la com a Devoradora e cumprir seu destino. Não poderia evitar. Não quando ela decidiu Bani-lo.

    A grama da colina estava escorregadia graças a chuva que começara a cair. Os Deuses sabiam qual seria seu destino se o Bastardo prevalecesse hoje, e interviram do único jeito que lhes era permitido. Quando o guerreiro alcançou o topo da colina, o Ritual de Banimento estava completo. A mana havia se agrupado em centenas de pequenas esferas brilhantes de múltiplas cores, que orbitavam a elfa. Pareciam enfeitar seus longos cabelos negros e sua imaculada túnica branca. Ela abriu seus olhos, e os olhos verdes que cintilavam com estrelas de mana encontraram os olhos vermelhos que ardiam em brasa de pura Fúria.

    O guerreiro ergueu sua espada e investiu contra a elfa. Ele era rápido. Poderia vencer a distância que os separava em um piscar de olhos. Mas ela também era extramente habilidosa. Ergueu sua mão espalmada em direção a ele e sussurou:

    Bïdh falbh — recitou suavemente. Sua voz hesitou e quase falhou. Mas a pronúncia foi suficientemente clara para que as Palavras de Poder tivessem seu efeito.

    As esferas de luz rapidamente reuniram-se todas na palma de sua mão e se tornaram um feixe de luz, que engolfou o guerreiro, atravessando-o como vento. Ele sentiu os musculos enrijecerem. As pernas e braços ficaram pesados e ele soltou a espada monstruosa, que caiu no chão e se estilhaçou em mil pedaços sob a Luz. Seus joelhos fraquejaram, mas ele se recusou a cair de joelhos. O Banimento o puxava como a correnteza de um rio poderoso.

    Seus olhos vermelhos faiscaram conforme o ódio explodiu em seu peito. Ele urrou, um grito primal e profundo, como se as milhares de vidas que ceifou gritassem junto com ele. Ele deu um passo contra a correnteza. E outro passo. As grandes mãos revestidas de aço se ergueram para agarrar o pescoço delicado da elfa. Seus olhos enfurecidos encontram os dela e ele viu as lágrimas que escorriam pela face da moça. A tristeza profunda em seu olhar.

    E então ele lembrou. Da dança diante da fogueira. Do perfume de camomila. Do beijo com gosto de amora. Do calor daquela pele acobreada. E lembrou, sobretudo, de um sorriso mais brilhante do que a luz que o envolvia. E as brasas se apagaram de seus olhos quando ele finalmente tombou.

    Abriu os olhos. Sentia a grama macia sob seu corpo. Não sentia dor. Depois do que pareceu um século, finalmente estava em paz. A única coisa que sentia era um imenso cansaço. Precisava descansar.

    Ela se ajoelhou diante dele e afagou seus cabelos. O Bastardo se fora, restara apenas o homem. Contudo, a alma mutilada não resistiria. O homem agonizava. E junto dele, seu próprio coração. As lágrimas escorreram pela sua face e caíram no rosto do homem que aninhava em seu colo.

    – Nós nunca conseguimos, não é mesmo? — Ele disse, com a voz fraca.

    – Mas nunca vamos parar de tentar. — Ela respondeu, a voz embargada em meio as lágrimas, que viraram gritos de dor e luto quando ele fechou os olhos pela última vez, e em seu último suspiro disse o nome dela.

    E a Era encontrou seu fim diante da Queda do Bastardo. O povo élfico, outrora escravizado pela ganância dos homens, bradou e gritou e cantou e dançou a aguardada liberdade. Suas nações prosperaram e seus bardos cantam até os nossos dias sobre a Queda. E exaltavam os feitos da Donzela da Fênix. Entoavam versos sobre sua beleza e seu poder. Mas poucos, muito poucos, conheciam o significado de suas lágrimas. E esses poucos seriam aqueles que passariam adiante através das Eras aquela canção. A canção que avisa sobre o Retorno. Que adverte sobre tempos de guerra. Mas, sobretudo, que lamenta a história daqueles que, apesar do amor, nunca tiveram seu lugar no Tempo.


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    Olá!

    Espero que tenham gostado. Eu ainda estou em dúvida sobre se continuo essa história ou se sigo em outra temática. Na verdade, eu abri uma votação no meu Instagram pra decidir a respeito disso, e a Balada está concorrendo contra a Sete dias no escuro (Horror) e a Segredos sob o Vale (Romance/Erotismo), todos postados aqui no fórum. Se você quiser ler e me dar sua opinião, eu vou ficar muito feliz.

    E se você quiser me da uma mão, dá uma olhada nessa minha história lá no Medium e deixa seu like e um comentário Very Happy

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