Tripulação da Senhora da Maré Profunda
A tripulação estranhou quando viram o retorno de Barbarossa carregando um corpo, e mais estranho ficou quando viram que se tratava de uma mulher. A postura do capitão não encorajava perguntas, mas a pergunta que todos tinham em mente era: De onde surgiu essa mulher?
Era uma moça de traços finos, com cabelos lisos e olhos que lembravam duas esmeraldas. Era o tipo de moça que não se encontrava se misturando com piratas, e muito menos dentro de um navio. Seu vestido, embora surrado e rasgado em algumas partes, aspirava nobreza. Mas a moça seja lá quem ela fosse estava morta, e o sangue que espirrava de seu pescoço deixou o capitão ensopado.
Barbarossa não ligou para a cor rubra que agora dava o tom de sua veste de pirata e tomou a dianteira em direção à caverna. Hendrik gritou para todos o seguirem e frisou o que o capitão havia dito “sem perguntas idiotas”. Assim o grupo de expedição caminhou em silêncio quase que absoluto até estarem novamente nas entranhas da caverna. O velho eremita estava sentado encostado na parede, e não escondia a sua felicidade. Ele ria feito um condenado, e balbuciava coisas sem sentido.
- Por que está tão alegre, velho? – perguntou Hendrik.
- A porta! Hu hu hu hu! A porta, eu encontrei a porta! Hu hu hu hu! – respondeu o eremita.
- Onde ela está?
- Bem ali! Ó, bem ali! Hu hu hu hu. – o eremita apontou para a parede. Não havia de extraordinário no ponto em que o eremita apontou. Para todos os outros parecia se tratar de uma parede normal.
- O meu capitão trouxe o sangue da virgem que você precisava, agora nos revele a entrada para o tesouro – ordenou Hendrik.
Só então o eremita reparou na mulher que Barbarossa carregava. O ancião se ergueu do chão, aproximou-se do capitão, e tocou de leve o cabelo da mulher.
- Coloque-a no chão, por favor! – pediu o eremita, excitado. Depois da mulher ser depositada no chão da caverna, o eremita passou a sua mão caquética pelo ferimento no pescoço da mulher. Ele passou sua mão duas vezes pela ferida aberta, fazendo sua mão inteira se preencher com o sangue de Emelina. O eremita voltou a se erguer e desta vez se postou de frente para a parede da caverna e colocou sua mão envolta de sangue no ponto em que segundo ele era a porta. Ele fechou os olhos e murmurou uma palavra num idioma desconhecido. Na verdade apenas Algeon e Ootiliktik sabiam o significado daquelas palavras: Abra-te, no idioma dos seres que moram nas profundezas do mar.
Nada aconteceu. A tripulação olhou para o eremita acreditando que ele não sabia como abrir a porta e que os tinha feito de idiotas. Hendrik começou a puxar o seu machado grande das costas quando um som de água escorrendo pela parede deu um sinal de alerta de que algo iria acontecer. Pequenos filetes de água surgiram fazendo caminhos alinhados pela parede da caverna. A água seguia o seu próprio curso e não demorou em perceberem o esboço de uma porta sendo desenhado. Os filetes de água haviam formado um retângulo de 1,5 m de altura e a metade disso de largura. O eremita tirou a mão de sangue da parede e aquele retângulo de pedra se moveu. Por incrível que pareça ele não fazia o menor ruído em seu movimento lateral, e logo uma abertura foi revelada. Estava escuro lá dentro.
Tripulação do Marlin Negro
E mais uma vez o chicote do contra-mestre estralava contra alguém praticamente indefeso. Estava virando rotina: a cada pessoa encontrada o capitão ordenava que Frac usasse seus chicotes para obter informações. Isso era tortura e nem Raggeti e muito menos Frac estavam se importando com isso. Mas para alguém atento era possível enxergar olhos desaprovadores em meio a estas cenas. Royce, Lyed, Thelarq eram apenas alguns dos marujos que eram contrários a esta prática. Mas seja como for, ninguém podia negar que aquilo tinha resultado.
O marujo menor se encolheu com as chibatadas e chegou a se ajoelhar no chão, mas permaneceu irredutível. O marujo maior, que parecia ter o apelido de Rato, se comoveu com o amigo e começou a dizer tudo o que sabia antes que o contramestre estralasse mais uma vez aquele seu chicote.
Rato disse que a tripulação da Senhora da Maré Profunda (o nome do navio) tinha chegado a esta ilha por intermédio de um elfo do mar. Segundo o Rato, o elfo do mar recebeu informações privilegiadas de sua divindade de que ele deveria rumar para esta ilha, e que provavelmente havia algo para ser encontrado lá. Tesouro? Algum artefato poderoso? Ele não sabia, mas a promessa de uma aventura foi o que motivou Barbarossa e sua tripulação. O capitão do navio havia separado a sua tripulação em dois grupos de exploração e cada um foi para um local da ilha. Rato não sabia exatamente por onde Barbarossa havia ido, mas mencionou que ele retornou algumas horas antes ao navio para pegar uma mulher que mantinha escondida no deque da carga. Barbarossa havia assassinado a mulher a sangue frio, e carregado o seu corpo de volta para a ilha. Para provar que o que estava falando era verdade, Rato apontou para um rastro de sangue que havia no convés por onde Barbarossa havia passado carregando a mulher.
- O rastro de sangue deve também estar na areia. Poderemos seguir por onde foi o seu capitão - disse Raggeti. - Talvez seja melhor nós irmos primeiro ver onde foi esse tal capitão Barbarossa, e depois irmos até o Desmorto. Se conseguirmos chegar despercebidos podemos dar cabo facilmente de uma tripulação rival à nossa, e com sorte ainda podemos encontrar algum ouro para levar com a gente. Marujos, o Senhora da Maré Profunda é nosso! Amarrem esses duas escórias num dos mastros. Sean, quero que você fique aqui para tomar conta do navio, junto com Albett, que está ferido. O resto irá comigo!
Se ninguém tivesse mais nada a dizer, Raggeti desceria de volta ao mar e procuraria por algum rastro de sangue na areia que pudesse indicar o caminho a ser seguido.