[!ON!] Investigação em Andamento

Assim que saiu da sua cela, Allan ouviu um barulho logo a sua frente, na cela que o francês passaria a noite. Rapidamente prepara seu revólver para o que pudesse ser, mas o breu tornava difícil distinguir qualquer coisa. Outros barulhos, vindos do salão, chamam sua atenção, mas o breu ainda o impedia de saber o que estava ocorrendo. A escuridão estava dando uma sensação sufocante ao médico.

Por sorte, logo uma forte luz atinge seus olhos, ainda que a luz repentina incomode as pupilas do rapaz, ele louva a presença da luz e tentar forçar seu olhar a se ajustar à nova luminosidade. Assim que consegue, nota que a luz já se dirigia a porta da delegacia, e lá era visível a silhueta de um homem bem agasalhado, aparentemente vindo do lado de fora, ideia reforçada pela porta aberta. Allan já se preparava para indagar sobre quem poderia ser tal figura, mas Erl é mais rápido, e esclarece que aquele era o tal de McCam.

O alemão suspira em alívio, e abaixa a arma. Acenando, em um rápido comprimento para o recém chegado, e retornando apressadamente a cela em que estava antes. Afinal, na pressa do momento, esquecera de calçar algo nos pés, e o frio do piso já estava se tornando bastante incômodo. Na cela coloca um par novo de meias e seu par reserva de sapatos, torcendo o rosto ao pensar que logo também molharia aqueles, mas era impotente quanto a isso, então os vestiu, colocou seu revolver na cintura, pegou seu casaco e retornou ao salão. Era bastante óbvio que o barulho do motor se devia a um gerador, então a nova luz no ambiente não foi uma surpresa para o rapaz.

E sobre a luminosidade atual era fácil de ver que o chileno não estava no melhor dos seus estados. -Você está bem? Falaria se aproximando do patrulheiro e batendo em seu ombro. -Respire fundo e se acalme. Seu coração deve estar disparado, imagino. Está sentindo algo além disso?

E enquanto analisava o estado do latino, ouviu a proposta do McCam. Assim que tivesse a resposta do chileno, caminharia com calma até o detetive, estendendo sua mão para um firme comprimento. -Me desculpe, ainda não me apresentei. Sou Allan Weiss, médico legista. Falaria, e assim que tivesse a mão livre do comprimento, coçaria a barba enquanto acrescentava. -E acho que um café e comida, quentes, cairiam muito bem agora. Para todos nós.

Acabaram por deixar o patrulheiro na delegacia, o rapaz estava mal, e aquele frio não faria nenhum bem a ele, e nem a ninguém. Mas infelizmente para Allan e os outros, era o frio que os aguardava do lado de fora. O médico puxava seu casaco para mais perto do corpo, na esperança de que fornecesse uma melhor proteção do frio, mas os resultados eram irrisórios.

Bastava ao médico ir rapidamente para o carro, em passadas largas, para que molhasse o menos possível suas calças e sapatos. Em seu caminho não pudera deixar de achar graça da visão curiosa, onde o céu se fazia escuro e a terra branca.

O ronco do motor era irritante para o alemão, mas aguenta-lo significava que estava mais próximo de se ver livre do frio, e assim se moveram os homens, até que uma figura inesperada se aproximou do carro. “Qual era o problema de dormir durante a noite, que as pessoas tinham nessa cidade?” Se perguntava Allan ao ver o homem que se aproximava sobre o cavalo.

McCam decidiu parar e conversar com o homem. Fazia sentido, afinal alguém sair numa noite de baixas temperaturas para andar a cavalo era no mínimo suspeito. Mas isso era trabalho para o detetive, Allan apenas ficou no carro, quieto, e aguardou o retorno do policial, para que pudessem continuar sua jornada.

Allan observava a paisagem noturna sem muito interesse, o variar de branco e negro passava pelos seus olhos enquanto sua mente divagava entre diversos assuntos. Vez ou outra seu olhar se encontrou com o negro que insistia em encarar aqueles que estavam dentro do carro, tal atitude irritou o médico, mas não fez ele criar qualquer desgosto pelo novo patrulheiro, ainda preferia conhecê-lo melhor antes de definir sua opinião sobre o mesmo.

Por fim, finalmente chegaram ao prometido “Molly’s”. O ambiente quente era reconfortante, e ao constatar que o calor provinha de uma lareira no canto do estabelecimento, o rapaz parecia sentir atraído a se aproximar do fonte daquela confortável sensação. A recepção também era calorosa, ao menos por um momento, até que o sorriso da mulher que os recepcionava, pareceu se ofuscar ao ver o novo membro do grupo. Allan desprezou rapidamente tal atitude, ainda que tal atitude não fosse incomum para o rapaz, a questão é que ele tendia a uma visão mais progressista quanto a tais assuntos. Mas reteve qualquer pensamento apenas para si.

Maneou a cabeça em concordância, e certa alegria, ao observar o detetive McCam se aproximar da mesa próxima a lareira. Sem nem mesmo esperar o sinal do mesmo já se adiantava em direção ao móvel, dando apenas um acenar de cabeça aos policiais que se sentavam em outra mesa, para então puxar uma das cadeiras próximas à lareira para si, sentando-se.

Logo vinha a explicação sobre a situação dos patrulheiros, estenderia as mãos ao recém-chegado, esperando poder apertar-lhe a mão, enquanto se apresentava. -Prazer senhor Harmon. Sou Allan Weiss, o médico legista. E após as apresentações, era a vez da dona do estabelecimento, que se aproximava com o seu bloco de notas em mão se apresentando e anunciando o cardápio do dia. -Bom dia senhora Molly. Vou querer um café preto e a Tourtièr, obrigado. Pedia o alemão, ainda desejoso por algumas comidas mais típicas da sua dieta, como alguns pães, mas os pratos canadenses serviriam, ao menos ele ainda beberia café, e isso já faria a alegria de qualquer alemão.

Após a saída da senhora, a conversa dos homens tomara, enfim, um rumo mais profissional. Ludovic naturalmente iniciou os questionamentos que a algum tempo os homens tinham discutido na delegacia, ele era o detetive do grupo afinal. Mas não demorou para que o assunto fosse de encontro com as responsabilidades de Allan. -Sim, eu gostaria de poder ler o relatório antes de considerar qualquer possibilidade. Daria uma pausa pensativa. -Na verdade, eu agradeceria muito se pudesse ter dirigido a própria autópsia. E ainda agradeceria se pudesse ver o corpo, ou ao menos fazer algumas perguntas para o médico legista. Doutor Carison correto?

Allan se manteve quieto enquanto a conversa entre os dois detetives se desenrolava, sempre atento aos detalhes. Agradeceu com um aceno a senhora Molly enquanto ela servia a comida, e sem cerimônia pega sua parte e começa a comê-la com certa avidez, afinal era sua primeira comida de verdade em muitas horas, mas ainda sim, não parecia verdadeiramente apressado em acabar o café rapidamente, dando-se o tempo de degustar a comida ali fornecida.

Observa por fim a conversa tomar outro rumo quando, ainda que bem humorada, o francês dispara um repressão aos modos do detetive canadense, e em seguida emenda uma pergunta ao próprio Allan, que se torna então o foco da atenção por mais um momento. -Não lembro… Começa a responder o médico, sem dar muita atenção a pergunta, mas interrompe o gesticular negatório de sua cabeça assim que lembra-se do fraco som de um rugido que inicialmente despertou ele. -Na verdade, não tenho certeza se foi um sonho ou não, mas eu acho ter ouvido um rugido, ou algo assim, enquanto ainda estava sonolento, alguns momentos antes de ser acordado pelos barulhos na delegacia. Finaliza por fim a sua resposta ao levar a xícara de café até sua boca, para mais um feliz gole.

E após mais um gole no café, aproveitando que a atenção de todos ainda se direcionava a ele, o alemão decidiu ainda expressar algumas de suas opiniões sobre o que McCam e Ludovic falavam a pouco tempo. -E eu penso que até poderia ser um caso de uso de drogas, mas… Essa carta que ele recebeu com dinheiro e instruções, isso me faz pensar que não pode ser algo tão simples quanto drogas. Pondera o médico por um tempo, enquanto leva sua mão até seu bigode para coçá lo. -E mesmo se fosse um caso de múltiplas personalidades, não teria como ele ter mandado uma carta para si mesmo estando preso, não que eu seja um especialista na área, mas é bastante lógico. Finalizava seu raciocínio, antes de virar seu olhar ao detetive canadense e questionar. -De toda forma, Sr. Happer chegou a ter algum atendimento psiquiátrico preliminar na sua última prisão? Ou ele simplesmente foi solto mediante a fiança?