Havia algo estranho. Eyvon estava em Dorne. Não tinha dúvidas disso, pois sentia o calor típico e o lugar lhe era familiar. Trajava a pesada armadura prateada, um raro presente dado por seu pai, quando foi nomeado cavaleiro pelo mesmo. Era uma sensação distinta, pois estava, apesar disso, confortável. Seus pés estavam pesados, afundados em um areia que reluzia como se fosse ouro em estado líquido. Haviam casas à sua volta e ruas e vielas, por onde pessoas passavam. Tão longe quanto seus olhos podiam ver, enxergava as margens do Torentine, onde crianças se banhavam e mães lavavam roupas, com seus pequenos bebês dividindo cestos protegidos do sol. Momento este em que tocava o rosto e não só percebia que estava sem o tapa-olho, como também estava vendo com os dois olhos, funcionais agora. Os cabelos negros soltos caiam-lhe sobre os ombros como uma cachoeira de alcatrão e seu velho cavalo, Kravos, estava próximo, sendo acariciado por jovens que tentavam montá-lo, divertidamente. Um pequeno garoto se aproximou dele e entregou uma carta.
- … Eu não sei ler… - disse Eyvon
- Você vai entender! - gritou o garotinho que saiu correndo quando o cavaleiro tomou a carta.
Ao abrir, notou em seu interior o tapa-olho que usava, porém distinto. Ele estava gelado, mesmo com a forte luz do sol incidindo sobre ele, negando-se a ser aquecido.
Ele não entendeu. O que aquilo significava? Quando voltou os olhos para procurar o garoto, não estava mais na rua debaixo do sol, mas sim dentro de um casebre de pedras rústicas, cujo chão era batido e trazia-lhe frio e, por algum motivo, angústia. Percebeu, também, que estava novamente cego, com o tapa-olho, antes em sua mão, agora no rosto. Os cabelos estavam pessimamente cortados, curtos, e vestia roupas negras.
- …A carta aberta, agora, parecia ter apodrecido, tomada por uma cor negra e de odor pútrido. Eyvon então caiu de joelhos. Por que? Não sabia. Apenas caiu. Sua respiração era ofegante e via o próprio ar que saia de sua boca condensar.
Ao longe, escutava gritos de ordem, pessoas pareciam brigar e o tilintar de espadas era impossível de ser ignorado. Olhando para o chão, incrédulo, como se buscasse respostas, sentiu um suave toque no rosto. Olhou para cima, seguindo aqueles finos dedos, a mão calejada, mas ainda assim suave e o braço, com algumas marcas, até chegar ao rosto da mulher que há muito pensou ter esquecido.
- Mãe…?Uma lágrima nasceu de seu olho esquerdo e escorreu até o seu queixo.
Eyvon acordou.