Tudo que acontece em Deadwood, fica em Deadwood...

Olhou a freira com admiração. Aquela atitude era digna de Annie Starr, mas achou gozado a freira dizer que "não cairia". Nem Jesus poderia salva-la de um confronto contra quatro indivíduos armados, sendo um deles a própria Annie Starr... ou poderia? Ela procurava lembrar se o messias cristão desviava objetos. Seu conhecimento sobre qualquer religião era quase zero.  

Vendo Fitzgeralt tomar novamente a iniciativa, Annie retrucou baixo, quase como um resmungo - olhe para o estado desta igreja. Bastante improvável que ela nos pague qualquer quantia. - o que não importava para Annie, pois ajudaria a freira de qualquer maneira.

Por sorte, Yue conseguiu entender a maioria das palavras ditas pela freira, já que eram palavras com as quais ela estava acostumada: missão, fé, santuário, guia... Ela estava em uma missão para o seu santuário.

- Viemos em paz - ela disse depois que Anthony se manifestou. Infelizmente ela não tinha muito mais a dizer para a mulher - Sam, ele mandou... nós! E concordou com Annie a respeito do pagamento.

Já vendo que a freira se acalmava, a jovem Yue pegou seu caderninho e tomava nota das palavras ditas pela mulher e que eram desconhecidas pela chinesa.
Sem delongas foi entrando na igreja assim que foram convidados. Não sabia se portar dentro de um templo cristão, por isso se curvou como forma de respeito ao adentrar na igreja. Antes de sentar-se, ficou um tempo observando a cruz e tentando entender seu simbolismo, era curioso aquilo. Sabia muito pouco sobre os cristãos.

- O que significa... a... cluz - perguntou para Anthony, após buscar na memória a palavra adequada. Usou um tom baixo para não ofender ninguém, muito menos a sacerdotisa local em sua própria casa.

A mulher começa a falar do Gray e a forasteira balança a cabeça negativamente, pois não conhecia tal lenda.

- Liquezas? - ela faz uma cara de espanto, não era bem atrás disso que ela estava. Sua ida àquelas terras era mais sagrada e não envolvia ouro. Só um pagamento justo já estava de bom tamanho para ela se manter e seguir em frente - não liquezas. Pagamento justo.. está bom!

Foi um alivio ver a freira finalmente afastando a mão de seu revolver e dando algum indício de que poderiam conversar de forma pacífica. Não sabia bem o que Sam julgava como um "grupo honesto", mas estava grato por terem inspirado tal confiança no velho, do contrário ainda estaria na estalagem em busca de algum serviço.

Seguiu junto dos outros para dentro da modesta igreja, analisando os cantos e bancadas com curiosidade. Anthony não era um homem muito religioso, tanto que mal lembrava-se da última vez em que estivera em uma igreja, mas ainda assim tinha certo respeito pelo local por sua família ser cristã. Se questionado a respeito, Anthony não saberia dizer qual seria sua fé.

- A cruz...- Começou quase sussurrando. Não sabia bem que responta dar ao questionamento de Yue, afinal não se lembrava de muitos dos ensinamentos religiosos.- Reconciliação...com Deus, eu acho. Devo admitir que não sou o mais indicado para expressar o que a cruz representa, senhorita Li.- Sorriu de canto, um pouco desapontado consigo mesmo por não conseguir dar uma boa resposta.

Depois, assim que a freira lhes disse para ficar a vontade, Anthony sentou-se em um dos bancos e relaxou. A história que a mulher da igreja contou logo em seguida surpreendeu Anthony, fazendo-o desconfiar logo nos primeiros instantes.

Tudo bem que se tratava de uma freira, uma mulher que lutava de maneira nobre para manter de pé um templo aos pedaços, mas ainda assim era difícil acreditar apenas em sua palavra. Como ela sabia onde a mina estava? Estaria mentindo depois de ouvi-lo falar sobre "algum pagamento"? Seja como for, era impossível não se interessar na proposta.

- Pois bem, irmã. Como faremos negócios?- Perguntou com curiosidade. Diferente da senhorita Li, Anthony não se importaria de receber muito mais do que um pagamento justo.- Gostaria de ouvir mais sobre a mina, mas certamente entenderei se não disser mais nada. Gostaria de ouvir sobre o problema que enfrentamos aqui.

Sempre tomando nota das coisas, principalmente das palavras diferentes que ouvia, Yue presta atenção à história contada pela freira e à medida que ela avança e chega na parte da cruz, a jovem se solidariza com o ideal da mulher, pois ela também estava em uma missão semelhante. Ela se levanta animada:

- Senhola fleira, Yue ajuda a senhola a achar cluz.

Vindo da freira, aquela história toda soava bem convincente, talvez até surpreendente até certo ponto. A Santa Cruz que a mulher desejava realmente parecia valer a negociação para ela, além de que o grupo ali reunido seria muito bem recompensado se toda a riqueza prometida fosse real. Durante todo o tempo, Anthony manteve o semblante calmo e o olhar curioso, demonstrando estar visivelmente interessado no que ouvia. Imaginou o dinheiro e as pedras das quais poderiam se apropriar se obtivessem sucesso e sentia-se estimulado por isso. Queria muito aquela recompensa.

Ao fim da história e depois de a freira explicar sua motivação, Anthony esperou para ouvir o que alguns dos outros pensavam a respeito. Queria dar a resposta rapidamente, mas não entraria nisso sozinho. Provavelmente teria tentado persuadir opiniões "negativas", o que não foi necessário pois Yue e o Sete de Copas concordaram em ajudar a freira sem hesitação.

- Conte conosco.- Complementou o que já havia sido dito pelos dois. Imaginava que talvez a senhorita Starr fosse dar trabalho e discordar em algum ponto, mas ao menos já tinha companhia garantida naquele negócio. Não diria mais nada até então, por que o Sete de Copas havia feito a única pergunta relevante que restara.