-Eu tinha esperança de que as coisas não precisassem ser assim.- A decepção se instala na garganta, uma pedra fria que ela não consegue engolir. -Senhora Randall, desculpe-me por fazê-la perder tempo, mas não posso voltar até que eles entendam o erro deles...O caminho que seguem não é o mesmo que o meu e nunca será!- A voz daquela mulher se fazia presente, Chloe nunca lidou com uma presença dessas antes, as demais eram coisas estáticas, borradas e contava até dez para que elas evaporassem sozinhas. O velho Noan tinha feito um favor ao seu pai, mas parece que desde que chegou em Dover seus sentidos eram capazes de captar todas as nuances sobrenaturais. Ela fala aquelas coisas como se fosse um sussurro em seu ouvido. Chloe enrijece parece que a visão fica nublada por instantes e não acreditava no que ouvia. Recompondo-se esforçava-se para não tremer. Fica desconfortavelmente imóvel quando fala de novo do homem lá fora, não parecia ser William, então quem era?
- Senhora Randall me desculpe, mas por mais que a tenha em grande consideração, mesmo que ao olhá-la sinta vontade de voltar aos dias de ingenuidade...Não vou ceder, Ian sabe o que fez, pra ele nunca fui nada além de uma reprodutora e quando não lhe dei uma criança passei por meses terríveis…O meu amor por ele não bastou, talvez todos eles sejam incapazes de sentir tal sentimento e me custou muito permanecer ao lado dele, aceitar as constantes traições e sua personalidade dominadora...Voltar pra casa é reatar com Ian e aceitar que me domine de novo! - Ela luta contra a vontade de chorar, as mãos tremem era como se estivesse dividida entre a voz da senhora Randall e daquela sombra que só seus olhos podiam enxergar. Para piorar aquela entidade foi responsável pelos seus problemas com o marido, devia agradecê-la ou odiá-la por tudo que a fez passar?
-Porém se minha recusa em ir significa que não sou mais parte da família, os diga por mim que façam o que acharem justo comigo e cabe apenas a mim qualquer que seja a pena a ser dada…Aceitarei de bom grado se quiserem tomar-me a vida, mas jamais poderei compactuar com toda a barbárie que vi!- Senhora Randall gira a maçaneta e Chloe olha a loira fantasmagórica perto do exame. - Além do mais, não posso dar filhos a Ian, qual minha serventia para ele? Ian me quebrou primeiro, muitas vezes senti vontade de ir atrás dele, é o primeiro que amei, sentia ser capaz de tudo por ele, mas as coisas são como são e não posso voltar a ser dele, seria morrer aos poucos até não restar nada de mim!-
Chloe coloca a mão sobre a dela e abria a porta com delicadeza. Mas saia antes da outra ficando parada diante dela. Depois em francês continuaria. - De tantas coisas que me ensinou o francês lhe deu trabalho, sabia o quanto eu odiava estudar o idioma, mas minha mãe disse que deveria aprender, e a senhora prontamente ensinou-me, me mostrou que não devia ter medo do escuro, que mesmo que meus pais não estivessem por perto eles me amavam...Por isso e por tantas outras coisas peço que não vá embora, fique comigo aqui, não tem porque voltar, prometo cuidar da senhora e fazer tudo para que um dia estejamos todos juntos como uma família de novo! -
A súplica na voz, os olhos cheios de uma esperança genuína, mas no fundo Chloe sabia que fazer a outra ficar podia custar caro. Como seu expediente terminará, certamente estariam ali sozinhas se não fosse pelo homem que a esperava. Se confirmasse que se tratava de James sentiria um nó na garganta, não queria que ele fosse visto por alguém da sua família. O coração ficaria apertado, inegavelmente James era o oposto do marido, da família, ele emanava calor, enquanto os seus iguais eram um inverno que adentrava a sua cidade natal de maneira silenciosa até dominarem tudo. A sua vida parecia uma brincadeira cruel do destino ou de fato como disse no sonho a Dione, algo arquitetava tudo maldosamente, entrelaçando lobos, espíritos, guerras infindáveis e sombras que cegavam todos da verdade acima deles!