Um mundo melhor para poucos

Oliver deu um leve sorriso para Regina e apertou sua mão. Porém, não deixou de perceber que ela evitava o assunto de sua avó e não disse também se concordava com seus termos. A hacker até abriu a boca para perguntar, mas ouviu a porta se abrindo. Oliver ficou calada e observou novamente Regina e Claude, curiosa e um pouco receosa. Ela ouviu os dois e, agora mais calma, falou:

- Foi mal. Foi só tudo... Demais. Tudo ao mesmo tempo e aí a Regina me liga e aparece você.

Deu os ombros:

- Não que eu tenha algo contra o que você faz.

E Oliver deixou Claude falar. Acompanhava o raciocínio do homem e quando ele falou sobre o Capitão Sete, Oliver deixou escapar:

- Eu sei quem é. O herói brasileiro que tinha ajuda da mídia. Quer dizer, todos têm, mas ele tinha mais...

Oliver não olhava para Regina ou Claude, como se "desligasse" e estivesse absorvendo a informação:

- Por que você tá de olho neles? Só pra derrubar os caras?

E fez careta lembrando-se de Lanterna Verde:

- Nem precisa responder. Acho que já sei o porquê.

Oliver finalmente sai de seu estado semi-acordado quando ouve Wi-fi e satélite.

- Nossa! Essa não esperava.

Ela olhou para Regina como se pedisse confirmação do que ouvira, e depois olha Claude de novo:

- Eu disse pra Regina que eu concordo, mas tem minhas condições.

Ergueu a mão e foi erguendo um dedo enquanto as enumerava:

- Foder bonito com a Lanterna Verde, do meu jeito; tomarmos cuidado para não sair machucando e matando ninguém; minha família tem que estar protegida e mais duas coisas que eu esqueci agora, mas eram importantes!

Ela deu uma pausa dramática e continuou:

- Por mim, tô dentro. Só me arranjar o acesso.

E lembrou-se de um assunto e falou com Regina:

- Regina, e minha avó?! Você não me disse dela!

Oliver ouvia com atenção o que Regina dizia. Respirou profundamente e soltou o ar, um tanto melancólica. Ainda era tudo recente e era difícil se controlar.

- Tudo bem. Acho que depois disso tudo, eu deveria voltar pra casa mesmo. Aparentar uma vida normal, né. Aliás, queria um banho depois.

Nem quis pensar que estava, talvez, ainda manchada com o sangue de Pirralho e da Freira.

Oliver deu um leve sorriso quando eles concordaram com suas condições. Não machucar ninguém e proteger sua família era muito importante. E também, se vingar de Lanterna Verde. (como conversamos no whatsapp)

Oliver decidiu não comentar, mas iria cavar toda a bendita internet, se necessário, para já conseguir algo contra aquela escrota assassina.

E a menina hacker ouvia Claude agora:

- A gente pode tentar puxar alguma informação desse rastreador. Nada se perde assim na internet. Deve ter algo por aí.

Desviou o olhar quando ele falou sobre as pessoas que perdeu. Sabia como ele se sentia:

- Sinto muito. Eu... Sei como é isso.


Oliver levou um susto quando a porta de abriu. Ela viu aquele home quase desconhecido (lembrava-se dele no beco, mas pouca coisa) e ele ainda tinha uma arma. Oliver soltou um grito e foi se arrastando mais para trás até encostar-se na cabeceira da cama:

- Mi..Minha culpa?! Vocês me chamaram até lá!

Ela dizia nervosa, alternando olhares entre a arma apontada e para o homem.

- Cara, abaixa isso! Não foi culpa minha! Eu... Eu tava machucada e nem sabia o que tava rolando!!!

Oliver entendia que ele estava, na verdade, preocupado com sua segurança, além de saber também, por seu tom de voz, que realmente a achava culpada por terem perdido o rastro do poder de Lanterna Verde.

- A gente acha esse rastro de novo. Eu acho pra vocês.

Ela suspirou. Deu ênfase no "a gente".

- Eu já tô envolvida. Ela matou meu melhor amigo!!! E...

Olhou em volta, para os três naquele quarto.

- Eu sei demais. Essa é a real. Eu já aceitei a merda que eu tô. Eu sei que é perigoso....

Suspirou.

- Mas eu vou foder com a lanterna Verde com ou sem a ajuda de vocês. - disse a Victor.

- Vocês podem estar comigo para me proteger ou não.

Deixou Victor processar a informação, assim como Regina e Claude. Por fim, completou:

- Eu acho seu satélite. Já achei coisas menores.

Oliver não disse nada. Ela desviou o olhar e não tinha como não concordar com Victor. Se parasse para pensar, não tinha ideia de onde estava se metendo. Invadir um satélite? Isso era muito, talvez. Até para ela.

entretanto, lembrava-se do que passou e sentia raiva. Não tinha como voltar atrás. Ainda mais depois de ter ouvido toda a explicação de Regina e de Claude. E além do mais, era só um serviço. Ela tinha roubado de empresas milionárias, pelo amor de Deus. O que seria uma invasão a um satélite?

Oliver ouviu as instruções de Regina, calada. Olhou os rostos dos três um tanto nervosa agora que todos os olhos estavam sobre si:

- Err... Eu quero voltar pra casa mesmo. Espero vocês me ligarem, eu imagino, né? Como eu falo com vocês?

Suspirou. Tentou não pensar em Pirralho. Porém, era difícil. Não conseguiu dar o último adeus ao amigo.

- Eu preciso só me limpar antes de voltar pra casa. Posso tomar um banho? E... Vocês vão me levar? Eu... Queria ir ao cemitério. Dar tchau pra ele.

e olhou Victor Vander:

- E por que ele tá sempre armado?!

Oliver ouve as explicações e piadas do trio. Acaba, por um tempinho, dando um meio sorriso. Este que, logo depois, some. Ainda sentia-se mal e perdida com tudo que tinha acontecido. Talvez Vince estivesse certo: seria muito perigoso para ela. Talvez Regina e Claude fossem inescrupulosos em relação a tudo e a todos.

"Mas quer saber? Foda-se!"

Oliver agora sentia muita raiva. Raiva, principalmente, de sua impotência. E ela queria muito dar o troco nesses Supers! Aliás, em Lanterna Verde! Se os outros fossem como ela, mereciam também!

Não deixou de arregalar os olhos quando viu que Vince guardava mais armas do mesmo tipo, e naquele quarto! Oliver desviou os olhos, meio sem saber para onde podia ou deveria olhar, enquanto Vince guardava sua arma. Era aquele tipo de lugar que ela estaria agora?

- Nem sei se quero saber qual era o trabalho que ele tava fazendo.

Engole em seco.

- Quer saber, melhor não saber mesmo.

Ela se levantou com as roupas que Regina lhe deu. Olhou para Vince antes dele sair.

- Eu quero ir sim. Eu quero dar o último tchau. Ele era meu amigo...

Disse enquanto desviava o olhar, triste.

Quando eles saíram, Oliver olhou em volta, pensando no que estava acontecendo. Era demais! Lutou contra as lágrimas e respirou fundo. Parecia que iria ter um ataque de pânico. Para combatê-lo, foi para o banheiro e tomou um banho.

Depois que tomou um banho e se arrumou, abriu a porta do guarto, discretamente, para ver se encontrava Regina ou um dos rapazes. Estava pronta, mas não queria sair no meio daqueles adultos estranhos e armados, no meio da festa.

-...

Oliver mandou K-Sandra de novo atrás de Regina.

As roupas que Oliver estavam usando foram deixadas para trás. Ela as largou no quarto em que estava com um bilhete para Regina, bem conciso: "Pode jogar fora. Não quero mais."

Não sabia se ficara muito satisfeita em ir com Claude até o cemitério. Não que não gostasse do homem. Pensava, realmente, que talvez eles tivessem mais em comum do que aparentavam. Mas.... Conhecia Regina a mais tempo e não tinha o melhor tato social do mundo. E achava que Claude não tinha também.

De qualquer forma, dentro do carro, ela descobriu que Claude era bem calado também. Não achava ruim. Pelo menos não tinha que fingir ser uma pessoa simpática.

Oliver olhava a estrada à frente e olhou Claude de relance. Abraçada a sua mochila, pensava na suposta morte que Claude era responsável. Será que ele havia matado mesmo? Sem o menor tato social, Oliver solta a pérola:

- Você matou mesmo... Aquele cara? - Oliver ficou pensativa. Seriam eles como Lanterna Verde? - Você... Precisou?

Não perguntou com nenhum tom em específico. Um tom neutro, apenas uma pergunta. E ela ficou olhando Claude, esperando a resposta.




Já no cemitério, Oliver caminhou sem olhar para os lados, irritada e sentindo as lágrimas virem aos olhos. Não queria chorar na frente de Claude.
Parada na frente do túmulo de Pirralho, sentiu a raiva voltar e uma lágrima, mistura de ódio e tristeza, fugiu.

- Parece até uma homenagem praquela filha da puta.

Oliver olhou em volta e pegou um jarro de metal próximo. Começou a riscar a lápide, irritada e querendo tirar aquele epitáfio ridículo.

- Vai tomar no cu todo mundo! - dizia, baixinho e com raiva enquanto fazia força para tentar rabiscar aquilo.

Oliver estreitou os olhos:

- Mas o robô dela era invisível? Ou as câmeras não conseguiam pegar o ângulo do robô?

Enquanto fazia força para rabiscar a lápide da melhor forma que conseguia, Oliver ouvia o que Claude contava.

- Uma garota? Sei....

Oliver fazia força e a força que fazia refletia-se em sua voz. Estava com raiva! Arranhava a lápide com aquela merda de vaso! Tentava achar o ângulo certo.

- Uma criatura?! - Agora ela tinha parado e olhava Claude, incrédula. Pensou um pouco e chegou á conclusão que, tratando-se de heróis, nada era estranho demais. Deu os ombros e continuou a vandalizar o túmulo do amigo.

- Então ela devorava meninas? Credo! E aposto que contrabandeavam essas meninas que ninguém sentiria falta pra alimentar essa escrota.

Oliver sentia muita raiva! Todos os supers eram uns babacas?!

- Que merda ser acusado assim! Quer dizer, a gente pode tentar dar um jeito nisso, sei lá.

Parou para tomar um ar. Continuou. Achou interessante Claude não tentar impedi-la. Gostava disso. Gostava dele não tentar controlá-la.

- Que... DROGA!! - arranhava e arranhava, mas nada parecia surtir efeito.

Porém, de repente, consegue fazer os riscos de maneira rápida e precisa! O mármore se derrete com seus movimentos. Oliver arregala os olhos e olha aquilo impressionada! Olhou para Claude e depois, para o mármore.

- Cara, você viu isso?! - e continuou.

Lascas da lápide saem, curiosamente como se fossem feita de gelatina...

Em um universo desconhecido e misterioso, uma entidade ancestral e todo-poderosa, adorada por muitos como o Criador Supremo, olhava para os seres humanos com benevolência e cuidado. Esse ser divino era conhecido por sua sabedoria insondável e seu poder inimaginável, e era reverenciado por suas criações.

Contudo, à medida que o tempo passava, surgiram lendas obscuras sobre uma antiga criatura, escondida nos confins do universo, que despertava terror e loucura. Essa entidade arcaica permanecia além do alcance da compreensão humana, adormecida nas profundezas dos oceanos cósmicos.

Enquanto as pessoas buscavam respostas para os mistérios da existência, alguns procuravam os segredos da divindade suprema, enquanto outros se aventuravam nos abismos do desconhecido, em busca da verdade por trás dos rumores sombrios.

Ninguém sabia ao certo se esses dois seres cósmicos, cada um em sua magnificência e obscuridade, tinham alguma conexão ou influência sobre os destinos dos mundos. Alguns acreditavam que, ao adorar a divindade suprema, encontrariam proteção e guia em suas vidas. Outros, ao contrário, sucumbiam aos chamados inebriantes da criatura arcaica, perdendo-se na escuridão de sua presença.

A dualidade entre o esplendor da divindade benevolente e o pavor da criatura desconhecida ecoava nas lendas e nas mentes daqueles que ousavam contemplar os enigmas do universo.

E assim, os caminhos da fé e do medo se entrelaçavam, enquanto a humanidade enfrentava o eterno dilema: adorar o ser divino que concedia esperança e conforto, ou ser atraído pela escuridão cósmica do antigo terror.

Nenhum mortal jamais compreendeu completamente os segredos dessas entidades insondáveis, e assim, a narrativa da dualidade entre a benevolência divina e o horror desconhecido perdurou através dos tempos, envolvendo-se em mitos, lendas e no eterno desejo humano de entender o inescrutável.

Oliver mergulha em um abismo estranho ao parar para pensar na razão pela qual conseguiu marcar a lápide e ela se despeçou como qualquer coerência euclidiana de realidade...


Randall Flagg: —Humm...Isso é curioso... Quem e´você, garota?

"Em um momento, eu estava destroçando uma lápide de mármore. As peças saíam como lascas de manteiga. Saíam como pedaços de gelatina. Eu queria apagar aquela coisa de lá. Apagar ela inteira. Apagar o que aconteceu. Acho que até mais que isso. Eu queria me vingar."

Os pensamentos de Oliver divagam em sua mente. Ela não sabia se estava de olhos abertos, mas conseguia ver tudo.

"Eu acho que sei quem você é. Você é algo que eu não sei explicar. Uma existência que não consigo entender muito bem. Algo que eu temo, mas que não preciso temer. Só que por não entender, eu tenho medo. Será que dá pra entender?"

Oliver divagava os pensamentos enquanto parecia sentir o frio do metal do jarro que usava para despedaçar a lápide em suas mãos.

"E você é outro. Você eu temo, mas eu ouço sempre seu chamado. O conhecimento é proibido? Por isso temos medo? Por isso somos 'perdidos' no abismo? É que nem a maçã da Eva..."

Oliver não sabia bem se, de fato, eram duas existências separadas ou eram faces diferentes da mesma coisa criadora. Tudo que ela sabia é que ambas estavam sempre presentes na história da humanidade e sempre observavam. A escolha nunca era delas, de fato. Somente as opções eram apresentadas por elas e seus escolhidos - ou aqueles que os buscavam - tinham que carregar o fardo da escolha. E ela nunca era leve.

Teve a impressão de ver parte da história do mundo correr dentro de sua pálpebras. Assistia tudo junto com as dualidades, sentados em um asteróide ao longe.

"Essa viagem é muito doida. Uma das mais doidas que tive."

Ela comentava com as duas vozes que soavam juntas e mesmo quando diziam alguma coisa, só restava o silêncio. Observava o futuro da Terra enquanto tinha a sensação de respirar. Relaxou como quem via um filme no cinema.

"Final meio previsível, né?"

Comentava. Sentiu uma dor na cabeça dilacerante. Oliver gritou, mas não saia som. O som havia morrido. Não se propagava onde não havia ar.

E ela gritava enquanto tudo aquilo parecia sumir de sua mente! Tudo que era ou é ou seria sumia! E nada daquilo importava mais, porque o pensamento já não existia, apenas a verdade absoluta e....

- Aaaaaaaaaaaaaaaah!!!!! - Oliver gritava enquanto segurava firme um jarro de metal. Lascas de mármore estavam dentro dele.

- O que??

Soltou rapidamente o vaso e olhou em volta, assustava. Tentou respirar enquanto via, ao longe a Terra! Era a Terra! Ela estava no espaço! Como aquilo tinha acontecido??

Ainda caída ao chão, ela arrastava-se tentando levantar-se. Levou as mãos até o pescoço e teve a certeza de estar respirando! Olhou em volta e sequer notou Randall até que ele falasse com ela.

- Quem.. Que?

Oliver achou que estava sonhando. Ou que Regina tinha drogado ela bem pesado.

- Que pergunta é essa? Quem é você!! O que..? Que..

Não sabia por onde começar. Andou em círculos, assustada.

- Onde estou? O que houve? Que merda eles fizeram? Quem é você?

E finalmente parou e apontou Randall, irritada.

- Língua anciã...? Invasores?

Oliver tentava pegar algum tipo de sentido daquilo. Por um momento, lembrou-se da música do Iron Maiden que ouviu uma vez. Lembrou-se da Run to the Hills.

- Peraí! Como você sabe meu nome? - falava sem pensar e olhava ainda, impressionada, a Terra. Olhou Randall, aquela figura humana solta naquele lugar.

- Como estamos aqui???

No meio de seu pensamento, Oliver é cortada com toda aquela informação. Ela observava aquele homem antes com medo, mas agora, parecia que a raiva derivada do medo tomava conta. Sim, seu coração ansiava por respostas! O que tinha acontecido??

- Nefitas? Que nem os mórmons?

A entidade que se chamou de Nyarlathotep começou a falar. Sua fala parecia ir direto ao cérebro de Oliver. Precia obrigá-la a se abrir para as infinitas possibilidades e para a própria incerteza de todas as suas questões. Às vezes, era preciso apenas aceitar que algumas coisas não teriam a resposta buscada. E talvez, essa era a resposta: a falta dela.

- Nyarlathotep? Espera! Como eu vim parar aqui? Onde estou?

Oliver não tem chance de ter qualquer pergunta sua respondida. Começa a sentir uma força que parecia puxá-la para baixo. Sentiu uma vertigem grande.

- Nyarlathotep, não me deixe caiiiiiir!!!

E ela sentiu que a queda não podria ser parada. A anssiedade cobria todo seu ser e era difícil respirar. Ela fechou os olhos com medo. Fechou-os com força, temendo que algum poder a forçasse abri-los.

-........

Oliver ouviu o som de buzinas. Ela abriu os olhos e olhou em volta.

Aquele primeiro momento pareceu ter o tempo pausado. Oliver sentiu que faltava ar em seus pulmões. Sentiu que fazia o movimento para respirar, mas não vinha nada.

- Nyarlathotep...? Nyar...?

Os sons a ensurdeciam. Ela tampou seus ouvidos com as mãos, com força. Fechou os olhos de novo, tentando afastar toda aquela nova confusão de sons, cores, telas e pessoas!

Pessoas! Eram parecidas, mas muito diferentes das pessoas que convivia! Se vestiam diferente, se comportavam diferente, falavam a porra de uma língua que parecia não entender! Eram quase alienígenas!!! Oliver abriu os olhos, com medo, percebendo que todos também a olhavam com estranheza! Era uma estranha numa terra estranha.

Ergueu os olhos para a quantidade absurda de Neons e poluição visual. Ouvia música, gritos, carros, tela simensas nos prédios mostrando algum show policial.

- Nyarlathotep!!! - Oliver ergueu um punho ao céu, chamando-o no meu de seu caos e medo. - ME TIRA DAQUI!!!

Não queria sequer saber que lugar era aquele! Queria ir embora! Que merda era aquela??

Em sua confusão, começou a andar sem rumo, olhando em volta enquanto sentia que logo desmaiaria. Tentava achar alguma coisa que trouxesse reconhecimento.

Andava frenética e com passos em falso, atropelando quem quer que estivesse na sua frente, segurando um grito na garganta.

Por fim, no que parecia um ponto de ônibus, falou com a pessoa que parecia menos violenta:

- Que...Que lugar é esse? Onde eu tô?

De olhos arregalados, sua fala era cortada, quase chorosa. Sua expressão beirava o pânico. Uma mão dentro de um bolso. A outra segurava firme a alça da mochila que tinha. Parecia e soava como uma louca.

Oliver continuava andando sem rumo entre as ruas e pessoas daquela cidade estranha. Não tomava cuidado para não esbarrar nos outros e simplesmente abria seu caminho. Abria o caminho usando a pouca força que seu corpo mirrado lhe dava. Ainda tinha dificuldade de respirar. Sentiu raiva de Nyarlathotep.

Enquanto nadava naquele mar de gente, falava sozinha, feito uma doida, em uma língua estranha. As pessoas a encaravam e ela tentava, a todo custo, não se incomodar. Porém, tinha a certeza que todos estavam olhando e prestando atenção nela. Não sabia o que fazer!!

-Filha da puta!! Nyarlathotep!! Onde está você??

Ficava repetindo e rezando, implorando ajuda do tal Deus que conversou com ela. Se a cidade não fosse tão viva, acreditaria que estava viajando em alguma droga. OU que estava sonhando.

Depois de ser escorraçada pela pessoa que perguntou onde estava, Oliver continuou a andar e deparou-se com a placa. Ela parou de repente e ficou olhando, encantada, para aquela pequena peça de informação.

- Queens..? Eu estou No Queens...?

Olhou ao redor, tentando descobrir alguma coisa que fosse realmente do Queens. Ela tentou de novo parar alguém e apontou a placa, repetindo, insistentemente, que lá era o Queens!!

- É o Queens! Eu estou em Nova York! Isso aqui é Nova York, não é? Cadê a Estátua da Liberdade? Onde está a polícia??? Precisou ir pra casa!!

Insistia em tentar se comunicar! Alguém deveria entendê-la, não?

Seguiu para a direção do Mar. Onde achava que o mar estaria, de acordo com seu mapa mental de Nova York! Andava, cambaleando, tentando encontrar algum oficial da lei e ver a estátua, para ter certeza de onde estava.

Oliver ouviu uma voz falando para ela parar de gritar. Confusa como estava, virou-se rapidamente para ela e arregalou os olhos ao ver aquele uniforme estranho. Olhou a figura de cima abaixo e imediatamente ficou calada, dando alguns passos para trás.

- Eu... Eu acho que não entendo o que....

Oliver leva as mãos à cabeça e geme de dor e confusão. Sente as pernas ficarem bambas e tenta falar alguma coisa, mas não consegue. Sua voz falha e apenas mais alguns murmúrios confusos saem de sua boca. Tentou mais uma vez e:

- Esta...Tuto da Moral? Uma igreja..??

"Sai da minha cabeça!!!" Ordenava aquele homem que ela via com Claude no cemitério. Oliver apertava a cabeça com força, segurando na altura das orelhas. Ia começar a andar, mas a figura do Juiz falou com ela de novo.

-..?

Oliver abriu os olhos e viu o cano de uma arma apontada para sua cabeça, sem nenhum tipo de pudor. Oliver começou a respirar mais e mais rapidamente, mas o ar novamente não lhe preenchia. Ela soltou sua cabeça, com os olhos fixos no Juiz e as deixou ao alto, na altura das orelhas, para que ele as visse. Estava tremendo e suava frio.

- Dois dólares? - disse tremendo a voz e sentindo que ela falhava. Não desviava o olhar da arma. Os olhos cinzas arregalados e cheios de lágrimas que teimavam em brotar.

- Tá! - lentamente, desceu uma das mãos até um dos bolsos e pegou o dinheiro que tinha. Estendeu a mão para o Juiz e completou:

- Do..Dois dólares!!!!

Arfava, morta de medo e prestes a desmaiar, sem desviar os olhos da arma.

Sentia que estava ligada àquele... Marreta? Engoliu em seco, vendo Claude através dos olhos do homem que trocara de lugar.

"Claude!! Me tira daqui! Eu quero voltar!!! EU QUERO VOLTAR!!!"

Gritava mentalmente na esperança que alguém a ouvisse.