Centelha (Yoosuke)

Yoosuke arregalou os olhos ao ver Seo-Joon saindo de sua prisão. Ele deu uns passos para trás e ficou próximo de Yura. Olhou de relance para a amiga e depois para Seo-Joon de novo, pronto para defendê-los se fosse preciso.

Yoosuke percebeu ele olhando para a direção da fumaça:

- O que tem essa fumaça lá? Por que é difícil?

Yoosuke ouvia Wan e Seo-Joon falando. Enquanto ambos discutiam, ele ficou parado observando a interação dos dois. Yura podia notar que alguma coisa incomodava o amigo: ele estava taciturno e olhava para Wan e Seo-Joon com uma expressão fechada. Yoosuke era uma pessoa tranquila e dificilmente ficava irritado, mas agora...

- Wan e Seo-Joon.

Ele se concentrou. Cerrou os punhos e concentrou-se para que labaredas os envolvessem. Poderiam nãos e machucar no mundo espiritual, mas seria uma bela cena. E ele conseguiria talvez intimidar um pouco mais.

- Por que vocês não contam exatamente o que está acontecendo?

Wan os guiou e agora os dispensava. E Seo-Joon sabia muito bem para onde ir. estavam sendo usados. E Yoosuke detestava essa sensação:

- Quero saber tudo.

Olhou Wan como se o acusasse de alguma coisa, assim como Seo-Joon.

- Você trabalhou com o Seo-Joon desde o começo, não é? Nosso guia nada! Queria nos trazer aqui e libertá-lo! O que ganhava com isso?

E depois, Seo-Joon:

- E você precisa da gente para sair daqui, não é? É bom explicarem tudo ou não vamos nos mexer e ficaremos os presos aqui!

Ele deu um meio sorriso:

- Bem, pelo menos eu e Yura podemos sair daqui. Já você parece que precisa de mais alguma coisa para se libertar, Seo-Joon.

Seo-Joon olhou impaciente, mas Yoosuke já desconfiava de algo - algumas coisas não estava sendo plenamente compartilhadas e nem era a intenção do mesmo, pelo pouco que sabia do ladrão. Mas juntando a isso, de saber que o jovem da família Shufen desconfiava de algo, assim como sua incisiva em perguntar o que estava acontecendo, Seo-Joon pareceu ceder. Suspirou, deixando o ar escapar de maneira abrupta pelas narinas e assentiu, indicando o caminho para seguir. Nesse mesmo momento, um leve tremor balançou o solo sob os pés de todos eles.

- Eu vou te contar o que eu sei e como vou sair, assim como o motivo de Kamai me querer preso. Vocês vão odiar, heh. Mas precisamos fazer isso no caminho, se não vamos ser expulsos e não sei exatamente onde cada um vai parar.

Wan desaparecia no ar, de uma forma estranha, como se fosse uma memória. Seo-Joon apertou o passo na direção da fumaça.

- Quando sairmos daqui, vocês provavelmente voltarão para o lugar exato onde seus corpos estão. Já eu, por outro lado, não posso voltar para o mesmo lugar, se não... Continuo nas mãos de Kamai. Espero que Mokuzai já tenha preparado uma alternativa, não é o melhor dos caminhos, mas é o que tenho. A alternativa é um corpo vazio... Alguém que já morreu.

O que Seo-Joon estava sugerindo, parecia muito com o que Yoosuke tinha visto na floresta, quando Zhao morreu e o seu corpo foi ocupado, de alguma forma, por Kamai. Pelo poder que o avatar possuía, talvez fosse possível dividir sua essência e utilizar outros corpos sem perder o seu próprio, mas Seo-Joon aparentemente estava disposto a deixar seu corpo para trás e assumir uma nova indentidade para escapar de sua prisão. Enquanto conversavam, já estavam bem próximos da fumaça.

Um redemoinho de nuvens negras girando e indo ao céu, era impossível enxergar o fim daquilo com os olhos, parecia continuar e ir muito além. Assim como quase tudo naquele lugar, parecia expressar algum tipo de sentimento, nesse caso - era o repulsa, muito parecido com o líquido negro no meio do mar por onde entraram.

- Não sei se voltaremos próximos. Mas quero sair daqui logo. Essa é sua chance, se tiver mais alguma dúvida.

(Ein, o Yoosuke conseguiu fazer chamas? =D Hehe)

Yoosuke observava Seo-Joon e trocou um olhar rápido e discreto com Yura. Parecia que finalmente, agora, tinham conseguido quebrar a farsa de Seo-Joon.

- Além de nos contar, vai explicar direitinho as coisas que quer dizer. Por que seríamos expulsos?

Yoosuke andava ao lado de Yura e não deixou de observar Wan desaparecendo aos poucos. Ainda com o olhar afiado e com voz irritada, ele cortou Seo-Joon antes que ele prosseguisse com sua explicação:

- Wan foi também um dos seus truques, não foi? Quero que me explique tudo, Seo-Joon. Tudo.

Pela primeira vez, Yoosuke tinha o ar que o resto de sua família aristocrática carregava: um ar superior e que exigia respostas. Tinha a postura ereta e passava um ar de autoridade. Era raro ele se comportar daquela maneira. Nem mesmo Yura o havia visto aquele tipo de comportamento em Yoosuke.

E é claro, Yoosuke olhava para Seo-Joon com os olhos fixos nos olhos do homem. Porém, até mesmo no olhar, Yoosuke se comportava diferente: era como se fosse algum tipo de superior de Seo-Joon. A impressão era de que Seo-Joon fosse um empregado ou capacho do jovem Shufen:

- Nós vimos algo parecido. Um soldado morto que voltou a vida. Ele chamava por Kamai.

Yoosuke ficou um tempo calado e apenas mudou a expressão de seu olhar para algo mais ameno ao olhar para Yura. Sabia que aquilo a deixava mexida e não queria que ela ficasse triste. E também, esperava Seo-Joon absorver aquelas palavras. Ele estava mesmo disposto a abandonar seu corpo, mas aquilo não deixava Yoosuke surpreso. Ele poderia ter liberdade e quem sabe, juventude.

- Sabe o porquê disso? Desse soldado voltar? O que viu por aqui?

Andavam junto com Seo-Joon enquanto ouviam suas respostas. Yoosuke parou e observou a fumaça e depois, baixou os olhos para Seo-Joon:

- Tenho muitas dúvidas. Por que Kamai te quer preso e não executado?

Yoosuke olhava o espírito do ladrão, ainda desconfiado:

- É verdade que você pode dobrar o fogo e o ar? Como conseguiu isso? Alguém como eu e Yura conseguimos também?

Yoosuke o observava, esperando as respostas para algumas de suas perguntas. E havia várias outras.

(Aaah, eu tinha tentado pra intimidar o Seo-Joon!
Aqui:
Ele se concentrou. Cerrou os punhos e concentrou-se para que labaredas os envolvessem. Poderiam nãos e machucar no mundo espiritual, mas seria uma bela cena. E ele conseguiria talvez intimidar um pouco mais.

Só queria saber se eu conseguiria! Eu posso refazer isso agora na cena tb!)

Yoosuke acompanhou com os olhos Yura afastar-se. Sabia que a amiga gostava de estar um passo a frente. Ele andava a poucos passos de Seo-Joon, fazendo com que o homem ficasse entre ele e Yura. Caso algo acontecesse, ele estaria parcialmente cercado.

Por cima dos ombros de Seo-Joon, quando o ladrão estava ocupado explicando a situação da entrada do mundo espiritual e sobre seu truque, Yoosuke olhou Yura. Seu olhar permanecia sério. Ela sabia que ele detestava ser feito de bobo e foi exatamente isso que Mukozai e Seo-Joon aprontaram com ele.

- Hmmm.. Então Mukozai também nos enganou. Ele queria que viéssemos resgatar você.

Ele disse, por fim, parando e observando a fumaça negra subir pelo céu. Arqueou uma sobrancelha e trocou olhares com Yura quando Seo-Joon disse não ter escrúpulos.

- Antes de irmos...

Ele olhou rapidamente Yura, como se a pedisse para não deixar Seo-Joon aproximar-se da fumaça.

- Ainda tenho perguntas.

Ele ergueu um dedo:

- Qual corpo você vai ocupar lá fora? Mukozai guarda um corpo pra você, é? - fez uma careta ao pensar na possibilidade.

- Dois. - ergueu dois dedos. - Qual é o preço? Ainda não nos contou como dobra dois elementos. Não vamos sair até contar.

Yoosuke olhou suas mãos. Tentou concentrar fogo nelas. Queria pelo menos ver suas mãos rodeadas em chamas. Uma vez, pelo menos....

- Precisamos aprender...

Voltando a si, ergueu mais um dedo.

- Três. Por que essa fixação em matar Kamai? Quer dizer, entendemos, mas... Até onde você iria? O que houve?

(Desculpa a demora! Passei uns dias derrotado de doença. x_x)

Yura chegou muito próxima da fumaça, virou as costas para a mesma e ali ficou, entre aquilo que seria a passagem dos três para fora e Seo-Joon, enquanto Yoosuke estava mais afastado. Cruzou os braços e cerrou os olhos, observando a conversa. Não era alta e não tinha porta para intimidar, mas tinha algo em seus olhos que sempre funcionava. Embora Seo-Joon tivesse sua atenção voltada apenas para Yoosuke e suas perguntas naquele momento. Ele parecia impaciente, talvez irritado. Estava próximo de seu objetivo e talvez sentisse que já tinha dado informação demais, mas estava cooperando, faltava pouco - não era mais muito tempo para quem esteve preso por anos.

- São muitas perguntas.

Ele não sorria mais, tinha perdido um pouco da ambiência solta e desafiadora, parecia apreensivo. Queria sair dali.

- Sim, Mokuzai deve ter um corpo pra mim. Mas ele é bonzinho demais, não iria matar ninguém pra isso. Provavelmente um pobre coitado que morreu nessa guerra.

Olhou o segundo dedo subir, e respondeu:

- Vou ser breve. Já que imagino que isso não seja do interesse de vocês. Você consome a dobra de outra pessoa, mas essa pessoa precisa ser muito próxima a você. É um ritual doloroso, a pessoa pode fazer de forma voluntária ou não.

Yoosuke sentiu as mãos aquecerem, mas nada de fogo. Parecia destinado a nunca dobrar as chamas da maneira natural, ou sem se ferir, disparando raios. Mas valia a tentativa. Poderia pensar que, talvez por ser um local "fabricado" por Seo-Joon, as mesmas regras de equilíbrio não se aplicariam, mas - quando ergueu o último dedo, para fazer sua última pergunta, a ponta do mesmo iluminou-se, primeiro como uma faísca e logo depois, como a chama de uma vela.

Com os raios, era difícil descrever, era como se tivesse tomando um soco, era rápido, violento e tinha um ricochete. Mas o fogo era diferente. Ele sentia aquilo como extensão de seu corpo, sentia que podia manter aquela chama acesa enquanto estivesse respirando.

Seo-Joon pareceu espantado, mas retomou o sorriso de antes.

- Huh... Parabéns. E sobre Kamai. Ele merece morrer. Ele deve morrer. Tudo isso de ocupar seu espírito com outros corpos veio dele inicialmente. Ele juntou diversos criminosos, esse que vos fala, inclusive, e todos tinham segredos ou lidavam com questões que eram de seu interesse. Essa era minha área, era o que eu estava pesquisando e fazia parte dos documentos que roubei...

Ele deu um passo na direção de Yura, que estava protegendo a saída.

- Eu confiei nele, achei que teria mais poder e fui enganado. Minha esposa morreu, carrego o fardo dessa dobra de ar que era dela. É isso. Vamos embora? Foi um prazer, mas já cansei da cara de vocês.

(Oie! Não se preocupe! Pode responder quando der! Eu ando super ocupada x_x)

- Sim, eu sei que são muitas perguntas, mas acho que são o mínimo que merecemos depois de sermos enganados por você e Mukozai. Se tivessem pedido direto a nossa ajuda, provavelmente teríamos ajudado.

Yoosuke ergueu os ombros e os abaixou, cerrando os olhos como Yura fazia. Não era difícil para seo-Joon perceber que havia deixado o jovem Shufen irritado.

- Alguém morreu... - Yoosuke segurou a careta. Ele olhou rapidamente para Yura. rezava para o corpo estar em boas condições e nãos e ruma múmia. Isso seria... Muito estranho, no mínimo.

Mantinha os dois dedos em riste enquanto seus olhos verdes afiados observavam as reações de Seo-Joon enquanto ele respondia aquela pergunta. Estranhamente, sentia que o assunto era quase um tabu ao ladrão. Não exatamente um tabu, mas era algo que ele parecia não ter muito orgulho.

- A dobra de alguém... - Yoosuke arregalou os olhos, mas manteve-se firme. Pensou que roubar a dobra de alguém era como impedir a pessoa de ser ela mesma. Era quase como privar a expressão do eu, arrancar algo que era quase tão importante como a alma. - Alguém pode te dar a dobra livremente? Isso é... Possível?

Não ficou surpreso com Seo-Joon falar que era um processo doloroso. Abrir mão de parte do que se é nunca sai de graça.

E quando ergueu seu terceiro dedo...

Yoosuke arregalou os olhos e não deixou de sorrir ao ver aquela pequena chama. Como uma criança, ele ergueu os olhos primeiro para Yura, para ter certeza que ela estava vendo aquilo. Depois, olhou para Seo-Joon e ficou feliz com os parabéns que recebera. Era algo tão... Próprio. Tão dele mesmo, como uma respiração. Era natural e parte de sua existência. E aquilo tudo era apenas uma pequena chama. Como alguém poderia abrir mão de sua dobra? Era impensável.

- Quais documentos você roubou?

Yoosuke baixou as mãos e seguiu agora para ficar ao lado de Seo-Joon. Ele olhou para Yura e sorrriu, mostrando que estava mais calmo.

- Roubou dos mestres do ar, eu imagino, não? Esses documentos se perderam?

Yoosuke ouviu o restante da explicação de Seo-Joon e estreitou os olhos quando ouviu sobre sua esposa. Dessa vez, não fez mais perguntas, mas guardou aquela informação

-... Vamos, Yura. Vamos sair daqui. Acho que ele já respondeu o bastante. Por agora.

E junto com sua amiga, ele se dirigiu à fumaça, deixando-a ir primeiro.

Yura afastou-se, abrindo caminho para Seo-joon. Ele não perdeu tempo. A impaciência estampava-se em seu rosto, e as últimas perguntas pareciam tê-lo incomodado profundamente. Talvez relembrar o que havia feito, fosse o que fosse, trouxesse à tona sentimentos que ele preferia evitar. Ainda assim, havia algo positivo nisso: o remorso. Mesmo que não o redimisse, era um indício de que Seo-joon não estava completamente alheio à realidade. Melhor lidar com alguém que carregava certa consciência do que com um criminoso insensível.

Avançou sem hesitar, desaparecendo no "turbilhão de fumaça". Pouco depois, sua cabeça reapareceu do lado de fora.

— Vocês já devem estar cansados de serem jogados de um lado para o outro, usados como peças. Talvez isso ajude. E, por enquanto, gostem ou não, estamos do mesmo lado. Antes de tudo... não confiem em ninguém. E, caso eu morra tentando derrubar Kamai, talvez sejam vocês os próximos a tentar. Não sei... De qualquer forma, acho que não têm muitas chances, mas, se resolverem tentar, procurem um dobrador de água — um dos bons. Kamai é orgulhoso e nunca usa outras dobras. Gente teimosa tende a não ser muito inteligente.

Com isso, Seo-joon voltou ao turbilhão, desaparecendo de vez.

Yura, ainda próxima ao turbilhão, lançou um leve sorriso para Yoosuke.

— Parece que você conseguiu quebrar algumas barreiras com ele.

Agora, tinham outra preocupação: descobrir onde estavam seus corpos e como retornar a eles. Com o objetivo de Mokuzai alcançado, era provável que seus corpos estivessem sendo bem cuidados no navio. Apesar de manipulador, ele não parecia ser uma má pessoa e, até então, precisava deles. Além disso, Mokuzai não saberia se haviam concluído a missão até que Seo-joon retornasse, onde quer que estivesse o novo receptáculo preparado para ele.

Muito havia sido aprendido nessa breve jornada pelo mundo espiritual. Além disso, tinham trazido de volta um inimigo poderoso de Kamai, alguém que certamente atrapalharia seus planos.

— Acho que é nossa vez... — disse Yura, avançando um passo. — Melhor, talvez...

Estendeu a mão para Yoosuke.

— Juntos.

Yoosuke segurou sua mão com firmeza. Com um passo decidido, ambos entraram no turbilhão.

A saída foi tão impactante quanto a entrada. Mais consciente desta vez, Yoosuke reviu todas as cenas de sua chegada. A sensação do ar invadindo seus pulmões o fez prender a respiração por alguns instantes.

Abriu os olhos. Estava em um lugar escuro, de chão gelado. O ar era seco e frio. Ao seu redor, barras de ferro delimitavam o espaço. Olhando ao redor, conseguiu distinguir a presença de outras pessoas em celas próximas.

Mas não de Yura, sua mão ainda estava aberta, mas vazia.

Yoosuke não desviou o olhar de Seon-Joon. Ela acompanhava-o como um dono acompanhava um cachorro velho que era culpado de alguma artimanha. Quando ele desapareceu no redemoinho, Yossuke aproximou-se de Yura, ainda com o olhar austero que carregava. Porém, havia uma singela fagulha de satisfação. Seo-Joon parecia ter deixado transparecer um pouco de quem era de verdade. E Yoosuke ficou um pouco aliviado ao pensar que, talvez, apenas um grande talvez, ele não fosse tão horrível assim. E ele era, além disso, inimigo de Kamai.

Yoosuke olhou Yura e sorriu. Estava abrindo a boca para dizer alguma coisa quando o rosto do ladrão voltou do redemoinho.

-.... - ouviu o que o ladrão disse com um leve sorriso no rosto. Estava satisfeito por ter conseguido quebrar uma das barreiras de Seo-Joon. Entretanto, também ficou preocupado com o que ele disse.

"Não confie em ninguém...." Yoosuke ficou pensando em como seus corpos estariam. Mokuzai... Deveriam confiar nele? Bem, pelo menos o antigo soldado da Nação do Fogo deveriam interceder por eles! Eles o ajudaram!

No meio dos pensamentos, Yoosuke ouviu a voz de Yura e logo voltou de suas confabulações. Ele olhou a mão de sua guardiã e pensou que ela era delicada. Nem parecia que Yura era tão letal quanto era bonita.

Yoosuke sorriu gentilmente e segurou a mão da jovem.

- Pelo menos com ele.

E deu um último sorriso antes de olhar de novo para o redemoinho, ainda segurando a mão de Yura. Ele suspirou enquanto rezava para que seus corpos estivessem bem e... No navio.

Yoosuke, junto a Yura, deu um passo para o redemoinho e entrou nele junto com Yura. Encarou-a uma última vez antes de desaparecerem na fumaça.

Yoosuke teve as visões de novo e....

Acordou com os olhos cheios de lágrimas. Podia ter tantos desfechos....

Antes de focar os olhos no teto que não conhecia, pensou em Yura....

Yura.... Ela deveria escolher. Aquelas deveriam ser escolhas dela, não? Então, por que ele as via? Lembrou-se de Seo-Joon falando sobre como conseguir uma outra dobra. A tristeza que ele sentiu em uma das visões era a mesma que Seo-Joon sentia?

Yoosuke, perdido nos pensamentos, foi ajustando sua visão.

- Que??


Olhou em volta e finalmente se deu conta de onde estava. Uma prisão??

Levantou-se rápido e percorria os vultos, tentando entender o que estava acontecendo:

- Yura? - chamou por ela, irritado enquanto tentava inutilmente mexer as barras. - Mas que droga é essa?

O frio era um incômodo constante, bem diferente do calor acolhedor do mundo espiritual. Mesmo no construto de Seo-joon, havia algo reconfortante na atmosfera, e o choque de sair daquele ambiente para uma prisão gélida foi brutal, ainda mais para Yoosuke, acostumado a climas mais amenos. Contudo, mais perturbador que o frio era a ausência de Yura. Ele tentou juntar as peças: era evidente que seus corpos não estavam mais onde haviam mergulhado no líquido negro no meio do mar. Estavam em uma prisão, sem dúvida. Mas qual?

O frio fazia pensar nas tribos da água, mas a lógica não encaixava. Não havia passado tanto tempo no mundo espiritual, e uma viagem até as tribos seria longa demais. Mokuzai mencionara algo sobre o tempo ser relativo no mundo espiritual, o que complicava ainda mais sua compreensão da situação.

Enquanto seus olhos se ajustavam à penumbra, Yoosuke começou a distinguir formas nas celas ao redor. Reconheceu alguns rostos familiares. Algumas celas abrigavam apenas uma pessoa; outras, mais de uma. Duas figuras chamaram sua atenção imediatamente. Mokuzai estava em um canto, aparentemente desacordado, com um ferimento evidente na cabeça. Na cela ao lado, Hide mancava visivelmente, mas sua perna parecia ter melhorado. Ele se aproximou da grade da porta e olhou diretamente para Yoosuke.


— Você acordou!

As celas eram pequenas e desconfortáveis, com pouco espaço para se deitar. O ar estava impregnado com o cheiro de mofo e umidade. No chão, água parada acumulava-se em algumas poças escuras, contribuindo para o ambiente opressivo.

— Mokuzai, ele acordou!

O som da voz de Hide pareceu despertar Mokuzai, que soltou um gemido baixo antes de abrir os olhos. Lentamente, apoiou as mãos no chão e forçou-se a ficar de pé, usando as costas como suporte contra a parede. O corpulento homem caminhou devagar, apoiando-se nas laterais da cela até alcançar as grades que o separavam do resto do ambiente. Apesar de seu estado, ele esboçava um sorriso. Não era o sorriso característico de confiança, mas um de alívio.

— Que bom que voltou. Demorou um pouco.

O silêncio pesado nas celas foi quebrado pelo som inconfundível das botas de ferro. O eco das botas contra o piso molhado anunciava a chegada de guardas antes mesmo de suas figuras surgirem no corredor. As conversas sussurradas cessaram instantaneamente, e um ar de tensão tomou conta do ambiente.

Dois homens da Nação do Fogo apareceram na extremidade do corredor, iluminados pela chama de uma única tocha. Suas armaduras negras e vermelhas traziam o emblema da Nação do Fogo - não das estações, como Kamai pretendia parecer acolhedor, mas apenas do Fogo, mas o que chamava mais atenção eram as marcas que se espalhavam por seus rostos — símbolos inconfundíveis do controle do Avatar Kamai. As marcas, de um vermelho incandescente, pareciam quase vivas, pulsando em sincronia com a luz das chamas. Tinham esse toque mágico, mas não eram mais do que cicatrizes de combates, os infindáveis Agni Kais promovidos pelo Avatar.

Os soldados caminharam lentamente, suas expressões vazias, desprovidos de qualquer empatia. O primeiro, mais alto e magro, parou em frente à cela de Yoosuke, sem sequer olhá-lo diretamente. Com um gesto breve, ele ergueu a tocha, iluminando o interior da cela e avaliando o prisioneiro com olhos frios.

O segundo soldado, mais robusto, continuou seu percurso, parando em frente à cela de Mokuzai. Ele bateu com o cabo da lança contra a grade, fazendo o som ecoar pelo corredor.

— Todos onde deveriam estar, como sempre. — Sua voz era baixa, quase indiferente, como se essa rotina fosse apenas mais um dia comum sob as ordens de Kamai.

O guarda alto passou os olhos pelas outras celas, ignorando os olhares apreensivos e furtivos dos prisioneiros. Ele parou por um momento mais longo ao observar Hide, mas não disse nada. Finalmente, virou-se para o companheiro e acenou com a cabeça.

— Nada fora do lugar. Vamos seguir.

— A ronda está quase no fim — respondeu o outro, já se afastando.

Sem mais palavras, os dois começaram a se retirar pelo corredor, a tocha lançando sombras dançantes contra as paredes úmidas. A tensão, porém, não desapareceu. As marcas em seus rostos deixavam claro que aqueles soldados não eram homens comuns. Eles eram extensões do Avatar Kamai, armas vivas de sua vontade.

Mesmo sem palavras direcionadas a Yoosuke, era impossível ignorar que os olhares vazios dos guardas haviam passado sobre ele mais de uma vez, como se a simples presença dele despertasse algo nos marcados. Talvez tivessem sido comunicados sobre suas interações com Kamai há dias atrás ou fosse talvez resquício do mundo espiritual, mas de qualquer forma, eles não esconderam o interesse no jovem.

Quando os passos dos soldados finalmente desapareceram, Hide quebrou o silêncio, com a voz baixa e tensa:

— Aquelas marcas... Kamai os marcou pessoalmente. Estão completamente sob o controle dele.

Hide saberia, visto que fazia parte do exército no passado.

Mokuzai suspirou, limpando a testa com a mão ensanguentada.

— Pelo menos, não vieram para buscar ninguém desta vez.

A cabeça de Yoosuke latejava e o frio penetrava sua pele. ele olhava para os lados e forçava sua visão para que ela melhorasse logo e pudesse entender onde estava.

Yoosuke foi até as grades e tentou, em vão, mexê-las, mais em um ato inútil do que realmente acreditar que conseguiria algo. Parou e olhou em volta de novo, tentando entender o local. Os olhos verdes passaram pelas paredes de gelo e andou até as grades das celas de Mukozai e Hide.

- Hide! Você e...

Ele olhou Mukozai e logo fechou a cara. Lembrou-se da possível enganação de Mukozai para que ele e Yura retirassem Seo-Joon do mundo espiritual.

-... Mukozai...

Yoosuke olhou rapidamente em volta quando Mukozai disse que ele havia demorado a acordar.

- Sim, e parece que muita coisa aconteceu. Onde estamos e onde está Yura? - controlou-se ao perguntar de Yura, mas seu nervosismo era evidente. Segurava as barras com força, ciente de sua própria inabilidade em tirar todos daquela situação.

Ele iria perguntar mais algumas coisas, mas os soldados chegaram. Yoosuke os encarou curioso e receoso primeiramente, mas logo sua expressão foi para o susto ao notar os olhares e modos vazios daqueles guardas. Imediatamente ele lembrou-se do guarda que estava com Hide.

-... Isso é...

Então Kamai fazia aquele tipo de controle com mais frequência. Ele havia achado que aquele acontecimento com o companheiro de Hide fora algo único. Yoosuke ficou olhando os guardas, ainda espantado e assustado com o que via. E é claro, sentiu um arrepio na espinha quando os guardas meio zumbis o encararam mais de uma vez. Pensou em gritar, perguntar por Yura, mas sabia, de alguma forma, que eles não responderiam nada.

Yoosuke os observou se afastarem, ainda incrédulo e temeroso com o que viu.

"O que Kamai pretende?... Isso é desumano."

Seus pensamentos foram cortados por Hide.

- O que é isso, afinal? Eles estão... mortos?

E quando Mukozai falou, ele logo emendou:

- Levar? E você não me disse: onde está Yura e o que de fato aconteceu?

Ele olhou em volta de novo

- Temos que sair daqui! Já tentaram alguma coisa?