Centelha (Yoosuke)

(Desculpe a demora! :X)

O soldado estava bastante abalado com a situação, não esperava que fosse ter uma reação daquele tipo e que nada do poder do império poderia lhe salvar naquele momento. Era uma falsa segurança - todo o poder que Kamai tinha, não significava nada para eles coletivamente, pois o Avatar deveria ser uma inspiração e trazer um sentimento de união aos povos, naquele momento, com a separação e tantos embates acontecendo, sua função estava comprometida e todo aquele sentimento que aqueles soldados tinham de poder, não era nada - pois não conseguiriam nem mesmo segurar o ataque de uma garota que mal treinamento possuía em sua dobra.

- Sim... Eles colocaram uma recompensa por você. Mas...

Ele fez uma cara de dor, tentando mexer a perna que parecia quebrada. Puxou ela com as mãos - realmente não se mexia.

- Só pela informação, aparentemente não querem que te machuque ou querem buscar eles mesmos, não sei-...

Ele tinha mais alguma coisa pra falar, mas ao mover a perna um pouco de terra se revirou - e continuou se revirando, mesmo após ele parar de mexer. Ele olhou assutado para a terra e rapidamente voltou os olhos para Yura, com medo de que ela terminasse o que tinha começado. Yura ainda estava sentada no chão, respirava normalmente agora e parecia mais calma, olhava para Yoosuke para entender o que ele estava fazendo e seus olhos voltaram a perseguí-lo, a mesma posição de proteção de antes. Mas, não era ela que mexia naquela terra.

- Shufen! Eu falo o que você quiser, diz pra ela não fazer mais nada, por favor!

E sem poder terminar de falar ou deixar que Yoosuke falasse com Yura, a terra se revirou mais algumas vezes - como se algo se movesse ali embaixo. Continuou revirando e uma mão saiu dali, buscando e procurando. Mais algumas mexidas e o outro soldado apareceu, ergueu-se e passou a caminhar, ignorando completamete os três. Seus olhos emanavam uma luz azulada - os membros pareciam quebrados e andava desajeitado, mas andava. Seguiu o caminho para o meio da floresta, sem dizer nenhuma palavra.

- Zao! ZAO!

O primeiro soldado gritou, mas não teve retorno.

Yura se colocou de pé, observando o desenrolar daquela situação. Ela tinha certeza de que aquele homem estava morto, dada sua reação imediata. Olhou rapidamente para Yoosuke quando ouviu seu nome, não respondeu naquele momento, mas era possível ver que assim como Yoosuke mostrou preocupação com aquela situação, ela também, mas assentiu com a cabeça sobre sua informação com relação a defender-se, provavelmente não seria necessário dado o estado do soldado e o medo que o mesmo estava sentido da Yura. Era muita coisa para assimilar em tão pouco tempo e, considerando tudo o que já tinha acontecido até então com aquele pequeno grupo.

O soldado ferido acompanhou a movimentação com os olhos, mas nada mais disse. Sabia que tinha algo de errado com seu companheiro - não sabia exatamente o quê - e nas condições atuais, não teria como descobrir. Ou talvez nunca.

Quando Yoosuke tocou o punho de Zoa, ele se virou imediatamente de acordo com suas limitações, os membros quebrados se moviam de forma desordenada, como se o corpo precisasse se organizar para se mover - girou o quadril, depois o tronco e depois, o rosto. Os braços apenas acompanharam toda esse movimentação, como se fossem amarrados aos ombros e não tivesse controle. Toda a movimentação era antinatural e lembrava uma marionete sendo controlada por alguém que não sabia como controlar uma marionete.

De frente para Yoosuke, os olhos emitiam aquela mesma luz azulada, a boca se entreabriu, lenta e com movimentos espaçados.

- K-ka... ma... i.

Embora não oferecesse muita resistência, o corpo de Zao tentava girar de volta para o caminho que estava seguindo.

Um pouco mais afastado, o soldado ferido, Hide, falou:

- O que vocês fizeram com ele?!

A marionete de Zao ignorou Yoosuke, não parecia ter forças para se soltar - mas estava tentando, os movimentos descoordenados e impusionados apenas pela força de torque do próprio corpo. Sua boca entreabriu e o som grave e gutural se repetiu - um pouco mais rápido e mais parecido com as palavras que queria dizer, embora não fosse tão díficil de entender.

- Ka... mai.

Nesse momento, a resistência aumentou. Parecia ter um pouco mais de força, mas ainda assim era como se estivesse brincando com uma criança muito pequena. A força era mínima, mas parecia aumentar a cada momento de forma constante. A luz azulada de seus olhos era tremulante as vezes, como uma vela que brigava para permanecer acesa com o vento soprando.

Um leve tremor ocorreu, passou por baixo dos pés de Yoosuke e terminou em Zao. Os pés do mesmo foram envoltos em uma pequena camada de terra, prendendo-o no lugar. Yura. Ela caminhou até Hide, que estava com a perna ferida e com um movimento rápido das mãos, empurrando o ar, jogou para o lado todos os destroços que tinham sobrado da situação anterior, puxou as mãos para cima logo em seguida e uma pedra se ergueu, dando um apoio para as costas do soldado.

A reação inicial de Hide foi cobrir o rosto, a forma pela qual fora impactado por Yura foi o suficiente para ter medo o suficiente da mesma. Com isso, não viu o que ela tinha feito - só abriu novamente os olhos e descobriu o rosto quando sentiu o apoio em suas costas, respirou, um pouco aliviado - mas deviou o olhar para não encarar Yura.

Só então, aproximou-se de Yoosuke.

- Desculpe. E... Eu não sei o que aconteceu com ele. Mas podemos tentar levar para... Não sei, alguém na vila pode ajudar!

Referia-se a Zao, claramente. Olhava fixamente para o mesmo, também sem entender - embora estivesse mais próxima de Yoosuke, mantinha uma distância considerável do soldado... possuído? Mais alguns segundos com ele tentando andar e não conseguindo sair do lugar, parece que sua força acabou. Os olhos pararam de piscar e foram tomados por uma cor pálida, em tempo que suas pernas fraquejaram e ele caiu no chão.

Yura assentiu com a cabeça ao pedido de Yoosuke e os blocos que prendiam os pés de Zao se desfizeram com um rápido movimento de suas mãos, ele já estava caído e não teve nenhuma reação a esse último fato. Yura, tendo confirmado o pedido de Yoosuke, ficou de olho em Hide - ele parecia estar com uma das perdas quebrada ou bastante ferida. Tentou se erguer e conseguiu, ficou de pé, mas usava o apoio que Yura tinha fornecido, certamente seria muito difícil sair dali sozinho, até seria possível, mas não conseguiria correr ou se desvencilhar dos dois, uma das pernas não fixava plenamente no chão, ficando levemente curvada e a outra era seu apoio.

Ele não respondeu mais, baixou a cabeça e olhava de canto de olho para seu companheiro, tentando fazer sentido de tudo aquilo.

Yura abriu a boca para falar, mas desistiu. Não sabia o que dizer e nem como dizer - a realidade de sua função e para o que tinha sido treinada se chocou com ela nesse momento, era uma guardiã, uma protetora, não foi feita para tomar decisões e quando decidiu agir por conta própria, causou uma morte que poderia ser evitada, que agora, retomando toda a linha do tempo, Yoosuke já parecia ter tudo sob controle há bastante tempo.

Apesar do dia agradável, a temperatura baixava a medida que o tempo passava. Não era incomum naquela região, com o tempo muito seco - os dias eram muito quentes e as noites frias, pois o ar não conseguia segurar muita umidade. Tinha muita coisa para pensar, mas era algo que ele sabia, sua família investiu muito em seu treinamento tentando fazer com que pudesse dobrar fogo e entender as mudanças ao seu redor era importante para qualquer dobrador. Contudo, o corpo de Zao emanava um frio maior do que o ambiente - embora não estivesse se esvaído há tanto tempo.

Poucos segundos depois dos acontecimentos anteriores, os olhos de Zao tremularam novamente com a luz azulada, piscando poucas vezes até acenderem por completo. Ele se ergueu vagarosamente, usando qualquer membro de seu corpo que pudesse lhe manter. Mas dessa vez, quando de pé, aquele corpo anti-natural e quebrado encarou Yoosuke.

- Kamai... Kamai... Kamai... KAMAI!

Repetiu as palavras com uma voz arrastada e gutural, nada naquele timbre lembrava dos primeiros momentos que trocou com Zao. Como ainda segurava o pulso dele, Zao fez o mesmo com a mão livre e segurou o pulso de Yoosuke.

Yura colocou-se ao lado de Yoosuke, um pouco afastada - mas em posição. Iria aguardar seu comando.

- Shufen, o fugitivo. Vamos nos encontrar ainda. Solte meus soldados e não irei prejudicar sua família.

As palavras saíram da boca de Zao, mas o som corrompido pareceu o atingir diretamente na mente.

Yura mantinha a pose - não iria agir a não ser que Yoosuke a pedisse, mas em qualquer ameaça, provavelmente ela não iria segurar muito mais tempo.

Hide, olhava incrédulo - estava apoiado no suporte que Yura forneceu, na ponta, atônito.

Zao, que passava a comunicação por Kamai, ou assim era o que aquela ilusão lhe passava, tremeu. O corpo todo - como se o ventríloco tivesse sacudido a marionete com força, puxado todas as suas cordas de uma só vez e então, soltado as mesmas de uma só vez. Não era fácil de entender o que acontecia, se aquilo era por vontade de Kamai ou se o corpo de Zao não estava suportando aquele tipo de situação. Yoosuke sabia bem qual era o tipo de poder que um Avatar possuía e Kamai já teve alguns anos nessa posição, o que lhe deu muito tempo para entender de forma plena quais eram suas capacidades. Se em harmonia, as possibilidades eram infinitas.

- Os outros avatares falharam. Confiaram que as pessoas saberiam cuidar umas das outras, mas ovelhas precisam de cães pastores e alguém para controlar os cães. Eu sou a vara que bate nos cães e caleja a mão do pastor, para que eles se comportem.

Zao abriu a boca assim que a última palavra saiu e manteve-a aberta, dali a luz tremulante também pulsou por alguns segundos e então parou, como se Kamai tivesse tomando controle mais uma vez.

- Cães vão marchar pelo vilarejo onde se encontra e você irá assistir, Shufen. Se sobreviver, ao fim de tudo - venha às ilhas da nação que fugiu e tente ser insolente frente a frente.

Zao soltou a mão de Yoosuke e passou a tentar mover-se na direção do vilarejo. Ainda não tinha força o suficiente para se desvencilhar de Yoosuke, mas tentava - girava seu corpo e puxava. Não era muito, mas o suficiente para que Yoosuke tivesse que segurá-lo com certa firmeza, caso contrário iria se soltar e sair dali.

Depois de tudo falado e feito, Hide olhava atônito. Ele, provavelmente, já tinha visto Kamai antes e ouviu aquelas palavras - parecia saber quem as tinha falado e o medo em seus olhos confirmava aquele ponto. Baixou a cabeça com lágrimas nos olhos, não disse nada, mas sabia que tinha escolhido o time errado, sabia que não bastava ficava do lado vencedor em uma guerra quando o lado vencedor era o único lado vivo. Talvez já tivesse visto aquilo antes muitas outras vezes e sabia qual seria o desfecho para aquele vilarejo - quando tudo começou, Kamai tinha boas intenções, mas é fácil se corromper e provar seu ponto por tão pouco quando se acredita estar certo o tempo todo.

Yura baixou a guarda e se aproximou de Yoosuke.

- T-temos que ir até aquele vilarejo. As pessoas precisam sair de lá.

Estava incomodada com tudo aquilo, frustrada. Nada tinha dado certo até agora. Em sua cabeça, eles não serviram nem mesmo para roubar algumas roupas velhas e agora poderia estar causando problema para uma vila inteira. Seria difícil convencer qualquer pessoa sobre o que tinham acabado de ouvir em qualquer situação, que dirá em uma de desespero. Tinham a eles próprios e dois soldados, um do qual não tinham nenhuma certeza de seu estado e que parecia ganhar forças a cada seguro sendo controlado.

Não houve mais resposta de Kamai, cortou o canal de comunicação através de Zao. Este, que passou a caminhar na direção do vilarejo do seu jeito desajeitado, com as mãos balançando junto do corpo. Havia pressa na vontade, mas sua oferta física era baixa demais para que pudesse acompanhar essa pressa. Hide assentiu com a cabeça, ele parecia balançado ainda com tudo o que tinha acontecido, mas sabia que estava do lado errado, teve certeza agora e não fazia mais sentido interferir dessa forma ou seguir ordens de forma cega. Ele forçou a perna ferida no chão e conseguiu dar alguns passos vagarosos - esfregou os olhos, limpando as poucas lágrimas e seu rosto ficou manchado com a terra que tinha lhe coberto momentos antes.

- Quando chegarmos lá, eu... Eu acho que posso ajudar.

Yura assentiu com a cabeça olhando para Yoosuke. Por alguns momentos ele conseguia ver um olhar diferente vindo da jovem, não era exatamente admiração - mas era algo positivo.

Ela afastou as pernas e moveu uma das mãos para cima, como se puxasse uma de suas pernas - fechou o punho, segurando a perna no alto e bateu o pé no chão com força - as vestes todas tremeram junto dos cabelos alvos de Yura, Yoosuke sentiu o chão tremer como se roncasse de fome. Uma placa de terra, pedra e detritos se formou abaixo dos três e passou a se movimentar na direção do vilarejo. Não era bonito, mas era rápido. Rápido o suficiente para que o vento frio do fim da noite que se aproximava batessem nos rostos dos três, passaram por Zao que estava um pouco a frente e agora, ficou para trás. Yura parecia concentrada e tinha os dentes cerrados com o esforço que estava fazendo.

Tudo aquilo foi ao menos 3x mais rápido do que tinham levado para sair dali, desde o incidente com as roupas e foi ali que chegaram, próximo da casa com o cachorro e o varal vazio.

- Parece calmo.

Yura disse e de fato, parecia. Não havia movimentação de soldados e as poucas pessoas do local começavam a se organizar para terminar o dia.

- O que vamos fazer?

Ao término da viagem, Yura assentiu com um fraco sorriso. Alguns fios de cabelo estavam presos em seu rosto, que estava ruborizado, a atividade que realizara pareceu exigir bastante da jovem. Mas estava satisfeita com o que tinha acabado de fazer - não teria uma oportunidade assim e apesar de tudo o que tinha acontecido até então, aquilo parecia algum avanço na direção de Kamai, por mais que ele estivesse ameaçando toda a vila. Havia certa culpa em tudo aquilo, mas era fácil de entender que não controlavam as ações de um avatar - além disso, ainda tinha tudo o que aconteceu com Zao.

- Uhff.

Yura suspirou e apoiou as mãos nos joelhos, olhando para Hide e Yoosuke.

Hide olhou rapidamente envolta - certamente já tinha passado por ali, pois era a vila mais próxima de onde tinham se encontrado inicialmente.

- Tem um velhote. Estávamos observando ele. Ele deveria ser um contato rebelde aqui nessa vila, mas eu e Za-...

Parou de falar por um momento, retomando o companheiro caído em sua mente.

- Ficamos aqui um tempo e não conseguimos nada. O velho nem se quer saiu de casa em quase uma semana, a casa dele fica perto, no centro. Fácil de achar, tem uma porta vermelha. Mas pelo o que sei de rebeldes, ele não vai se abrir tão facilmente. Especialmente para nós três.

Os três ainda usavam trajes típicos da nação do fogo, Hide era o pior, pois estava usando um uniforme militar com a insígnia de Kamai.

- Mas... Eu pensei em outra coisa. Por enquanto, ainda estou no exército de Kamai... Podemos tentar esvaziar a cidade. Ordens do Avatar e toda essa coisa. Talvez seja difícil com só três pessoas, mas... - Coçou o canto da cabeça, tentando fazer sentido com sua ideia, mas aparentemente não havia situação simples de se resolver, mas haviam algumas opções na mesa para o grupo de dobradores.

De onde olhavam, a cidade ainda parecia bastante calma.

Yura afirmou com a cabeça, concordando com o plano. Hide, também. Embora parecesse receoso. Era um soldado - já tinha tido um choque de realidade ao enfrentar Yura e Yoosuke, tinha a vontade abalada e não parecia mais usar aquela máscara de confiança com a qual trocou as primeiras palavras contra o jovem Shufen. Por outro lado, não haviam muitas opções - então dividir as forças e tentar tudo o que tinham a disposição pareciam o melhor dos mundos.

- Eu vou tentar... Talvez, se eu der minha insígnia pra ela? Será que não pode ser mais convincente?

A jovem de cabelos brancos tinha causado um impacto no soldado, com certeza. Yura virou o rosto, com um sorriso desconfortável - como se a idéia fosse uma piada, ainda que a absurda.

- Não... Não, nada disso. Eu não sei nada de exército. E além de tudo, eles nunca me viram. Tem que ser você. Vamos fazer da forma que Yoosuke disse, vamos ter mais chances.

Nesse passo, já era o início da noite e era possível ver as pequenas luzes tremulantes das lanternas de óleo nas casas. De onde estavam, dava pra ver o centro da cidade onde ficava a casa do velho, indicada por Hide. Não seria mais do que 10 minutos de caminhada.

Hide, por outro lado, teria que ir para a taverna e hospedaria, talvez fosse o local com a maior quantidade de pessoas reunidas em um só lugar.

- Nie - Hide falou. Era uma expressão comum para a Nação do Fogo, vinha de Enigiets - que significava nada. Uma língua morta. Acreditava-se que foi a lingua que os primeiros dobradores de fogo utilizaram para conversar com os dragões e aprender as dobras de fogo. Ninguém sabia de fato como falar, mas várias expressões foram encurtadas e incorporada no lingo do exército da nação do fogo. Yoosuke, mesmo não sendo parte, seus estudos por vir da família que vem, envolveram e sabia o que significava. Assim como Ja - Sim / Gen - Não e diversas outras expressões curtas. Yura, contudo, olhou de forma estranha - não era completamente alheia a existência das palavras, mas não sabia o que significavam - pelo contexto, deduziu.

- Mas não acho que seja o mesmo que nós... Não sei o Reino da Terra tem alguma coisa parecida. Sei que o velho é um fazendeiro de sujei-... Dobrador de terra.

Se corrigiu, olhando rapidamente para Yura e baixando o olhar. O termo anterior era uma forma pejorativa pela qual soldados da nação do fogo chamavam dobradores de terra.

- Acho que deu sua hora.

Disse Yura, com os olhos apertados. Hide concordou e pôs a caminhar na direção da hospedaria. Yura balançou a cabeça negativamente, olhando - achava que não sairia muita coisa dali, mas de fato - era o que tinham para tentar. Olhou Yoosuke e confirmou que a mecha de cabelo estava aparecendo. Não é como se ele fosse um procurado, mas era um traço bastante marcante da sua fisionomia. Yura soprou de leve e tentou afastar com a ponta do dedo indicador, colocando a mecha para dentro do cachecol, mas sem muito sucesso, ainda era visível.

- O máximo de sem atenção que conseguirmos - repetiu a frase de Yoosuke, com um sorriso fraco no rosto. Desamarrou um pequeno cordão do pulso e juntou os cabelos num coque, puxou um pouco a aba do traje, escondendo parte do pescoço.

- Você na frente. Eu vou prestar atenção se alguém vai nos seguir ou... Não sei. Alguma coisa.

(Pode interagir e se quiser adiantar, já indo para a casa. Na próxima ação eu complemento! )

Hide seguiu seu caminho e desapareceu logo, era um soldado típico e talvez por esse motivo fosse o que fosse. Não era acostumado tomar decisões, então a situação era bastante complexa para ele - ao mesmo tempo, precisavam acreditar de que alguma forma, suas palavras teriam algum impacto. Talvez o que Yoosuke disse quando estava indo surtisse um efeito, era sua chance de se redimir, entender de fato o que Kamai representava e não apenas seguir ordens cegamente enquanto tirava proveito das migalhas que estar no exército lhe proporcionava.

Yura olhou na direção que tinham que seguir e aquele caminho livre até a casa não passava uma boa impressão, na verdade, nada daquilo passava um sentimento bom. Mas era o que tinham de opção no momento e só faltava a ação deles.

"Será que vai dar certo?" - a dúvida de Yoosuke parecia ser a mesma de Yura. A jovem sempre foi muito confiante - realista - mas certa de que poderia fazer certas coisas. Contudo, desde o ocorrido na clareira e sendo responsável pelo o que aconteceu com Zao, havia uma nuvem ali.

- Vai dar certo.

Talvez tirasse sua confiança de Yoosuke.

Os passos foram breves, era um caminho bastante curto iluminados por tremulantes lâmpadas de gás - tochas em alguns pontos. Bateram a porta e não houve uma resposta imediata, o que pareceu uma eternidade do ponto de vista da ansiedade para resolver a situação, mas segundos depois a porta se abriu e do outro lado estava um homem, realmente parecia velho - se fossem chutar, teria mais de 60 anos, corpulento, estava acima do peso, mas via-se que passava uma energia de força latente. Tinha os olhos cerrados enquanto encarava os dois. Os olhou de cima a baixo.

- Eu já falei pra todo soldado que passou aqui, não sei de nada de rebeldes. E a padaria só abre amanhã cedo.

Imaginou imediatamente, por conta dos trajes deles, que estivessem com o exército de Kamai. Bateu as grossas mãos na lateral das vestes, limpando-as de farinhas de trigo.