ON - Desbravando as Brumas

Meu coração acelerou ao vislumbrar Sharla se aproximando com entusiasmo. Seu abraço caloroso transmitia alegria, entremeado por uma pitada de surpresa, como se ela desconfiasse de que algo extraordinário estava prestes a acontecer. Envolta em seus braços, permiti-me sorrir, sentindo a emoção vibrar em meu peito, como uma peça orquestrada pelo destino.

- Sharla, minha cara amiga, sua presença é como uma melodia familiar após um longo silêncio. Sempre encontra as palavras certas para iluminar até mesmo os recantos mais sombrios da alma. Infelizmente, não possuo conhecimento sobre o paradeiro de Daena.

Liberei-me do abraço, fitando os olhos de Sharla com gratidão. Um aceno discreto para o samurai que cruzava meu caminho. No entanto, antes que pudesse responder completamente e saudar os demais, a entrada apressada de Antonija capturou minha atenção. Seu relato sobre Teufeldorf ressoou profundamente, e meu semblante sério refletia a compreensão do perigo iminente.

Aguardei ansiosa pelas respostas de Antonija às inquisições de Sharla, enquanto o ambiente ao nosso redor parecia sussurrar enigmas não decifrados. Como se cada som fosse uma peça crucial em um quebra-cabeça que ainda aguardava ser montado.

Sorri ao ouvir as palavras de Krössis e gesticulei com a cabeça de volta para Krystophor.

As palavras açucaradas de Antonija soavam como uma melodia desafinada para meus ouvidos, deixando-me relutante. Sempre desconfio daqueles que se esforçam demais para parecerem inofensivos, muitas vezes, esse são os mais perigosos. E em um lugar repleto de perigos como este, não acredito que ninguém sobrevive apenas com sorte...

Contudo, mantive um sorriso simpático enquanto a ouvia atentamente. Mas, mantive minha mente alerta na tentativa de detectar alguma fragilidade em suas palavras e trejeitos.

Sentir Motivação 02:

A história de Antonija era um emaranhado de sombras e segredos. Contudo, eu entendia bem o peso da culpa, os fios invisíveis que nos prendem às nossas escolhas mais obscuras. Certamente, por debaixo daquelas vestes, ela mesma deveria carregar cicatrizes de batalhas e decisões difíceis. A vida não é um conto de fadas com finais felizes; é uma trilha acidentada, repleta de espinhos e desvios inesperados.

- Viktor Lutov... - Murmurei, deixando a mente divagar imaginando o homem: um guerreiro, talvez, com olhos que já haviam visto o abismo e sobrevivido. Um homem que se aventurava nas ruas sombrias de Teufeldorf, onde as sombras tinham dentes afiados e os segredos eram moedas de troca.

Eu não sou ingênua. Conheço o mundo além das canções de ninar e dos contos de heróis. Sei que a bondade nem sempre se veste de armadura brilhante; às vezes, ela se esconde nas mãos calejadas de um ladrão ou no coração partido de uma líder de punguistas. Meu devaneio só foi quebrado quando Sharla se dirigiu à todos.

- Antonija. - Disse em um tom suave como o vento nas folhas. - Nós faremos o que for necessário, não apenas pela busca da verdade, mas pela esperança de um reencontro. Porque, no final das contas, é isso que nos torna humanos, ou elfos, ou o que quer que sejamos. - Sorrio ao aproximar-me dela, tocando-lhe o ombro com delicadeza. - Você não está sozinha nesta jornada.

Olho para Krossis e Sharlla, e vejo a mesma resolução em seus olhos. Éramos um bando improvável, unidos pela esperança e pela coragem de enfrentar as sombras. E após as palavras de Krystophor, concluo:

- Vamos encontrá-lo! - Digo animada. - Porque, no final das contas, todos nós precisamos de alguém que nos encontre quando nos perdemos. - Faço uma breve pausa pensativa. - Mas antes, temos que encontrar Oktai. Espero que não o tenhamos perdido. - Sorrio em deboche.

Senti um arrepio percorrer minha espinha ao ouvir as palavras de Antonija. Olhei para a praça, meus olhos varriam o ambiente minuciosamente, tentando detectar cada detalhe. Embora a tensão sobre meu corpo fosse palpável, com se fosse uma corda de arco puxada ao máximo.

- Então é aqui... - Murmurei para mim mesma levando a mão ao queixo pensativa.

Ajustei a aljava em minhas costas, sentindo o peso familiar das flechas e certificando-me que estaria preparada para o perigo que poderia estar à espreita. Voltei meu olhar para os companheiros e acenei discretamente com a cabeça antes de retornar meu olhar para a praça, à procura de qualquer rastro que Viktor e seus sequestradores pudessem ter deixado.

Então comecei a andar, movendo-me com a graça e a cautela de uma predadora na floresta, meus passos quase silenciosos no chão de pedra. Embora apreensiva, eu estava pronta para o desconhecido, não importava o quão assustador fosse. Afinal, eu já havia encarado as brumas uma vez, e sabia que mais uma vez emergiria delas mais forte e mais sábia.