[!ON!] Capítulo 2: Repercussões

Teodor se levantou com um golpe na mesa. O anel que trazia no dedo bateu contra a madeira fazendo um som ruidoso. - Pois que seja, vamos nos preparar quanto a isso. - Foi até o cabide pegar seu paletó e jogou-o por cima do ombro tão simplesmente. - Christine, diga-nos do que precisamos para enfrentar possíveis vampiros, já que essa é uma preocupação sensata de seu pai. Irei providenciar de imediato. - Imaginava que algum alho, terços bentos e estacas dariam de conta, mas ela era a ocultista, ele era apenas os músculos. De qualquer forma, ele que precisaria estar com as armas certas na mão.

Aguardaria a resposta da filha de Alexandru e então iria providenciar o que ela dissesse ser preciso. Nem que precisasse usar da influência da sua família para tal. Quanto aos próximos dois dias, escolheria um café ou bar suficientemente perto do circo para passar longas horas. Observando e bebendo. Talvez pudesse notar hábitos interessantes e assim chegar mais preparado.

Nesse meio tempo, escreveria um postal para Nina. As coisas aconteceram rápido e poderiam ter sido mais rápido ainda. Ou não. Aquela mulher era demasiado confusa, como costumam ser as mulheres. Se tivesse ao menos uma outra oportunidade, num momento mais tranquilo...

Porém, a vida urgia reação naquele instante. Encontrar a filha mais nova de Alexandru e desmantelar aquela aberração que era o Circo Romanov era o mais importante naquele momento.

Christine observava para um ponto fixo além dos demais, se incomodado com as palavras de Nina ao deixar o aposento. Inconscientemente, ela segurou o colar que usava, e começou a mexer nele, buscando algum conforto, se lembrando de memórias que teve com suas irmãs, passando por cada uma delas, antes de sua memória focar em seus estudos na américa e no tempo que passou ao lado de seus companheiros. Uma memória em específico durando mais quando se lembrava de um companheiro que consertava armas para lutar contra o sobrenatural.

Apenas saiu de seu transe quando voltaram a falar sobre a situação, e pela proposta feita de sequestrar uma das empregadas do circo. Concordando com um aceno de cabeça, ela caminha até a mesa de Alexandre, pedindo por papéis, tinteiro e uma pena, e assim que os teve, ela voltou a caminhar até a mesa de centro, não se incomodando por sentar-se no chão para utilizar a mobília.

Teodor escreveu:- Christine, diga-nos do que precisamos para enfrentar possíveis vampiros, já que essa é uma preocupação sensata de seu pai. Irei providenciar de imediato.

Christine sorriu para o senhor, antes de continuar a desenhar sobre o papel o que pareciam ser vários diagramas. - Vampiros, Senhor Teodor, não são as criaturas mais simples de se lidar. - ela disse, entretida com o que fazia. - De todas as lendas que li, relatos que pesquisei, e casos que pude estudar, tudo aponta para que exista - ela para pensando a palavra correta “sub-espécies”. Christine diz, finalizando um dos diagramas, virando para mostrar para o senhor e para quem quisesse ver.

O diagrama era um homem com vários símbolos e anotações ao redor dele antes dela apontar um dos símbolos, o sagrado. - Símbolos religiosos como o crucifixo e água benta são conhecidos como uma das armas, razão pela qual assustam alguns não é específico. - ela diz antes de passar para o próximo, madeira. - Outros dizem que uma estaca de madeira que atinja o coração é uma das maneiras de matar os vampiros, mas sendo bem sincera, a quem não mataria? - Christine indaga antes de prosseguir para os demais, apontando as armas: - Sinos, Sal, Corrente de água, portas de nossas residências da qual esclarecemos que não desejamos que eles entrem, espelhos, sejam eles de prata ou não, são diversas as armas que poderíamos levar. Mas algumas coisas são mais certeiras. Nenhum ser poderia continuar por muito tempo após ter sua cabeça arrancada, ou sendo queimado até virar cinzas, seja por qual meio que esse for, e para os vampiros, isso inclui a luz do dia - ela diz, antes de passar para o outro desenho sobre outro papel.

- Lobisomens, por outro lado, apenas prata consegue machucá-los quando na forma de lobos. São mais fortes, mais rápidos e extremamente feroz. Sugiro que escolham suas armas com cuidado, e que sejam banhadas no mínimo em prata. É mais eficaz matar o lobo enquanto ainda está na forma humana - ela diz antes de se levantar. - Mas isso é o que consigo dizer de cabeça, existem muitas outras variáveis, e para um circo - Chrissy sorri -, com certeza terá mais criaturas, tentarei buscar mais informações sobre quais outras criaturas eles podem ter acolhido por escolha… biológica. Ela disse se despedindo de todos, antes de se virar para Alexandre. - Quando o senhor quiser conversar, meu caro pai... - ela disse sem finalizar sua frase, deixando claro que gostaria de saber o que ele queria conversar com ela, se retirando da sala para continuar sua pesquisa.

Requisitando pistolas e balas de prata e balas normais a mais para seu pai, Christine passou quase que todo o seu tempo revisando os textos e jornais de pesquisa que tinha. Revisou sobre os possíveis animais que vampiros e lobisomens poderiam ter como companheiros, assim como outras criaturas sobrenaturais que poderiam segui-los. Mortos-vivos, lobos, corvos, tudo o que poderia ajudá-los. Quando não passava seu tempo estudando, era praticamente arrastada de seus estudos pelas suas irmãs e mãe para passar o tempo com elas, contando sobre a América, bailes de gala que participou, amizades que fez. Estavam assustadas, e a presença dela as distraiam do sofrimento que todas sentiam, o que reforçava a promessa que Christine fez para si mesma. Iria trazer sua irmã de volta, custe a ela o que custar.

- Não se preocupe, Alexandru, usarei-a bem, se preciso for. - Pegou consigo a adaga que seu estimado amigo lhe apresentava. Certamente iam cruzar novamente com aquele lobisomem e precisaria estar preparado. Da primeira vez teve bastante sorte, mas as coisas poderiam ter saído do controle.

Os preparativos foram extensos e eles prezaram por um vasto repertório. Como não sabiam que inimigos iriam enfrentar, era preciso tomar precauções generalistas. Dra. Belcher seria somente um apoio, de fato, suas limitações seria deveras problemáticas se fossem pegos de surpresa. - Ainda assim, doutora, será para nós de grande valia saber que estaremos escoltados por você. - Disse-lhe enquanto apertava-lhe a mão delicadamente.

Aquela noite, Teodor treinou arduamente, preparando seu corpo para o dia seguinte. Acordou tarde, já quase ao meio dia e passou o resto do dia a fumar e fitar o vazio. Quando a noite caiu, encontrou-se com os colegas de empreitada nos fundos do circo. Sem delongas, encostou-se contra o muro e juntou as mãos, preparado para lançar para cima os colegas.

- Iam, você primeiro! - Disse, já se esquecendo que o russo não falava nenhuma das línguas que ele. Mas talvez ter seu nome pronunciado já bastasse para entender o que ele queria dizer. - Christine, depois vá você, Iam vai ajudá-la a subir e passar para o lado oposto, então vou eu e ele me ajudará a subir também.

Após ter pegado todos os seus itens, Christine se olhou no espelho fazendo um beiço de desgosto das roupas que usava. Como ela preferia seus longos vestidos de tecidos nobres, as calças e blusa que usava no momento, mas tinha noção o suficiente que iria precisar se locomover, e que aquela roupa era a melhor que tinha no momento para fazer isso. Descendo pelas escadas da mansão para se juntar ao grupo, Christine se despede de seu pai com um forte abraço e um murmúrio de que iria trazer Tyna de volta e que amava ele, e sem olhar para trás, ela seguiu com o grupo até o local da invasão.

Ao chegarem no local, Christine se virou para a doutora antes de seguir Teodor e Iam. - Agradeço que esteja aqui de qualquer forma Dra. Leatrice. Por favor, tenha cuidado, mesmo do lado de fora desses muros, perigos ainda podem existir - ela disse, antes de voltar ao lado dos homens do grupo.

Teodor escreveu:- Iam, você primeiro! Christine, depois vá você, Iam vai ajudá-la a subir e passar para o lado oposto, então vou eu e ele me ajudará a subir também.

Concordando com o plano de Teodor, Christine traduz as palavras de Iam, e com a ajuda do mesmo, ela pula o muro, e assim que se encontra do outro lado, ela observa o local ao seu redor, uma de suas mãos firmemente segurando sua Derringer, enquanto a outra checava todas as suas demais armas. Ela aguardou os demais para prosseguir o caminho.

Eles estavam finalmente do lado de dentro. Observou com cuidado as tendas que haviam por ali. Eram bem pequenas até. Teodor se perguntou como eles dormiam naquelas coisas durante tanto tempo. Porém, havia uma outra tenda, maior, que não contava com vozes vindo de lá. Logo ele imaginou que se tratava do lugar onde os cativos eram mantidos. Cardei apontou para a tenda de onde vinha a voz que contava animada uma história e fez um gesto de silêncio e então de negativa, balançando o dedo indicador.

Apontou então para a tenda maior e fez um gesto positivo erguendo o polegar. Embora não viessem som dali, talvez as pessoas estivessem amordaçadas ou pior, foram de tal forma ameaçadas que já não faziam barulho algum por medo das retaliações.

Assim que os colegas assentissem, Cardei começaria a ir naquela direção. No terceiro passo, porém, parou. Às vezes é preciso usar a cabeça e ele sabia bem que não era o melhor para aquela tarefa. Apontou para Iam e fez um gesto para que ele fosse na frente novamente. Talvez o lugar dele fosse definitivamente na retaguarda.

As tendas chamavam a atenção da jovem ocultista, enquanto ela seguia Teodor até ele parar e fazer milhares de sinais com as mãos. Deveria talvez ser a escuridão, ou ela estava mais interessada no circo para sequer compreender o que o senhor estava tentando transmitir, mas aparente, a maior parte do recado não era para ela e sim para o outro homem.

Após a troca de posição da equipe ao andar, ela olhou brevemente para a lua para ver seu estado e como as nuvens estariam, apenas para focar nas tendas novamente. A voz do gigante ao relatar a história apenas gritava algo na mente de Christine. Ele seria uma das primeiras criaturas a buscar uma briga se eles fossem descobertos, e isso deixava a jovem com um calafrio em sua espinha, fazendo-a finalmente realizar algo que talvez somente naquele momento ela poderia compreender a situação que se encontrava. Christine não estava mais na América, não estava mais com seus colegas acadêmicos com quem sabia os estilos de luta. Ela estava de volta em sua casa com dois homens, que apesar de conhecer um deles, havia muitos anos que não o via, e muito menos conhecia completamente suas táticas, e o outro era um grande mistério fora o 'carinho' que parecia possuir com uma de suas irmãs. Tentando manter sua mente no lugar, ela começou a revisitar os livros que havia lido sobre gigantes mentalmente, segurando com força o espelho que carregava em seu bolso, a ponto de deixar suas mãos já pálidas, totalmente sem cor.

Não era a melhor escolha dela, e Christine sabia que deveria estar mais atenta com os arredores, pois eles tinham vantagem de saber onde alguns dos integrantes dos circos estavam, mas eles não sabiam se poderiam haver outros seguranças fazendo ronda pelos arredores dos circo que poderiam sinalizar a posição deles. As informações sobre o oculto se intensificaram em sua cabeça, finalmente acalmando ela, fazendo-a focar na tenda maior.

Teodor indicou para os demais a barraca à direita, mas ele optou por ficar na retaguarda e deixou que Iam tomasse à frente. Afinal, esta era a sua especialidade. Christine, por sua vez, ficou imaginando se a voz que ouviram se tratava de um autêntico Gigante ou de um humano que sofria com a doença do gigantismo, algo que era bem comum em circos de horrores como àquele. Ela tentava a acreditar mais na segunda hipótese; Gigantes reais eram um objeto de estudo raro até mesmo no meio do Ocultismo e os últimos relatos da aparição dessa espécie teria sido na Idade das Trevas.

Com extrema cautela, o trio circundava à barraca central. Iam foi o primeiro a avistar duas figuras guardando a entrada do lugar. Os dois homens estavam vestidos de palhaços, com os rostos pintados de branco. Um olhar mais criterioso notaria facilmente o volume do coldre de suas armas na região da cintura, por baixo de suas vestes. Os dois 'palhaços' pouco falavam entre si, e quando abriam a boca, não passava de uma troca de murmúrios. Os investigadores mantinham uma distância segura, e até por conta disso, não conseguiam ouvi-los.

Passaram-se alguns minutos em que o trio ficou a observar o movimento e analisando o ambiente. Haviam outras barracas fora àquelas vistas antes espalhadas pelo terreno, mas nenhuma era maior do que à que eles estavam escorados naquele momento; com exceção da grande tenda em que o Circo fazia suas apresentações, que estava montada mais pra frente. Quando eles acharam que nenhuma novidade aconteceria e eles teriam que tomar alguma atitude em relação ao plano antes que pudessem ser descobertos, a aba da barraca central é aberta e uma mulher de estatura mediana sai de lá. Apesar dela não estar toda produzida quanto na primeira vez em que Teodor e Iam a viram, eles reconheceram a mulher pelos seus cabelos ruivos. Era a apresentadora do Circo, desta vez, de cara limpa, sem pinturas ou armações no cabelo. Sua beleza natural era notável.  

- Preciso de uma ajudinha aqui - ela chamou um dos guardas-palhaços enquanto segurava a aba da tenda, aguardando-o adentrar a barraca central.

A entrada estando protegida por dois palhaços era mais do que um indicativo de que algo naquela tenda estava fora do normal. Que tipo de circo manteria uma de suas tendas constantemente vigiadas? A confissão do crime estava devidamente dada. O trio observava de longe e o fato de nenhum dos palhaços se mover muito talvez pudesse ser um impeditivo. Teodor já respirava fundo pronto para investir contra os dois quando apareceu uma terceira figura.

A memória repuxou-lhe o fundo da cabeça e ele identificou a apresentadora. Ela estava lá na fatídica cena que eles viveram dias atrás. A mulher chamava os dois vigias e aquilo era os sinos da graça anunciando uma oportunidade. Quando a pequena trupe macabra entrou tenda adentro, o romeno indicou que Iam seguisse-os. Afinal de contas, ele era o gatuno do time. Para Christine ele sussurou: - Se quiser, siga atrás com ele, eu protegerei a retaguarda de ambos e, se algo acontecer lá dentro, intervirei de imediato.

Aquela era então a mulher que eles estavam buscando. Christine não podia negar, era uma mulher bela, mas o que ela se indagava era qual o poder daquela mulher dentro do circo de horrores? Buscando passar todos os detalhes da mulher para verificar se não se encaixava com alguma criatura sobrenatural. Ao chamar um dos palhaços, ela reparou em qual dos palhaços iria ficar do lado de fora, antes de concordar com as palavras de Teodor, traduzindo em sussurros as palavras do mesmo para Iam.

Contudo, Iam havia comentado de não entrar na tenda grande. Suspirando pesadamente, ela questiona em ambas as linguas para que os homens conseguissem entrar em um acordo - O que iremos fazer? Devemos tentar dar a volta então pela tenda, pois um dos palhaços aparentemente irá ficar na frente tomando conta, e se não é bom entrar dentro da tenda, seria então bom saber o que há dentro dela. - A Ocultista comenta, esperando uma resposta de ambos os homens, perdendo aos poucos a paciência. Queria sua irmã ao seu lado, ou então ter um caminho mais claro de como ambos os homens queriam agir naquela situação.

Esperando a resposta de ambos, ela se põe a observar o palhaço segurança, buscando suas armas e categorizar ele em que tipo de criatura seria, ou se poderia já avisar que era um humano. - Talvez chamar atenção dele? Para tentar distrair, enquanto buscamos outros caminhos? - Ela questiona novamente nas duas linguas, antes de relatar o que percebeu do palhaço e da mulher para os homens.

Teodor coça a cabeça, pensando se aquela era uma boa opção. - Pode ser perigoso, mas realmente poderíamos subjugá-lo com mais facilidade. - Porém logo que falou aquilo se tocou de algo que deveria ser evidente: - Isto é, se ele for realmente apenas um palhaço. Será que você não consegue notar se ele tiver algo que indique ele ser algo a mais?

Esse era um ponto importante. Afinal se entrassem em luta corporal com um monstro logo agora, poderiam por tudo a perder. - Pergunte a Iam se ele consegue ver se o palhaço está armado. Um tiro também botaria tudo a perder.

Esperava que Christine estivesse preparada para correr o bastante enquanto eles entravam na tenda. Puderam ouvir a mulher dando explicações para o palhaço sobre se livrar daquela caixa e levar as meninas para Romanov. Os olhos de Teodor se arregalaram e ele quase parte num ataque impetuoso, mas ele mantém o silêncio.

Com o indicador e o dedo médio, ele aponta para os próprios olhos e então para o palhaço. Querendo dizer que deveriam ficar de olho nele. Ele tinha algo para se livrar e conhecia a localização das meninas. Eles teriam que esperar um pouco para ver qual seria a primeira ação do palhaço, se levar a caixa ou se ir até as garotas.

De toda forma, Teodor gesticulou com as mãos, fazendo um formato de caixa, para dizer que eles precisavam também verificar aquilo. Seria um corpo? O melhor agora era esperar escondidos até que tivessem visto o que precisavam ver.