O Jogo dos Tronos - Jone

As últimas semanas foram de relativa tranquilidade no Norte. No Castelo dos Sussurros, Jone Felinight dividia suas atenções entre caçar coelhos nas montanhas durante as agradáveis tardes, enquanto durante o frio da noite esquentava-se com vinho e prostitutas em seus aposentos. Sem Beron e Asdulfor, o segundo filho de Jasper Felinight tinha tudo que quisesse ao seu alcance e sem qualquer tipo de julgamento, de maneira que toda sua devassidão poderia ser colocada em prática. Não era incomum mulheres saírem e entrarem em seu quarto, assim como as bebidas, que chegavam em barris diretamente para seu quarto, além, é claro, de deliciosos banquetes. Seus mais depravados e imorais desejos eram experimentados sem qualquer pudor.
Até a chegada do maldito corvo.


Ao acordar, sua cabeça parecia estar sendo martelada por um ferreiro, muito provavelmente efeito da ressaca por conta da noite anterior, onde havia embriagado-se com vinho dornês e cerveja das Terras Ocidentais. Logo que levantou, buscou banhar-se e tirar o cheiro impregnado da bebida e sexo. As prostitutas ainda estavam na cama dormindo, o que garantiria que Jone não precisaria lidar com elas, deixando o problema a qualquer um dos servos para resolver.

- …

Após o desjejum, Jone saía do Castelo dos Sussurros e tomava seu cavalo, devidamente preparado pelos servos da Casa Felinight, e passava pelos principais pontos da região, como a Vila de Breakstone Hill. Além disso, tratou de cavalgar pelas estradas, sempre tomadas por uma fina camada de neve, e também pelas proximidades do Lago Longo. Obviamente, a função havia tomado-lhe grande parte do dia, algo que o desagradava. As “obrigações” oficiais sempre o entediaram. No entanto, sabia que certas responsabilidades precisavam ser colocadas à prova pelo seu irmão mais velho, eventualmente, de forma que não poderia deixar transparecer qualquer indício de incompetência ou inutilidade de sua parte. Sua ideia, ao passar pelos locais, era de observá-los e começar a pensar em como realizaria as construções e mudanças solicitadas pelo irmão.

- Que merda, Beron…

A voz saia junto com um pequeno vapor condensado, indicando a queda na temperatura. Não à toa o sol já ia se pondo e Jone tratou de retornar logo ao Castelo dos Sussurros, pois no dia seguinte pretendia dirigir-se ao Porto de Lícia.


Havia sido um longo dia e, para finalizá-lo, devia ainda encontrar-se com Finn Swallow, o Capitão da Guarda, que diariamente o mantinha à par das condições de segurança interna e dos limites da região. Logo que encontrou o homem, Jone percebia em seu olhar a tensão e preocupação.

Alexyus escreveu:- Sor Jone, temo que estejamos enfrentando incursões em nossas terras. Grupos de saqueadores, desordeiros, que estão pilhando nossas vilas e causando caos por toda a região. Durante nossas patrulhas, descobrimos entradas antigas, subterrâneas, que conectam a mina a locais desconhecidos. Parece que os saqueadores estão usando essas passagens para se movimentar por dentro das montanhas e evitar nossas patrulhas.

Jone permaneceu com seu típico semblante sério e, assim que Finn terminou de falar, encarou-o.

- Junte seus homens, Finn. Vamos caçar esses saqueadores.

Jone levantou-se antes do primeiro raio de sol raiar no horizonte. Ainda estava escuro e absurdamente gelado no interior do Castelo dos Sussurros enquanto trajava-se com sua antiga armadura. Levaria consigo sua espada, seu arco, aljava e flechas.  Aquela, de fato, era uma cena atípica nas últimas semanas, mas o cavaleiro sabia o peso que carregava enquanto castelão das terras Felinight.


Os homens que Finn havia preparado seriam mais do que suficientes para as primeiras buscas e, embora não fosse um comandante, tinha experiência no campo de batalha e julgava-se plenamente competente para liderar aqueles homens de armas, como um dia ele mesmo fora.

- Vamos para as minas, Finn.

Ao subir no cavalo, olhou a cavalaria e guarnição selecionadas por Finn de cima à baixo e pôs seu cavalo a trotar um pouco mais rápido, indo e voltando à frente deles, enquanto bradava aos homens:

- Saqueadores estão entrando em nossas Terras! Tomando tudo pelo qual as suas famílias lutaram muito para erguer! Não vamos deixar que o medo tome conta das pessoas que estão sob nossa proteção. Podem ser os seus pais, seus irmãos, suas mulheres e crianças! Quando invadem nossas Terras, estão cuspindo em nossa cara e mijando em nossos pés! Vão deixar fazer isso com a família de vocês?! Com seus parentes?! Com aqueles que trabalham para colocar a comida na mesa diariamente?! Que esperam vocês ao fim do dia?!

Seu discurso buscava inflamar os homens e inspirá-los na busca. Não era um discurso como se fossem à guerra, mas precisava que eles tivessem o foco e vontade durante aquela missão. Assim, Jone tomou a dianteira, clamando aos homens que o seguissem, enquanto dirigia-se para a região das Minas.


As Minas são relativamente próximas do Castelo do Sussurros, de forma que não demorou-se a chegar lá. Assim que chegaram, Jone deu suas primeiras ordens à Cavalaria.

- Aguardem na entrada da Mina. Se algum saqueador sair…ataquem sem piedade. Fiquem de prontidão.

Por fim, Jone Felinight e Finn Swallow entraram na Mina juntamente com a guarnição, empreendendo-se nas buscas por pistas, vestígios ou até mesmo os próprios saqueadores, caso instalados ali estivessem. Além disso, buscariam os intrincados caminhos que levariam aos tais “locais desconhecidos” que Finn havia comentado.

O cheiro úmido e desagradável da Mina subia à medida que entranhavam-se em seu interior. Era como se estivessem dentro do estômago de um animal. Um grande animal marinho, cujo estômago estivesse vazio. Os pés de Jone pisavam firmemente em um solo irregular, enquanto seus olhos, atentos, buscavam por qualquer indício dos saqueadores. Os caminhos e suas interseções eram transpassados pelos homens com determinação, mas com cautela, afinal, eram Homens do Norte e nada temiam. Nasciam e morriam. Era o ciclo natural de suas vidas, que todos ali sabiam seu início, embora desconhecem o seu final. ,

Alexyus escreveu:
- Esta rota leva aos túneis menos utilizados. É possível que os saqueadores estejam explorando essas áreas para se esconder.

Era o caminho a seguir. Jone desembainhou sua espada e fez um sinal para que Finn fizesse o mesmo enquanto os homens da guarnição, guiados pelo cavaleiro, seguiam-los com atenção. Os túneis, que antes não pareciam tão sufocantes, agora davam a impressão de mais estreitos e hostis. A tensão aumenta quando Jone ergue o punho e faz um sinal para que todos parem. O cavaleiro agacha-se e encontra algumas lascas de madeira e pedras simples. Mais adiante, um amontoado do que deve ter sido uma pequena fogueira, assim como marcas de botas, ou de pés, mal encobertos pela terra. O Felinight indica para Finn sua descoberta, apontando sua espada para o vestígio claro de intrusos. Jone faz mais um sinal com a mão, desta vez, gira o punho fechado, deixando o indicador em riste, apontado para cima. Era o sinal claro de que não estavam sozinhos. Em seguida, ele aponta sutilmente para frente, insinuando que deveriam seguir mas com a atenção redobrada e de prontidão.