Capítulo 6 - A Corrida pelo Cajado de Avandor

Jake sentiu o doce beijo do chicote do contramestre mas mesmo assim não pareceu inclinado a falar a verdade. Para compensar ele tentou agir diplomaticamente falando sobre um possível tesouro gigante. Raggeti deu o sinal para o contramestre fazer uso novamente de seu chicote.

- Quantas vezes vou ter que falar para você não mentir? - ele obviamente não acreditou na história de um tesouro de gigantes e achou que Jake estava debochando de sua cara. - Agora responda a pergunta do marujo sobre o Desmorto ou qualquer outra embarcação pirata que você tenha visto por estas águas. E se mentir dessa vez, o contramestre fará uso de sua faca ao invés do chicote.

O velho continuava tateando a parede da caverna. Ele andava uns passos para trás, outros para frente, se agachava e se esticava na ponta dos pés, e não parava de tatear a parede aparentemente em busca de algo. Ele novamente agia como se não houvesse ninguém ali observando-o, e muitos minutos passaram-se sem nada de espetacular acontecer. Os piratas começavam a ficar impacientes, especialmente Hendrik que olhava para o seu capitão esperando que ele tomasse alguma decisão quanto a isso.

O chicote do contramestre estralou uma vez mais, e agora pareceu que a dor sofrida por Jake teve o efeito esperado. O capitão pelo menos pareceu convencido das respostas daquele habitante da ilha e mandou que seus marujos cessassem com as hostilidades. A seguir Raggeti ponderou as palavras de Lyed.

- Devolva a espada ao maldito, ele irá precisar dela. – Depois que Jake ficou de posse novamente de suas armas, o capitão aproximou-se dele. – Escuta aqui, tá vendo este olho que me falta? – Raggeti levantou o seu tapa-olho, pondo à mostra um olho de vidro que para nada servia. – Eu perdi ele por ter contado uma mentira ao meu antigo capitão. Agora, imagina o que acontecerá a você se você voltar essa sua arma contra mim e minha tripulação? Rá! É só olhar para a cara doentia do contra-mestre... ele passa metade do dia pensando em novas formas de tortura e atrocidades enquanto passa a outra metade executando-as! Agora chega de papo e nos leve até esta caravela. Quero dar uma averiguada no peixe menor antes de fisgar o maior.  

Barbarossa empurrou o velho eremita e chamou o Roosevelt. O pirata aproximou-se de forma ameaçadora e agarrou o velho pelo colarinho de suas vestes surradas. O eremita estava completamente indefeso, mas não pareceu tão intimidado assim. Ele olhou para as cicatrizes no rosto de Roosevelt e olhou para a parede. Ele repetiu o gesto umas três vezes, até que tomasse a decisão de abrir a boca. 

Os outros ficaram na dúvida se o velho estava fazendo as rimas de propósito ou não. O fato era que o velho mostrou um alto grau de excitação em sua voz, e mesmo depois que ele parara de falar, Roosevelt ainda via de perto os beiços flácidos do eremita mexendo-se sozinhos mas desta vez sem produzir som algum. Não era das visões mais agradáveis que Roosevelt já tivera. 

- Então realmente existe um tesouro aqui nesta ilhota? – questiona Hendrik espantado, mais para si mesmo do que para qualquer um ali. Virando-se para Algeon, ele pergunta: - O que você tem a dizer sobre as palavras do eremita? O seu deus não enviou nenhum sinal esclarecedor?

Não deu tempo do ancião responder a pergunta do elfo-do-mar, pois assim que ele abriu sua boca o pirata Solano deu-lhe uma porrada que quebrou pelo menos uns dois dentes do eremita. O velho caiu no chão e ficou lá cuspindo sangue e gemendo de dor. Algeon então tentou uma estratégia diferente e usou uma magia que detectaria pensamentos superficiais do eremita, mas de alguma forma o ancião conseguiu resistir a ela e o elfo-do-mar não obteve nenhuma resposta de que gostaria.

O imediato grandalhão, que estivera de braços cruzados até então, se adiantou e com toda a sua força nada delicada ergueu o velho do chão.
- Nos diga onde está esta porta que leva ao tesouro. É isso que você estava procurando?

O eremita cuspiu mais uma pitada de sangue. Quando abriu a boca para responder tornou-se visível que lhe faltavam agora os dois dentes da frente, e mais um terceiro inferior.
- A porta... se fechou... apenas o sangue... da virgem a reabrirá... ought... - ele cuspiu mais sangue, e desta vez caiu sobre o imediato, que largou o ancião para não se sujar. O eremita usou a parede da caverna para se apoiar, e surpreendentemente ele voltou a procurar seja-lá-o-que-fosse.

Hendrik disse:
- Parece que precisaremos usar o sangue de uma virgem para algum ritual... Onde encontraremos uma mulher nesta droga de lugar?

O imediato não sabia a resposta, mas Barbarossa sim.

Jake guiou a tripulação do Marlin Negro pelo caminho mais rápido até a praia onde a caravela estava ancorada. O Capitão Raggeti e os outros se esconderam atrás de uma rocha para observar de longe o navio. Havia uma catapulta e uma balista posicionada nos deques superiores, mas eles não avistaram nenhum marujo. O navio parecia estar despovoado.

O capitão deu a ordem então para que todos se dirigissem até a embarcação o mais rápido que pudessem e lançassem suas cordas com arpéu no deque principal para se içarem para cima e tomarem o navio. Raggeti foi o primeiro a sair de trás da rocha em que estava escondido e correr pela praia. Sua tripulação o seguiu logo atrás. Eles alcançaram as águas rasas do mar, e continuaram a avançar. Quando as ondas da praia já batiam em suas cinturas, eles foram surpreendidos pelo disparo da balista.