Ato ll: Fora de Hora.

O avatar de Akon o ajuda a seguir em seu salto devido aos seus ferimentos, o mergulho no rio parece ser literalmente isso quando os três voltam para superfície notam que não estão nem há quatrocentos metros de onde viram o templo judeu em chamas.

Diante deles, assim que saem para respirar veêm ainda conseguem ver caído á frente da sinagoga caído o militar desacordado enquanto cinzas dançavam como flocos de neve por sobre eles, naquele instante seguinte à sensação daquela abertura ao mundo espiritual tudo parecia estramente comum e corriqueiro e as pessoas adormecidas pareciam finalmente se dar conta de que ali havia um lugar pegando fogo e um homem muito machucado por estranhos ferimentos.

Os três estavam nadando, e dois precisavam ajudar Akon a continuar.

Como num sonho, viajei de um lugar a outro sem percorrer espaços, pois a conexão entre os dois não era um caminho, mas uma analogia: de um rio espiritual a um rio material. E o despertar foi bastante desagradável, pois imaginei as águas que fluem suaves pelo Reino de Nathicana como tépidas e cristalinas, mas senti meu corpo mergulhar com força no escuro e gelado Miskatonic…

Ao voltar para a superfície, segurei meu medalhão de madeira, com medo de que ele se soltasse do pescoço, e olhei em volta. As cabeças de Akon e King emergiram segundos depois, o que me fez sorrir comigo mesmo. Pensei: "somos uma boa Cabala porque confiamos uns nos outros. King reprova o meu estilo de magika e, mesmo assim, teve confiança de pular ao invés de se arriscar com seus próprios palpites sobre a Umbra".

Akon nadou com dificuldade até a margem, olhou para a balbúrdia em redor e perguntou se deveríamos continuar seguindo pelo rio ou se havia uma alternativa melhor. Eu cuspi o tablete de tabaco que trazia na boca e, com os lábios tremendo, falei:

- Se-seguindo com a... a correnteza, vamos nos afastar rápido e sem chamar muita atenção. Estão todos a-atentos ao incêndio, não ao rio. Mas não vamos demorar muito para sair da água, po-porque esse frio tá ruim de aguentar…

Dizendo isso, olhei para King à espera de sua resposta, e achei engraçado vê-lo com os cabelos molhados e com suas roupas elegantes encharcadas.

Explosões e coincidências sempre trazem objetos perdidos, magos perdidos e uma boia, quem iria reparar em meio à tantas chamas?

Sem problemas King consegue trazer o objeto que faltava para facilitar a todos uma chegada tranquila até a margem.

Ronald segurando o riso para o desleixo em que o mago hermético foi forçado a estar de certo modo sente-se feliz porque são um grupo coeso, o que contradiz sua natureza solitária por um momento e até lhe dá uma outra perspectiva do que significa uma equipe.

A única direção contrária a correnteza e frio era justamente do mesmo lugar próximo das chamas, as pessoas ainda estavam distantes de lá, apesar que iam naquela direção ainda era um espaço razoável para fugir das poderosas águas do Myskatonic ao mesmo tempo que se chegava à margem.

Enquanto ouvem resmungos quase incompreensíveis saindo da boca de King, Akon ainda manca devagar quando se levanta.

A razão dos ferimentos que sofreu esta agora diante deles, caído... o militar estava totalmente desfalecido, eles notavam que ele não respirava. Os punhos e pés estavam como que rasgados e descascados, tinham enormes buracos na pele artificial e eles podiam ver fios e mecanismos estranhos nos lugares de ossos e tendões até seus antebraços e panturrilhas.

Ao se depararem com ele, ouviam as vozes das pessoas aumentarem e irem em direção da sinagoga.

Eles então notavam que havia uma trilha por baixo do cais usada de dia por pescadores... parecia ser por onde poderiam ir sem ser vistos.

Mas o que fariam do corpo do militar jogado ao chão? Que mistérios ele guardava e que pistas ele ali poderia deixar para seus perseguidores?

A "trapaça" do King foi muitíssimo bem-vinda, pois senti um grande alívio em sair das águas frias para aquele bote providencial - que, aliás, me pareceu familiar… Chegamos rapidamente à margem, e Akon, com sua objetividade, identificou logo um bom caminho para fugirmos dali, além de perguntar se devíamos examinar o corpo de Van Die.

Meu impulso natural era dar de ombros para a pergunta e seguir correndo pelo caminho dos pescadores, pois eu estava tenso, molhado e com frio. Mas fazia sentido tentar aprender alguma coisa sobre o inimigo derrotado.

- Se-seeria bom se o Tyler estivesse aqui, disse olhando para os implantes cibernéticos destroçados.

Eu não entendia quase nada de tecnologia, mas sabia um tanto sobre espíritos. Talvez eu pudesse ter impressões, insights ou visões de quem, quando ou como aqueles malfeas de forma elétrica foram aprisionados nos implantes.

- E-eu podia dar uma examinada noos im-implantes, mas meus cigar-rros molharam, já gastei do-dois tabletes de tabaco...

Me ajoelhei no chão lamacento e recolhi rapidamente pequenos fragmentos dos implantes que haviam explodido: pedaços de metal semi-derretidos e, de preferência, fios ou outros materiais condutores de eletricidade.

- Pronto! De-depois eu vejo isso…

Sem esperar qualquer resposta ou comentário, fui caminhando em direção à trilha dos pescadores, e só não corri em disparada porque sabia que Akon ainda estava mancando.